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CAPITULO 1. CANCRO COLORECTAL

1.9. Tratamento

1.9.1. Cirurgia do cancro colorectal

1.9.1.1. Colostomias

1.9.1.1.2. Complicações das Colostomias

As complicações dos estomas digestivos são frequentes. Uma percentagem destas complicações ocorre como consequência de falhas na técnica cirúrgica. Contudo, algumas destas complicações advêm da dificuldade sentida pelo doente e sua família perante a necessidade de prestar cuidados ao estoma, provocada pela recusa relativamente à doença, pela sua não adaptação à situação ou ainda pelo afastamento familiar, social e laboral.

Para que o doente se adapte de forma adequada e atempada à sua colostomia, é necessário que a equipa de saúde envolva o doente na tomada de decisão face ao seu processo terapêutico, nomeadamente na marcação do estoma. Quando este envolvimento acontece, o doente sente-se mais motivado para a aprendizagem, participando de forma efectiva nos cuidados que a sua colostomia necessita.

Ragué e colaboradores (1999) referem que para que haja uma adequada adaptação por parte do doente é necessário um cuidadoso planeamento de todo o processo de tratamento que deve estabelecer-se no período pré-operatório, de forma protocolizada e individualizada, e que deve incluir um conjunto de actividades de sensibilização, informação, aprendizagem e ajuda, relacionadas com a doença.

No que refere às consequências da colostomia, Catalgo e MacKeigan (2004) enfatizam as alterações impostas pela cirurgia com recurso à colostomia, defendendo que esta implica uma marcada alteração na qualidade de vida do doente. Por este facto, devem ser desenvolvidos todos os esforços para reduzir ou eliminar os factores que possam, de alguma forma, limitar a adaptação do indivíduo. Apesar de todos estes esforços, a qualidade de vida do doente continua a ser ameaçada e negligenciada, tendo em conta que continuam a ocorrer, frequentemente, erros relativos à marcação e construção do estoma e à informação dada ao doente.

As complicações dos estomas podem aparecer no pós-operatório imediato, tardio ou em qualquer momento da vida do doente, após a cirurgia.

1.9.1.1.2.1. Complicações imediatas

Estas complicações surgem nas primeiras semanas de pós-operatório. O seu aparecimento requer, de forma bastante frequente, a reintervenção cirúrgica do doente (Catalgo & MacKeigan, 2004).

Infecção e sepsis – É uma das complicações mais frequentes neste tipo de cirurgia (2 – 24%), por incumprimento da técnica asséptica (Ragué et al., 1999).

É originada pela contaminação fecal durante o acto cirúrgico, sendo mais comum em doentes submetidos a cirurgia de urgência, em que não foi possível efectuar preparação intestinal. Pode apresentar-se sob a forma de uma simples inflamação até à formação de abcesso. De um modo geral, o doente apresenta dor em redor da ostomia, rubor, calor, tumefacção e, por vezes, febre.

Necrose – Esta complicação ocorre nos primeiros dias de pós-operatório. Perante esta complicação é normalmente necessário efectuar nova intervenção

cirúrgica. É mais frequente em doentes obesos, em doentes com patologia arteriosclerótica e em doentes operados de urgência. O estoma necrótico apresenta, de modo geral, uma coloração azulada ou negra. Se a necrose for superficial, não requer reintervenção cirúrgica, reconvertendo espontaneamente.

Retracção ou Afundamento – Esta complicação é mais comum em doentes obesos, doentes com distensão abdominal pós-operatória prolongada ou em doentes com infecções graves em redor da colostomia.

Esta situação corresponde ao deslizamento do intestino para o interior da cavidade abdominal, devido à ocorrência de tensão excessiva a nível da união mucocutânea, a qual se produz em consequência da distensão abdominal, provocada pela diminuição do funcionamento intestinal (Ortiz et al., 1994a; Cataldo & MacKeigan, 2004).

Sempre que esta situação ocorre, verifica-se uma contaminação fecal dos tecidos adjacentes, podendo conduzir a peritonites ou outras infecções graves, incluindo necrose da parede abdominal.

Hemorragia da colostomia – A hemorragia abundante pela colostomia é uma situação pouco frequente. Quando ocorre tem origem num vaso subcutâneo ou submucoso a nível da sutura do intestino à parede abdominal, ou à existência de uma úlcera na mucosa.

Evisceração – Ocorre em 1 – 3% dos casos e verifica-se quando o orifício da parede abdominal é excessivamente grande relativamente ao tamanho do estoma. Esta situação encontra-se facilitada quando existe uma grande pressão intraabdominal (obesidade) ou íleus paralítico prolongado (paralisia intestinal pós-operatória) (Ragué et al., 1999).

