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6. Espaços de interação

6.3. Comunicação – o processo instrucional

A importância de comunicar, designadamente a clareza com que o fazemos, são pontos que o Bruno sempre procurou tomar como basilares ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Contudo, o percurso não foi linear, o Bruno deparou-se com algumas dificuldades, intrinsecamente ligadas ao seu passado, designadamente o local de origem e o acervo de vocabulário que dai transportava, mas já lá iremos (questões espelhadas no excerto do diário de bordo).

“Continuo com alguns problemas a nível da minha instrução, faltando alguma clareza e ajuste no sotaque (os alunos dizem que falo muito rápido e de forma estranha)” (Diário de bordo, 27 a 29 de setembro).

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Sendo um jovem de origens Açorianas, o sotaque foi algo que, desde cedo, procurou disfarçar, tentando ser o mais claro possível naquilo que dizia aos seus alunos. – Sei de antemão que por vezes pode ser complicado compreender o que digo, pelo menos numa primeira fase, algo que poderá ser um entrave nas minhas aulas. – Comentou o pequeno adulto com o seu Pai, homem de origens alentejanas, mas que possuía enorme clareza e assertividade de raciocínioe de discurso.

– Filho, se falares calmamente, se recorreres a palavras-chave, palavras com as quais os teus alunos se identifiquem, não vejo que venhas a ter grandes dificuldades. Afinal, és terceirense, o teu sotaque não é assim tão acentuado e o teu discurso é bem articulado. – Disse o Alberto, na procura de acalmar o filho, de o fazer acreditar nas suas capacidades.

– E se eles não me compreenderem? E se perder alguma credibilidade pela minha forma de falar? – Perguntou ao Pai, ao mesmo tempo que procurava algumas palavras-chave para se orientar. Neste diálogo, o jovem adulto recordou Rosado e Mesquita (2011), que referem que a forma como a instrução é efetuada interfere diretamente na compreensão dos alunos sobre a tarefa a realizar, o que está intrinsecamente ligado com o correto desenvolvimento da mesma.

O Pai, como em tantas vezes, procurou aprofundar o conhecimento de forma a corroborar tudo o que comentava com o filho, tornando esse mesmo projeto o mais transparente e entendível possível. – Sabes que o processo de comunicação não se baseia exclusivamente em “falar”, existem diversas formas de mostrares aos alunos o que pretendes. – Finalizou o Alberto, numa das inúmeras chamadas telefónicas entre os dois “melhores amigos”.

Tendo em conta as conversas tidas, não só com o seu Pai mas também com os seus pares mais próximos, o Bruno voltou a recordar Rosado e Mesquita (2011), que defendem que comunicar faz parte dos requisitos fundamentais do Professor, sendo basilar no processo de ensino-aprendizagem. Seguindo a ideia transmitida pelo seu Pai, a verdade é que o Bruno confirmou que existem diversos tipos de instrução, não tendo esta que ser necessariamente verbal. – A transmissão de informação por parte do Professor, apesar de não ser

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forçosamente verbal, deverá sempre estar relacionada com os objetivos estabelecidos e, consequentemente, com os conteúdos a lecionar. – Pensava o pequeno adulto, tendo como referência Siedentop (1991), recordando, quase de seguida, em complemento ao pensamento anterior, outra ideia que tinha retirado da panóplia de documentos que possuía. – Segundo Rosado e Mesquita (2011) a instrução é mais que a apresentação e explicação do que se quer que os alunos reproduzam, é algo complexo que está dependente dos objetivos de aprendizagem estipulados.

Apesar da dificuldade evidenciada no início do seu processo de formação, onde o tempo de instrução era demasiado longo, o Bruno conseguiu ir melhorando ao longo do tempo, focando a importância de determinadas ações e recorrendo à demonstração enquanto elemento facilitador da compreensão e assimilação do que era pretendido.

Num dos momentos de discussão pós-aula, durante as diversas caminhadas que realizava com os colegas em direção ao metro, o Bruno apercebeu-se de que o uso excessivo de complexidade linguística tinha sido um dos pontos em que mais havia pecado.

– Utilizas os termos corretos (terminologia específica), mas será que os alunos entendem o que queres dizer? – Perguntou o André, procurando fazer com que o amigo chegasse a uma conclusão.

– Talvez utilizar palavras mais simples, algo que eles entendam com maior facilidade? – Contrapôs o Bruno, procurando aprender e melhorar com aquela pessoa que achava ser um bom exemplo.

Logo após a questão do nosso pequeno adulto, o André acabou por facultar um exemplo que acabou por ser determinante no decorrer dos momentos de instrução e demonstração para o restante ano letivo. – Em vez de se utilizar termos técnicos, por exemplo “apoio facial invertido”, a utilização de palavras como “pino”, isto numa fase inicial, poderá diminuir os teus tempos de instrução.

Após pensar um bocado, e tendo em conta todos os conselhos que ia tendo, o Bruno acabou por seguir a ideia sugerida, com pequenas adaptações. – Sim! Utilizar palavras simples, de fácil compreensão, mas aproveitar momentos

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da aula para fazer chegar ao aluno o termo técnico, a terminologia correta para o conteúdo. Assim, irei poupar tempo numa fase inicial, ao mesmo tempo que consigo dotar os alunos da terminologia correta relativa aos conteúdos abordados.

Assim, e seguindo a ideia de Rink (1994), que nos diz que a apresentação da tarefa diz respeito à informação que o Professor transmite aos alunos durante a prática, acerca do que fazer e como fazer, o Bruno procurou incessantemente diminuir o tempo de instrução mas manter a clareza da mesma, recorrendo por diversas vezes ao questionamento, aquela que é tida como a chave para a compreensão (Rosado & Mesquita, 2011), na clara tentativa de aferir se os alunos tinham retido e assimilado a informação nuclear (Nuno et al., 2008), dotando os alunos de informação e capacidade de pensamento individual crucial para o desenvolvimento das tarefas propostas, ao mesmo tempo que procurava fazer com que estes adquirissem noções sobre a terminologia correta.