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É cediço que o Brasil possui uma enorme carga tributária, o que gera as empresas um grande ônus no que tange ao pagamento de impostos.

Essa realidade acaba fazendo com que muitos empresários caiam na ilusão de que é mais benéfico a sua empresa sonegar o pagamento do valor devido ao Fisco, do que pagar o eferido valor, o que acaba não sendo a melhor opção, pois como já vimos, a conduta pode além de configurar crime contra a ordem tributária, trazer prejuízos como multas exorbitantes que podem até levar a empresa a falência. Assim, os empresários que possuem o intuito de planejar de forma estratégica, lícita e adequada, optam por um planejamento tributário elisivo.176

Planejamento tributário elisivo nas palavras de Gustavo Pedro de Oliveira:

[...] pressupõe a licitude de comportamento do contribuinte que objetive identificar as consequências fiscais de uma decisão, resultando em uma economia de tributos, haja vista que, dentro do direito de se autoorganizar, está inserida a liberdade do contribuinte organizar seus negócios do modo menos oneroso sob o aspecto fiscal.177

Ou seja, trata-se de condutas lícitas com o fito de obter uma menor onerosidade tributária. Assim, como complemento a esse plano lícito, vem o sistema Compliance Tributário, que é uma ferramenta utilizada pelas empresas para garantir que todos esses e outros procedimentos adotados estejam em conformidade com as normas internas e externas da empresa, mitigando assim os riscos nesse âmbito.178

No campo tributário, o Compliance tem como objetivo a implantação de mecanismos internos com a finalidade preventiva de evitar infrações as normas tributárias. Assim, as empresas que possuem interesse nesse sistema, para a área de tributação, “reforçam

175ROSSETO, Lucas. Compliance tributário e seus reflexos na atividade empresarial. In: LAMY, Eduardo. Compliance Aspectos polêmicos e atuais. Belo Horizonte: Letramento, 2018. p. 160.

176DOMANSKI, Dayani. A aplicação do Compliance ao Planejamento Tributário. Disponível em:<

http://compliancenet.com.br/aplicacao-do-compliance-ao-planejamento-tributario/>. Acesso em: 28 maio 2018.

177OLIVEIRA, Gustavo Pedro de. Contabilidade Tributária. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 193.

Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502204621/cfi/217!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 28 maio 2018.

178DOMANSKI, Dayani. A aplicação do Compliance ao Planejamento Tributário. Disponível em:<

http://compliancenet.com.br/aplicacao-do-compliance-ao-planejamento-tributario/>. Acesso em: 28 maio 2018.

seu compromisso com os valores e objetivos consagrados no programa, comprometendo-se à uma mudança na cultura corporativa e a executar seus procedimentos”.179

O Compliance tributário atua junto com o planejamento tributário elisivo, sendo institutos distintos, mas que visam “colaborar, fiscalizar e exigir medidas para que ambos sejam exercidos em conformidade com os valores da empresa e nos limites da lei.” O

Compliance, ainda, proporciona a empresa à separação de responsabilidade entre os setores

internos da empresa em que ocorrer “apuração de tributos”, o que facilita apurações de futuras responsabilidades por atos ilícitos praticados.180

Importante trazer à baila que diante do grande número de tributos existentes no país, bem como o complexo, diversificado e impermanente sistema tributário, a empresa necessita cada vez mais de profissionais especializados na área, para assegurar a legalidade e atualização dos setores responsáveis.181

Como prova disso a revista Istoé Dinheiro, na reportagem que chamou de “manicômio tributário”, apresentou dados alarmante que envolvem diretamente a complexidade do sistema de tributação do Brasil:

Números dos documentos financeiros empresariais dão a dimensão do problema. Os processos tributários elencados pelas 30 maiores companhias brasileiras somaram R$ 283,4 bilhões em 2014, segundo levantamento feito pela advogada Ana Teresa Lima Rosa Lopes, em tese de mestrado na FGV. Desse montante, R$ 13,4 bilhões são considerados perdas prováveis, com provisão no balanço. A cifra total, que tem relação direta com a complexidade do sistema, supera em sete vezes as somas dos processos trabalhistas e em quase quatro vezes os cíveis.182

O que evidencia a necessidade de implantação do Sistema Compliance no âmbito tributário, para prevenir e minimizar os riscos gerados pelo complexo sistema tributário do país.183

179ROSSETO, Lucas. Compliance tributário e seus reflexos na atividade empresarial. In: LAMY, Eduardo. Compliance Aspectos polêmicos e atuais. Belo Horizonte: Letramento, 2018. p. 161.

