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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.1 Conceção do Processo de Ensino

“O ensino da Educação Física tem como objetivo garantir um nível elevado da formação básica – corporal e desportiva de todos os alunos. Como disciplina escolar a Educação Física constitui a forma fundamental e mais importante da formação corporal das crianças e jovens, na qual o respetivo professor conduz um processo de educação e aprendizagem motora e desportiva. (…) A Educação Física é um processo pedagógico complexo, determinado na sua dinâmica por leis, leis pedagógicas, psicológicas, biológicas, neurofisiológicas, biomecânicas, bioquímicas e leis do movimento” (Bento, 2003, p. 41).

A conceção corresponde a uma das demais tarefas que os professores devem realizar, com o intuito de desenvolver o entendimento necessário para a

sua atuação. Esta surge como o processo que permite sustentar as funções de planeamento e transmissão da matéria de ensino de forma eficaz.

De acordo com as normas orientadoras do EP5, a conceção permite “Projetar a atividade de ensino no quadro de uma conceção pedagógica referenciada às condições gerais e locais da educação, às condições imediatas da relação educativa, à especificidade da Educação Física no currículo do aluno e às características dos alunos, através de: 1) Analisar os planos curriculares, nomeadamente as competências gerais e transversais expressas. 2) Analisar os programas de Educação Física articulando as diferentes componentes: finalidades, objetivos, conteúdos e indicações metodológicas. 3) Utilizar os saberes próprios da Educação Física e os saberes transversais em Educação, necessários aos vários níveis de planeamento. 4) Ter em conta os dados da investigação em educação e ensino e o contexto cultural e social da escola e dos alunos, de forma a construir decisões que promovam o desenvolvimento e a aprendizagem desejáveis” (p.3-4).

Nesta perspetiva, entende-se que a consecução de todo o planeamento inicia-se na conceção e nos conteúdos dos programas ou normas programáticas de ensino (Bento, 2003).

Bento (2003) acrescenta ainda que o programa de ensino de uma determinada disciplina adota um “carácter de lei” e destaca-se entre o conjunto de documentos necessários para o planeamento e preparação do ensino, no entanto, este documento não é o único que se constitui como referência para a realização do ensino, sendo completado e interpretado por um vasto leque de documentos e materiais que auxiliam o professor a aplicar e adaptar as exigências centrais às condições locais e situacionais, da escola e da turma onde decorre o processo de ensino-aprendizagem. Esta tarefa demonstra-se demasiado complexa e requer a consideração e ajuste coexistente entre dois níveis de indicação, nomeadamente o nível das indicações gerais e centrais (e.g. Programa de EF) e o nível das indicações locais (e.g. Projeto Educativo da Escola, Regulamento Interno).

5 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos Conducente ao Grau de

Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário da FADEUP, 2014- 2015. Porto: Faculdade de Desporto. Matos, Z.

A articulação destes dois níveis deve ser potencializada, sendo que o sucesso do processo de ensino-aprendizagem está dependente do modo como as indicações, elaboração, realização e controlo do programa são entendidos e utilizados uniformemente como um todo eficaz e da medida em que existem, nos órgão de direção e professores, preocupações de planificação consistente, responsável e criativa (Knappe, cit. por Bento 2003).

Com efeito, apesar de cada um dos níveis requerer determinadas exigências, deve ser mantida uma estreita relação de concordância entre os mesmos. Tanto a programação (nível central) como a planificação do ensino (feita pelo professor) formam um processo unionista que deve recair na realização de um ensino eficaz (Bento, 2003).

Neste seguimento, para um melhor entendimento das indicações locais da escola onde realizei o meu EP, foi imprescindível realizar uma análise do Projeto Curricular de Escola (PCE), do Projeto Educativo de Escola (PEE) e do Regulamento Interno (RI). Assim foi possível compreender a escola enquanto instituição, ao nível dos seus objetivos e estratégias de intervenção. Para realizar a caracterização da escola, a maior dificuldade sentida foi o facto de não conhecer o meio social em que estava inserida, dificuldade essa ultrapassada após os primeiros contactos com a escola. Através desta análise, consegui perceber que a escola se situa num meio onde a classe social é média-baixa e, como tal, existem bastantes casos de alunos com comportamentos disruptivos, algo que o professor deve ter em conta para a preparação do processo de ensino-aprendizagem.

