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Perfil da Comunidade do Povoado Senhor do Bonfim (Araguacema – TO)

No documento Povos Originários e Comunidades Tradicionais (páginas 114-118)

e de pertencimento comunitário

3 O grupo de pesquisa GEDGS (Grupo de Estudos em Democracia e Gestão Social)

4.1 Missão Amazônia

4.1.2 Perfil da Comunidade do Povoado Senhor do Bonfim (Araguacema – TO)

Assentada à margem direita do rio Piranhas, sendo afluente do rio Araguaia, o povoado do Senhor do Bonfim se localiza a 40 km de distância da séde do município de Araguacema/TO, importante pólo turístico de estadual e mesmo nacional pelas mais belas praias fluviais que se formam durante o período em que o volume de águas do Araguaia diminui e também pela grande biodiversidade existente (LOPES, 2007). A comunidade se encontra no vale do médio rio Araguaia, na fronteira dos estados entre o

Pará e o Tocantins, o acesso à comunidade se dá pelos rios Araguaia e Piranhas, como também pela rodovia TO-436 que liga Araguacema/TO ao referido povoado.

O povoado Senhor do Bonfim tem aproximadamente 50 (conqüenta) famílias que residem, na sua maioria, em casas de taipa (trançado de bambú preenchido com barro) ou feitas de adobe (muito comum na região norte, que são grandes tijolos de barros secos ao sol) e recobertas por palhas de babaçu (Attalea ssp). Os moradores são oriundos principalmente, dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia. Além destes citados, inclui-se também a população ribeirinha que utiliza o rio como meio de locomoção para transporte de pessoas e mercadorias. (ALVES e MORAES, 2011).

Em escala regional o povoado Senhor do Bonfim, encontra- se no sudeste amazônico. Outrora, a comunidade era popularmente conhecida como Bom Jesus das Piranhas, de acordo com Vieira (2001), e na atualidade como Senhor do Bonfim, nome chamado pelos romeiros da região e do Brasil que peregrinam todos os anos na primeira quinzena do mês de agosto para a comunidade.

Em relação a sua localização geográfica, entre os estados do Pará, Tocantins e Mato Grosso, durante a romaria o fluxo de pessoas na comunidade é intenso, diferente do dia a dia na comunidade (fora do período de romaria), havendo relações comerciais e de busca de serviços como saúde em cidades mais próximas, como Araguacema, Dois Irmãos, Pequizeiro e Colméia (no Estado do Tocantins) e Conceição do Araguaia, Redenção e Santana do Araguaia (no Estado do Pará), além de Confresa e Vila Rica (no Estado do Mato Grosso).

Rosendahl (1996) descreve que as hierópolis brasileiras, ou seja, cidades-santuário são categorizadas em cinco tipologias: pequenas cidades em áreas rurais; núcleos rurais; cidades- santuários nos centros metropolitanos; cidades-santuários entre centros metropolitanos; e cidades santuários nas periferias

metropolitanas. A autora descreve ainda que as hierópolis sejam cidades que tem uma ordem espiritual dominante e são consagradas pelo conhecimento religioso da romaria ou também pela peregrinação a localidade sagrada.

A contar dessa divisão de hierópolis, a comunidade de ribeirinhos do povoado do Senhor do Bonfim (Araguacema/TO) se enquadra na categoria núcleos rurais, relacionado a sua vivência em um pequeno povoado que, durante a romaria, todo ano, se torna um núcleo urbano com mais de 23 mil visitantes, outro exemplo é o que ocorre no santuário de Nossa Senhora da Abadia do Múquem (Niquelândia/GO), que durante a romaria, recebe devotos que estabelecem uma organização de infraestrutura do local diferente do existente nos dias habituais (ROSENDDAHL, 1996).

A comunidade do povoado do Senhor do Bonfim é reconhecida regionalmente e nacionalmente por causa da Romaria do Senhor do Bonfim, que nasceu devido à migração de nordestinos em direção as “Bandeiras Verdes” - elemento simbólico atuante no imaginário do campesinato nordestino, que migrou para a região Amazônica na última década no final do século XIX e também a partir da década de 1950 no século XX (DE CARVALHO, 2014).

