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Introdução geral

1.4 Estratégias de remediação para o controlo de micotoxinas em alimentos

1.4.1 Métodos físicos

1.4.1.1 Segregação e fraccionamento por densidade

Não estando as micotoxinas uniformemente distribuídas nos produtos alimentares, uma vez que certos grãos, partículas ou fracções dos mesmos podem concentrar maiores quantidades, a segregação ou separação de porções de produto danificadas, descoradas, ou com sinais visíveis de podridão leva à uma redução significativa dos níveis de micotoxinas nos lotes tratados desta forma. Estes processos podem ser mais ou menos automatizados existindo mesmo alguns que recorrem à fluorescência das micotoxinas para efectuar a separação mecanizada das porções mais contaminadas. Outros, e uma vez que os grãos de cereais danificados por bolor e contaminados com micotoxinas apresentam propriedades físicas diferentes dos grãos não danificados, recorrem à sua separação por segregação de densidade em meios líquidos adequados ou ao seu fraccionamento de acordo com tabelas de gravidade específicas. A segregação por densidade e consequente remoção dos grãos que flutuam numa solução saturada de cloreto de sódio pode reduzir os níveis de várias micotoxinas nos cereais. O uso de tabelas específicas de gravidade permite a remoção das fracções menos densas correspondentes aos grãos danificados. A sua aplicação em trigo contendo 4-7 mg/Kg de

desoxinivalenol permite reduções entre os 68 a 85% (Kabak et al., 2006).

1.4.1.2 Lavagem

A lavagem de cereais contaminados pode permitir a redução dos níveis de toxinas, tendo sido relatadas reduções de 65-69% nos níveis de desoxinivalenol em cevada e milho lavados três vezes com água destilada (Trenholm et al., 1992). Este método, porém, só tem interesse no caso do cereal ser posteriormente submetido à moagem húmida ou à fermentação alcoólica, uma vez que a secagem do cereal após a lavagem tem custos proibitivos.

1.4.1.3 Descasque

Este processo de descontaminação tira partido do facto de a porção externa dos grãos afectados apresentar uma maior concentração de micotoxinas. A eficácia do método, que consiste no descasque do grão e remoção do farelo produzido, depende do grau de penetração dos fungos no grão. Estudos efectuados mostraram que o descasque de cevada, trigo e arroz contaminados com 5-23 mg/Kg de desoxinivalenol e 0,5-1,2 mg/Kg de zearalenona permitiu reduções de 40-100% na contaminação, com uma perda de 13-19% de material (Trenholm et

al., 1991). Os farelos obtidos constituem, contudo, um produto bastante usado na alimentação

directa de animais ou na elaboração de rações para estes, o que obriga ao uso de métodos adicionais para a sua descontaminação.

1.4.1.4 Crivagem ou triagem

Os grãos partidos e os resíduos de cereais contêm normalmente níveis de micotoxinas bastante superiores aos dos grãos intactos. A separação e remoção dos resíduos por crivagem permite, por conseguinte, a redução dos níveis de contaminação. Tal como acontece com os farelos, os resíduos de crivagem constituem, porém, uma proporção significativa dos produtos de cereais usados em rações para animais, o que obriga ao uso de métodos adicionais para a sua descontaminação.

1.4.1.5 Processamento térmico

As micotoxinas podem ser destruídas pelas temperaturas alcançadas durante alguns processamentos de alimentos, como sejam a cozedura em forno, a torrefacção, a extrusão, o cozinhar e a fritura. Contudo, algumas micotoxinas são quimicamente estáveis, não sendo completamente destruídas pelas temperaturas de processamento. O grau de descontaminação depende das temperaturas alcançadas e do tempo de exposição a essas temperaturas. Por exemplo, o tempo necessário para reduzir o conteúdo de ocratoxina A em 50% no trigo varia de 6 a 700 minutos para temperaturas variando entre 250 e 100 ºC (Boudra et al., 1995). 1.4.1.6 Moagem húmida

No processo de moagem dos cereais as micotoxinas presentes ficam distribuídas pelas diferentes fracções do produto moído. No caso da moagem húmida do milho, o amido produzido fica praticamente isento de fumonisinas e aflatoxinas, porque estas toxinas são altamente solúveis em água e permanecem, por isso, na fracção líquida da moagem.

