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COMUNICAÇÃO PARA EDUCAÇÃO PLURALISTA E DEMOCRÁTICA

Ao trabalhar com a rádio no ambiente escolar, o educando tende a desenvolver maior comunicação com os colegas, com os professores, com os funcionários e estreitar os laços com a sua comunidade. Nesse sentido, a comunicação acontece porque há interação entre os agentes que atuam como emissor e receptor. Para se comunicar e interagir, o aluno que está

ouvindo a rádio na escola precisa prestar atenção no que o colega está transmitindo. O que ele está falando, o que está dizendo, o que está contando por intermédio da escrita de um texto produzido pelos estudantes fazendo uso da linguagem radiofônica.

Ao se ver diante de uma proposta de ensino que envolve recursos midiáticos e tecnológicos no seu desenvolvimento como um projeto pedagógico, a dimensão das ciências humanas – da qual fazem parte os grandes campos da Educação e da Comunicação – vislumbra uma realidade diferente e uma nova experiência para se trabalhar com os estudantes nas questões relacionadas às disciplinas que fazem parte do currículo tradicional das escolas e instituições de ensino, assim como outros assuntos que são externos ao ambiente escolar. As ferramentas de comunicação, como na prática da rádio na escola, têm potencial para desencadear processos de percepção e interpretação de temas e aspectos micro e macros que fazem parte das rotinas do estudante, desde o andamento do seu ciclo de aprendizado e aquisição de conhecimentos, até a instrumentalização de técnicas e realização de procedimentos que fazem parte de seu cotidiano.

Como um campo de atividades práticas e sociais, a utilização da rádio no ambiente escolar se apresenta como uma ferramenta de caráter interdisciplinar, associando cultura, educação e cidadania, ao passo que oferece um determinado nível de autonomia em relação aos conteúdos e às temáticas tradicionais tanto na esfera da educação quanto no âmbito da própria comunicação, constituindo assim uma nova forma de abordagem para a linguagem e a realização de atividades práticas que é capaz de oferecer um novo despertar para a curiosidade dos conteúdos nos estudantes diante de um currículo escolar que faz parte do seu caminho de aprendizado e formação, contribuindo para um processo de conscientização, fundamentado na interdisciplinaridade, visando ao pleno exercício de cidadania na sociedade em que vive e no mundo do qual faz parte. (AMARANTE, 2012, p. 66).

A rádio na escola, como ferramenta pedagógica, é um mecanismo de desenvolvimento social, tratando não somente das questões que envolvem os conteúdos disciplinares, mas também das relações interpessoais entre estudantes entre si, entre estudantes e membros do corpo docente, entre estudantes e a comunidade escolar e sua própria comunidade e entre os estudantes e suas reflexões sobre a realidade sócio-político-econômica da sociedade para que possam adotar uma noção crítica sobre essa realidade. A incorporação de atividades radiofônicas no planejamento escolar significa introduzir uma outra linguagem, outro modo de pensar e perceber as coisas, e isso acontece em um espaço em que as atividades se apoiam na comunicação escrita e não escrita. Essa questão aparece assinalada por Marciel Consani (2012, p. 29),como um padrão para o nosso relacionamento com o mundo, ressaltando o texto

como canal prioritário para trabalhar com educação e a comunicação sonora como um novo modo para se organizar as ideias.

Como uma ferramenta complementar do programa de ensino, mesmo que se destine também ao lazer e ao entretenimento em determinados momentos, o emprego da rádio em sala de aula deve considerar as possibilidades e os limites que existem no espaço escolar para que possa assegurar o acesso do conhecimento de forma dinâmica e reflexiva a todos que buscam novas formas para dinamizar o processo educacional. Se o professor atua como protagonista ou mediador no desenvolvimento das atividades radiofônicas na escola para sua prática educativa, nessa função ele deve se preocupar com as questões de estilo e formato no que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem. Assim, pode-se pensar na dicotomia entre teoria e prática na sala de aula e fazer uma prática docente inovadora com o suporte e uso das mídias. O apoio por parte dos professores é fundamental para se fazer uma radioescola, pois, de forma conjunta com os estudantes, eles ajudam a idealizar uma programação variada, com alternância de músicas, informações e mensagens, de modo que a escola possa participar e auxiliar na produção dos programas. (AMARANTE, 2012, p. 114).

Em seu papel de professor para conduzir e estimular o processo de ensino por intermédio de práticas democráticas e libertadoras na educação, Paulo Freire reforça esse compromisso docente em uma relação aberta e de interação com os estudantes. Um gesto de solidariedade para não reduzir e obscurecer a participação do estudante e um trunfo para estimular o diálogo e o entendimento sobre a condução das atividades que envolvem os novos projetos pedagógicos.

O educador, num processo de conscientização (ou não), como homem, tem o direito a suas opções. O que não tem é o direito de impô-las.

Se tenta fazê-lo estará prescrevendo suas opções aos demais; ao prescrevê-las, estará manipulando; ao manipular, estará “coisificando” e ao coisificar, estabelecerá uma relação de “domesticação” que pode, inclusive, ser disfarçada sob roupagens em tudo aparentemente inofensivas. (FREIRE, 1967, p. 53).

Um caminho anunciado por Freire como um presságio tão desejado em seus tratados dialógicos, como a necessidade da criação de uma pedagogia da comunicação. Aspectos que o educador abordou ao questionar a necessidade de se investir no campo da educação para a promoção de uma condição de ingenuidade em criticidade, um movimento nos estudantes para proporcionar a mudança de uma concepção ingênua para uma concepção racional. Tal situação gnosiológica poderia tornar possível um mundo de cidadãos instruídos tecnologicamente e mais conscientes do seu papel na sociedade. Com um toque de

humanidade e uma boa articulação para a inserção das novas mídias no contexto de uma educação mais participativa e colaborativa, a radioescola e outras ferramentas de comunicação e informação no espaço escolar têm condições de proporcionar tais vantagens e qualidades ao professor e a esse ambiente por meio do estreitamento das relações da escola com a sua comunidade.