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RESUMO

(O COMPONENTE ARBÓREO NA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL MONTANA DO PICO DO JABRE, PB.) Florestas Estacionais Montanas têm como

características variações em altitude, inclinação e tipos de clima, com alta porcentagem de espécies endêmicas, isolamento e fragilidade. Normalmente, estão associadas a solos mesotróficos e bem drenados. A Floresta Estacional Semidecidual Montana do Pico do Jabre está localizada na serra residual de Teixeira, entre os municípios de Maturéia e Mãe

D‘água (06° 02‘12‘‘ a 08°19‘18‘‘ S e 34°45‘12‘‘ e 38°45‘45‘‘W) no estado da Paraíba,

Brasil. Encerra o ponto mais alto do Nordeste setentrional com 1.197 m., distando 360 km do mar. Este estudo teve por objetivos estabelecer a composição florística e estrutura fitossociológica e avaliar a contribuição com espécies de outras comunidades lenhosas no Nordeste para o componente arbóreo na Floresta Estacional Semidecidual Montana do Pico do Jabre. Foram instaladas 36 parcelas sistemáticas de 10 x 50 m (1,8 ha) e medidas

as alturas e diâmetros de todas as árvores com DA P≥ 4,8 cm. Amostras botânicas foram

coletadas por três anos dentro e fora das parcelas e exsicatas foram depositadas nos Herbários da Universidade Federal da Paraíba (JPB) e da Universidade de Brasília (UB). A vegetação da Floresta Estacional Semidecidual Montana do Pico do Jabre mostrou riqueza e diversidade altas. A amostragem florística totalizou 87 espécies, 65 gêneros e 34 famílias incluindo espécies de Florestas Estacionais de Terras Baixas, Florestas Submontanas Ombrófilas, Mata Atlântica e de Caatinga. Fora das parcelas foram amostradas 23 espécies de 18 gêneros e 14 famílias. Nas parcelas ocorreram 2.050 árvores de 64 espécies, 51 gêneros e 31 famílias, com densidade de 1.148 ind.ha-1 e 22,45 m2.ha-1 de área basal total. A diversidade foi de 3,17 nats. ind-1 e a equabilidade de 0,76, similares a outras comunidades de Florestas Estacionais Montanas na região. Malpighiaceae, Myrtaceae, Erythroxylaceae, Vochysiaceae, Celastraceae, Rutaceae, Sapindaceae e Fabaceae- Faboideae destacaram-se como as famílias mais importantes, respondendo por 66,72% do IVI total. Byrsonima nitidifolia, Eugenia ligustrina, Calisthene microphylla, Maytenus

distichophylla e Erythroxylum mucronatum foram as cinco espécies mais importantes e

totalizaram 120,79 (40,3%) do IVI total. A dominância ecológica de Byrsonima nitidifolia aqui registrada, teve seu primeiro relato na região Nordeste do Brasil. A flora registrada na área contém representantes de outras fitofisionomias como Florestas Ombrófilas Montanas, de Florestas Estacionais Semideciduais de Terras Baixas, elementos da Caatinga, assim como espécies de apla distribuição no Brasil, conferindo-lhe caráter misto.

ABSTRACT

(THE TREE COMPONENT OF MONTANE SEASONAL SEMIDECIDUOUS MONTANE FOREST IN PICO DO JABRE, PB). The montane seasonal forests are

characterized by land elevation and inclination, a variety of climatic types, a relatively high percentage of endemic species, isolation and fragility and are frequently associated to mesotrophic and well drained soils. This study aims to establish current floristic composition and structure and to assess species contribution from regional woody communities to the Pico do Jabre montane seasonal forest (06° 02‘12‘‘ to 08°19‘18‘‘ S and 34° 45‘12‘‘ e 38° 45‘45‘‘W), 360 km from the sea, the highest regional elevation (1197 m) at Maturéia and Mãe D‘água municipalities in Paraiba state, Brazil. The sampling system was based on 36, 10 x 50m (1.8ha) plots, distributed in seven transects systematically placed 100m apart, where all trees, Dbh ≥ 4.8 cm, had their diameters and height measured. During three years, monthly, botanical samples were taken within and outside plots. Vouchers were deposited at the Federal University of Paraiba (JPB) and University of Brasília (UB) Herbaria. The Pico do Jabre montane seasonal forest showed high species richness and diversity. In the total there were 87 species of 65 genera of 34 families, which included semi-arid Caatinga, lower-montane seasonal forest and Atlantic forest species. Outside plots there were 23 species of 18 genera of 14 families. Within plots it was found 2050 trees of 64 species of 51 genera of 31 families which accounted for 1138 ind.ha-1 and 22.45 m2.ha -1. Diversity and equability were assessed as H‘ = 3.17 nats.ind-1

