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A expressão direitos sociais não é unânime, pois são também denominados direitos econômicos, sociais e culturais, ou de segunda geração.

Segundo Narbal Antônio Mendonça Fileti, há diferenças históricas e conceituais entre as denominações. Como direitos sociais, a expressão provém do direito constitucional e dos ramos do direito nacional regulados por meio da matriz do direito social. Quanto aos direitos econômicos, sociais e culturais, a expressão relaciona-se ao direito internacional, ou seja, é adotada numa visão internacionalista. Entretanto, na maioria dos casos, tratam-se dos mesmos direitos, embora positivados de forma diferenciada conforme o âmbito, nacional ou internacional.2

Os direitos sociais caracterizam-se por concederem aos indivíduos as prestações estatais referentes à assistência social, à saúde, à educação e ao trabalho. Nesta categoria

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Artigo 5º, § 1º- As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 15 abr. 2009.

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FILETI, Narbal Antônio Mendonça. A fundamentalidade dos direitos sociais e o princípio da proibição de retrocesso social. Florianópolis: Conceito, 2009. p. 61.

encontram-se também as liberdades sociais, como a liberdade de sindicalização, o direito de greve, a garantia de salário-mínimo e a limitação da jornada de trabalho, entre outras.3

Os direitos sociais refletem direitos com uma tradição histórica ligada às lutas sociais, pelo reconhecimento de melhores condições de vida, a serem garantidos pelo Estado.

Na lição de Antonio Enrique Perez Luño, os direitos sociais, por ele denominados direitos econômicos, sociais e culturais, formam, junto com as liberdades públicas, o eixo em torno qual gira o sistema dos direitos fundamentais. Têm, como principal objetivo, assegurar a participação na vida política, econômica, cultural e social dos indivíduos e dos grupos sociais aos quais integram.4

Dessa forma, os direitos sociais podem ser entendidos em dois sentidos: o objetivo, como o conjunto das normas mediante as quais o Estado cumpre sua função equilibradora das desigualdades sociais; e o subjetivo, como a faculdade dos indivíduos e dos grupos em participar dos benefícios da vida social, traduzindo-se em determinados direitos e prestações, diretas ou indiretas, por parte dos poderes públicos.5

Segundo Ana Carolina Lopes Olsen, os direitos sociais fazem referência a uma luta por igualdade real e por liberdade real, no sentido de que todos deveriam desfrutar de igual oportunidade de ser livre. Ao estabelecer como critério identificador dos direitos fundamentais aqueles decorrentes do regime e dos princípios que informam a Carta Constitucional, o constituinte fez referência a todos os princípios enumerados no Título I da Constituição brasileira de 1988, dentre os quais o princípio democrático, que assume especial relevância para a identificação dos direitos fundamentais políticos. Mas é certo que o princípio da dignidade da pessoa humana tem um importante papel a cumprir, especialmente no caso dos direitos fundamentais sociais.6

Como observa Ingo Wolfgang Sarlet, na medida em que o princípio da dignidade humana determina a proteção da integridade física e moral do ser humano, ela também se revela uma

[...] garantia de condições justas e adequadas de vida para o indivíduo e sua família, contexto no qual assumem relevo de modo especial os direitos sociais ao trabalho, a um sistema efetivo de seguridade social, em última análise, à proteção da pessoa

3 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

2004. p. 55-56.

4 LUÑO, Antonio Enrique Perez. Los derechos fundamentales. 8. ed. Madrid: Editorial Tecnos, 2005. p. 183. 5 LUÑO, Antonio Enrique Perez. Los derechos fundamentales. p. 183.

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OLSEN, Ana Carolina Lopes. A eficácia dos direitos fundamentais sociais frente à reserva do possível. 378 f. Dissertação apresentada no Curso de Pós-Graduação em Direito do Setor de Ciências Jurídicas da

contra as necessidades de ordem material e à asseguração de uma existência com dignidade.7

Nesse sentido, parece evidente que o direito à saúde, o direito à educação, o direito à previdência social e o direito à moradia refletem concretizações diretas do princípio da dignidade da pessoa humana. Ainda nas palavras do autor supracitado, “o ponto de ligação entre a pobreza, a exclusão social, e os direitos sociais reside justamente no respeito pela proteção da dignidade da pessoa humana, já que – de acordo com Rosenfeld – ‘onde homens e mulheres estiverem condenados a viver na pobreza, os direitos humanos estarão violados’”.8

Também Paulo Bonavides admitiu a íntima conexão entre os direitos sociais e a dignidade da pessoa humana ao afirmar que não há diferença de valor entre os direitos sociais e os direitos individuais, pois ambos estão conectados a um valor maior: a dignidade da pessoa humana. Os direitos sociais são responsáveis, ainda, pela viabilidade do exercício dos direitos individuais e políticos, na medida em que a liberdade propugnada pela Constituição brasileira de 1988 é a liberdade real, efetiva, e não meramente formal.9

Segundo Ana Paula de Barcellos, os direitos fundamentais vigem em regime de complementaridade “na medida em que os direitos sociais viabilizam o exercício real e consciente dos direitos individuais e políticos e que todos, conjuntamente, contribuem para a realização da dignidade humana”.10

Por outro lado, Ana Cristina Costa Meireles entende que, embora a característica preponderante dos direitos sociais seja o comportamento positivo por parte do Estado, não exclui outras, que compreendem também liberdades e comportamentos positivos por parte de particulares, como, por exemplo, os direitos dos trabalhadores, que em muitos casos são prestações devidas não pelo Estado, mas por particulares.11

Segundo José Afonso da Silva, os direitos sociais tratam-se de prestações positivas efetivadas pelo Estado, direta ou indiretamente, constantes em normas constitucionais, cujo objetivo é o de proporcionar melhores condições de vida aos mais necessitados e o de buscar uma igualdade nas situações sociais desiguais. São, portanto, direitos ligados ao direito de igualdade. Servem como pressupostos do gozo dos direitos individuais, já que criam

7 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. p. 120. 8

SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais: na Constituição Federal de 1988. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. p. 96.

9 BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 595. 10

BARCELLOS, Ana Paula de. A eficácia jurídica dos princípios constitucionais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 115.

condições materiais propícias ao direito da igualdade real, o que, por sua vez, proporciona condição mais compatível ao exercício da liberdade.12

Por outro lado, Ingo Wolfgang Sarlet salienta que os direitos fundamentais sociais no direito constitucional brasileiro possuem um conceito amplo, incluindo tanto posições jurídicas tipicamente prestacionais (direito à saúde, à educação, à assistência social, etc.) quanto uma diversa gama de direitos de defesa (jornada de trabalho, direito de greve, etc.).13