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Comunicação engajada e o Jornal Sem Terra na organização do MST

Ao longo de sua trajetória histórica, o Jornal Sem Terra pôs em evidência preocupações com a formação de seus integrantes, com a organização interna do MST, assim como com questões mais abrangentes de interesse nacional e internacional. O jornal foi sofrendo transformações junto com o próprio MST, e a diversidade de seu público e objetivos eram considerados um dilema. Entre os anos de 1986 e 1987, passou a ser mais direcionado ao público interno, à organização e a militantes do MST. Sobre esse período de transição, Perli destaca:

194 Debora Franco Lerrer. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. CPDA/UFRRJ. Rio de Janeiro/RJ, 2012. 195 PERLI, F., A Luta Divulgada: um Movimento em (in)formação, p. 155.

90 A transição do Sem Terra de boletim a tablóide foi caracterizada por uma profunda organização gráfica. A administração a cargo de um jornalista trouxe novas perspectivas para o BST que ao tornar-se Jornal dos

Trabalhadores Rurais Sem Terra teve como instância de sua organização a

Comissão do Jornal. Até 1987 a Comissão traçou com a Executiva Nacional

uma estratégia jornalística voltada para a organização e consolidação do MST em caráter nacional196.

Ao se apropriar do periódico, o MST, por meio de sua Direção Nacional, vislumbrou outras perspectivas para o jornal. Flademir Araujo, que acompanhou esse processo, destaca que havia dois caminhos a seguir: continuar a ser um jornal mais informativo e de divulgação das lutas ou direcioná-lo para a organização interna do Movimento e para a formação dos seus militantes. O MST decidiu seguir a segunda opção e, a partir de 1984, o Jornal Sem Terra passou a ser um instrumento político e de formação da organização do Movimento.

Para tanto, o público alvo do Jornal Sem Terra seria sua própria militância. Nas entrevistas, os editores destacaram o fato de o jornal ser produzido com o foco na base e na militância do Movimento. Conforme Igor, “no decorrer da história do MST, o jornal foi se constituindo como um veículo voltado para a militância do MST, pra militância e pra base do Movimento”197. Mesmo sendo pensado e produzido para a base e militância do Movimento,

como já foi destacado, não quer dizer que ele chegava a todos os acampamentos e assentamentos ligados ao MST.

Há que se pontuar que, ao longo da história, movimentos operários, partidos de esquerda e organizações de trabalhadores rurais utilizaram meios impressos com vistas a que eles contribuíssem para suas organizações. Nessa perspectiva, o MST não foi precursor. Mas, sem dúvida, foi uma das organizações sociais que mais investiu na produção de um periódico e em políticas de comunicação.

Maria Nazareth Ferreira ressalta que o uso de meios de comunicação na organização de movimentos sociais no Brasil se tornou corrente, desde o início do século XX, e estava ligado a grupos socialistas, comunistas e anarquistas. Ao analisar a imprensa operária no Brasil, entre as décadas de 1880 e 1920, Ferreira elenca que houve a difusão de centenas de periódicos, cuja função era divulgar as doutrinas partidárias dos grupos198. No que tange à

imprensa operária, houve um manancial de publicações, contudo, havia debilidade de periódicos voltados aos movimentos no campo. Além do Jornal Sem Terra, destacam-se o

Jornal Terra Livre, de responsabilidade do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1949; e o

196 PERLI, F., Sem Terra: de boletim a tabloide, p. 19.

197 Igor Felippe Santos. Entrevista concedida a Fabiano Coelho. Secretaria Nacional do MST. São Paulo/SP, 2012. 198 FERREIRA, Maria Nazareth. A Imprensa Operária no Brasil (1880 – 1920). Petrópolis: Vozes, 1978.

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Liga, em 1962, editado por intelectuais, estudantes e militantes que mantinham contatos199,

estimulavam e prestavam assessoria aos trabalhadores rurais.

O MST, ao longo de sua trajetória histórica, edificou uma estrutura organizativa “múltipla, plural e híbrida”200. Essa estrutura se caracteriza como flexível e dinâmica,

envolvendo todas às suas instâncias de representação, setores e coletivos de trabalho. Para além do Jornal Sem Terra, o Movimento tem investido em políticas de comunicação, sobretudo, na década de 1990. Isso fica evidenciado na criação do Setor de Comunicação, no ano de 1997. Vale ressaltar que as atividades de comunicação do MST não começaram com a criação formal do Setor de Comunicação: tiveram início com a editoração do Jornal Sem

Terra e com a de outros materiais internos da organização do Movimento, como os Cadernos

de Formação, Cadernos do Educando, Manuais, Cartilhas, dentre outros201.

