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Com a Prazerosa pretende-se criar um ambiente de leitura autónomo, imersivo, explorando as tecnologias ao nível dos sensores e atuadores, com o controlo digital dessas mesmas interfaces através do Arduíno e da sua linguagem de programação, sendo mediadas pela Realidade Aumentada, cunhada por Tom Caudell e David Mizell [2], em convergência com a Narrativa Transmedia, conceito preconizado por Henry Jenkins [3]. Na NT “diferentes canais físicos envolvem diferentes tipos de representação, numa perspetiva de convergência sobre uma determinada narrativa” [3]; por sua vez, a RA acontece quando se dá a sobreposição de informação gerada computacionalmente sobre o mundo real, “Combina o real e o virtual” [4]. Parecem-nos assim perfeitamente adequados o uso destes conceitos e tecnologias uma vez que a vertente prática, que acaba por ser a mais marcante pela utilização deste artefacto de média-arte digital, irá atuar nesse sentido da convergência conseguida através dos aumentos de informação (RA) gerados sobre a narrativa presente no livro impresso (mundo real), até chegarmos à desejada imersividade.

Figura 2: a Realidade Aumentada gerada através de linguagens maquínicas e lumínicas.

Será através desta simbiose conceptual e tecnológica que procuraremos criar as desejadas linguagens maquínicas e lumínicas, Fig. 2. Estas linguagens permitirão criar, com base na narrativa presente no livro tradicional impresso, um ambiente de leitura imersivo, interativo, coordenado com o desenrolar da ação plasmada no texto/ilustração/iconografia, dando ao leitor ou potencial leitor, sensações únicas. Estes são os pontos-chave para obtenção da simbiose entre os conceitos (teóricos) e a aplicabilidade da tecnologia (prática) no desenvolvimento da Prazerosa como forma de abrir uma nova janela de investigação à volta da promoção da leitura e dos processos de mediação

Proceedings of 1st International Conference on Transdisciplinary Studies in

Arts, Technology and Society, ARTeFACTo 2018

November 16-17, Lisbon, Portugal

© Artech-International

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envolvidos, mudando o foco de estudo das linguagens envolvidas no artefacto livro e das suas variantes, para o ambiente de leitura e para as linguagens que poderemos adicionar, de forma interativa e virtual nesse mesmo processo de mediação.

Mudamos de página e no texto lê-se “Nunca nenhum sapo do mundo tinha saltado tão alto.” [5], a Prazerosa, subindo e descendo (movimento de elevação), dará essa sensação ao pequeno leitor, de forma autónoma e coordenada com a narrativa. Àquilo que o seu imaginário constrói no ato de ler o livro ao seu colo, serão adicionadas as sensações reais, sentidas através do seu corpo, de que ele entrou na história virtualmente. Isso conseguir-se-á através de movimentos que se realizarão de formas interativa - rotação, elevação, inclinação - e também com a modulação do ambiente lumínico, que a cadeira irá realizar de acordo com a narrativa. Assim, no ato de ler, dependendo da história, do seu ritmo, a Prazerosa irá querer, também ela, participar na narrativa, intensificando e metamorfoseando o sentir do leitor, adicionando às linguagens verbais e visuais presentes no livro (texto e ilustrações), linguagens maquínicas e lumínicas.

A seleção dos livros e das partes significativas do seu conteúdo suscetíveis de serem modulados pelas linguagens presentes no artefacto, foi feita de acordo com as pesquisas entretanto realizadas, nomeadamente a nível dos processos cognitivos e de outros fatores decisivos na mediação e promoção da leitura, num processo aberto que evolui pela experimentação dentro dos ciclos reverberação, reflexão e revisita ao artefacto [6]. Tudo isto para que a experiência oferecida ao leitor, ou potencial leitor, seja significativa, prazerosa, que o incentive a ler e que marque o seu percurso de leitor. Como nos diz Christian Poslaniec “Só se pode ganhar a aposta da leitura se cada criança tiver um encontro decisivo com um livro […] Não apenas se o livro lhe agrade, mas se tem um verdadeiro encontro que, realmente, o transforme” [1].

Figura 3: Ambiente de leitura gerado no momento de contação.

Um outro projeto com objetivos muito semelhantes é a instalação “O homem da gaita”, desenvolvida, paralelamente a este trabalho. Utiliza o mesmo conceito (NT) e a mesma tecnologia (RA), só que possui ouputs muito distintos, focando-se mais nos tradicionais aumentos da realidade através da sobreposição das linguagens fílmicas (visão e som). Esta instalação tem por base o desenvolvimento de um artefacto, que será utilizado por um contador de histórias no ato de contar um conto, manipulando-o nas suas mãos a par do livro tradicional impresso. Assim, partindo da utilização de um dispositivo móvel – smartphone ou tablet – e da tecnologia de RA, pretende-se explorar a modulação do ambiente de leitura através da interatividade e virtualidade da RA, numa relação de mediação e envolvência com as crianças até aqui não experimentada no ato de contar um conto [7]. Neste caso a sua utilização foi pensada numa perspetiva coletiva de animação da leitura, em que o contador de histórias conta um conto a um grupo de crianças Fig. 3.

O artefacto pode, no entanto, ser também utilizado individualmente: um mediador, uma criança. Por exemplo os pais utilizarem-no para contar aquela história aos seus filhos. Depois, serem as próprias crianças a utilizá-lo a par do livro impresso, numa utilização mais tradicional da RA.

Em todos estes contextos o ambiente de leitura não será criado de forma autónoma, ou seja, é necessário a intervenção de uma segunda pessoa no processo de mediação da leitura, ou terá de ser o próprio leitor a manipular o artefacto a par do livro impresso.

Figura 4: Ambiente de leitura intimista, autónomo, imersivo

Chegados aqui e em jeito de reflexão, parece-nos que seria extraordinário que tudo se conjugasse, ou seja, que houvesse algo que despoletasse na criança o desejo de ler, usufruir do livro no seu colo. Algo esteticamente apelativo e simultaneamente sedutor dentro do contexto tecnológico atual. E que, depois, o ato de ler fosse por si próprio, o construtor interativo de um ambiente de leitura imersivo. Que a imersividade surgisse ao

ritmo de leitura da própria criança e de acordo com a narrativa plasmada no texto, nas ilustrações. A desejada imersividade seria total: o livro, a animação da leitura, o mediador (o artefacto) e as múltiplas linguagens envolvidas no processo iriam confluir num único ponto, na criança. Esse algo foi criado por nós e toma o nome de “Prazerosa, cadeira de leitura interativa”. Ela própria é a construtora de um ambiente de leitura com a participação do leitor, mas fá-lo de forma autónoma, sem a presença explícita de um mediador. Para que o leitor, a criança, usufrua do ambiente de leitura imersivo apenas precisa de…ler, ir lendo, folheando o livro impresso, ao ritmo do seu prazer de ler.

Com a Prazerosa tudo muda, o ambiente de leitura será modulado de forma autónoma, o pequeno leitor simplesmente terá de se sentar ao seu colo e iniciar a leitura do livro como sempre fez até àquela data. Tudo acontecerá sem a sua aparente intervenção, de forma ubíqua e transparente no que se refere à tecnologia envolvida no desenvolvimento deste processo de mediação inovador, intimista e imersivo, em que o foco de todas as ações resultantes da interação é dirigido ao pequeno leitor, à criança Fig. 4.