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Introdução geral

1.3 Estratégias de prevenção para o controlo de micotoxinas em alimentos

1.3.2 Compostos antifúngicos

Os fungicidas desempenham um papel importante no controlo da presença de fungos nas culturas agrícolas. Estes têm de ser considerados seguros para o meio ambiente e seres humanos antes de autorizada a sua utilização no campo, sendo por isso objecto de muita investigação nesse sentido. No entanto, os benefícios que a aplicação de tais fungicidas produzem em relação à prevenção ou redução dos níveis de micotoxinas estão pouco estudados. Ademais, a procura de novos compostos antifúngicos é uma necessidade constante, uma vez que existem cada vez mais pressões da sociedade no sentido de se utilizarem agentes químicos que possam ser utilizados em menores quantidades e que ao mesmo tempo possuam maior actividade antifúngica, menores impactos ambientais e baixa toxicidade para o ser humano e a vida selvagem. Existe, para além disso, a necessidade de compostos com novos modos de acção e uma eficiência melhorada, de forma a combaterem fungos patogénicos resistentes ou com reduzida sensibilidade aos tratamentos actuais (Knight et al., 1997).

Contudo, como se referiu atrás, o uso de fungicidas pode, em determinadas condições, estimular a produção de micotoxinas. Por exemplo, verificou-se que a utilização de azoxistrobina provocou um aumento da produção de desoxinivalenol por unidade de patogénico em ensaios artificialmente inoculados com Fusarium sp. e Microdochium nivale (Simpson et al., 2001); que o miconazole e fenpropimorfe levaram o A. parasiticus a produzir quantidades mais elevadas de aflatoxina em ensaios in vitro (D´Mello et al., 1998) e que o

fenehexamida, mancozebe e uma mistura de sais de cobre aumentaram a produção de OTA pelo A. carbonarius em uvas (Bellí et al., 2006).

Ainda a respeito desta temática, o Comité Científico Europeu para as plantas, num relatório em que avalia os estudos disponíveis sobre o impacto da utilização de pesticidas na presença de micotoxinas, conclui que não existem evidências suficientes de que estes pesticidas desempenham um papel preponderante e consistente na prevenção ou inibição da produção de micotoxinas; e recomenda que no futuro os fungicidas sejam seleccionados tendo por base a sua eficácia para inibir efectivamente a produção de micotoxinas (EC, 1999).

A própria comunidade científica reconhece indirectamente esta necessidade dado o crescente número de publicações que descrevem o efeito de diversos compostos, sintéticos ou naturais, sobre a inibição do crescimento de fungos micotoxigénicos ou sobre a produção de micotoxinas. A título de exemplo, um alcalóide que inibe a produção de aflatoxinas por

Aspergillus spp. e de desoxinivalenol por Gibberella spp. foi patenteado (Trail et al., 2006);

óleos essenciais da planta Cymbopogon citratus inibiram a produção de aflatoxinas e o crescimento de A. flavus (Paranagama et al., 2003); óleos essenciais de especiarias inibiram o crescimento de A. parasiticus e F. moniliforme e preveniram a formação de aflatoxinas e de fumonisinas (Juglal et al., 2002); diversos fungicidas foram testados para verificar os que melhor inibiam o crescimento de A. carbonarius e a produção de OTA (Bellí et al., 2006) e óleos essenciais de especiarias inibiram o crescimento de A. ochraceus e a produção de OTA (Basilico & Basilico, 1999).

A utilização de fungicidas como método preventivo da formação de micotoxinas exige, por conseguinte, alguns cuidados, podendo constituir, numa abordagem HACCP, um pré-requisito de controlo em relação à produção de micotoxinas.

Como o objectivo principal desta introdução não é o de abordar toda a diversidade de compostos fungicidas disponíveis no mercado e os seus modos de actuação, para uma breve revisão podem ser consultados os artigos de Knight et al., 1997 e Gullino et al., 2000, iremos pois, apenas fazer uma exposição sobre as propriedades antifúngicas dos derivados de

cromeno e do Na2EDTA por terem sido objecto de estudo durante o trabalho desenvolvido

para elaborar esta dissertação. 1.3.2.1 Derivados de cromeno

Os cromenos são uma importante classe de compostos, sintetizados por plantas e presentes em vegetais e frutos comestíveis (Curini et al., 2006). Muitos são conhecidos pelas suas

propriedades biológicas, tendo sido desenvolvidos análogos sintéticos com aplicações importantes na área da farmacologia (Yu et al., 2003; Borges et al., 2005; Chimenti et al., 2006; Kulkarni et al., 2006) e como agentes antimicrobianos (El Agrody et al., 2001; Khan et

al., 2004). Alguns têm, também, propriedades antifúngicas, como é o exemplo do

6-acetil-7,8-dimetoxi-2,2-dimetilcromeno isolado a partir das raízes da planta Eupatorium riparium (Bandara et al., 1992), do 5-hidroxi-6-acetil-2-hidroximetil-2-metil cromeno isolado a partir de raízes de Blepharispermum subsessile (Agarwal et al., 2000) ou de diversos cromenos isolados a partir de folhas de Peperomia serpens (Saga Kitamura et al., 2006).

O método clássico para a síntese de 2-iminocromenos utiliza a condensação de Knoevenagel de aldeídos salicílicos com compostos de metileno activos sobe condições de reacção apropriadas (Sakurai et al., 1972; O'Callaghan et al., 1995; Fringuelli et al., 2003; Volmajer et al., 2005).

1.3.2.2 Na2EDTA

O ácido etilenodiaminotetraacético (EDTA) é um agente com forte capacidade para complexar iões metálicos (agente quelante), formando diversos complexos metálicos ou salinos que são amplamente usados em detergentes e produtos de limpeza, na agricultura e no processamento de alimentos (Oviedo & Rodriguez, 2003). Na indústria alimentar, o EDTA é usado para remover sabores metálicos pela complexação de iões metálicos libertados durante o processamento ou armazenagem, como por exemplo em feijão enlatado. Concentrações de

Na2EDTA de 36 a 500 ppm, que correspondem a 0,1 e 1,5 mM em solução, são permitidas

nos EUA em alguns produtos alimentares (Heimbach et al., 2000). Na agricultura, o EDTA é usado em produtos agro-químicos para estabilizar formulações e para fornecer micronutrientes como zinco, manganésio, ferro, cobre, magnésio, cálcio e potássio. É também reconhecido como agente antibacteriano, que afecta a integridade das membranas celulares, e que potencia o efeito de outros agentes letais (Oita, 2003). As suas propriedades antifúngicas foram essencialmente testadas em leveduras (Siqueira & Sen, 2004; Kubo et al., 2005), tendo também sido relatados efeitos sinérgicos com outros agentes antifúngicos na redução de aspergillose pulmonar (Hachem et al., 2006), bem como o seu efeito no controlo do míldio

em folhas de tomateiro (Ehret et al., 2002). O impacto que a utilização de Na2EDTA tem, no

campo da agricultura, relativamente à inibição do crescimento de fungos ou à inibição da presença de micotoxinas não é conhecido.