Anterior à criação do Setor de Comunicação, em 1991, no Caderno Vermelho, nº 9, intitulado Documento Básico do MST, o Movimento demonstrava o investimento e a preocupação com suas mídias e propaganda. Nesse material, até então considerado por sua organização o “documento mais importante da vida interna do MST”, eram explicitadas brevemente algumas “linhas políticas” para os meios de comunicação do Movimento. A orientação da Direção Nacional era a de que o documento fosse “conhecido, discutido e aprofundado em todas as instâncias do MST e por toda militância”202. Para além dos meios de

comunicação, esse documento traçava um perfil político para os diversos setores e instâncias do MST: frente de massas, políticas de alianças, organização interna, finanças, formação,

educação, cooperação agrícola, produção e reforma agrária. O tópico nº 5 do documento tinha como título Comunicação: jornal e propaganda. Nele eram tratadas questões

199 Ao pesquisar a imprensa partidária, Medeiros compreende que, em um período em que os trabalhadores rurais

construíam uma linguagem política própria, de caráter classista, os impressos tiveram um papel relevante nesse processo. Para tanto, enfatiza o papel da imprensa comunista na década de 1950. O PCB editou diversos impressos na época, destacando-se o Voz Operária, um jornal de âmbito nacional, editado regularmente na década de 1950. Em relação à imprensa comunista, através dos jornais eram “divulgadas análises políticas do que eram considerados os grandes temas nacionais, diretrizes do partido, matérias sobre o movimento comunista internacional, ampla cobertura sobre as lutas ‘operárias’” (MEDEIROS, 1998, p. 43-44). Na imprensa comunista também eram veiculadas diversas informações sobre a situação do campo. Sobre o Jornal Terra Livre, ver: MEDEIROS, Leonilde Sérvolo de. Os Trabalhadores Rurais na Política: o papel da imprensa partidária na constituição de uma linguagem de classe. In: COSTA, Luiz Flávio Carvalho; SANTOS, Raimundo (Orgs.).

Política e Reforma Agrária. Rio de Janeiro: Mauad, 1998. p. 41-57.

200 FERNANDES, B. M., Formação e Territorialização do MST no Brasil, p. 182-184. Sobre as atribuições das

instâncias de representação, setores e coletivos de trabalho no MST, ver: FERNANDES, Bernardo Mançano. A

Formação do MST no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000. O organograma da estrutura organizativa do MST, construído por Fernandes, está em anexo na tese.

201 Ver: PERLI, Fernando. A Luta Divulgada: um Movimento em (in)formação – estratégias, representações e

política de comunicação do MST (1981-2001). 2007. 333 f. Tese (Doutorado em História). Universidade Estadual Paulista – UNESP, Assis.

92 específicas sobre a produção e a divulgação do Jornal Sem Terra e sobre a propaganda/divulgação do MST perante a sociedade. O fato de existir um tópico específico acerca dos meios de comunicação nesse documento evidencia a importância que a Direção Nacional atribuía às formas de se comunicar do/no Movimento, tanto interna quanto externamente.

Na década de 1990 houve investimento significativo nas políticas de comunicação do Movimento e, por intermédio delas, foram criados diversos meios de comunicação. Houve também a ampliação de parcerias com outras entidades, como resultado tem-se, por exemplo, a rádio Vozes da Terra, construída inicialmente com o apoio da Universidade de Santos e depois com a participação da PUC-SP. O MST expandiu, ainda, suas estratégias de comunicação com a utilização de recursos audiovisuais, páginas virtuais, produções musicais (CD Arte em Movimento)203 e programas de rádios comunitárias. No entender de Perli,

expandiu-se a “rede de sociabilidade” do MST com entidades solidárias que projetaram o MST internacionalmente204. Abaixo, uma tabela com os meios de comunicação do MST,

organizada por Miguel Carter e Horácio Martins de Carvalho205:

Tabela 1 – Meios de comunicação vinculados ao MST, até 2007 Veículos associados ao MST

