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No contexto histórico das práticas educativas, a rádio educativa contribuiu com significativas realizações no âmbito da educação, destacando ações importantes no sentido de estabelecer e promover em seu público receptor, que pode ser diverso ou especificado, um compromisso com a cultura e a construção da cidadania. De fato, quando bem conduzido e utilizado para fins educativos, a rádio pode se mostrar como um recurso midiático eficiente e democrático. Para contabilizar os resultados da rádio no campo da educação e sua contribuição na escola, no sentido do processo de estimular a aquisição do conhecimento e assimilar novas práticas educativas, basta que se criem as oportunidades e condições para que os educadores e estudantes possam desenvolver as funções primordiais e essenciais de funcionamento de uma radioescola, que requer, pelo menos, uma sala para servir de estúdio, equipamento de som com microfones e alto-falantes e o envolvimento propositivo de estudantes e professores. O fato é que a experiência da rádio, assim como as demais mídias eletrônicas que proliferam pelo mundo, consegue ser mais atraente, sedutor e rápido do que a própria dinâmica escolar.

O desencadeamento de um trabalho com ferramentas midiáticas no espaço escolar também precisa ser ponderado, considerando que os meios de comunicação têm grande capacidade de modificar e interferir nas rotinas discentes e docentes, requerendo, da escola, um novo olhar sobre a educação de modo que possa atualizar e remanejar suas ações sempre que houver necessidade. A rádio também se destaca por possuir características peculiares e abrangentes, entre as quais vale elencar a imediatez, já que a interação é rápida e possibilita um acompanhamento instantâneo de acontecimentos e a horizontalidade, à medida que seu alcance é abrangente e democrático, contrariando determinados pressupostos de verticalidade no processo de ensino em instituições de ensino mais tradicionais e de caráter memorista.

Dessa forma, a utilização da rádio no meio escolar, além de tornar mais atrativa e dinâmica a aula, assim como proporcionar uma melhora significativa nas relações de aluno e professor, possibilita maior interação e sentimento de cumplicidade, no que diz respeito à

troca de experiências e à discussão dos conteúdos a serem abordados em sua programação. Os assuntos e temas a serem tratados na experiência radiofônica no espaço da escola podem ser os mais variados possíveis, envolvendo a instituição escolar, desde as disciplinas, música, teatro, saúde, cultura e tudo mais que engloba a realidade e até o universo imaginário de estudantes e professores com participação ativa no programa. Como instrumento interdisciplinar nas relações empreendidas entre professores e estudantes, uma programação radiofônica precisa estar engajada nas práticas da educação para que funcione como um processo de socialização da escola, tratando de seus aspectos de atualidade e importância social. Um princípio para levantar o interesse nos estudantes para trabalhar com comunicação na escola e voltado para a prática comunitária, como foi trabalhado no projeto das rádios comunitárias escolares de Fortaleza (CE), que se distinguiu também por trabalhar com dramaturgia na sua programação, inclusive com muitos adolescentes que passaram a escrever histórias, roteiros reais ou ficcionais ou adaptações de obras literárias para que fossem contadas em radiodramas. (AMARANTE, 2012, p. 89).

Do ponto de vista de uma educação mais atraente, o célebre historiador Eric Hobsbawm (2013, p. 51), no livro Tempos Fraturados: Cultura e Sociedade no Século XX, defende a necessidade de um programa educacional viável e universal como fator determinante em uma sociedade assolada por experiências fragmentadoras da realidade e que são habilmente regidas e orquestradas, com extrema habilidade, pela batuta de um maestro que, na verdade, é a própria expressão do capitalismo voltado para uma sociedade de consumo.

[...] na era pós-industrial da informação, a escola – quer dizer, a instrução secundária, universitária e mais além – é mais decisiva do que nunca, e forma, tanto nacional como internacionalmente, um elemento unificador, não apenas na tecnologia, como também na formação de classes. No mercado sem fronteiras da internet, subculturas de grupos específicos, mesmo dos menores, podem formar uma cena cultural e um meio que a ninguém mais interesse – digamos, a título de exemplo, neonazistas transexuais ou admiradores islâmicos de Caspar David Friedrich –, mas um sistema educacional que decide quem na sociedade alcançará riqueza e poder civil não pode ser determinado por piadas pós-modernas. O que se faz necessário é um programa educacional viável, destinado à comunidade de jovens educáveis, não apenas dentro de um país ou um círculo cultural, mas no mundo inteiro. Isso vai garantir, ao menos dentro de uma área particular de culturas intelectuais, certo universalismo, tanto de informação como de valores culturais, uma espécie de estoque básico de coisas que uma “pessoa instruída” deve saber. (HOBSBAWM, 2013, p. 51).

Se, ao longo dos anos, a rádio acabou se afastando da educação, é importante trabalhar para sua retomada no cenário atual, já que se trata de uma mídia que pode ser considerada tão

necessária quanto útil, e capaz de oferecer contribuições tanto no processo de ensino e aprendizagem quanto na relação entre estudantes e professores. A comunicação, como processo de interação humana, pode ser considerada como o alicerce do processo educativo. O que representa nas relações entre educador e educando, em sala de aula, uma ação dialógica e horizontal, no sentido de que quando um fala, o outro responde e a conversa transcorre de forma natural e interativa. A comunicação se torna, de fato, mediadora do diálogo, do conhecimento e da cultura. (ASSUMPÇÃO, 2008, p. 25).