180ROSSETO, Lucas. Compliance tributário e seus reflexos na atividade empresarial. In: LAMY, Eduardo. Compliance Aspectos polêmicos e atuais. Belo Horizonte: Letramento, 2018. p. 169.

181OLIVEIRA, Fabio Rodrigues de, SOUZA FILHO, Paschoal Naddeo. O compliance tributário. Disponível

em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI242766,101048-O+Compliance+Tributario>. Acesso em: 28 maio 2018.

182BALDOCHI, Gabriel. Manicômio Tributário. Disponível em:

<https://www.istoedinheiro.com.br/manicomio-tributario/>. Acesso em: 28 maio 2018.

183DOMANSKI, Dayani. A aplicação do Compliance ao Planejamento Tributário. Disponível em:<

http://compliancenet.com.br/aplicacao-do-compliance-ao-planejamento-tributario/>. Acesso em: 28 maio 2018.

O que se deve ter em mente é que o Compliance Tributário não serve apenas para garantir que o planejamento tributário seja exercido de forma lícita, mas também para assegurar a legalidade das normas e registros contábeis.184

Importante trazer à baila que o sistema Compliance, no âmbito tributário, vem se fazendo de tamanha importância para a prevenção de ilícitos, que a já mencionada Lei Estadual do Rio de Janeiro nº 7.753/2017, trouxe exigências quanto a procedimentos específicos no campo tributário:

Art.4º O Programa de Integridade será avaliado, quanto a sua existência e aplicação, de acordo com os seguintes parâmetros:

VI – registro contábeis que reflitam de forma completa e precisa as transações da pessoa jurídica;

VIII – procedimentos específicos para prevenir fraudes e ilícitos no âmbito de processos licitatórios, na execução de contratos administrativos ou em qualquer interação com o setor público, ainda que intermediada por terceiros, tal como pagamento de tributos, sujeição e fiscalizações, ou obtenção de autorização, licenças, permissões e certidões;”185

Deve-se entender que quando praticadas condutas ilícitas pelo contribuinte, estaremos diante da evasão fiscal, que nas palavras de Gustavo Pedro de Oliveira, “corresponde ao agente (contribuinte) que, por meios ilícitos, visa eliminar, reduzir ou retardar o recolhimento de um tributo, já́ devido pela ocorrência do fato gerador.”186

Assim, diante de práticas evasivas, podem ocorrer infrações as normas previstas em tipos penais incriminadores e, conforme já mencionado, o artigo 137, inciso I, do Código Tributário Nacional, permite imputar sanções penais a quem comete condutas que são ao mesmo tempo previstas como ilícito tributário e ilícito penal.187

Quando isso ocorre, estaremos diante do Direito Penal Tributário, e para essa área existe um sistema específico voltado para coibir condutas penalmente punidas, denominado de Sistema Criminal Compliance, terminologia que “compreende a adoção de política de prevenção a criminalidade empresarial e a implementação de mecanismos de controle interno

184DOMANSKI, Dayani. A aplicação do Compliance ao Planejamento Tributário. Disponível em:<

http://compliancenet.com.br/aplicacao-do-compliance-ao-planejamento-tributario/>. Acesso em: 28 maio 2018.

185ROSSETO, Lucas. Compliance tributário e seus reflexos na atividade empresarial. In: LAMY, Eduardo. Compliance Aspectos polêmicos e atuais. Belo Horizonte: Letramento, 2018. p. 169.

186OLIVEIRA, Gustavo Pedro de. Contabilidade Tributária. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 189.

Disponível em: < https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502204621/cfi/217!/4/4@0.00:0.00>. Acesso em: 28 maio 2018.

187BALTHAZAR, Ubaldo Cesar, MOTA. Direito Tributário e outros temas. Florianópolis: Insular, 2015. p.

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e também externo, além das estruturas de incentivo ao cumprimento deveres de colaboração, conforme os preceitos estatais.”188

Assim, quando a empresa cometer condutas evasivas, podem estas configurarem infrações aos tipos penais previstos nos artigos 1º e 2º, da Lei 8.137/1990189 e, conforme já delineado, essa responsabilidade penal pode recair aos diretores da empresa simplesmente diante do dever de vigilância que lhes é imposto.190 Portanto, um dos métodos de prevenção é o Sistema Criminal Compliance, no âmbito Penal Tributário, que possui o objetivo de prevenir tanto a prática de crimes no interior da empresa como a possível responsabilidade penal dos dirigentes,191 como passamos a d.

4.3 CRIMINAL COMPLIANCE NO ÂMBITO DO DIREITO PENAL TRIBUTÁRIO:

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