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PARADIGMAS DA EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Embora exista um longo trajeto histórico em torno do potencial educativo da rádio, em sua forma mais recente quanto à sua utilização pela internet, até poderia ser considerada uma dificuldade inicial, mas o acesso a esse tipo de tecnologia vem sendo cada mais frequente para práticas de comunicação, especialmente para envio e recebimento de correio eletrônico e mensagens instantâneas, por exemplo. O uso progressivo desses e de outros recursos disponíveis na rede mundial de computadores acaba criando um cenário de familiarização e um maior entendimento para lidar com as suas ferramentas e assimilar melhor os meandres das novas formas de comunicação.

Esse tipo de esforço em vários setores para acompanhar o passo de evolução das novas tecnologias, sobretudo na área da educação, tem o reconhecimento de Maria Luiza Belloni (2009, p. xi), ao salientar que, apesar das mudanças sociais, tecnológicas e políticas ocorridas na primeira década do século 21, ainda não se pode observar avanços significativos no Brasil no que diz respeito à mídia-educação e os principais obstáculos para o seu desenvolvimento continuam presentes. Por outro lado, isso não significa que não exista uma multiplicidade de experiências singulares inovadoras e importantes, mas elas são fruto do trabalho incansável de professores, comunicadores, militantes socia is, educadores, acima de tudo, que se desdobram nessa jornada em prol da educação, que “[...] em nível oficial dos sistemas de ensino, tanto na escola básica quanto no ensino superior, especialmente na formação de professores, a mídia-educação continua sendo ignorada e ausente nos seus programas” (BELLONI, 2009, p. xi).

As condições propícias para o desenvolvimento de práticas educativas envolvendo atividades radiofônicas voltadas para o ambiente escolar também são decorrentes dos esforços de ONGs (organizações não governamentais), que nas décadas de 1990-2000 marcaram, no Brasil e em todo o mundo, a consolidação dos movimentos sociais organizados, que muitas vezes assumiram a forma de associações sem fins lucrativos. Em determinada medida, essas associações acabaram assumindo as funções previstas para o Estado, tais como a complementação da educação básica e a democratização das práticas comunicativas. Nas palavras do educador, músico e pesquisador, Marciel Consani (2012, p. 35), “[...] o capítulo

atual da radioeducação no Brasil não pode ser entendido sem a participação das organizações não governamentais (ONGs)”.

Mas isso não quer dizer que, nesse meio tempo, a rede escolar pública e privada também não esteve atenta à possibilidade proporcionada pela inserção das práticas comunicativas na educação, além das práticas desempenhadas pelo terceiro setor – denominação criada para diferenciar as ONGs das atividades do primeiro setor (o Estado) e do segundo, representado pela iniciativa privada. Consani (2012, p. 36) ressalta ainda que um elo a mais também foi incluído nessa corrente, “[...] representado pela colaboração entre as universidades e os projetos governamentais, muitas vezes em parceria com as associações civis”. Na tentativa de fazer um retrato do que vem sendo realizado no momento atual, podemos dizer que esse é um tipo de panorama dominante e bastante presente na relação entre a escola e a radiocomunicação.

A perspectiva de convergência das mídias, possibilitada pela integração entre as diversas TICs (Tecnologias da Informação e da Comunicação), representa a promessa de que, num futuro próximo, a produção e a disseminação de bens culturais estará ao alcance da maior parte dos cidadãos.

Entretanto, sabemos que uma “revolução cultural” dessa magnitude não pode ser circunscrita a um conjunto de estratégias de marketing político e econômico, o que pede a intervenção direta assumida dos agentes educativos. (CONSANI, 2012, p. 36).

Outra questão é desmitificar aspectos negativos e determinados fatores impeditivos para a utilização de programas de rádio no ambiente escolar, desencadeados por costumes e hábitos que sempre valorizam o fator de especialização, fazendo pensar que tudo o que se encontra fora de nossa área de domínio é muito complicado e difícil de ser realizado. Uma forma de pensamento atrasada e que reflete um regime estacionário, no sentido de fugir de desafios, não arriscar investir no novo, tudo para manter-se seguro em uma zona de conforto. Até pode parecer que o volume considerável de informações históricas, tecnológicas e técnicas, e alguns aspectos envolvidos na compreensão do processo radiofônico, até mesmo aqueles estritamente relativos à sua utilização dentro da sala de aula, podem fazer com que professores equivocadamente deixem de usar a rádio em sala de aula. Eis os fatores que podem levar a três impressões, todas igualmente falsas:

[...] o universo do rádio não é acessível a não especialistas;

um universo radiofônico realizado sem total domínio de seus pressupostos técnicos e estéticos resultaria falho e pobre;

a formação necessária para aprender a linguagem radiofônica é um processo demorado, caro e que requer habilidades especiais. (CONSANI, 2012, p. 36-37).

Em entrevista colhida para esta pesquisa, a professora Elizabete dos Santos, recorda que, no desenvolvimento do projeto e implantação da Web Rádio Escola, fatores relacionados à tecnologia (como conexão e infraestrutura) e à equipe de produção (menor em relação a outros programas, como a da TV Paulo Freire) não foram as questões mais complexas que foram enfrentadas durante a criação da rádio educativa pela internet. Apesar dos recursos e ferramentas oferecidas como material de apoio para os professores nas suas aulas, a desconfiança, rejeição e até mesmo por desconhecimento dos produtos e serviços de tecnologia relacionados no portal Dia a Dia Educação, por parte dos professores, despontou como o maior desafio na fase inicial de criação do projeto da rádio pela internet no Paraná.

Talvez pelo perfil também das pessoas que estavam envolvidas, não fazia parte da nossa preocupação inicial a divulgação do processo de recepção. Então, eu acho que, nesse sentido, a gente acabou ficando muito fechados e preocupados em fazer, produzir bem, com qualidade técnica, ter um bom veículo de transmissão, um bom meio de transmissão e assim não investimos. Hoje, se eu estivesse novamente à frente desse projeto, eu daria um pouco mais de relevância ao processo de divulgação.

As pessoas falam muito bem dos produtos, tanto da televisão quanto da rádio, assim como os conteúdos que estão disponibilizados no portal, e até hoje, cinco anos depois da rádio, já que a televisão está no ar desde 2006, ainda tem professores que não sabem o que tem lá dentro. Não fazem o uso que poderiam estar fazendo, levando esse conteúdo para a sala de aula. O conhecimento, a partir de outra possibilidade de linguagem, tornando a questão metodológica mais significativa e dinâmica para o aluno.

A gente escuta, de forma recorrente, que muitos professores ainda se surpreendem ao descobrir que tem um monte de coisa interessante lá dentro, mas o uso poderia ser ainda maior se a gente conseguisse divulgar isso de forma mais efetiva para todos professores e alunos da rede. (cf. Apêndice).