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CAPITULO 1. CANCRO COLORECTAL

1.9. Tratamento

1.9.2. Radioterapia

1.9.2.2. Efeitos secundários da radioterapia

A necessidade de decidir qual a abordagem terapêutica mais adequada para cada indivíduo requer uma aproximação holística do problema. Este facto exige por parte dos profissionais de saúde uma avaliação precisa dos prós e dos contras, mediante cada modalidade de tratamento.

Para além da avaliação da toxicidade, o profissional de saúde deve integrar, no processo de tomada de decisão, a percepção do doente perante a sua doença, as consequências emocionais e as dificuldades diárias vivênciadas, relativamente ao facto de lidar com os tratamentos (Adamson, 2003).

A sintomatologia está intimamente relacionada com a qualidade de vida dos indivíduos com cancro. King e colaboradores citados por Faithfull (2003) referem que a qualidade de vida é descrita como tendo quatro dimensões: física, psicológica, social/desempenho de funções e sintomas.

Os efeitos secundários relativos à radioterapia apresentam um cariz bastante subjectivo, facto que se verifica através da diferente sintomatologia observada em cada indivíduo. Estes estão directamente relacionados com a quantidade de dose administrada e com o volume de tecidos irradiados.

Behrend (2000) salienta que a resposta dos tecidos normais à radiação depende da dose total, do esquema de administração, em termos da dose diária, duração total do tratamento e do volume de tecido irradiado. Assim, quanto

maior a dose ou a quantidade de tecido irradiado maior o índice de toxicidade observado.

A tolerância de cada orgão não pode ser prevista com exactidão tendo em conta que os danos provocados pela radiação são um processo ocasional, provocado por um conjunto variado de factores, como o grau de oxigenação tecidular ou a capacidade de regeneração desses mesmos tecidos. Estes aspectos variam de indivíduo para indivíduo, podendo ainda variar, no mesmo indivíduo, em diferentes fases da sua vida (Adamson, 2003).

Os efeitos secundários agudos começam, de modo geral, 1 a 2 semanas após o início da radioterapia e terminam 1 a 2 semanas após o seu términus. Resultam dos danos celulares provocados aos orgãos vizinhos, sobre os quais também incidiu a radiação.

Como forma de minimizar o aparecimento de efeitos agudos, o tratamento radioactivo deve ser planeado com interrupções que permitam a renovação celular. De um modo geral, esta programação consiste em efectuar tratamentos 5 dias por semana com 2 dias consecutivos de intervalo. Por vezes é necessário aumentar os dias de intervalo (Behrend, 2000).

O mesmo autor refere que os efeitos secundários subagudos surgem de modo geral dentro de algumas semanas e até poucos meses após a finalização do tratamento.

Os efeitos secundários tardios da radioterapia dependem da quantidade de dose administrada. Assim, Maher (2000) refere que a extensão e gravidade dos efeitos tardios estão dependentes da quantidade de irradiação administrada diariamente e da dose total administrada, da duração total do tratamento, tamanho da área tratada, tipo de radiação e administração concomitante de quimioterapia.

Ota e colaboradores (2002) referem que o uso de radioterapia, relativamente ao CCR, pode resultar num conjunto de complicações, como o aumento da frequência das dejecções, dificuldade ou urgência em evacuar, incontinência e diminuição da capacidade de distinguir as fezes dos flatos. Os doentes podem ainda apresentar obstrução intestinal, diarreia crónica e fistulas como consequência da lesão do intestino delgado,sendo esta a sequela mais grave da radioterapia. Estes doentes podem apresentar uma baixa qualidade de

vida, sendo por vezes necessário o recurso a intervenções cirúrgicas. Outras sequelas ocasionalmente observadas são a disfunção da bexiga e do esfíncter anorectal, provocadas pela lesão do plexo sagrado e de outras raízes nervosas (Zampino et al., 2004).

Para além do intestino delgado, os orgãos mais comumente afectados, por serem órgãos vizinhos, são a bexiga, os orgãos reprodutivos e os ossos da pélvis. Decorrente deste facto pode ainda observar-se o aparecimento de dor pélvica crónica, aproximadamente 1 ano após a administração de radiação, devido a multiplas fracturas da pélvis.

Hawthorn (2000), citando um estudo existente, (Swedish Rectal Cancer Trial, 1997) refere que a radioterapia pré-operatória aumenta o risco de infecção da incisão perineal de 10% para 20%, em doentes submetidos a ressecção abdominoperineal.

