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Comunidades tradicionais

No documento Povos Originários e Comunidades Tradicionais (páginas 196-200)

Cooperação para o desenvolvimento via responsabilidade social empresarial:

2.1 Comunidades tradicionais

O conceito de cultura tem um significado distinto para cada região, sua origem é latina, colere, o entendimento do vocábulo de maneira geral é estabelecido como sendo, um grupo de conhecimento das leis, dos hábitos, dos sentidos, das tradições, dos valores e dos significados que o indivíduo adquire por toda a sua vida. Porém, os conhecimentos podem ser alterados, conforme as modificações que ocorrem ao redor, com por exemplo, a introdução de novos costumes, uma nova cultura, ou até a transferência de território, cuja cultura se difere da anterior (MELLO, 1991; AZEVEDO, 1996).

Logo, a cultura é “[...] uma preocupação em entender os muitos caminhos que conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas de futuro.” (SANTOS, 2006, p.7). Além disso, as diferenças de identidade social que ocorrem entre os grupos também ajudam a definir a cultura, esses grupos sociais são a parte mais complexa, quando se trata da sociabilidade (LARAIA, 2006; SANTOS, 2006).

Para o estabelecimento da cultura em uma comunidade ou sociedade, tudo dependerá dos territórios, isto é, dos locais onde esta se enraizará. Os territórios para a formação desses grupos podem ser permanentes ou temporários, devendo ser um campo geográfico e humano, o qual acontecerá às relações formais ou informais de um coletivo, a reprodução cultural, social e econômica (ABRAMOVAY, 2007; BRASIL, 2007; MORAES et al., 2017a).

São dois os tipos de relações que se tem em determinado território, tais são definidos e diferenciados nos trabalhos de Tönnies (1957), Brancaleone (2008) e Costa (2010). A primeira relação, à societária é definida de modo mais artificial e abstrato, no qual, os indivíduos seguem a linha da expansão do capitalismo, com aspectos mecânicos, sendo os vínculos e os comportamentos regulados pelas leis e contratos (TÖNNIES, 1957; BRANCALEONE, 2008).

Já o segundo tipo de sociabilidade ocorre nas comunidades, essas possuem particularidades diferentes da sociedade, as relações são pautadas na harmonia e o amor do coletivo, que sempre estão unidos quando possível. Os vínculos são mais reais, de caráter familiar e íntimo, nestes grupos, a relação é baseada em três laços, sendo eles: a consanguinidade, a filiação e a aliança, fortalecendo os valores e tradições (TÖNNIES, 1957).

Em suma, como afirmado por Tönnies (1957), os conceitos de comunidade e sociedade se contrapõem. Esse pensamento é diferente dos indivíduos, que durante muito tempo, habituaram a afirmar que “comunidade” e “sociedade” são expressões que possuem o mesmo sentido, isto é, são tratadas como sinônimos. Esse pensamento foi cada vez mais se arraigando entre os indivíduos, porém, essa forma é incorreta, à luz da sociologia, as palavras representam significados diferentes.

Além das características colocadas por Tönnies (1957) e Brancaleone (2008) e Costa (2010) traz outras quatro principais características sobre as comunidades, sendo elas: I-) a nitidez, que é a clareza dos limites territoriais, ou seja, a definição de onde se inicia e termina a comunidade; II-) a pequenez, a unidade é de pequena dimensão; III-) a homogeneidade, as atividades das pessoas que estão dentro da comunidade devem ser similares e IV-) as relações sociais, as relações das pessoas são feitas por meio de vínculos diretos.

Diante dessas características apresentadas, observa-se que, a comunidade é (em termos de sociabilidade) o oposto da sociedade, uma vez que essa, não tem limites territoriais, nem são pequenas e as relações são feitas de modo impessoal e contratual. No Quadro a seguir, podemos observar algumas diferenças entre os conceitos de comunidade e sociedade, segundo Tönnies (1957) e Costa (2010):

QUADRO 1 - Diferenças conceituais entre relações comunitárias e societárias.

Na comunidade Na sociedade

O trabalho é ligado à família e ao lazer O trabalho fica isolado da família

A religião marca o trabalho, estando sempre presente

A religião é confinada a determinados horários e locais

A família é o centro de união do grupo A união do grupo é o contrato social

Os interesses e pensamentos são uniformes Há uma disparidade dos interesses e ideais

Tradições e valores são fortalecidos como costumes

Os comportamentos são regulados pelos contratos e leis

Fonte: Elaborado pelos autores baseado em Tönnies (1957) e Costa (2010). Logo, a sociedade é uma associação humana, caracterizada por relações que são baseadas em convenções, regras formalizadas e pela grande divisão do trabalho, não pelos laços afetivos como na comunidade (TÖNNIES, 1957; BRANCALEONE, 2008; COSTA, 2010). Diferente das características que foram citadas anteriormente, as relações sociais nas sociedades apresentam caráter de maior transitoriedade, superficial e de impessoalidade, no qual, os indivíduos se conectam por meio dos interesses, fazendo com que a vida perca a coesão.