Meio Ano de Criação Frequência Difusão

Jornal Sem Terra 1981 Mensal 20 mil exemplares impressos

Revista Sem Terra 1997 Bimestral 7 mil exemplares impressos

Página de Internet 1997 Diária 3 mil acessos em média

Rádios Comunitárias * 1997 Diária 30 rádios localizadas em

diversos pontos do país

Vozes da Terra 2000 Mensal Distribuído a

aproximadamente 1500 rádios comunitárias

Letraviva 2000 Mensal Distribuído a mais de 60 mil

correios eletrônicos Veículos apoiados pelo MST **

Meio Ano de Criação Frequência Difusão

Editora Expressão Popular 1999 - 171 títulos publicados em

730 mil exemplares

203 Sobre a produção musical no MST, ver: PIANA, Marivone. “Arte em Movimento” no MST: a expressão

simbólica das transformações. In: Movimentos Sociais Rurais: Identidades, Símbolos e Ideais. Cadernos de

Pesquisa, nº 24, novembro de 2000. p. 18-30; ______. Música e Movimentos Sociais: perspectivas iniciais de análise. In: Anais do II Seminário Nacional Movimentos Sociais, Participação e Democracia. 2007, UFSC, Florianópolis. p. 502-513.

204 PERLI, F., A Luta Divulgada: um Movimento em (in)formação, p. 190

205 CARTER, M; CARVALHO, H. M. de., A Luta na Terra: fonte de crescimento, inovação e desafio constante

93

Brasil de Fato 2003 Semanal 50 mil exemplares impressos

Radioagência NP 2004 Diária Reportagens distribuídas a

100 rádios

Agência Chasque 2005 Diária Reportagens distribuídas a 20

rádios no Sul do país

Fonte: Setor de Comunicação do MST e Editora Expressão Popular

* As 30 rádios comunitárias do MST surgem a partir de 1997, logo depois da emissão de uma nova lei de radiodifusão.

** Entidades auspiciadas e apoiadas pelo MST, mas com conselhos editoriais autônomos.

Apesar de o MST ter investido na criação dos seus meios de comunicação, estes não foram frutos apenas de produção interna do Movimento. A construção dos diversos materiais foi desenvolvida com a ajuda de Organizações não Governamentais (ONGs) e simpatizantes das lutas empreendidas por sua organização. Nesse processo, as lideranças do Movimento tiveram a sensibilidade de construir e de se apropriar das diversas formas de se comunicar, no sentido de que essas seriam relevantes para a organização. Dessa maneira, Perli ressalta que “esta ação política possibilitou contatos entre o MST, cineastas, artistas e ONGs, o que gerou um efeito de produção de tecnologias de comunicação pelos próprios sem-terra”. É importante salientar que, mesmo com o investimento do MST nos meios de comunicação impressos, grande parte dos materiais, inclusive o Jornal Sem Terra, não era muito identificado com os gestos e falas dos trabalhadores rurais. Isso evidencia certo distanciamento no uso dos impressos que, embora ricos de uma simbologia formal, estavam distantes da “dinâmica cotidiana dos acampamentos e assentamentos”206. As dificuldades de leitura por parte dos

trabalhadores colocavam em debate a abrangência e a recepção dos diversos materiais que, para o MST, sempre foram “instrumentos de luta”.

Em relação aos meios de comunicação, Joel Felipe Guindani ressalta que eles “não são apenas simples meios de passagem, os quais teriam um ofício produtivo ou engendrador de novos problemas na realidade”. Os meios de comunicação podem pulsar “sentidos gerando alterações, podendo ser desestabilizadores ou controladores de ambientes ou situações diversas”. É de longa data que os movimentos sociais se apropriam do que se pode chamar de “práticas midiáticas”. Elas “sempre estiveram em posição párea ou indissociável com os movimentos, não somente em tempos recentes, devido às facilidades de uso e acesso à internet, mas desde os tempos dos panfletos, jornais e folhetins, rádio-poste em diante”207.

Nas últimas décadas e no contexto atual, destaca-se o Exército Zapatista de Libertação

206 PERLI, F., A Luta Divulgada: um Movimento em (in)formação, p. 200-201.

207 GUINDANI, J. F., Políticas Comunicacionais e a Prática Radiofônica na Sociedade em Midiatização: um

94 Nacional (EZLN), do estado de Chiapas, no México, que faz uso das tecnologias da comunicação para dialogar com a sociedade e com grupos simpatizantes de suas causas208.

