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Inexistência de fatos extintivos e impeditivos do direito

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 99-105)

I. TEORIA GERAL DOS RECURSOS TRABALHISTAS

5. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS DOS RECURSOS

5.2. Pressupostos Recursais Extrínsecos

5.2.1. Inexistência de fatos extintivos e impeditivos do direito

A existência de fatos extintivos ou impeditivos do direito de recorrer é requisito negativo de admissibilidade dos recursos e implica na impossibilidade do julgamento do mérito recursal.

128 No processo do trabalho, são exemplos de aceitação tácita da sentença: o pagamento da

condenação e a reintegração espontânea do empregado. (in SCHIAVI, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2010. p. 713.)

129 JORGE, Flávio Cheim, op. cit., p. 143-144.

Nesses casos, o recorrente adota uma postura que impede que seu recurso seja admitido ou pratica uma ação que extingue o direito de ver seu recurso apreciado. Aqui incide a importância de se citar, ainda que apenas de passagem, o princípio da proibição do venire contra factum proprium em sede recursal. Por esse princípio, o direito não socorre o indivíduo que adota uma posição jurídica em contradição com o comportamento que assumiu em fase anterior. Desse modo, se a própria parte reconhece juridicamente o pedido, aceita a decisão desfavorável, desiste da ação ou renuncia ao direito sobre o qual se funda a ação ou a defesa, é inconcebível que ela mesma interponha recurso, uma vez que a sentença que obteve foi por ela mesma pleiteada.

A doutrina reconhece os fatos extintivos e impeditivos do poder de recorrer. O fato extintivo do poder de recorrer é a desistência do recurso. Entre os fatos impeditivos estão o reconhecimento jurídico do pedido, a renúncia ao recurso, transação e aquiescência 131

Há certa divergência na doutrina quanto a essa classificação. Alguns autores entendem que a renúncia e a aceitação da decisão desfavorável seriam fatos extintivos do poder de recorrer. De outro lado, tal segmento da doutrina classifica como fatos impeditivos ao poder de recorrer a desistência da ação ou do recurso, o reconhecimento da procedência do pedido, a renúncia ao direito sobre o qual se funda a ação e a ausência do depósito de multa processual de pagamento imediato.132

131 Segundo Cheim, a desistência é o único fato extintivo de poder de recorrer. Na desistência,

o recurso já foi interposto; portanto, não há impedimento em recorrer. (in JORGE, Flávio Cheim, op. cit., p. 148-149).

A importância de tal diferenciação encontra abrigo somente no campo acadêmico, sobretudo porque a consequência prática da existência de fato extintivo ou impeditivo será a mesma: o não conhecimento do recurso.

Uma das modalidades de extinção de direito é a renúncia. Ao renunciar na esfera recursal, o legitimado demonstra a sua vontade de não exercer o respectivo direito.133 Conforme artigo 502 do Código de Processo Civil: “A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”.

A renúncia é um ato jurídico unilateral, tácito ou expresso, total ou parcial, que comporta interpretação restritiva. A renúncia expressa depende de poderes especiais no instrumento procuratório.134 Na renúncia tácita, o vencido deixa transcorrer in albis o prazo recursal.

A renúncia pressupõe o recurso ainda não interposto. Caso o recurso já tenha sido interposto, o recorrente tem a faculdade de desistir do recurso e não renunciar ao recurso.

A renúncia é irrevogável e produz efeitos imediatos. Não depende da aceitação da outra parte e da concordância dos litisconsortes. A renúncia não causa qualquer gravame à parte contrária e o fato dela ficar impedida de interpor recurso adesivo diante da renúncia da outra parte não se traduz em prejuízo. Em última análise, se uma das partes tem interesse em interpor recurso adesivo é justamente porque a parte contrária interpôs recurso principal. Aquele que recorre adesivamente, em tese, não tinha intenção de recorrer inicialmente, porém acaba interpondo recurso adesivo porque a outra

133 Ibid., mesma página.

134 Cf. artigo 38 do CPC: A procuração geral para o foro, conferida por instrumento público, ou

particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, salvo para receber citação inicial, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar compromisso

parte interpôs recurso principal e sua situação não será piorada pela interposição do adesivo.

O legitimado que renuncia ao recurso de forma expressa não poderá posteriormente recorrer de forma adesiva, exceto se no ato de renúncia efetuou ressalva em relação ao recurso adesivo. Trata-se de um caso de renúncia parcial.

