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A indústria — excluindo-se SIUP (Serviços industriais de utilidade pública) e construção civil12

— passou de 10,50% de participação no emprego total para 11,82% durante a década analisada, a maior parte deste aumento, como já mencionado, se deveu à redução relativa de sua eficiência produtiva — figura 15c — sendo a escala e composição da demanda explicações secundárias desta variação. A regressão tecnológica relativa do setor industrial é especialmente preocupante pois este seria o setor do qual se esperariam os maiores ganhos de produtividade, considerando- se um país que já tenha desenvolvido um parque industrial relativamente completo.

A atividade manufatureira se configura como o “lócus privilegiado da inovação” e caso seu progresso técnico seja comprometido as perspectivas de desenvolvimento do país se reduzem.

12 A inclusão previa destes dois setores não modificou substancialmente os resultados, para as analises da se- ção 3.4 os mesmos foram subtraídos da indústria pois não se enquadram em nenhuma das categorias da clas- sificação de setores industriais por intensidade tecnológica da OCDE. A figura 22 incluída no apêndice A , página 92, mostra um comparativo da variação do “share” da indústria com e sem a inclusão destes dois setores.

Como destaca Chang (2010), é uma “fantasia” pensar que uma economia possa se desenvolver abrindo mão do progresso tecnológico da indústria; mesmo aqueles serviços13 que frequente- mente exibem elevados ganhos de produtividade — intensivos em conhecimento — tendem a ser complementares à indústria, transitando em sua órbita de influência; deste modo o progresso tecnológico da manufatura serve como uma base para o desenvolvimento da economia como um todo.

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques 0 20 (%)

(a) Setores que ganharam share

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques −10 0 10 (%)

(b) Setores que perderam share

Figura 16 – Determinantes da variação relativa do emprego, perdedores e ganhadores (indústria)

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

A analise pormenorizada da industria novamente se inicia pelo delineamento de dois padrões comportamentais — figura 16 — distintos: (1) o daqueles setores da indústria que ganharam participação no emprego total — figura 16a —, que geralmente o fizeram devido a uma evolução favorável na composição e na escala da demanda final, e às custas de uma regressão tecnológica relativa alta; (2) e o daqueles setores manufatureiros que perderam participação no emprego total — figura 16b —, e que foram negativamente influenciados tanto por um desaquecimento relativo quanto por uma evolução desfavorável da composição da demanda, e que, no entanto, tenderam a incorrer em perdas de eficiência produtiva relativamente menores do que aquelas dos ganhadores de “share”.

Para descrever as modificações internas à indústria de transformação foi feita a opção pela uti- lização dos critérios de intensidade tecnológica da OCDE14, assim é possível compreender um

pouco melhor a dinâmica do desenvolvimento técnico dentro da indústria brasileira no período analisado. As figuras 17 e 18 revelam alguns padrões interessantes da dinâmica intra-industrial.

13 Nesse aspecto observa-se que os ganhos de produtividade no setor de serviços também foram bastante re- duzidos quando comparados ao resto da economia. Ou seja, dificilmente o ganho de “share” do emprego de 200% — consultar tabela 9 — vivenciado pelo mesmo se concentrou em setores de elevada produtividade e intensivos em conhecimento.

Tabela 10 – Decomposição da variação absoluta do emprego, intensidade tecnológica

Setores ∆ Demanda Final Subst./Penet. de Import. ∆ Tecnologia ∆ Estoques TOTAL

Escala Comp. Uso Final Uso Inter.

alta 123.444 29.748 (18.868) 24.668 (56.942) 16.305 118.356 media-alta 895.376 221.923 (117.180) 223.933 (175.207) 76.376 1.125.221 media-baixa 598.129 16.651 (33.551) (59.422) 36.953 54.535 613.295 baixa 2.357.241 (1.196.201) (343.413) 600.906 (16.595) 62.413 1.464.351 SIUP 257.253 (20.922) (5.776) 260.308 (291.528) 4.432 203.766 Construção Civil 3.152.247 426.239 (12.096) 72.124 (482.661) (332) 3.155.522 TOTAL 7.383.689 (522.562) (530.883) 1.122.516 (985.980) 213.730 6.680.511