Quando entramos na seara das minorias, observa-se que os pequenos grupos trabalharam de forma dura e árdua, para conseguirem a liberdade sobre a opressão que a sociedade colocava, dessa forma, eles garantiram os direitos e o reconhecimento da cultura. O esforço das minorias trouxe bons frutos e grandes transformações nos cenários social, econômico e das políticas públicas. Por meio da Comissão Nacional de Desenvolvimento dos Povos e Comunidades Tradicionais, a qual defende e representa as comunidades tradicionais no âmbito político, as minorias tiveram uma participação ativa nas decisões (MORAES et al., 2017b).

Uma melhor compreensão a respeito da descrição do conceito de comunidade tradicional, é trazida pelo decreto Nº

6.040 de 07 de fevereiro de 2007, este institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. No decreto os povos e as comunidades tradicionais são colocados como:

[...] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. (BRASIL, 2007, art 3º, inciso 1º)

Logo, é possível identificar uma comunidade tradicional por meio de seus elementos específicos, como a produção voltada para a comunidade, a distribuição do trabalho de forma comunitária e sem salário, a transmissão do conhecimento e da cultura, por meio da geração e o desenvolvimento, adaptando-se ao meio em que se está inserido (DERANI, 2002). Além dessas características, Costa (2010), ressalta que as atividades se centralizam ao redor da família, no qual o coletivo possui suas culturas, seus valores e seus costumes.

A formação desses grupos ocorre em um território, cujas características ali serão fundidas. Moraes et al. (2017a) define que, o território deve ser um campo geográfico e humano, com relações informais. Sobre uma perspectiva ambientalista, o princípio 22 da declaração do Rio de Janeiro de 1992, estabelece que:

as populações indígenas e suas comunidades, bem como outras comunidades locais, têm papel fundamental na gestão do meio ambiente e no desenvolvimento, em virtude de seus conhecimentos e práticas tradicionais. Os Estados devem reconhecer e apoiar de forma apropriada a identidade, cultura e interesses dessas populações e comunidades, bem como habilitá- las a participar efetivamente da promoção do desenvolvimento sustentável. (BRASIL, 1992)

De forma simplificada, a comunidade tradicional é a junção de indivíduos que pensam da mesma forma, mas, que possuem peculiaridades diferentes da sociedade, por isso o Estado e a sociedade devem zelar e apoiar as comunidades que buscam as suas conquistas identitárias (COSTA, 2010; MORAES et al, 2017b). 2.1.1 Comunidade Geraizeiros da Matinha

Os geraizeiros são reconhecidos como povos do Cerrado, Pierson (1972) afirma que a comunidade geraizeiros da Bahia e de Minas formam uma das populações mais tradicionais do “Vale do Chico” (rio São Francisco). A comunidade de geraizeiros da Matinha está localizada no município de Guaraí (Estado do Tocantins), antes de se fixar ali, tal comunidade surgiu em Minas Gerais, transferindo-se para Goiás em 1940, devido a lotação dos espaços mineiros, e, migrando novamente em 1978 para a cidade atual - Guaraí, trazendo consigo todos os aspectos culturais (entrevistado). Considera-se a comunidade como tradicional, por causa de suas características, que estão intimamente ligadas com o descrito no Decreto 6040, ao qual descreve que as comunidades devem ter uma cultura diferenciada, com suas relações em um território, a fim de fortalecer a identidade, a reprodução cultural e social da comunidade (BRASIL, 2010).

A formação social na Amazônia legal brasileira ocorreu por dois meios, o primeiro ocorreu nos séculos XVI e XVII, com as navegações de bandeiras e a outra são as migrações empreendedoras e das famílias que vieram em busca de terra no sentido leste oeste (IBGE, 2017). Os moradores que deram origem a Comunidade Matinha, são provenientes de Minas Gerais, estabelecidos no novo território, observaram que a economia naquele lugar já não era do garimpo de cristais e sim da produção de algumas culturas, sendo as principais: a banana e feijão. Mais adiante, com o surgimento de algumas pragas, as monoculturas foram sendo substituídas pela horticultura e a apicultura (LIMA, et al. 2017).

No documento Povos Originários e Comunidades Tradicionais (páginas 196-200)