and J‘ = 0.76 similar to some others regional of montane seasonal forest communities. Malpighiaceae, Myrtaceae, Erythroxylaceae, Vochysiaceae, Celastraceae, Rutaceae, Sapindaceae e Fabaceae-Faboideae stood out as the ten most important families (66,72% of the total IVI). Byrsonima nitidifolia, Eugenia ligustrina, Calisthene microphylla,

Maytenus distichophylla and Erythroxylum mucronatum the five most important species

accounted for 120.79 (40,3%) of the total IVI. B. nitifolia ecological dominance is here firstly reported in the Brazilian northeast region. The local flora included Brazilian wide spread species and some other which are commonly found in regional montane ombrophylous and lowland seasonal Forest communities, as well as some species from the neighboring Caatinga.

2.1. - INTRODUÇÃO

O principal foco dos estudos em ecologia vegetal é a descrição, medição e interpretação de dados tomados em comunidades de plantas. No Brasil, os estudos de composição florística de comunidades de Mata Atlântica são extensos, quando localizados nas regiões Sul e Sudeste e no Nordeste têm sido intensificados ao longo das últimas décadas. Na Paraíba estudos desta natureza são recentes, com menos ênfase nas unidades de conservação. Na região Nordeste a Mata Atlântica sensu stricto (Oliveira-Filho & Fontes 2000) ocorre em faixa litorânea estreita, com menos de 50 km de largura, ladeada por cinturão igualmente estreito de florestas semidecíduas interioranas: a Mata Atlântica sensu lato (Oliveira-Filho & Fontes 2000), que se estende até o interior por enclaves de florestas, no topo das serras e planaltos do semi-árido nordestino (Tavares et al. 2000). Cerca de 25% da área de distribuição original da Floresta Atlântica nordestina foi representada por estas florestas nos topos das serras (Tabarelli & Santos 2004), que podem ser Ombrófilas ou Estacionais, em função de fatores como precipitação, altitude, continentalidade, umidade do solo (Ferraz et al. 2003; Rodal & Nascimento 2002; Sampaio et al. 1981; Lyra 1982; Ferraz et al. 1998).

Sales et al. (1998) considera que as florestas nos topos e encostas das serras são conjuntos florísticos únicos, com alta diversidade e patrimônio genético de grande valor. Estas formações florestais no Nordeste possuem flora e estrutura relativamente bem estudadas, especialmente para o estado de Pernambuco (Rodal et al. 2008; Lopes et al. 2008 a; Nascimento & Rodal 2008; Rodal & Nascimento 2006; 2002; Ferraz & Rodal 2006; Rodal

et al.. 2005 a; 2005 b; Andrade & Rodal 2004; Ferraz et al. 2004 e 2003; Melo & Rodal

2003; Moura & Sampaio 2001; Tavares et al. 2000; Ferraz et al. 1998; Rodal et al. 1998; Sales et al. 1998; 1999; Pereira et al. 1993; Lyra 1982; Andrade-Lima 1982, 1981, 1961, 1957), que revelaram diferenças na composição florística e na estrutura entre remanescentes (Lopes et al. 2008 a; Rodal et al. 2005 b; Andrade & Rodal 2004), assim como com a vegetação de caatinga circunvizinha (Lyra 1982; Rodal & Nascimento 2002; Moura & Sampaio 2001). Estas florestas apresentam-se em dois grupos divididos de maneira consistente de acordo com aspectos ecológicos como geomorfologia e variáveis climáticas (Rodal et al. 2008 a). A condição privilegiada que têm quanto à umidade de solo

