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CAPITULO 2. CUIDADOS DE ENFERMAGEM AO DOENTE COM

2.3. Cuidados de enfermagem ao doente ostomizado

São vários os factores que influenciam a qualidade de vida do doente ostomizado. De entre estes salientam-se a capacidade de se auto cuidar como um dos aspectos mais importantes para a sua independência na realização das actividades diárias. Esta capacidade depende, em grande parte, da localização da ostomia. Assim, Ortiz e colaboradores (1994a) e Thorson (2004) referem que alguns dias antes da cirurgia deve ser seleccionado o local no qual irá ser efectuada a ostomia, em conjunto com o doente. Deve verificar-se se:

• A pele em volta do futuro estoma está livre de alergias;

• O local não coincide com a cintura, umbigo, púbis, proeminências ósseas e crista ilíaca;

• O doente vê o local e consegue cuidá-lo com facilidade; • O estoma fica situado abaixo da ferida operatória;

• O local escolhido não coincide com a existência de pregas cutâneas ou cicatrizes;

• O local não fica próximo da arcada costal.

Para Habr-Gama e Araújo (2001, p.42) a selecção do local do estoma no

período pré-operatório tem fundamental importância e deve ser enfatizada, sendo possível a sua realização mesmo para os doentes a serem operados em situações de urgência.

Pela enorme importância dada à qualidade de vida dos doentes nos últimos anos, é fundamental preparar o doente o mais precocemente possível para a sua reinserção social e familiar, de forma autónoma e independente. Deste modo, considera-se que o tempo dispendido pelos enfermeiros, junto de cada doente, no período pré-operatório, pode ter um impacto significativo no aumento da sua qualidade de vida.

Também Thorson (2004) considera que o melhor caminho para atingir o objectivo de maximizar a qualidade de vida do doente após a cirurgia é efectuar uma adequada preparação pré-operatória. Esta preparação inclui o aconselhamento do doente numa perspectiva realista, a correcção de mitos e falsas concepções, a marcação antecipada do estoma para minimizar complicações relacionadas com a deficiente aplicação do dispositivo e perda de conteúdo fecal, e providenciar suporte adequado no período pós-operatório.

Para além da importância dos aspectos atrás referidos, o enfermeiro desenvolve um conjunto relevante de actividades relativamente à educação para a saúde do doente ostomizado. Estas actividades têm como objectivo a prevenção ou despiste precoce das inúmeras complicações que podem surgir.

Neste sentido, Ragué e colaboradores (1999) referem que nos casos de cirurgia com formação de ostomia, os problemas secundários a um defeito na técnica representam 40% das complicações. No entanto, não podem ser esquecidas as complicações relacionadas com a dificuldade de manejo do estoma, a aceitação da nova situação, a negação da doença e/ou do estoma, o afastamento social e familiar e o isolamento, as quais apresentam um enorme impacto na qualidade de vida do doente.

Deste modo, e de forma a promover uma melhor aceitação da alteração que um estoma impõe, o enfermeiro deve fornecer ao doente um conjunto de conselhos relacionados com o seu funcionamento, reforçando as informações dadas inicialmente pelo cirurgião. Na opinião de Thorson (2004), o enfermeiro deve reforçar as indicações dadas pelo cirurgião quer em termos do próprio tratamento, quer em termos dos riscos e potenciais complicações, tais como, disfunção da bexiga e sexual, eritema da pele periestomal, hérnia periestomal e prolapso do estoma, entre outras. O mesmo autor salienta ainda que esta informação representa um importante passo no alcance dos objectivos relativos à qualidade de vida e à diminuição das complicações após cirurgia, sendo a sua ausência, uma das maiores limitações à reabilitação do doente ostomizado.

Quanto às alterações da imagem corporal provocadas pelo tipo de cirurgia ou como consequência dos vários tratamentos a que o doente é submetido, salientamos o importante papel do enfermeiro no ensino e no suporte emocional, permitindo ao doente a verbalização das suas dúvidas e receios.

Relativamente a estes aspectos Hawthorn (2000) refere que os doentes a quem foi construído um estoma necessitam de sessões práticas especiais para lhes ensinar como cuidar do seu estoma, e também de apoio psicológico para facilitar a sua adaptação relativamente à alteração da imagem corporal e da sexualidade, entre outras. Rodriguez-Bigas e colaboradores (2007) salientam que a não aceitação da ostomia é uma das maiores barreiras à reabilitação do doente conduzindo por vezes à hipótese de suicídio.

Também Santos e Cesaretti (2001) aludem à ocorrência de dois estigmas sociais conjuntos: cancro e ostomia, em aproximadamente 90% dos doentes ostomizados, salientando ainda que o impacto desta experiência não afecta somente o doente mas toda a família e amigos mais significativos.

Tendo em conta que o doente está perante uma situação geradora de

stress, a sua capacidade para assimilar informação reduz significativamente,

sendo necessário que o enfermeiro tenha em consideração determinados aspectos como forma de facilitar a aprendizagem do doente promovendo deste modo a sua qualidade de vida.

Parafraseando Hawthorn (2000), o enfermeiro deve:

• Proporcionar pequenos períodos de educação, complementados com informação escrita sempre que possível;

• Inteirar-se da quantidade de informação que o doente já possui;

• Tentar colmatar as necessidades educativas do doente; • Dar oportunidade ao doente para formular questões;

• Ensinar-lhe o que ele quer saber, não o que o enfermeiro acha que ele deve saber;

• Evitar a linguagem técnica usando uma linguagem adequada ao nível educativo e emocional do indivíduo;

• Comprovar que o doente compreendeu tudo o que lhe foi dito;

• Estar disponível para proporcionar mais informação e esclarecimentos durante o curso da doença e tratamento. Para uma melhor assimilação de toda a informação é importante que o enfermeiro tenha presente que a educação é um processo gradual e que deve ser efectuada não só ao doente mas também à família, como forma de promover a sua melhor sedimentação e um maior envolvimento da família em todo o processo terapêutico.

Para terminar, salienta-se ainda a importância de considerar o doente como um todo, numa perspectiva holística, não esquecendo que a sua reabilitação não estará completa sem que os problemas relativos às suas dimensões física, emocional, sexual, social e psicológica estejam identificados e resolvidos.

CAPITULO 3. QUALIDADE DE VIDA DO DOENTE

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