Não existe renúncia recursal prévia à prolação da sentença, porque não se renuncia a um direito que ainda não existe. A renúncia, portanto, pressupõe a existência de decisão.

Em relação à aquiescência da decisão, dispõe o artigo 503 do Código de Processo Civil:

“A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não poderá recorrer. Parágrafo único: Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de um ato incompatível com a vontade de recorrer”.

Ao aquiescer, a parte se manifesta no sentido de concordância com a decisão proferida. É necessário que a decisão já esteja proferida. Por óbvio, não há como concordar com uma decisão que ainda não foi prolatada. A aceitação manifestada antes do pronunciamento jurisdicional não é válida.

A aquiescência não exige forma solene, podendo ser verbal, escrita, total ou parcial. Requer interpretação restritiva. Não depende de aceitação da parte contrária e dispensa homologação judicial.

Se a parte deposita o valor da condenação, sem ressalvas, após a homologação dos cálculos, tal atitude caracteriza aquiescência à decisão proferida, ato incompatível com a vontade de recorrer, portanto.

Se a parte já interpôs recurso, não há lugar para a aceitação. Caso uma das partes cumpra a decisão ou as partes se conciliem após a

interposição do recurso, tais fatos não caracterizam aquiescência e sim falta de interesse superveniente ou desistência do recurso. Trata-se de adoção da tese restritiva em consonância com a literalidade do artigo 503 do estatuto processual que utiliza o verbo no futuro (“não poderá recorrer”).

Não se considera aquiescência se, decorrido o prazo legal, não há interposição de recurso. A aquiescência não pode ser presumida. Tal fato caracteriza preclusão lógica.

Merece destaque também a análise da desistência recursal. Conforme dispõe o artigo 501 do Código de Processo Civil: “O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso”.

A desistência do recurso é ato unilateral que não depende do consentimento da parte contrária. A desistência pode ser dar de forma total ou parcial, sobretudo no processo do trabalho, onde as demandas usualmente comportam muitos pedidos.

Se a desistência é feita através de petição assinada pelo advogado da parte, o instrumento de procuração deverá prever poderes especiais para desistência do recurso.

A desistência do recurso pode se dar a qualquer tempo, desde que seja até o julgamento do recurso. A desistência pode ser feita de forma oral na própria sessão de julgamento, que será o último momento para o recorrente desistir do recurso.

A desistência do recurso não precisa ser homologada, ao contrário da desistência da ação que requer homologação.135 Ela também não

135 Cf. artigo 158

do CPC: “A desistência da ação só produz efeito depois de homologada por sentença”.

está condicionada à anuência do recorrido. Dessa forma, ao ter conhecimento da desistência do recurso, o Tribunal declarará o não conhecimento do recurso, cuja decisão terá natureza declaratória, com efeitos que retroagirão à data da desistência.

A desistência do recurso produz efeitos desde o momento de sua declaração, provocando o trânsito em julgado de imediato, não podendo ser revogada.

O recorrente desistente não pode interpor recurso novamente, ainda que dentro do prazo recursal. Nem mesmo o recurso adesivo pode ser interposto pelo recorrente, pois o ato de recorrer é único e, uma vez interposto, opera a consumação da faculdade de recorrer. Constitui o recurso adesivo uma forma de interposição de recurso, não uma modalidade de recurso.

Em relação ao litisconsórcio na fase recursal, há certas disposições comuns que devem ser analisadas. No litisconsórcio simples, a causa pode ser decidida de forma diferente para cada um dos litisconsortes.136 Nesses casos, a desistência do recurso, a aceitação da decisão e a renúncia ao poder de recorrer são atos que, se praticados por apenas um dos litisconsortes simples, não atingirão o recurso dos demais litisconsortes. Caso um dos litisconsortes obtenha provimento no seu recurso, os demais não se beneficiarão. Somente o litisconsorte simples que praticou o ato será atingido, pois os demais litisconsortes, ao não recorrerem, demonstraram divergência ou oposição de interesses em relação ao recorrente.

136

Cf. art. 48 do CPC: “Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros”.

Nos casos de litisconsórcio unitário (art. 47, CPC)137, os interesses dos litisconsortes são convergentes, de modo que o recurso interposto por apenas um dos litisconsortes aproveitará ao (s) outro (s), mesmo que um deles haja desistido do recurso, aceitado a decisão ou renunciado ao poder de recorrer. Nesses casos, a decisão de mérito será uniforme para todos os litisconsortes, o que afasta a autonomia individual de cada um deles.138

No documento MESTRADO EM DIREITO SÃO PAULO 2012 (páginas 99-105)