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Comunicação Social Háptica

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4 PROFUSÃO DE SENTIDOS

4.3 Comunicação Social Háptica

A Comunicação Social Háptica é apreciada por mim de maneira especial, devido à subjetividade que emerge dela, permeando o surdocego em meio à totalidade de informações. Ela é utilizada na surdocegueira como complemento da comunicação utilizada pelo surdocego. Ela completa as referências que seriam recebidas pela visão e audição. Nessa perspectiva, O‘Malley e Gupta (apud Ferreira 2014), faz a seguinte referencia, relacionando ao sentido sensorial háptico:

A háptica se relaciona ao tato em dois sentidos, do toque cutâneo e da cinestesia do toque. A referência cutânea aborda as sensações referentes a características superficiais e é transmitida pela pele. O sentimento do toque é baseado nos receptores da pele utilizados para perceber o toque, que respondem a processos de estimulação mecânica e a alterações térmicas. As referências cinestésicas são compreendidas através de entradas e saídas baseadas na atividade motora e a percepção das atividades dos músculos, tendões e juntas que permitem interpretar a relação espacial dos membros quanto ao ambiente e a nós mesmos. (O‘MALLEY E GUPTA APUD FERREIRA 2014 p. 82)

A Comunicação Social Háptica é considerada como estudo do sensível pelo contato e pelas sensações advindas dele. ―O sentido predominante é o tato, visto sua importância para os seres humanos, pois não só contém informações sobre superfícies e texturas, mas também é um recurso de comunicação não verbal nas relações sociais e interpessoais [...]‖ (ROSA, 2013 p. 2). Sobre a Comunicação Háptica os surdocegos que a utilizam evidenciam os benefícios:

Então, quando eu estou com a Comunicação Háptica, eu entendo exatamente tudo aquilo que está acontecendo, todas aquelas informações que não são linguísticas. Esse toque faz com que eu tenha acesso a todas essas informações que a Libras Tátil não me dá. Eu creio que é muito importante tanto a Comunicação Háptica como a Libras Tátil por que elas fazem com que eu ative a minha memória e lembro de imagens visuais que complementam a informação. Isso me desperta muito mais o interesse e a vontade de entender aquela história. Antes eu não tinha isso e agora que eu tenho acesso a Libras Tátil junto com a Comunicação Háptica. Isso, para mim, cria possibilidades infinitas de combinações linguísticas e não linguísticas, para o entendimento da informação. (NARRADOR 3)

O Narrador 3 aprendeu essa modalidade comunicativa e ensina aos seus pares no intuito de desfrutar desse complemento essencial para o recebimento das informações. O Narrador 1 aprendeu a comunicação a pouco tempo, mas tem realizado descobertas fantásticas, demonstrada na comunicação expressiva:

Olha, eu vou dizer que eu gosto da Comunicação Háptica e preciso dela pra minha comunicação. Por meio dela, eu sinto a mensagem de forma intensa. Eu me sinto muito feliz por poder utilizar essa comunicação. Eu gosto e quero continuar usando. (NARRADOR 1)

―O sentido háptico supera a dimensão tátil e cinestésica, englobando uma visão mais amplamente exploradora ao surpreender, apalpar e sopesar o objeto‖ (LE BRETON, 2016, p. 220).

A Comunicação Social Háptica é realizada pelo toque do tato do guia-intérprete no surdocego, no movimento de tocar e tocar-se em uma parte neutra do corpo em que o surdocego possui sensibilidade. Pode ser nas costas, pernas ou braços na sinestesia dos sentidos em contato com a pele. ―Se o tato se estende sobre toda a superfície do corpo, a pele é mais frequentemente passiva, mais tocada que tocante‖ (LE BRETON, 2016, p. 215).

Révèsz (apud Le Breton 2016, p. 245) sugere o emprego do termo háptico para designar as modalidades de contato, indo além do tato e da cinestesia, mesmo estando sutilmente ligadas.

A Comunicação Sócio-Tátil, Comunicação Social Háptica utilizada pelos surdocegos, surgiu pela primeira vez no ano de 1991, na 10ª Conferência Mundial DBI, em Orebo, Suécia. Segundo Lahtinen (1999), a abordagem da Comunicação Sócio-Tátil torna a interação mais completa para o surdocego nos espaços que ele frequenta.

