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1) O ciberespaço tem facilitado a difusão e o acesso de fotografias sobre a Guerra no Iraque? 2) O conteúdo disponível na Web ampliou o acesso à informação visual sobre a Guerra no Iraque

1.2 Difusão e acesso ao tema na Internet

Essa categoria teve o objetivo de sistematizar os dados que referem-se a difusão e ao acesso de fotografias sobre a Guerra do Iraque na Web. Foram organizadas três subcategorias: acesso ao fluxo de fotografias; difusão de conteúdos face às mídias tradicionais e conteúdo da informação visual.

i. Acesso ao fluxo de fotografias

Sobre o acesso às fotografias na Web a maioria dos entrevistados (5) concorda que é possível “ver” a história do conflito em diversos aspectos e em diferentes sites:

“Quem quer entender o que acontece lá consegue” (J.W.)

“Um usuário médio de Internet, com uso de buscadores (Yahoo!, Google) (...) pode conseguir uma gama completa e múltipla de informação (...)” (R.D.)

“Sim, nos vários sites. Talvez nos extra-oficiais seja mais fácil” (S.P.)

Além disso, os entrevistados (6) concordam que o ciberespaço e a fotografia digital proporcionaram maior rapidez para o acesso às fotografias:

“O leitor ganhou em rapidez” (S.P.)

“ Aquilo que eu acho que o leitor lucrou (...) foi uma maior rapidez entre o instante do acontecimento e a veiculação das imagens (...)” (J.P.S.)

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“Para a imprensa (...) facilitou a transmissão e exposição” (R.D.)

Portanto, pode-se dizer que o acesso na Web às fotografias sobre a guerra no Iraque, para parte considerável dos entrevistados, é rápido e fácil. Diversos sites de notícias e sites com sistema de busca de informação facilitam o acesso para visualizar o tema. Tanto para os meios de comunicação como para o leitor fica pontuado pelos entrevistados que houve ganhos de agilidade com as novas tecnologias.

ii. Difusão de conteúdos face às mídias tradicionais

Identificou-se que todos os entrevistados (6) consideram que uso da tecnologia digital fez o fluxo de fotografias ser maior com a Web e metade (3) considerou que as imagens repetem-se, mas há opções além daquelas usadas no impresso.

“A Internet é de longe o melhor suporte para difusão de imagem” (M.L.) “Tem conteúdos repetidos, mas tem mais conteúdos alternativos na internet” (J.P.S.)

Para os entrevistados, a plataforma virtual possibilita mais exposição para a produção feita pelos meios de comunicação e pelos profissionais:

“(...) De 10, 15 fotos editadas em um site, provavelmente uma ou duas foi publicada” (R.D.)

“Os jornais abordam de maneira mais superficial” (J.W.)

“A fotografia digital e a Internet em conjunto facilitam a distribuição de fotografias. Portanto é mais fácil acessar imagens na Internet que os jornais eventualmente nem sequer publicariam” (J.P.S)

Constatou-se que em relação específica ao uso da fotografia amadora, sendo ou não sobre o tema em questão, os entrevistados são unânimes quanto a legitimidade e necessidade desse fenômeno.

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Para eles, a fotografia digital oferece mais possibilidade de difusão das imagens amadoras e devem ser usadas como fonte de informação, na Web ou em meios de comunicação tradicionais, porém com critérios jornalísticos:

“É uma fonte riquíssima em conteúdo, a que não tínhamos acesso até recentemente. Mas deve ser utilizada com critério jornalístico” (T.V.)

“No caso específico da fotografia, a rede, somada à popularização das câmeras digitais, espalhou ‘olhos’ por todo o mundo” (R.D.)

Notou-se que alguns entrevistados (5) mencionaram, de diferentes formas, o fato dos grandes acontecimentos e os flagrantes jornalísticos – inclui-se também a guerra no Iraque – estarem ganhando visibilidade por causa das facilidades proporcionadas pela tecnologia digital:

“(...) os leitores (...) tiveram acesso às imagens de cotidiano da guerra proporcionadas pelos soldados e funcionários de empresas" (M.L.)

“Os amadores serão responsáveis pelos grandes registros de flagrantes no jornalismo daqui em diante, pois estão em todos os lugares armados de pequenas cameras digitais” (J.W.)

Parte deles (4) destacou a possibilidade de encontrar-se diversos pontos de vista como principal potencialidade da difusão. Além dos meios de comunicação, que migraram para a plataforma digital, amadores e profissionais independentes utilizam o ciberespaço como local de exposição de fotografias, fazendo do meio um grande banco de dados sobre esse e diversos outros temas:

“(...) poucos jornais ao redor do mundo hoje não possuem uma página virtual para reproduzir total ou parcialmente seus conteúdos, o que também, novamente, garante uma multiplicidade maior de informação (...)” (R.D.) “A fotografia digital ligada a internet permite com maior facilidade a multiplicação dos pontos de vista acerca dos mesmo acontecimentos.” (J.P.S.)