Apesar da literatura apontar um vasto leque de efeitos secundários atribuidos à radioterapia, a diarreia é um dos sintomas mais comuns. Relativamente a este sintoma, Dahlberg e colaboradores (1998) salientam que 30% dos doentes que haviam recebido radioterapia pré-operatória constataram que esta disfunção intestinal afectava a sua vida social. As suas implicações centram-se na forma como limitam a realização das actividades de vida do doente, tendo em conta que surge espontaneamente durante o sono, em viagem, em actividades sociais, etc, o que na maioria dos casos conduz ao seu isolamento social (Faithfull, 2003).

Deste modo, e tendo em conta a importância dos sintomas na qualidade de vida dos doentes, salienta-se a extrema importância da educação para a saúde efectuada pelos profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, salvaguardando, a nivel psicológico o apoio emocional necessário e a nível físico, a prevenção da desidratação e a possível alteração da dieta, como forma de reduzir a gravidade da diarreia (Wells & MacBride, 2003).

Como forma de reforçar estes aspectos, Padilla (1990) citada por Faithfull (2003) concluiu, num estudo efectuado a 101 doentes submetidos a radioterapia, que o impacto dos efeitos adversos gastrointestinais está relacionado com o bem-estar psicológico em 21,5% do total dos doentes.

No que se refere aos problemas relativos à bexiga, e tendo em conta a sua proximidade com o cólon e o recto, e por conseguinte, a sua possível irradiação,

salienta-se que esta pode provocar danos que se manifestam por aumento da frequência urinária, urgência urinária e irritação à micção. Também relativamente a estas manifestações clínicas é importante uma abundante ingestão hídrica, como forma de as reduzir (Dahlberg et al., 1998).

Relativamente à proctite, Maher (2000) refere que a mesma ocorre, de forma mais frequente, em doentes que recebem irradiação para cancro rectal, anal e prostático, devido à sua grande proximidade com a área irradiada. A proctite pode surgir acompanhada de tenesmo e é mais grave se está a ser administrada quimioterapia em simultâneo. Quanto às alterações cutâneas, são de salientar o rubor e a irritação, revestindo-se de enorme importância os cuidados da pele perineal, tendo em conta a sua extrema sensibilidade.

A secura vaginal surge como consequência da perda do epitélio vaginal. Esta alteração provoca vaginite, redução do lúmen e inflamação da mucosa, da qual resulta secura, prurido e eliminação de muco. A dispareunia surge de igual modo de forma bastante frequente (Maher, 2000).

A severidade dos sintomas, assim como o seu início e duração, são influenciadas por um conjunto de factores, dos quais se salientam como factores intrínsecos: a idade, características cutâneas, estado nutricional, saúde geral, doenças associadas e etnia; como factores extrínsecos salientam-se a dose, tipo de energia e o fraccionamento do regime terapêutico (Wells & MacBride, 2003). As mesmas autoras referem ainda que o incremento do uso de quimioradioterapia vem contribuir para um aumento da severidade das reacções cutâneas. Se, por um lado, o uso simultâneo dos dois tratamentos vem aumentar a resposta global do doente ao tratamento, por outro lado os efeitos adversos tendem, de igual modo, a sofrer uma certa exacerbação.

De entre as várias reacções cutâneas, pode salientar-se a descamação húmida da pele, que afecta de modo geral as pregas cutâneas, e cujo tratamento se apresenta de difícil resolução (Potter & Conn, 2006).

Abordar os aspectos relacionados com a sexualidade e a fertilidade apresenta-se por vezes difícil para a equipa de saúde, tendo em conta que as principais preocupações dos doentes se prendem, de modo geral, com os efeitos adversos imediatos, sendo a sexualidade e a fertilidade problemas que surgem como resposta tardia à radioterapia.

White e Faithfull (2003) referem que as questões de âmbito sexual não representam problema para o(a) doente e companheira(o) enquanto os tratamentos não estão completos. As mesmas autoras abordam o resultado de um estudo, no qual observaram que doentes que tinham terminado tratamento radioterápico à pélvis, por cancro da próstata e da bexiga, referiram como problemas menos relevantes, os problemas sexuais, tais como, falta de apetite sexual e disfunção eréctil. Os problemas urinários e a diarreia foram os mais imediatos, ambos referidos ainda durante o tratamento ou imediatamente a seguir à sua conclusão. Contudo, seis meses após o tratamento, o baixo interesse sexual foi o terceiro, relativamente à prioridade, logo a seguir aos problemas urinários e à eficácia da radioterapia no controlo da doença.