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

A variação da demanda — tanto no quesito escala quanto no composição — parece ter favore- cido relativamente os segmentos de alta e média-alta tecnologias; dada a baixa relevância das exportações dos setores industriais de maior conteúdo tecnológico esta importância é, provavel- mente, uma consequência do aumento do poder de compra da população e de uma consequente mudança do padrão de consumo. Os setores responsáveis15pelo elevado peso do componente de

composição são: no caso de média-alta tecnologia, os de “Automóveis camionetas caminhões e ônibus” e “Outros equipamentos de transporte”; e no caso de alta tecnologia o setor de “Máqui- nas para escritório aparelhos e material eletrônico”. Todos protagonistas do surto de consumo durante o processo de elevação do poder de compra da população no período analisado.

Escala Composição Imp. (Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques −0.5 0 0.5 1 ·105 (a) Alta

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques 0 0.5 1 ·10 6 (b) Média-alta

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques 0 2 4 6 ·105 (c) Média Baixa

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques −1 0 1 2 ·106 (d) Baixa

Figura 17 – Determinantes da variação absoluta do emprego, intensidade tecnológica

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

A perda de eficiência produtiva relativa observada para o conjunto da indústria da transformação — figura 15c — foi espelhada por todas as categorias de intensidade tecnológica, porém, foi menos acentuada dentre os setores de alta tecnologia e mais acentuada dentre os de baixa e média-baixa, tendo esta última categoria chegado a vivenciar uma regressão em absoluto — figura 17c. Os setores de alta, inclusive, se comportaram melhor neste aspecto do que os de média-alta intensidade, o que depõe contra o argumento de especialização regressiva dentro da indústria16.

16 Importante ressaltar que isso nada diz sobre a hipótese de especialização regressiva dentro da economia como um todo. Esta segunda hipótese encontra aderência nos resultados gerados pelo modelo.

Escala Composição Imp. (Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques 0 10 (%) (a) Alta

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques 0 10 20 (%) (b) Média-alta

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques −20 0 20 (%) (c) Média Baixa

Escala Composição Imp.

(Uso Fin.) Imp. (Uso Intermed.) ∆ T ec. ∆ Estoques 0 20 (%) (d) Baixa

Figura 18 – Determinantes da variação relativa do emprego, por intensidade tecnológica

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

Por outro lado, a perda de “share” devido à penetração de importações foi bastante importante para o grupo de alta tecnologia, especialmente a penetração para uso intermediário que é um indicador de enfraquecimento relativo das cadeias produtivas relacionadas ao grupamento seto- rial. Ou seja, parte da demanda gerada pelo processo de elevação de renda vazou diretamente — importações para uso final — e ao longo das cadeias — importações para uso intermediário — para o exterior.

3.5 Resultados em perspectiva

Como observado durante a revisão bibliográfica, parece ocorrer na bibliografia nacional sobre desindustrialização uma predominância da ótica da produção e do comércio exterior. Poucos trabalhos enfatizam o papel das modificações das participações setoriais no emprego total como indicador de um processo de mudança estrutural; assim, a comparação dos resultados obtidos com aqueles do restante da bibliografia especializada tem seus limites devido ao enfoque es- sencialmente diferente. Além disso, os períodos analíticos da maioria dos trabalhos revisados é significativamente diferente daquele adotado na presente dissertação, que contou com dados re- centemente publicados pelo IBGE. A despeito destes dois fatos vários padrões aqui destacados foram anteriormente observados por outros autores.

Morceiro (2012) por exemplo, chama a atenção para a peculiaridade do processo de evolução estrutural brasileira, que o mesmo classifica como “desindustrialização” mas que paradoxal- mente convive com uma “geração de um volume expressivo de empregos [na indústria]”. O autor chama a atenção para o fato de que os setores da transformação que mais contaram com expansão no número de empregos — no intervalo 2000–09 — foram os de alta e média-alta intensidade, dando especial ênfase ao desempenho do complexo petroquímico e à produção de álcool, esta última mais intensiva em trabalho. Para o período 2003–13 se constatou fato seme- lhante sendo porém, o ganho de participação — vide figura 19 — do setor de “petróleo e gás natural” superior àquele do setor “álcool” — este último foi o sexto maior ganhador de “share” no emprego total, 57% em relação ao seu ao valor inicial.