Esse recurso melhora a comunicação na transmissão das informações em tempo real. Os primeiros sinais táteis (haptices/haptemas), utilizados foram ―sim‖ e ―não‖, ―chegada‖ e ―saída‖ de uma pessoa. Essas ideias iniciais foram publicadas na DBI do Deafblind Educação (PALMER E LAHTINEN, 1994). ―As haptices e os haptemas fazem referência à combinação das mensagens táteis, palavras e elementos gramaticais‖ (WATANABE, 2017, p. 127).

As haptices são mensagens táteis individuais para as pessoas com surdocegueira, isto quer dizer: é como ler um texto e ao interpretá-lo realizamos também a expressão mencionada de forma tátil na pessoa com surdocegueira, demonstrando ou representando as expressões mencionadas das personagens ou quando estamos em uma reunião e demonstramos como o grupo está, ou seja, se eles estão cansados, ou alegres. (WATANABE, 2017 p.127)

Análises aprofundadas foram feitas por Lahtinen para sua tese de Licenciatura em 2003, publicadas em DBI Review (PALMER E LAHTINEN, 2005) e apresentado na 6ª Conferência Européia DBI na Eslováquia em 2005.

Figura 34: Sinal Háptico "SIM"

Fonte: Arquivo da pesquisadora

Aprendi a Comunicação Social Háptica por meio do grupo LIHA no curso: Praticas de Interpretação Tátil e Comunicação Háptica Para Pessoas Com Surdocegueira. Sobre o grupo LIHA, apresento:

Liha Interpretação, Comunicação Tátil, Consultoria e Treinamento se consolida como uma empresa voltada a área de Acessibilidade e Inclusão da pessoa surda e surdocega no mercado de trabalho. Possui em sua equipe de profissionais, intérprete de Libras, guia-intérprete para pessoas surdocegas e audiodescritores. Realiza Workshop, treinamento e consultoria na área da surdez e surdocegueira. Trabalha em todo território nacional, in company, instituições, eventos, congressos, palestras e seminários. Realiza Workshop em todo território Brasileiro disseminando conhecimento na área da surdez e surdocegueira para intérpretes e guia-intérpretes. (LIHA, 2018, Online)72

O grupo LIHA participou de uma Conferência Mundial de Surdocegueira no ano de 2014, realizada nas Filipinas, e foi nesse contexto que eles tiveram contato com comunicação háptica e buscaram se apropriar desse complemento comunicacional para o surdocego.

Nessa Conferencia Mundial houve uma socialização e algumas informações foram partilhadas. Uma delas foi que um grupo de surdocegos noruegueses haviam criado um manual de sinais hápticos e puderam compartilhar essas informações com surdocegos do Brasil acompanhados pelo grupo LIHA. A partir daí o grupo têm divulgado essas informações em diversos estados brasileiros possibilitando inteireza de informações a muitos surdocegos.

Os sinais hápticos são ampliados e criados à medida das necessidades comunicacionais do surdocego e dos profissionais que o acompanham. Nas pessoas surdas que perderam a visão existe um resgate da memória visual por meio do mapeamento no corpo, no contato da pele todas essas informações são trazidas.

Figura 35: Sinal Háptico "Coração" representando o Amor em consonância com a Libras Tátil

Fonte: Arquivo da Pesquisadora

Figura 36: Sinal Háptico ―Risos‖

Fonte: Arquivo da Pesquisadora

O mapeamento no corpo é utilizado para várias finalidades, dentre elas: descrição de ambientes desconhecidos; disposição de objetos; orientação de destino e segurança pessoal. A comunicação háptica está em constante evolução, propagando a possibilidade de comunicação em sua inteireza de informações.

Figura 37: Sinal Háptico utilizado para ilustração de um ―encontro entre duas pessoas‖ em consonância com a Libras Tátil

Fonte: Arquivo da Pesquisadora

O surdocego Narrador 3 quando perguntado a ele em uma entrevista73 sobre como ele consegue assimilar os sentidos na comunicação (Libras Tátil e a Comunicação Háptica) ele responde ―Eu sou igual a um robô, pareço que tenho um HD aqui dentro [...] É isso‖.

73. Entrevista do surdocego 3 para o Profissão Repórter. Disponível na Internet em <https://www.youtube.com/ watch?v=qDd6QvCS3r4>. Acesso em: 02 julho/2017.

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