• Nenhum resultado encontrado

6. Espaços de interação

6.4. O sucesso e a competição – fatores nucleares à aprendizagem

aprendizagem

O Bruno, cedo, adquiriu a noção da importância da competição para potencializar o processo de ensino-aprendizagem. De facto, a motivação para a prática desportiva está intrinsecamente ligada com a competição, algo que, durante a maior parte do processo, tentou implementar nas suas aulas, independentemente do ano de escolaridade.

Aquando da lecionação da modalidade de Futebol, ao 12º ano de escolaridade, o Bruno detetou um grande decréscimo motivacional nos seus alunos, em ambos os níveis de desempenho que estava a trabalhar, questionando-se: – Como podem os alunos não se sentir motivados com as aulas planeadas? – Planeei em conformidade com as suas dificuldades, com o que acho nuclear, e mesmo assim os resultados são diminutos. – Continuava, ao mesmo tempo que procurava recordar todas as aulas até ao momento, bem como as estratégias utilizadas e intervenções.

77

A verdade é que o Bruno acabou por cometer um erro, grosseiro até, tinha elaborado a planificação da unidade em conformidade com os conteúdos que procurava ensinar, não tendo em conta a diferença entre aquilo que o mesmo entendia ser difícil ou fácil, e a capacidade dos alunos para executarem as tarefas propostas.

– Se os alunos não têm sucesso, não estarão motivados. – Disse o Professor Cooperante, de forma audível e num tom assertivo e perentório, tom esse que, por vezes, parecia a única maneira de fazer chegar a mensagem ao “poço de teimosia” que era o Bruno.

Numa fase inicial, a necessidade de reajustar as tarefas propostas era algo que levantava algumas dificuldades aos três Estudantes Estagiários, algo que acabava por levar a que os alunos não vivenciassem situações de sucesso. Por outro lado, existiu também um ponto fundamental que acabou sendo descurado, a competição. O Bruno, apesar da sua teimosia, possuía grande estima por todos os conselhos que lhe eram transmitidos, ainda mais quando os mesmos vinham de uma pessoa que possuía mais anos de experiência do que o jovem adulto possuía de vida. Por esta altura entrou de novo em cena o Professor Cooperante, com mais uma das suas míticas frases, reflexivas e corroboradas pela sua prática. – A competição deve e tem que estar presente, sempre! – Afirmou o Professor Cooperante perante os Estudantes Estagiários, no exato momento em que o Bruno se preparava para começar a aula, com as estratégias delineadas e retificadas.

De regresso à Unidade de Futebol, após um interregno devido à rotatividade de espaços, o Bruno trazia ideias que, no seu entender, eram frescas, “novas” (como espelha o seguinte excerto).

“Exercícios desmotivantes em nada contribuem para a aprendizagem dos alunos. A competição deve ter o seu espaço na aula, sendo esta um fator de grande importância para a aprendizagem” (Diário de bordo, 11 a 14 de outubro).

78

Ao mesmo tempo ainda sentia o eco na sua cabeça dos conselhos do seu Professor Cooperante, da importância do sucesso e da competição para os alunos.

– Fazer com que os alunos vivenciem situações de sucesso é algo que devo ter sempre em conta o que, numa turma maioritariamente composta por meninas sem gosto, aparente, pela modalidade, é um verdadeiro desafio. – Pensava o Bruno sentado num dos bancos do pavilhão a reestruturar a sua Unidade Didática.

A meio da Unidade Didática, dois pensamentos acabaram por marcar o decorrer do seu processo de formação. – Os alunos motivados fazem mais e melhor! Logo, se vivenciarem situações de sucesso dar-se-á um incremento motivacional. Os alunos são competitivos! Logo, se implementar momentos de competição, momentos palpáveis e visíveis, a envolvência da turma irá aumentar, bem como a predisposição para a prática. – Pensava o pequeno adulto, concluindo. – Tenho de utilizar a motivação e a competição, como ferramentas de promoção do sucesso dos meus alunos.

Apesar da importância atribuída ao fator competição o efeito obtido nem sempre foi o desejado. Esta constatação surgiu após a realização de um torneio intra-turma, algo que o Bruno pensou que iria ser o ponto alto da Unidade, mas que acabou por servir como uma importante lição para os futuros momentos competitivos que iriam surgir.

– Bruno, que achas que correu bem e menos bem nesta tua aula? – Perguntou o Professor Cooperante, esperando uma resposta sustentada, bem como um momento de defesa de ideais, algo que o Bruno fazia constantemente, umas vezes bem e outras menos bem.

– Os alunos estavam motivados, e isso é bom. – Começou por dizer o pequeno adulto, tendo sido interrompido antes de prosseguir.

– Mas aprenderam? – Questionou o Professor Cooperante, já com uma expressão mais “austera”, pois, para ele, a aprendizagem dos alunos era algo fundamental.

79

– Não. Estavam motivados, a participar no torneio, mas acabaram por não aprender. – Respondeu o pequeno adulto, com a cabeça baixa, por saber que o objetivo ao qual se tinha proposto não tinha sido cumprido na sua plenitude.

Esta afirmação, este momento de exposição do nosso pequeno adulto, levou a que o Professor Cooperante o olhasse nos olhos, esboçasse um pequeno sorriso e dissesse. – Sei onde querias chegar com a aula. Querias que os teus alunos estivessem motivados, e, para isso, utilizaste a competição. Até aqui tudo bem, mas esqueceste que as ferramentas que os alunos possuem, a capacidade e conhecimento dos mesmos para a prática é reduzida! – Afirmou o Professor Cooperante, continuando de seguida, quase sem respirar. – Não podes ser um mero gestor de aula, tens que ensinar, corrigir mais, mostrar que estás presente. De facto, algo falhou! – Terminou, sendo claro que teria mais a dizer mas que preferiu guardar, tal era a tristeza que o Bruno evidenciava no seu olhar.

Foi a partir deste momento que o pequeno adulto compreendeu, efetivamente, que um Professor não pode pensar exclusivamente na criação de situações de sucesso e momentos de competição, sem que estes estejam balizados e assentes numa aprendizagem efetiva e consequente atribuição de significado ao que se está a desenvolver.

– A partir de hoje a planificação, seja ela meso, macro ou micro, terá que ter em conta todos os aspetos evidenciados pelos alunos, sejam motores, cognitivos ou sociais. Irei implementar momentos de competição em todas as aulas, numa parte final, e irei aprofundar a necessidade de ajustar a tarefas de forma mais vincada ao nível dos alunos, fazendo-os vivenciar situações de êxito, ao mesmo tempo que procurarei que atribuam significado ao que desenvolvem. – Gritou o Bruno, a caminho de casa do Luís, bem alto, deixando o seu colega a rir de forma compulsiva e, após serenar, a colocar a mão nas costas do pequeno adulto e dizer. – Demorou, mas chegaste lá!

80