A fadiga é outro dos efeitos adversos comumente referidos pelos doentes, sendo caracterizada como um sentimento esmagador de exaustão e falta de energia, do qual resulta, de modo geral, dificuldade de concentração e distress emocional ou diminuição do humor (Faithfull, 2003).

Krishnasamy (2004) refere que a fadiga foi identificada como um dos problemas mais prevalentes, experimentados pelos doentes com cancro. Pode, contudo, ocorrer que a causa desta fadiga corresponda não à radiação propriamente dita, mas a outros factores, físicos, sociais ou emocionais, tais como a insónia e a ansiedade, provocadas quer pelo tratamento quer pela doença em si.

Faithfull (2003) salienta que a fadiga pode afectar seriamente a qualidade de vida, impedindo a capacidade do indivíduo cuidar de si próprio, a reabilitação e a recuperação relativa ao tratamento de radioterapia. A mesma autora refere ainda que a incidência de fadiga em doentes tratados com radioterapia varia entre os 75% e os 100%, e o grau em que ela é sentida varia ao longo de toda a trajectória do tratamento. Contudo, muitos doentes sentem o impacto da fadiga relacionada com a radioterapia como uma sensação de perda, não só em termos da força física mas também na motivação e capacidade de pensar em envolver-se em actividades sociais, conforme se pode observar na figura 1.1.

Figura 1.1. O impacto da fadiga induzida pela radioterapia

Fonte: Faithfull, S. (2003). Fatigue and radioterapy, in: Faithfull & Wells (2003).

Supportive Care in Radioterapy. Edinburgh, Churchill Livingstone.

Apesar do conhecimento existente em relação aos efeitos secundários da radioterapia, Krishnasamy (2004) salienta ainda o facto de ser necessária mais investigação nesta área, de modo a que a etiologia, a natureza e o impacto da fadiga relacionada com o cancro sejam esclarecidas.

BEM-ESTAR FÍSICO E EMOCIONAL Perda de energia

Falta de força

Sensação de cansaço, sonolencia e letárgia todo o tempo

Incapaz de executar actividades

Perda de tempo como necessidade de descansar Perda de independência Fadiga como sensação de perda INCERTEZA Impacto no trabalho/implicações financeiras

Relações e papéis familiares podem ser afectados

Outras pessoas não entendem o que é a fadiga

Alteração dos afectos e função sexual A fadiga pode ser interpretada como falha do tratamento ou progressão da doença

FUNÇÃO COGNITIVA Baixa motivação

Frustração/sensação de inutilidade Incapacidade para planear ou pensar claramente

Esquecido, dificuldades de memória Sentir-se impaciente

Dificuldade em tomar decisões Perda de independência

Deterioração da cognição/atenção Depressão

1.9.2.2.1.

Efeitos Adversos a Longo Prazo na Mulher

Os efeitos adversos que ocorrem a longo prazo prendem-se, sobretudo, com efeitos da radiação sobre os orgãos reprodutores, tendo em conta a sua proximidade anatómica com o cólon e o recto, nos quais se inclui a vagina, o útero e os ovários.

Bub e colaboradores (2003) referem que as doentes deixam de ter períodos menstruais, desenvolvendo sintomas menopausicos, tais como, calor súbito, insónias e alterações do humor.

As perturbações sentidas a nível da vagina estão relacionadas com secura e estreitamento, provocando alterações a nível sexual, nomeadamente diminuição da líbido e dispareunia. Estes efeitos adversos podem, contudo, ser minimizados com administração terapêutica adequada.

Fokdal e colaboradores (2004) salientam que a função sexual da mulher também é afectada, evidenciando menor desejo e satisfação.

1.9.2.2.2.

Efeitos Adversos a Longo Prazo no Homem

Relativamente às alterações observadas, podemos apontar como mais significativas, a infertilidade, provocada pela diminuição do número de espermatozóides e de sémen (Bub et al., 2003).

No que concerne à função sexual, Fokdal e colaboradores (2004) salientam que os doentes do sexo masculino sujeitos a radioterapia apresentaram maior disfunção eréctil e falta de desejo quando comparados com os doentes do grupo de controlo.

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