1.4.1.7 Moagem seca

A distribuição de desoxinivalenol nas diversas fracções da moagem seca do trigo depende do grau de penetração do fungo no endosperma. Assim, no caso de contaminação superficial, a maioria das micotoxinas fica no farelo e a farinha apresenta níveis baixos de micotoxinas (Scudamore et al., 2003). O efeito é semelhante ao atrás descrito para o descasque. Estudos efectuados mostram uma redução de 66% de ocratoxina A na produção de farinha branca a

partir da moagem de trigo duro contaminado com 618 µg/Kg após inoculação com

P. verrucosum. No caso de trigo mole, a redução, em circunstâncias idênticas, foi de 40%,

demonstrando uma maior penetração do fungo nos grãos de trigo (Osborne et al., 1996). 1.4.1.8 Adsorção

A adição de adsorventes às rações alimentares é o método mais usado para proteger os animais contra as micotoxinas. Os adsorventes destinam-se a fixar e imobilizar as micotoxinas no trato gastrointestinal, diminuindo consequentemente a biodisponibilidade das toxinas e a sua absorção através dessa via.

A descontaminação ou destoxificação das rações alimentares adquire uma grande relevância económica, uma vez que a contaminação das rações por micotoxinas afecta a saúde dos animais e diminui a produtividade pecuária, devido à recusa e à má assimilação dos alimentos por parte dos animais, com a consequente redução de peso. Adicionalmente, podem surgir problemas de imunodepressão, o que torna os animais mais sensíveis a diferentes agentes patogénicos, distúrbios na capacidade reprodutiva e resíduos de micotoxinas em produtos alimentares de origem animal.

O processo de destoxificação por adsorção consiste em adicionar à ração adsorventes nutricionalmente inertes, por forma a reduzir a absorção das micotoxinas pelo trato gastrointestinal e, por conseguinte, atenuar os efeitos tóxicos para os animais e a transposição de micotoxinas para os produtos de origem animal. A eficiência da adsorção depende das estruturas químicas do adsorvente e da micotoxina, sendo também importante que o adsorvente não remova nutrientes essenciais da dieta. Os aluminossilicatos são os adsorventes preferidos para o efeito. De entre estes, os aluminossilicatos hidratados de sódio e cálcio (HSCAS) têm sido os mais estudados, dado a sua promissora capacidade para adsorver a aflatoxina. No entanto, outros materiais como o carvão activado, bentonites, colestiramina, zeólitos, argilas e paredes celulares de microrganismos têm sido objecto de estudo, com o intuito de verificar a sua capacidade para adsorver determinadas micotoxinas (Galvano et al., 2001).

Apesar da divulgada eficácia de inúmeros adsorventes disponíveis no mercado, alguns investigadores têm verificado que a maioria dos produtos comercializados não é capaz de adsorver in vitro certas micotoxinas, como as produzidas pelos Fusarium, e que apenas um número reduzido destes produtos é capaz de adsorver mais do que uma micotoxina em simultâneo (Avantaggiato et al., 2004; Huwig et al., 2001). Ademais, segundo Schatzmayr e

colaboradores (2003), a aplicação prática da estratégia de destoxificação por adsorventes em rações alimentares, que tem sido usada com sucesso para as aflatoxinas com a utilização de HSCAS, não tem tido sucesso com a ocratoxina A devido às propriedades físico-químicas desta micotoxina, considerando ainda estes ser necessário recorrer a estratégias alternativas para a sua destoxificação, nomeadamente biológicas. O insucesso da utilização de adsorventes para reduzir a absorção gastrointestinal da ocratoxina A está patente no estudo de Plank e co-autores (1990), que demonstra a ineficácia de HSCAS e de várias bentonites para reduzir a presença desta micotoxina no sangue de suínos.

Pelo contrário, no vinho, a utilização de adsorventes para reduzir os níveis de ocratoxina A tem sido melhor sucedida. Existem, entre outras, referências à eficácia do caseinato de potássio e do carvão activado (Castellari et al., 2001), embora este último possa afectar algumas propriedades organolépticas do produto (Rousseau & Blateyron, 2002). Mais recentemente, tem-se verificado que algumas leveduras (Bejaoui et al., 2004; Caridi et al., 2006b), paredes celulares de leveduras (Ringot et al., 2005) e componentes das paredes celulares de leveduras (Ringot et al., 2007; Yiannikouris et al., 2006) são capazes de adsorver a ocratoxina A, demonstrando-se, também, que o uso de leveduras expressamente seleccionadas permite a redução substancialmente dos níveis de OTA durante a vinificação (Moruno et al., 2005; Cecchini et al., 2006; Caridi et al., 2006c).