Fístula – Neste tipo de complicação existe saída de fezes em volta da colostomia ou dá-se uma acumulação de fezes a nivel subcutâneo, provocando infecção local com ou sem formação de abcesso. Frequentemente a primeira manifestação é um abcesso subcutâneo periestomal, evoluindo geralmente para fístula enterocutânea periestomal.

As complicações anteriormente descritas contribuem de forma significativa para a diminuição da qualidade de vida do doente e para a sua reabilitação. É pois importante que os profissionais de saúde sejam alertados para a enorme responsabilidade de que está revestida a sua prática de cuidados.

1.9.1.1.2.2. Complicações tardias

Eventração ou hérnia periestomal – É a complicação tardia mais frequente (7 – 20% dos casos). A principal localização é o orifício da parede, criado para exteriorizar o intestino, já que é o ponto mais frágil, (Ragué et al., 1999; Ortiz, Rague & Foulkes, 1994).

Esta complicação manifesta-se com o aparecimento de uma tumefacção em redor da colostomia, na qual a pele se encontra sob tensão, conseguindo ser reduzida com a mão.

A eventração resulta do alargamento acentuado e progressivo do orifício da parede abdominal efectuado para exteriorizar o intestino. A incidência verifica- se em doente idosos, desnutridos ou debilitados, obesos, com problemas respiratórios graves e crónicos, com tosse persistente.

Estenose – Esta complicação, pelo contrário, ocorre em virtude do orifício de exteriorização do intestino apresentar uma acentuada diminuição do seu calibre.

Ragué e colaboradores (1999) referem que a sua frequência é de 2 – 14% em colostomias. Os autores referem ainda que a estenose pode ser orgânica ou funcional. De entre as primeiras salientam-se as cutâneas, as mais frequentes, as aponevróticas e as mistas; as funcionais são devidas ao trajecto sinuoso do intestino.

A estenose pode ter ainda como causa factores relativos ao doente, como sejam, obesidade, diminuição do aporte sanguíneo ao cólon, ou ser ocasionada pela própria patologia do doente (doença de Crohn, p.ex.).

A estenose pode ainda ocorrer como consequência de qualquer das complicações imediatas anteriormente descritas, nomeadamente a necrose, infecção ou retracção; devendo-se nestes casos à cicatrização por segunda intenção (Ortiz et al., 1994a).

Prolapso – Corresponde a uma protusão, ou seja, a saída do intestino para o exterior, através do estoma.

Aparece de forma mais frequente em doentes com aumento prolongado da pressão intra-abdominal, provocada por tosse, esforço físico, etc; ou em doentes operados de urgência.

O prolapso pode apresentar algumas complicações, como por exemplo, quadro de obstrução intestinal, estrangulamento e ulceração da mucosa intestinal, (Cataldo & MacKeigan, 2004).

Estas complicações, apesar de raras, podem apresentar alguma gravidade. Hemorragia – A hemorragia é devida, comumente, a traumatismos ou a fricção constante do estoma. De um modo geral, não apresenta gravidade, mas pode preocupar o doente. Este deve ser alertado para o facto de tal complicação não apresentar gravidade e para a atitude que deve tomar (Ortiz et al., 1994a).

Perfuração – É uma complicação pouco frequente e a sua etiologia são os traumatismos repetidos com cânulas ou sondas rígidas, usadas para irrigação da colostomia. Este traumatismo ocorre, de modo geral, quando já existe uma complicação prévia, como por exemplo, eventração, prolapso ou estenose, estando o acesso ao cólon mais dificultado.

Complicações cutâneas – As irritações cutâneas são das complicações mais frequentemente referidas pelos doentes ostomizados. As causas são variadas, sendo, contudo, apresentadas como mais comuns, as mudanças frequentes do dispositivo, técnicas de higiene inadequadas, uso de substâncias agressivas, como por exemplo, acetona, éter, etc. e incorrecta remoção do dispositivo (Ragué et al., 1999; Ortiz, Rague & Foulkes, 1994a).

Ragué e colaboradores (1999) apontam como complicações cutâneas mais frequentes a irritação, alergia e hipersensibilidade, granulomas, foliculite (inflamação das glândulas dos pêlos), radiodermites (lesões da pele secundárias à radioterapia), infecção por fungos (cândida) ou pela própria doença (p. ex. doença de Cronh) e varizes periestomais (relacionadas, de modo geral, com hipertensão portal).

A irritação cutânea pode oscilar entre o eritema cutâneo e a úlcera cutânea, sendo esta última extremamente dolorosa.

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