Os movimentos sociais se apropriam dos meios de comunicação, a princípio, devido às suas próprias demandas ou problemas. Para Guindani, “essa aproximação entre movimentos sociais e o campo da comunicação se deflagra a partir de demandas que eles próprios delegavam ao campo midiático”. Contudo, além de suas lutas específicas, os movimentos sociais buscam desenvolver “tecnologias de comunicação visando ao reconhecimento, à visibilidade e à legitimidade social para além de suas fronteiras”209.

Desde sua formação, ao incorporar o Jornal Sem Terra à sua organização e fomentar seus próprios materiais impressos para seus integrantes, o MST soube captar bem essa dimensão. Fladimir Araujo, que acompanhou o início desse processo na organização do Movimento, observou que seus dirigentes, em meados da década de 1980, “sempre tiveram esta visão estratégica da comunicação e o jornal era o principal instrumento”. Como era o meio de comunicação mais bem estruturado no período, “tudo passava pelo jornal”210.

Posteriormente, o MST foi criando outros meios de comunicação, como pode ser observado na tabela 1, mas o investimento na comunicação e na sua visibilidade enquanto algo estratégico para sua organização foi elementar no MST. Nesta perspectiva, Guindani sublinha:

Com o passar do tempo, os Movimentos Sociais foram reconhecendo que o espaço midiático também assumia uma função estratégica e política, capaz de contribuir com seus objetivos e lutas. Em tempos de midiatização social, torna-se impossível, a qualquer movimento social, continuar indiferente aos espaços midiáticos, resistindo na surdina ou nas trincheiras das articulações211.

Os movimentos sociais passaram, entretanto, a se preocupar com o distanciamento entre a realidade de suas ações e as informações produzidas pelos meios de comunicação. Assim, investiram em canais próprios de comunicação, visando a se expressarem por meio de seus integrantes, contrapondo discursos de outros meios de comunicação. Conforme Maria da

208 Sobre o EZLN, ver: VARGAS NETTO, Sebastião Leal Ferreira. A Mística da Resistência: culturas, histórias

e imaginários rebeldes nos movimentos sociais latino-americanos. 2007. Tese (Doutorado em História). USP, São Paulo.

209 GUINDANI, J. F., Políticas Comunicacionais e a Prática Radiofônica na Sociedade em Midiatização: um

estudo sobre os documentos de comunicação do Movimento Sem Terra e Rádio Terra Livre FM, p. 57-58. 210 ARAÚJO, Flademir. O Jornal se Transformou com o próprio MST. Entrevista concedida a Miguel Stedile. Agosto de 2001. Disponível em: http://www.lainsignia.org/2001/agosto/cul_078.htm. Acesso em: 20/09/2011, às 22h14min.

211 GUINDANI, J. F., Políticas Comunicacionais e a Prática Radiofônica na Sociedade em Midiatização: um

95 Glória Gohn, “as lutas sociais também entraram para o mundo da realidade virtual, e isso potencializou suas ações porque passaram a atuar em redes que ultrapassam as fronteiras locais e nacionais”212. No caso do MST, a necessidade de investimento em seus próprios

meios de comunicação advém também do fato de o Movimento não poder se inserir nos espaços regulados pelos grandes meios de comunicação. Nesse sentido, investiu na criação de políticas e alternativas de comunicação. Mas, como deve ser a comunicação no MST? Quais são suas linhas e diretrizes gerais? O que é o Setor de Comunicação? Quais são as suas atribuições?

Como já foi salientado, o Setor de Comunicação do MST foi criado oficialmente no ano de 1997213. Além do já citado Documento Básico do MST (Caderno Vermelho nº 9), em

fins da década de 1990 e início do novo século, foram sistematizados outros materiais e documentos que tratavam da comunicação no MST. Dentre eles, destacam-se os livros

Construindo o Caminho, publicado no ano de 2001 e o Documento Básico da Atuação do

Setor de Comunicação, em 2003214. Para o MST, Construindo Caminho não era um livro, mas

sim um esforço coletivo de sistematização de experiências ao longo do tempo. Esse material buscou dar uma visão do todo acerca da luta do Movimento, com a intenção de mostrar aquilo “o que de fato é o MST”215. O público alvo desse livro eram seus militantes: visava-se a

formação desses militantes a partir das concepções e linhas políticas do Movimento. O livro abordava várias e distintas questões sob a ótica do MST: modelo econômico e a agricultura;

projeto popular para a agricultura; a luta pela reforma agrária e o MST; linhas políticas dos

setores do MST; valores, disciplina, mística. Um dos temas do livro é a Comunicação. O fato de estar no rol de assuntos abordados, denota a relevância e o interesse do MST em pensar e sistematizar uma política de comunicação para sua organização.

