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4. REALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

4.2 Planeamento do Processo de Ensino

4.2.2 Unidade Didática

A UD distingue-se como o nível de planeamento que garante uma sequência lógico-específica e metodológica da matéria, organizando as atividades tanto dos alunos como dos professores, contribuindo assim para o desenvolvimento dos alunos (Bento, 2003). O autor refere ainda que os objetivos da UD só podem ser alcançados de forma gradual, o que requer uma planificação inter-relacionada de todo o processo. Desta forma, é aqui que se encontra o cerne do trabalho criativo do professor.

Este foi o nível de planeamento no qual senti mais dificuldades, já que é aqui que são delineados os conteúdos a ensinar e os objetivos a privilegiar em cada uma das aulas em específico. No entanto, se este se cingir à mera distribuição da matéria de ensino pelas aulas a lecionar, serão reservados espaços demasiado curtos para a apropriação sólida das habilidades fundamentais, bem como ao desenvolvimento das capacidades imanentes (Bento, 2003). Desta forma, o autor postula que “o planeamento da unidade

temática não deve dirigir-se preferencialmente para a matéria «em si mesma» - a abordar nela – mas sim para o desenvolvimento da personalidade (habilidades, capacidades, conhecimentos, atitudes) dos alunos, pelo que deve, sobretudo, explicitar as funções principais assumidas naquele sentido por cada aula” (p.78).

Ao longo do meu percurso do EP, considero que foi notável a minha evolução na concretização deste documento. De facto, as primeiras UDs realizadas centravam-se muito na tomada de decisão da extensão dos conteúdos ao nível das habilidades motoras, descurando de certa forma os restantes conteúdos. No entanto, com a experiência e a ajuda do PC e da PO, o planeamento da UD foi-se tornando mais pormenorizado principalmente ao nível

da decisão da extensão e sequência dos conteúdos, não só das habilidades motoras, mas também da cultura desportiva e da fisiologia do treino e condição física. Ao nível das habilidades motoras tornei-me capaz de atender melhor às progressões pedagógicas necessárias e adequadas à turma, recorrendo para isso à definição do tipo de tarefa propostas para a prática dos alunos (informação, refinamento, extensão e aplicação).

A realização da UD de atletismo foi, sem dúvida, a que suscitou mais dúvidas da minha parte. Apesar de ter bastantes aulas disponíveis para a lecionação da mesma, acabei por escolher demasiadas disciplinas da modalidade, nomeadamente corrida de estafetas, técnica de corrida, salto em comprimento, triplo salto, lançamento do peso, salto em altura e transposição de barreiras. Como no programa nacional de EF são propostas variadas disciplinas para o referente ano letivo (11º ano), tentei planear todas as que eram passíveis de aplicar perante as condições da escola. Também devido ao facto de no início da lecionação da modalidade ter verificado que a motivação dos alunos para a prática não era muita, especulei que se fosse lecionar mais disciplinas, talvez estes ficassem mais motivados, principalmente por terem poucas aulas de cada disciplina. Mais tarde percebi que os alunos não tiveram efetivamente tempo suficiente de exercitação de cada uma das disciplinas, tendo por isso condicionado a aquisição dos conteúdos. Aquando a avaliação sumativa dos alunos foi fácil denotar que a opção tomada não foi a mais correta, pois verificou- se um baixo nível de aprendizagem por parte dos alunos em algumas disciplinas.

A planificação da modalidade de hóquei em campo também se demonstrou um grande desafio devido à falta de conhecimento acerca da modalidade. Por esta razão, reconheço que esta UD foi aquela que sofreu mais alterações ao longo do tempo. Estas foram verificadas não só na sequência dos conteúdos, mas também ao nível dos conteúdos a ensinar, até porque as respostas dos alunos, por vezes mostraram-se imprevisíveis, obrigando a alguns reajustes. Nas primeiras aulas da UD tinha optado por um determinado conjunto de conteúdos, contudo, após uma pequena formação com um ex-professor da escola e ex-treinador da modalidade, consegui arrecadar bases sólidas para criar uma planificação mais adequada ao contexto dos alunos, permitindo assim uma melhor evolução da turma em geral.

A realização deste nível de planeamento foi preconizada de acordo com as orientações do Modelo de Estrutura de Conhecimento (MEC), proposto por Vickers (1990).

Este modelo constitui-se como sendo um modelo instrucional que se baseia no conteúdo (o que ensinar) e no processo (como ensinar), centrando-se fundamentalmente no primeiro. A sua primeira preocupação foca na questão “o que quero ensinar?”. Deste modo, a base de planeamento do MEC é o conhecimento. Este expõe a forma como a matéria de ensino é estruturada, delineando toda a informação que serve posteriormente como um guião à atuação do professor (Vickers, 1990).

O MEC demonstrou ser uma ferramenta essencial para a minha atuação enquanto professor. A sua estruturação permitiu-me conhecer cada uma das modalidades lecionadas, rever os conceitos já adquiridos e aprofundar os conhecimentos. Com efeito, este permitiu-me também perceber as minhas dificuldades, bem como as minhas potencialidades. A complexidade da sua organização contribuiu para que conhecesse cada modalidade a um nível que me possibilitava consistência e coerência na transmissão dos conteúdos em todo o processo de ensino-aprendizagem.

Este modelo divide o planeamento e a atuação do professor em três fases distintas: a fase de análise, que diz respeito aos três primeiros módulos (análise da modalidade, análise do envolvimento da aprendizagem e análise dos alunos); a fase de decisões, que diz respeito aos módulos 4, 5, 6 e 7 (extensão e sequência de conteúdos, objetivos, configuração da avaliação e tarefas de aprendizagem); por fim, a terceira fase, fase da aplicação respeitante ao módulo 8 onde se aplica toda a informação identificada anteriormente no processo de ensino-aprendizagem.

Deste modo, entende-se que a concretização deste documento pressupõe, numa primeira fase, a análise da modalidade em questão através de estruturas do conhecimento, tendo como base as categorias transdisciplinares (módulo 1). De seguida, importa atender à verificação das condições materiais de que a escola dispõe para o ensino da modalidade (módulo 2) e à obtenção do nível de desempenho dos alunos, para orientar o processo de ensino aprendizagem, através do processo de avaliação diagnóstica (módulo 3). Terminada esta fase de análise, iniciam-se os processos de decisão relativos à

definição da extensão e sequência dos conteúdos, com recurso a uma grelha (módulo 4), posteriormente, atende-se à definição dos objetivos pretendidos (módulo 5), configurando depois a avaliação de forma ajustada e de acordo com os objetivos propostos (módulo 6). Importa referir ainda, a criação de situações de aprendizagem que permitam aos alunos obter as competências estipuladas (módulo 7). Por fim, inicia-se a fase de aplicação de todo a matéria estruturada anteriormente (módulo 8).

Todos os módulos, desde o módulo 1 ao módulo 7, foram como peças de um puzzle que após serem encaixadas (módulo 8) puderam ser replicadas para diferentes aplicações, sendo uma delas o plano de aula (Vickers, 1990).