Pecuária epesca Agricultura silv . Perfumaria hig. Prod. demadeira Prod. doFumo Máq. eequip. Outros equip. transp. Def. agrícolas Petróleo egás nat. Minério deferro 50 100 150 (%)

Figura 19 – Cinco principais ganhadores e perdedores de participação relativa no emprego

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

Sobre a composição intra industrial da manufatura no período 2000–2009 Squeff (2012a, p.48) afirma que, apesar de uma perda de participação do agregado da indústria para o de serviços, “não houve concentração [...] das ocupações em atividades de baixo valor agregado”; depen- dendo da fonte de dados utilizada verificar-se-ia um aumento ou manutenção da participação conjunta dos grupos de alta e média-alta tecnologia. Para o período 2003-2013 observa-se, na contramão das observações de Squeff para o intervalo 2000-09, um ganho de participação da indústria superior àquele do setor de serviços — tabela 9. No que tange a composição intra- setorial da manufatura padrão semelhante àquele destacado por Squeff emerge — figura 20 —, vale destacar porém, que os ganhos de participação dos setores de média-alta e da construção civil foram superiores àqueles observados nos setores de alta intensidade tecnológica.

alta media-alta media-baixa baixa SIUP Construção Civil 20

40 (%)

Figura 20 – Variação da participação no emprego total, por intensidade tecnológica

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

Este ganho de participação relativa da indústria no emprego total configurou aquilo que in- formalmente denominou-se aqui de “industrialização negativa”, ou seja, se deu concomitan- temente: (1) tanto a um aumento da participação relativa das importações no consumo final e intermediário17; (2) quanto a uma forte redução relativa da eficiência produtiva — consultar figura 18 — como fontes de mudança estrutural. Ou seja, apesar de a indústria aumentar sua par- ticipação relativa no emprego este aumento se deve a fatores pouco desejáveis, assim pode-se concluir que existem indícios de rarefação relativa18das cadeias produtivas domésticas associ-

adas aos setores da transformação, isso coloca em dúvida o diagnóstico de relativa estabilidade estrutural da indústria para o período 2003–13.

Em termos de composição, observou-se um razoável predomínio da estabili- dade estrutural da Indústria de Transformação. Entretanto, os segmentos decli- nantes se concentraram em dois complexos industriais, o eletrônico e o quí- mico, o que explica uma parte importante da desconexão do país com os rumos do desenvolvimento econômico que se observa no mundo. É forçoso reconhe- cer que o sentido mais geral da mudança estrutural foi o de fortalecer os setores intensivos em recursos naturais e enfraquecer os de mais elevado conteúdo tec- nológico. (COMIN, 2009)

Esta involução produtiva é continuação do quadro já descrito por Carneiro (2010, pp.12–13) que, ao comparar coeficientes de exportação e índices de penetração de importações dos dife- rentes subsetores da indústria extrativa e de transformação para o período 1996–2008, concluí

17 A penetração de importações no consumo intermediário foi bastante importante como explicação para a evo- lução do “share” industrial nos setores de média-alta intensidade tecnológica quando desconsideram-se os setores de “refino de petróleo e coque” e “álcool”.

18 Em termos absolutos observa-se um aumento do emprego devido a substituição de importação de insumos, porém esta substituição se dá em níveis inferiores àqueles observados nos outros setores da economia. Já no quesito consumo final observa-se uma variação negativa do emprego devido à penetração de importações tanto em relação ao resto da economia quanto em absoluto.

que a indústria extrativa e os subsetores da transformação ligados “à base de matérias pri- mas” demonstram elevados coeficientes de exportação e baixa penetração de importações — o que indica elevada competitividade — enquanto na indústria de bens de capital se observaria a conjugação de elevados coeficientes de exportação com elevados índices de penetração de im- portações, o que sinalizaria o estabelecimento de atividades de montagem — “maquilla” — na indústria de bens de capital.