Para além disso, visto que a minha área de interesse seria a desportiva, considerei essencial perceber um pouco da cultura desportiva geral dos alunos da escola, ou seja, quais as modalidades que normalmente são mais admiradas pelos mesmos e às quais a própria instituição dá mais ênfase. Como tal, para a consecução desta análise foi também importante recorrer aos membros do grupo de EF para que as minhas conclusões fossem mais verídicas. Com efeito, denotei que, para além do futebol, que é a modalidade com mais apreciadores, também o basquetebol tem uma grande ênfase na comunidade escolar.

Posteriormente, procedi para a análise dos conteúdos das modalidades a lecionar, para cada um dos respetivos anos letivos. Como tal, para que pudesse

tornar o processo de ensino-aprendizagem o mais eficaz possível, realizei uma análise ao nível central e local.

A análise do Programa Nacional de EF (nível central) demonstrou ser bastante relevante para a contextualização de todo o processo. Neste caso, foi necessário uma análise do programa referente ao ensino secundário (11º ano - turma residente) e ao 2º ciclo (5º ano - turma partilhada). Este documento orientou a determinação dos conteúdos e dos seus critérios, bem como os objetivos a atingir por parte dos alunos. Ainda assim, denoto que esta análise teve uma maior preponderância ao nível da turma de 11º ano, pois tal como irei expor posteriormente, os documentos ao nível local tiveram uma grande importância para as minhas tomadas de decisão, no entanto, não posso descurar a importância do Programa Nacional de EF. Durante a realização desta análise encontrei algumas lacunas com as quais não concordei.

No que concerne à turma residente (11º ano), relativamente à modalidade de atletismo, penso que o programa foge um pouco à realidade da escola onde realizei o EP, pois são muitas as matérias propostas às quais a mesma não têm meios para dar resposta a nível da disponibilização dos materiais. Estes encontram-se um pouco degradados e alguns são inexistentes, o que dificulta a lecionação de certas modalidades. Penso também que o número de modalidades propostas é demasiado elevado para as sessões disponíveis ao longo de um ano, pois tal como tive a possibilidade de constatar, a lecionação de um elevado número de disciplinas resulta numa diminuição do tempo reservado para cada uma delas e, por consequente, uma diminuição da obtenção de aprendizagens efetivas. Por outro lado, com o desenvolvimento da minha experiência de EP ao longo do ano, considero também que desta forma o programa se mostra bastante versátil, permitindo assim que cada escola possa adequar os conteúdos aos materiais que tem ao seu dispor, não tendo que, obrigatoriamente, lecionar as matérias mais convencionais da modalidade de atletismo. Outra modalidade que destaco é o badminton, penso que em termos de conteúdos, falta uma diferenciação entre o amortí e o encosto, pois são batimentos que diferem ao nível do local onde deve é iniciado e como tal deveria de ser referenciada no programa. Nas minhas aulas fiz questão de elucidar os alunos acerca desta diferença. Já ao nível do basquetebol, outra modalidade que me despertou a atenção, destaco o elevado número de habilidades táticas

previstas no programa. Penso que este foge um pouco à realidade da minha turma, pois tal como verificado nas minhas aulas, a maior parte dos alunos não têm as competências necessárias para realizar oportunamente a grande variedade de habilidades definidas, por exemplo, os conteúdos relacionados com os bloqueios (bloqueio direto e indireto, desfazer bloqueio, defesa do bloqueio, bloqueio defensivo).