De acordo com Lopes (2007), as honrarias ao Senhor do Bonfim, em Araguacema/TO, surgiram por volta de 1932, com a chegada de uma família que veio da Bahia, trazendo consigo uma imagem do santo que originou o nome da comunidade. Essa imagem foi descoberta por uma família quando fugia dos conflitos decorrentes da Balaiada, durante os anos de 1838 e 1841. Entretanto, foi nos anos 1970 e 1980, que ocorreu na região um crescimento de migração mais intenso, a festividade ganhou popularidade e muitos devotos do santo Senhor do Bonfim (LOPES, 2007). Comprovam-se o fato que a imagem do santo pertence, até os dias atuais, à mesma família que a descobriu,

permanecendo hoje na quarta geração dos guardiões do santo Senhor do Bonfim (LOPES, 2007).

Segundo Lopes (2007), existem pontos que são relevantes e colaboram para a adequação da região e também para o desenvolvimento da romaria religiosa, como por exemplo o surgimento da Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia – SUDAM, que tem como objetivo envolver a região com a inserção de imensos projetos agropecuários, e o descobrimento de ouro, primeiramente em Serra Pelada, e em seguida em locais próximos a comunidade. De acordo com De Carvalho (2014), o que provocou o surgimento e desenvolvimento da comunidade, foi o fato desta região ser o ponto central de peregrinação anualmente.

Relacionado à impossibilidade de subsistência das famílias apenas pela coleta e pesca, uma parte dos moradores desta comunidade são lavradores e “trabalham em roças” de subsistência. Entretanto, a maioria dos moradores vive dos lucros obtidos da romaria durante o período da romaria do Senhor do Bonfim (LOPES, 2007), quando os produtos de pequenas hortas, criações de abelhas e outros animais e mesmo do aluguel de suas casas e quintais aos romeiros, considerando-se que no período de festa, a comunidade recebe milhares de romeiros durante o festejo que dura quinze dias (na primeira quinzena de agosto).

Outra atividade praticada por boa parte da população da comunidade é a pesca artesanal, onde o pescador tem uma atuação, direta ou indireta, durante o apoderamento do pescado, empregando instrumentos rudimentares e atuando sozinho, tanto para o consumo como também para a comercialização local e regional, conquistando por meio dessa atividade parte de sua renda (RAMIRES et. al., 2012a e 2012b e SILVA et. al., 2007).

Na comunidade do povoado Senhor do Bonfim, alguns pescadores são afiliados à Colônia de Pescadores de Araguacema/TO (Z-5), que tem, no Tocantins, uma das principais colônias de pesca grande organização (NETO et al., 2005). Segundo esse autor, o município de Araguacema/TO com relação ao rio

Araguaia no Tocantins, é favorecido pelo grande volume de d'água em suas adjacências, favorecendo uma alta diversidade de organismos aquáticos, fundamentais para o gerenciamento da atividade e geração de renda anualmente (NETO et. al., 2005).

Outro organismo aquático muito admirado, além do pescado na região Amazônica, e também na comunidade tradicional de ribeirinhos do povoado do Senhor do Bonfim, são os quelônios, com destaque para a tartaruga da amazônia (Podocnemis expansa), e o tracajá (Podocnemis unifilis). O nome quelônio faz parte ao grupo específico de animais aquáticos da classe dos répteis, sendo sua representação mais conhecida, popularmente, são as tartarugas (incluindo as de águas doces e salgadas), os cágados, os jabutis e os tracajás (ATAÍDES et. al., 2010).

Historicamente, os quelônios representam um importante papel como recurso natural, sendo que os indígenas foram os primeiros a consumirem sua carne, gordura, ovos e vísceras. Consequentemente, essa tradição foi repassada às comunidades ribeirinhas da Amazônia, tornando um hábito alimentar que vem de gerações passadas, desse modo, importante recurso da fauna para as comunidades tradicionais. (KLOSOVSKI, 2003; PANTOJA- LIMA et. al., 2009; SALERA JUNIOR, et. al., 2009; ARAUJO, 2011; MOREIRA et. al., 2014 e EISEMBERG et. al., 2015).

4.1.3 Perfil da Comunidade do Povoado Matinha (Guaraí – TO)

No documento Povos Originários e Comunidades Tradicionais (páginas 114-118)