• Nenhum resultado encontrado

1. Web2.0: breve definição de conceitos

1.2. Comunidades virtuais: o caso Flickr como photo sharing system

O conceito geral de comunidade vem sendo definido pela sociologia ao longo dos anos por diversos autores58, sendo que a visão de comunidade dita ideal para a convivência humana está permeada por conceitos do modelo clássico, que não se aplicam à abordagem contemporânea, mais conveniente para uma definição associada à Era das Conexões (Weinberger, 2003) e às redes sociais surgidas com os avanços da Web.

Naquilo que refere-se à definição de uma visão moderna de comunidade é preciso ressaltar outros aspectos como, por exemplo, coesão social, base territorial e

      

57  “The  Semantic  Web  will  bring  structure  to  the  meaningful  content  of  Web  pages,  creating  an 

environment  where  software  agents  roaming  from  page  to  page  can  readily  carry  out  sophisticated  tasks for users”. 

73

colaboração (Recuero, 2001). Palacios (1998 cit. in Recuero, 2001 p. 3) enumerou os elementos que a caracterizam:

O sentimento de pertencimento, a territorialidade, a permanência, a ligação entre o sentimento de comunidade, caráter corporativo e emergência de um projeto comum, e a existência de formas próprias de comunicação.

O conceito de comunidade aplicado ao ambiente Web foi definido primeiramente por Howard Rheingold, em 1993, com a publicação do The Virtual Community, disponível on-line desde 1998. No livro, o autor define o termo comunidades virtuais:

São agregados sociais que surgem da Rede, quando uma quantidade suficiente de gente leva adiante essas discussões públicas durante um tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço59.

Participar de comunidades virtuais na Web é um hábito que vem agregando pessoas no mundo todo desde o início da comunicação mediada por computador. Para Recuero (2001, p. 10), “a comunidade virtual é um elemento do ciberespaço, mas é existente apenas enquanto as pessoas realizarem trocas e estabelecerem laços sociais”.

Porém, compartilhar e armazenar fotografias on-line foi um fenômeno que surgiu somente com o advento de tecnologias e sistemas operacionais que modificaram a relação do usuário com a navegação em rede, aquilo que foi definido por Tim O’Reilly como Web2.0, em 2004. Não modificou o conceito básico de comunidade virtual, ampliou-o e agregou novos formatos de sociabilização. O site Flickr é frequentemente mencionado como exemplo clássico do fenômeno (e.g. Cox, 2007; Meyer et al, 2005; Rubinstein e Sluis, 2008) e seu impacto tem sido notado, por exemplo, na facilitação do jornalismo cidadão.

Não é demais ressaltar que, nos anos 90, o acesso à Internet era caracterizado por conexões lentas e dispendiosas. Enviar arquivos digitais com tamanhos grandes quase sempre era uma ação mal sucedida. Rubinstein e Sluis (2008) lembram que criar

       59

 “Virtual communities are social aggregations that emerge from the Net when enough people carry on  those public discussions long enough, with sufficient human feeling, to form webs of personal 

74

um site de imagens on-line era ainda mais complicado e com procedimentos não acessíveis a maioria das pessoas, como ocorre hoje. Com a melhoria das interfaces, surgiram novas formas de interação entre os usuários: mais avançadas; com aplicativos e plataformas cada vez mais simples e compreensíveis por todos. Potencializando, portanto, a troca de informação (Santos et al, 2008).

O Flickr é definido hoje como uma comunidade, ou sistema, on-line de compartilhamento de fotografias, mas foi originalmente lançado por Stewart Butterfield e Caterina Fake60, em 2004, como ferramenta de suporte a um jogo on-line para múltiplos jogadores, hospedado na Web com nome de Game Neverending. Em Abril de 2005, o Flickr tinha 270 mil de usuários e 4 milhões de fotos, quando foi comprado pelo Yahoo.com, por 30 milhões de dólares. Dois anos depois, o site já tinha 7,2 milhões de usuários e 400 milhões de fotografias (Cox, 2007; Winget, 2006).

Para Meyer et al (2005, p. 1) o Flickr:

É um popular site de photo-sharing que por um lado opera como uma galeria, com fotos organizadas em álbuns e identificadas por categorias, e por outro como fotoblogue, com conjuntos de fotos visualizadas cronologicamente.61

Stewart Butterfield (Koman, 2005) explica que a popularização do Flickr ocorreu, entre outras coisas, pelo fato das pessoas estarem:

Mais familiarizadas com computadores e com a Internet, a simplicidade conduziu as pessoas a sentirem-se mais confortáveis em interagir entre elas on-line. Não é estranho publicar um conjunto de suas fotografias e ter pessoas ligadas nele62.

Na página de entrada do site o slogan adotado nos dias de hoje é: Compartilhe suas fotos. Observe o mundo63. Ter uma conta free ou pro permite o usuário: armazenar,

      

60 O Flickr foi desenvolvido pela empresa Ludicorp, que foi comprada pelo Yahoo! posteriormente. 

61 “Is a popular photo‐sharing site that in some ways operates like a gallery, with photos organized into 

albums  and  tagged  into  categories,  and  in  some  ways  like  a  photo  blog  with  photos  viewable  as  a  chronological “photo stream”. 

62 “(…) more familiar with computers and the Internet, very simply leads people to be more confortable 

with interacting with each other online. It’s note weird to publish a stream of your photos and have  people tune into that.” 

75

organizar e editar fotografias64, participar de grupos e fóruns temáticos, além de visualizar e comentar imagens de outros usuários e definir restrições e direitos nas suas próprias fotografias. As diferenças básicas entre os dois tipos de contas estão nos limites de armazenagem e na forma de organização.

É necessário assinalar que os sistemas photo sharing vêm sendo um fenômeno na comunicação mediada por computador também devido ao baixo custo das câmeras fotográficas digitais e, principalmente, pela acomodação destas em aparelhos de telefonia móvel. A união entre redes de compartilhamento de fotografias e câmeras digitais ao alcance de todos vem alterando os parâmetros de socialização da fotografia doméstica. Assunto estudado por diversos autores, com diferentes abordagens (e.g. Meyer et al, 2005; Nightingale, 2006; Rubinstein e Sluis, 2008; Van House et al, 2004). Van House et al (2004) identificou aquilo que pode-se considerar as principais motivações para “usos sociais” 65 da fotografia, dita amadora ou doméstica, no contexto emergido do novo paradigma da comunicação mediada por computador: construção da memória pessoal ou em grupo, a criação e a manutenção de relacionamentos sociais e a expressão e a representação pessoal.