Escala

Composição Imp.(Uso Fin.) Imp.(Uso Intermed.) ∆Tec. ∆Estoques −10 0 10 20 (%)

Figura 21 – Determinantes da variação absoluta do emprego, paradigma fordista

Fonte: Elaboração Própria, resultados da decomposição estrutural efetuada

O aumento da penetração de importações na indústria foi também sinalizado por vários autores, principalmente por aqueles que se utilizam da abordagem do comércio exterior para caracterizar as mudanças estruturais. Arend (2014, p.381–85) por exemplo, demonstra através de múltiplos indicadores como a inserção brasileira nas cadeias globais de valor vem se fragilizando, uma vez que assumimos “uma posição de ofertante de insumos que acabam sendo empregados nas exportações de outros países”.

Nosso maior crescimento industrial está atrelado aos setores do “paradigma fordista de pro- dução”19, cujo crescimento relativo em termos de emprego, como indicam os resultados aqui

obtidos — figura 21 —, teve como principal fonte uma redução da eficiência produtiva rela- tiva. Os Novo-desenvolvimentistas também identificam esta mesma tendência de primarização da pauta exportadora, observável a partir de meados dos anos 2000 (OREIRO; MARCONI, 2012, p.7), mas pregam que a mesma é evidência clara de que um quadro de desindustrialização precoce causado por Doença Holandesa acomete o Brasil.

Em suma, dados os resultados do presente trabalho pode-se afirmar que a evolução macro- setorial da economia — pela ótica do emprego — mostra claros sinais de que a indústria passa por um processo de perda de eficiência produtiva relativa e de rarefação das cadeias produtivas

19 Arend (2014) considera o “paradigma fordista de produção” como o agregado da indústria química com o complexo metal-mecânico.

— efeito “maquilla” — associado a uma elevação de sua participação no emprego total; este padrão foi, neste trabalho, informalmente denominado de “industrialização negativa”. Por outro lado, contrariamente às analises pela ótica do comércio exterior e pelo valor adicionado efetua- das por outros autores, não se encontraram indícios de que a evolução intra-industrial do “share” do emprego pelas categorias de intensidade tecnológica refletisse um processo de especialização regressiva interna à indústria.

Além disso, vale destacar o dinamismo dos setores ligados a base de recursos naturais — in- dustria extrativa e alguns setores associados da transformação. Neles se observa a conjugação de ganhos relativos e absolutos de eficiência produtiva com substituição de insumos importados por nacionais. O quadro geral no que diz respeito aos setores primários é, sob a ótica do emprego, um de de “desprimarização positiva”; ganhos de produtividade geram redução da participação destes setores no total do emprego e transbordamento destes empregos em direção à indústria e aos serviços, em um esquema distinto daquele entendido como “natural” — figura 4 — do qual se esperaria que a indústria fornecesse empregos ao setor de serviços devido aos seus enormes ganhos de produtividade.

4 Conclusão

Ha décadas um embate político delimita o escopo para a construção de um projeto econômico para o Brasil; este embate é balizado, em seus extremos, por duas distintas visões de mundo: (1) uma visão liberal, que prega que o papel do Governo é o de desobstruir o caminho para que os mecanismos alocativos de mercado tenham liberdade de atuação, assim se chegaria à alocação de recursos mais eficiente possível; (2) e uma visão aqui denominada de “desenvolvimentista”, que acredita que algum grau de discricionalidade e planejamento industrial é necessário para que se evitem armadilhas e gargalos presentes no caminho de desenvolvimento. Assim, en- quanto os desenvolvimentistas pregam um papel ativo do governo na construção de um projeto econômico os liberais entendem que forçar o mecanismo de mercado a modificar sua trajetó- ria é uma estratégia equivocada, que gera ineficiência na alocação de recursos e instabilidade macroeconômica.

No centro do debate da discricionalidade da política econômica está o setor industrial. O mesmo é visto, pelos desenvolvimentistas, como o núcleo do qual emana o dinamismo de uma economia enquanto para os liberais, a indústria é um setor como qualquer outro — visão setor neutra. Assim, os primeiros defendem uma política industrial ativa e vertical, enquanto os segundos entendem que a política mais efetiva é a manutenção da estabilidade macroeconômica para um funcionamento adequado dos mecanismos de mercado.