“Jornais online oferecem uma opção que não tem na versão impressa. As ‘galerias’ com inumeras imagems sobre a mesma notícia ou acontecimento” (M.L.)

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iii. O conteúdo da informação visual

Para os entrevistados, a produção de outras fontes não oficiais de informação, como o fotógrafo amador, tornou-se mais popular com a Web e a fotografia digital, sendo elas usadas pelos meios de comunicação quando oferecem conteúdos jornalísticos:

“Não teríamos sabido das torturas de Abu-Ghraib se as imagens não tivessem sido feitas de forma digital” (S.P.)

“Para o ‘cidadão comum’, talvez a fotografia digital e as possibilidades oferecidas virtualmente para a exposição de imagens tenham tido um impacto maior” (R.D.)

Para eles, esse tipo de conteúdo, como vimos acima, deve ser usado com critérios jornalísticos. Entretanto, parte deles (3), demonstrou preocupação com a manipulação da imagem e seu uso indevido:

“A manipulação de imagem mais facilmente encontrada devido às tecnologias digitais diminuiram a credibilidade da imagem como documento jornalístico” (M.L.)

“A fotografia e seu uso jornalístico é positivo em si mesmo, ela se torna negativa quando é usada para fins diferentes daqueles para os quais o jornalismo surgiu” (J.P.S.)

Todos listaram exemplos de imagens feitas por amadores que foram usadas para noticiar informação sobre o conflito. O caso mais citado foi o da prisão de Abu Ghraib (6), sendo que alguns deram outros exemplos. Um entrevistado citou as imagens de Tami Sicilio98 feitas em 2004:

      

98 Na ocasião ela trabalhava para a empresa Maytag Aircraft, que fazia transportes para o exército no 

Kuwait, e fotografou o embarque de caixões cobertos com a bandeira norte‐americana para  repatriamento dos mortos. 

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“(...) casos mais destacados foram o das imagens feitas de caixões de soldados norte-americanos sendo embarcados para os EUA, com a bandeira do país sobre eles” (R.D.)

Outro lembrou-se de ter visto sites com fotografias feitas por soldados e também fotografias de atentados:

“Já vi em alguns sites. Essencialmente fotografias de atentados e fotografias de soldados. Os próprios soldados que fotografaram a guerra e disponibilizaram essas fotografias na internet” (J.P.S)

Em relação aos demais tipos de conteúdo, especificamente conteúdos produzidos pela mídia tradicional e por fotojornalistas, metade (3) dos entrevistados destacou que o uso destes produtos na Web possibilitou ao leitor acesso a conteúdos diversificados:

“A digitalização da imagem ajudou a fugir das censuras impostas pelos Americanos porque facilitou a transmissão e proporcionou uma maior quantidade de fotos, aumentando a dificuldade para controlar e censurar o material” (M.L.)

“Embora operando com limites os fotojornalistas tem tentado mostrar a guerra tal como ela é. É obvio que não mostram, mas tentam mostrar facetas da guerra (...) tudo aquilo que gira em volta dela (...) manifestações, a vida de todos os dias..” (J.P.S.)

Porém, para parte deles (3) o conteúdo disponível no ciberespaço ainda é comprometido pelo ponto de vista, pela filiação do fotógrafo face ao acontecimento e ao órgão de imprensa para o qual trabalha:

“Eu gostaria de ter visto mais fotos do lado da resistência iraquiana” (M.L.) “Os fotógrafos são quase todos estrangeiros a serviço da mídia estrangeira, que tem interesses estrangeiros” (T.V.)

Desta forma, avalia-se que as imagens feitas por amadores são fonte importante de informação e, em geral, são bem vistas como conteúdo informativo nas mídias tradicionais. Essas imagens chegam hoje ao grande público pelos meios de comunicação instalados na Web. Redes de notícias on-line, como a BBC News, o NYTimes.com e o Estadao.com, criaram sistemas para comprar e distribuir material feito por amadores (Munhoz e Palacios, 2007). Para alguns entrevistados há a ressalva quanto à

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credibilidade desse conteúdo, mas em termos de contribuição as imagens amadoras são vistas positivamente.

Verificou-se que com o sistema on-line o conteúdo geral disponibilizado no ciberespaço foi ampliado, possibilitando o acesso às versões diferenciadas sobre o conflito. Mesmo que este conteúdo venha carregado por uma ideologia ligada à cultura a qual pertence o fotógrafo, para a maioria dos entrevistados a fotografia digital e o ciberespaço amplificaram os conteúdos em relação ao que é possível de ser visualizado na imprensa tradicional.