e ar, temperatura e cobertura florestal, quando comparadas à região semi-árida vizinha (Andrade-Lima 1964), levou a intensa intervenção antrópica, que ainda acontece na atualidade, responsável pela fragmentação da vegetação e empobrecimento da flora e fauna (Silva et al. 2006). A fragmentação que se processa nos ecossistemas tropicais é a maior responsável pelas extinções de populações locais (Wilcox & Murphy 1985) e alterações na população de agentes bióticos, que podem provocar alterações na estrutura das comunidades vegetais (Silva & Tabarelli 2000). Os remanescentes de Mata Atlântica no Nordeste encontram-se dispersos em pequenas manchas, normalmente circundadas por campo aberto, e as áreas sob proteção são pequenas, isoladas e mal manejadas (Theulen 2004).

Grande parte dos levantamentos na Mata Atlântica no Nordeste foi realizada em florestas úmidas (Rocha et al. 2008; Tavares et al. 2000; Siqueira et al. 2001; Andrade et al. 2006; Rodal et al. 2005a; Ferraz & Rodal 2006; Oliveira et al. 2006; Rodal & Sales 2007; Pereira & Alves 2006; Barbosa et al. 2004), dentre outros. As áreas secas receberam atenção nos últimos anos (Nascimento & Rodal 2008; Rodal & Nascimento 2006; Ferraz et al. 2003; Moura & Sampaio 2001; Correia 1996). Em sua grande maioria localizadas nos topos e encostas das serras no semi-árido, apresentam diferenças florísticas e estruturais marcantes em função da continentalidade, altitude, precipitação (Vasconcelos-Sobrinho 1971; Andrade & Rodal 2004; Ferraz et al. 2003; Rodal & Nascimento 2002; Tavares et al. 2000).

No estado da Paraíba, os estudos sobre a composição florística e estrutura fitossociológica nestas formações ainda são escassos. Trabalhos florísticos foram realizados por Loiola et

al. (2007); Agra et al. (2004); Rocha & Agra (2002); Pontes & Agra (2001); Cabral

(1999); Agra & Nee (1997) e Mayo e Fevereiro (1982). Estudos fitossociológicos foram realizados na Mata do Pau Ferro em Areia (PB), no Agreste, por Andrade et al. 2006 e Oliveira et al. 2006 e, para o Pico do Jabre, esta será a primeira contribuição.

O Parque Estadual do Pico do Jabre localiza-se no Planalto da Borborema no estado da Paraíba, região onde ocorre mancha de Floresta Estacional Semidecidual Montana (IBGE 1985). O levantamento da flora vascular no Pico do Jabre apresentou alta riqueza florística com 315 espécies, com cerca de 12% de monocotiledôneas e 88% de eucotiledôneas (Agra

Semidecidual Montana interiorana com menor cobertura florestal no Nordeste, com 5,52 Km2 (0,58%) dos remanescentes das Florestas Montanas interioranas na região.

Os estudos fitossociológicos do componente arbóreo na Floresta Estacional Semidecidual Montana do Pico do Jabre representará avanço para o conhecimento da vegetação local. Contribuirá, assim, para o melhor entendimento das relações florísticas entre as Florestas Montanas e sua associação com elementos climáticos, tal qual sugerido por Ferraz et al. (2003) e Tavares et al. (2000), bem como com os fatores geológicos, de paisagem e distúrbios antrópicos, como sugerido por Siqueira et al. (2001).

O cenário dos 500 ha oficialmente protegidos em Unidade de Conservação no Parque Estadual do Pico do Jabre, ainda não completamente implementado, sugere riscos de perda de informações ecológica em todos os níveis. Assim, este estudo poderá embasar ações futuras para a manejo nesta UC.

Desta forma, este capítulo tem como objetivo avaliar a contribuição de outras comunidades lenhosas no Nordeste na composição de famílias e espécies na Floresta Estacional Semidecidual Montana do Pico do Jabre para responder à pergunta 1: Qual o componente florístico, a fitossociologia e a estrutura de diâmetro e altura na Floresta Estacional Semidecidual do Pico do Jabre?