Dentro deste contexto se desenrolou o debate de mudança estrutural da economia brasileira nas últimas décadas. De um lado se argumenta que o conjunto de reformas econômicas derivadas da ascensão do ideário liberal ao governo, durante a década de 1990, fragilizou a indústria brasileira, e que a manutenção destas ideias como guias da política econômica — aliada a outros fatos — terminou por levar o país a um cenário de desindustrialização e/ou especialização regressiva da produção — ou pelo menos trouxe este risco. Outros não veem sinais tão claros de um processo de desindustrialização além daquele que seria esperado pelas modificações estruturais naturais do processo de desenvolvimento de qualquer país.

Contribui para o acirramento das discordâncias o fato de que, sob diferentes óticas de mensura- ção da desindustrialização — emprego, produção, e comércio exterior — chegam-se a distintos resultados. Na bibliografia especializada observa-se, em geral, estabilidade estrutural sob a ótica do emprego e desindustrialização sob as óticas da produção — valor agregado — e do comércio

exterior.

A presente dissertação se propõe a analisar este fenômeno pela ótica do emprego — definição tradicional — lançando mão, no entanto, do método de decomposição estrutural para elucidar quais são os determinantes estruturais subjacentes da variação da participação do emprego in- dustrial no total. Ou seja, mais do que produzir uma resposta binária para a pergunta “ocorreu ou não um processo de desindustrialização no Brasil?” se objetivou qualificar a evolução estrutural da economia.

Assim, foi utilizada uma versão modificada da metodologia de decomposição estrutural apre- sentada por Kupfer et al. (2004) aplicada ao intervalo 2000-13 para explicar a variação da par- ticipação do emprego de cada agregado de setores no emprego total da economia como função de seis distintos efeitos:

E1 Variação na escala da demanda final. E2 Variação na composição da demanda final.

E3 Substituição da produção doméstica por importada (vice-versa) na demanda final.

E4 Substituição da produção doméstica por importada (vice-versa) no consumo intermediário. E5 Mudança tecnológica.

E6 Variação de estoques.

Os resultados gerados revelam alguns padrões interessantes: (1) apesar da participação do em- prego industrial no total ter aumentado — indicando industrialização — percebe-se que esta industrialização relativa teve como principal determinante uma redução na eficiência relativa da transformação — uma espécie de “industrialização negativa”; (2) o efeito de substituição de insumos nacionais por importados foi bastante acentuado para indústria de transformação, o que indica o estabelecimento de atividades de “maquilla” — enfraquecimento das cadeias produtivas associadas à indústria; (3) apesar da participação relativa do setor agropecuário no total do emprego ter caído, observa-se que esta queda foi determinada unicamente por elevados ganhos de eficiência produtiva — uma espécie de “desagriculturalização positiva”; (4) A evolu- ção da participação do emprego industrial no total, agrupada segundo categorias de intensidade tecnológica, não fornece evidências em favor da hipótese de especialização regressiva dentro da indústria; (5) o setor de serviços apresentou o comportamento que se esperaria em uma eco- nomia que atinge o ponto de máximo da curva de “U-invertido”, ou seja, funcionou como polo

atrator de empregos, conjugando baixos ganhos de produtividade — perda de eficiência relativa — com elevação relativa da demanda — “Curva de Bell”.

Vale no entanto destacar algumas limitações deste estudo. Primeiramente é importante ressaltar que a mudança estrutural de uma economia é um fenômeno complexo, com inúmeras facetas, e que demanda uma análise por múltiplos ângulos para que se chegue a um resultado de caráter geral e definitivo. O presente estudo analisa uma destas muitas facetas — ótica do emprego — pretendendo fornecer insumos para o debate; de modo algum se pretende colocar um ponto final na discussão, já que , ao se olhar o fenômeno através de diferentes óticas, os resultados podem variar.

Em segundo lugar deve-se chamar à atenção para o conjunto de potenciais erros imbuídos nos resultados. Este conjunto é uma soma: (1) dos erros de estimativa das Tabelas de Usos a preços