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Patrimônio Material e Imaterial das Comunidades Tradicionais

No documento Povos Originários e Comunidades Tradicionais (páginas 162-167)

apontamento de desafios

3.4 Patrimônio Material e Imaterial das Comunidades Tradicionais

A Constituição da República de 1988 reconhece a importância dos bens imateriais, bastando que os mesmos sejam bens portadores de referência à identidade à ação e à memória dos diversos grupos que compõem a sociedade brasileira. As normas da Constituição Federal que protegem o bem cultural imaterial estão previstas nos artigos 215 e 216. O artigo 215 enuncia a defesa da cultura de modo amplo e genérico, citando a diversidade cultural como característica nacional e incentivando a valorização e difusão, tanto das manifestações culturais quanto do exercício dos direitos culturais.

Percebe-se o reconhecimento da diversidade que compõe o mosaico cultural do país, havendo diversos grupos que participaram do processo histórico nacional, dando cada um à sua contribuição para a formação da identidade nacional, destaca-se que essa diversidade ainda está presente graças às diversas populações tradicionais que, isoladas ou não, desenvolveram uma cultura peculiar que, muitas vezes, preserva, ainda hoje, tradições e costumes de seus antepassados. O artigo 216 conceitua o que é patrimônio cultural material e imaterial, além de definir alguns institutos jurídicos que podem ser utilizados para implementar essa tutela. 4 Considerações finais

Os estudos realizados no respectivo capítulo explicitaram os pontos gerais e suas principais características das legislações supracitadas que se relacionam com os desafios, direitos e necessidades dos povos e comunidades tradicionais envolvidas com os elementos concretos da natureza como a terra, a água, os seres vivos e elementos abstratos da cultura e da tradição, da afetividade e da mística.

Constata-se que a história desses povos é reflexo de luta para preservação de seus territórios e sobrevivência das relações

seculares, sendo que reconhecer os seus direitos significa respeitar seus modos e qualidade de vida.

Evidencia-se que o termo território no contexto abordado transborda as definições clássicas concernentes à geografia e a delimitação física de uma nação, neste sentido reconhecendo-se que muitos povos ainda não possuem a posse de suas terras, evidenciando assim um alto risco à segurança dos povos, de sua cultura e seu conhecimento tradicional.

Considera-se o Decreto nº 6040/2007 como um passo importante para reconhecimento dos povos e comunidades tradicionais e seus direitos territoriais, como uma conquista, contudo extremamente insuficiente para garantir um olhar mais digno e justo da sociedade nacional sobre as comunidades tradicionais. São muito amplas as questões a serem debatidas, inclusive a partir da imensa sorte de distintas comunidades tradicionais, dentre as quais os indígenas, os quilombolas, os geraizeiros, as quebradeiras de coco de babaçu, os caiçaras, os ribeirinhos, os pescadores, os remanescentes de garimpos, seringais e moradores dos pantanais e fundos de pastos.

Diante de um contexto social, histórico e de construção política, este tema se faz extremamente complexo e nesta seara este trabalho pretende apenas contribuir para os aprofundamentos necessários para a proteção dos direitos dos povos e comunidades tradicionais. Por fim, entende-se que a sociedade brasileira constituída de mais de 200 milhões de brasileiros, dos quais 5 milhões são integrantes de comunidades tradicionais precisa avançar muito para conseguir chegar ao nível de garantir o mínimo necessário e digno às suas populações, povos e comunidades tradicionais.

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Capítulo 6

Evolução histórica, direito e política pública

No documento Povos Originários e Comunidades Tradicionais (páginas 162-167)