O Documento Básico da Atuação do Setor de Comunicação está estruturado em 25 páginas, e é erigido a partir da compilação de diversos textos. O documento é fruto de diversas experiências e concepções de militantes que trabalhavam direta e indiretamente no Setor de Comunicação. Nesta direção, não há uma uniformidade na escrita. Muitas das questões abordadas no referido texto já tinham sido publicadas em Construindo o Caminho.

212 GOHN, M. da. G., Mídia, Terceiro Setor e o MST: impactos sobre o futuro das cidades e do campo, p. 25. 213 Anterior à criação do Setor de Comunicação, os trabalhos e atividades de comunicação no MST eram

realizados por sujeitos designados para essa função, geralmente, os responsáveis pela elaboração do Jornal Sem

Terra e por outros materiais impressos. No que tange à relação com a imprensa externa, os militantes mais experientes desenvolviam esse trabalho.

214 Foram publicados outros documentos importantes que abordam a temática comunicação no MST: Agitação e

Propaganda no Processo de Transformação Social (2007) e As Rádios do MST (2005).

96 De maneira geral, o documento visava a orientar e a sistematizar as diferentes atividades de comunicação desenvolvidas pelo MST, abrangendo questões variadas como, por exemplo, a postura dos militantes diante de uma entrevista ou diante da organização de eventos e ações na área de comunicação. Temáticas como cinema, publicidade, propaganda, comunicação popular, assessoria de imprensa também foram contempladas.

O documento também abordava a relação do Movimento com a grande imprensa, denominada “imprensa burguesa”, vista pelo MST como contrária aos interesses dos trabalhadores rurais sem-terra. Enfim, objetivava traçar orientações gerais para os “comunicadores” do Movimento, em seus diversos níveis: local, regional, estadual e nacional216. As intencionalidades contidas no documento são relacionadas ao fato de se buscar

certa homogeneidade nas ações e atuações dos seus integrantes que estavam à frente desse setor. Este documento também se configura como uma evidência da preocupação e investimento do MST face aos seus meios de comunicação.

Ao criar o Setor de Comunicação, a organização do MST objetivou construir uma comunicação diferente, a qual fugia à lógica mercadológica dos grandes meios de comunicação. O setor foi criado para orientar discussões e encaminhamentos dos meios de comunicação do MST perante seus integrantes e sociedade. Enfim, devia pensar e fomentar as discussões relativas à comunicação no Movimento. O Setor de Comunicação funcionava e funciona através de Coletivos organizados em diferentes níveis, sendo eles:

a) Coletivo Nacional de Comunicação – formado por duas pessoas de cada estado, responsáveis pela comunicação.

b) Coletivo Estadual de Comunicação – em cada estado formado por uma pessoa da direção estadual mais dois responsáveis por regional (...).

c) Coletivo Regional de Comunicação – em cada regional do estado, as pessoas que colaboram e participam das atividades do Setor.

d) Equipe de Comunicação na Secretaria Nacional – é responsável por articular o trabalho com os estados e garantir a edição do Jornal, da Revista, da rede de computadores, de programas de rádio e ainda assessoria de imprensa217.

O MST faz questão de enfatizar as linhas políticas gerais de trabalho no Setor de Comunicação. Dentre as linhas políticas, a comunicação deve se articular aos princípios e objetivos do Movimento, de forma que desenvolva um sistema de comunicação “para o MST

216 MST – Documento Básico da Atuação do Setor de Comunicação, 2003. 217 MST – Construindo o Caminho. São Paulo, 2001. p. 141-142.

97 e do MST para a sociedade”218. Esse setor necessita criar estratégias e contribuir para o

avanço organizativo do Movimento. Nesta direção, os militantes que trabalham na comunicação devem dialogar e desenvolver trabalhos com outros setores e garantir a formação política e técnica dos comunicadores da organização.

A partir da criação do Setor de Comunicação, o MST passou a investir na formação de “comunicadores populares”, capacitando seus integrantes para manusear equipamentos e produzir materiais. Houve forte investimento também na formação de militantes para se relacionarem com assuntos que diziam respeito à imprensa. No Movimento existem pessoas