Por fim, relativamente às modalidades alternativas, que foram escolhidas pelos alunos, neste caso o basebol e o hóquei em campo, senti dificuldade em fazer uma análise crítica ao programa, pois não estava de todo familiarizado com as modalidades. Como tal, foi um grande obstáculo conceber os conhecimentos dos conteúdos para a prática, de forma a adequar o programa à realidade da turma. Após a lecionação das aulas e de realizar uma nova análise ao programa, considero que ao nível do hóquei em campo, este se demonstrou bastante adequado aos meus alunos, sendo que no momento de avaliação sumativa consegui verificar habilidades presentes do nível avançado, mesmo tratando-se de alunos que nunca tinham vivenciado qualquer contacto com um jogo de bola e stick. Na modalidade de basebol, considero que, tal como pude verificar, para um professor com pouca experiência na modalidade, o programa encontra-se bastante confuso e com muitos conteúdos. Para a consumação da conceção referente a esta modalidade, senti necessidade de recorrer aos professores da escola, que demonstram um conhecimento sólido acerca da modalidade. Ainda assim, considero que relativamente à minha turma, a complexidade do jogo referenciada no programa era bastante elevada. Porém, reconheço que os conteúdos presentes devam constar no programa, pois presumivelmente existem escolas com uma forte cultura ao nível da modalidade.

No desempenho desta tarefa também a análise local, nomeadamente do Projeto Curricular de Educação Física (PCEF), se demonstrou bastante preponderante para o planeamento do processo de ensino. No que diz respeito à turma de 11º ano, visto que os conteúdos não constam do documento, a sua análise cingiu-se na verificação das modalidades que os alunos poderiam selecionar para o ano letivo. Por outro lado, este foi um documento crucial para a turma do 5º ano, pois tanto as modalidades a ensinar, como os seus conteúdos estavam rigorosamente definidos PCEF. Apesar disso, devido às características da turma e da minha opinião pessoal que foi discutida com o PC, senti

necessidade de adaptar alguns conteúdos, nomeadamente na disciplina de ginástica de solo. No PCEF estava prevista a lecionação da subida para apoio facial invertido através do lançamento da perna livre, no entanto, estes manifestavam demasiadas dificuldades para que tal fosse alcançável.

Importa ainda referir que para além da análise dos documentos referidos, a aquisição ou reaquisição do conhecimento da modalidade a lecionar também se distingue como imprescindível para o êxito e a aprendizagem dos alunos, pois o conhecimento do professor está intimamente relacionado com a qualidade da instrução e da emissão de feedbacks emitidos nas aulas. Neste sentido, a busca por um conhecimento efetivo da modalidade é crucial para que todo o processo de ensino-aprendizagem seja eficaz.

De forma a dar término a este processo de análise às indicações locais, foi realizada uma análise da turma de uma forma geral, mas também de cada aluno como um só. Na consecução desta tarefa foi realizada uma análise aos inquéritos individuais entregues aos alunos no início do ano letivo, na disciplina de EF. As reuniões iniciais de conselho de turma, onde foram apontadas as características individuais de cada aluno, foram também pertinentes para conhecer melhor os alunos das turmas. Além disso, a avaliação diagnóstica concretizada no início de cada uma das modalidades foi também fulcral para que conhecesse o nível de desempenho da turma em geral e de cada aluno em particular. No entanto, ao longo de todo o processo de prática pedagógica foi possível ir adicionando mais informações sobre cada um dos alunos através da constante interação com estes.

Ainda para complementar todo o processo de conceção, foi imprescindível realizar uma análise direcionada aos modelos de ensino para que este conhecimento fosse articulado com as informações recolhidas anteriormente, permitindo assim encontrar aqueles que mais se adequavam ao contexto. Assim, destaco como os mais influentes na minha ação pedagógica, o Modelo de Instrução Direta (MID) e o Modelo de Educação Desportiva (MED), tendo aplicado princípios e características de ambos em todo o processo de ensino, na maioria das modalidades lecionadas. Esta escolha deveu-se ao facto de terem sido aqueles que, tendo em conta os meus alunos, se demonstraram mais promissores de otimizar as aprendizagens. Posteriormente (subcapítulo 4.1.3)

irei desenvolver as características de cada um deles bem como os motivos que me levaram a tomar esta decisão.

Para concluir, importa referir que toda esta análise documentada foi facilitada pelo trabalho coletivo do NE, à exceção da análise do programa de EF, pois muitas das modalidades que ensinei, foram distintas das dos meus colegas de NE.