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A instalação foi apresentada no 1º Retiro Doutoral do DMAD, que decorreu em Óbidos, julho de 2013. Uma versão

experimental, concebida num curto espaço de tempo, ainda no início do desenvolvimento das tecnologias que permitiam os diferentes níveis de interação.

Apesar das limitações existentes nessa instalação seminal, os conceitos subjacentes foram muito bem recebidos pelos nossos pares e pelos visitantes da Livraria de Santiago, Igreja de São Tiago, Fig. 13. Colocámo-la no meio dos livros, na zona infanto/juvenil da Livraria, de forma a melhor contextualizar a instalação e a potenciar a sua utilização pelas crianças. Apesar da interação com as crianças estar muito limitada, resumindo-se ao momento de aproximação com o livro na mão da criança e ao movimento pré-estabelecido da Prazerosa, o receber a criança no seu colo e depois a elevação e o recosto, a sua utilização foi do agrado dos mais pequenos. Associamos isso à curiosidade de ler no artefacto e à posição prazerosa (confortável e inesperada) de leitura. Do inquérito realizado pela organização do Retiro às instalações expostas, sobre a Prazerosa deixamos a impressão de um dos visitantes: “Ideia muito interessante! Com grande potencial”.

Figura 13: Prazerosa na livraria Ler Devagar, Igreja de São Tiago, Óbidos, julho 2013.

Apesar das limitações, o momento que foi muito importante para nós pela recolha de dados resultantes das interações realizadas e das opiniões veiculadas sobre a instalação. Depois deste momento expositivo, entramos na Fase de Mediação Estética [6]. Durante um período bastante alargado a Prazerosa esteve em desenvolvimento, não de forma continuada é certo. Foram efetuadas alterações significativas na instalação, sendo a mais relevante a que implicou a substituição interface responsável deteção da página do livro que está aberto no colo da criança, que passou a fazer-se através de um dispositivo móvel (smartphone) e de uma APP de Realidade Aumentada.

O momento expositivo seguinte surgiu três anos depois, na Biblioteca Municipal Laureano Santos, em Rio Maior. Foi apresentada a versão completa e estabilizada em junho de 2016 Fig. 14.

À semelhança do que aconteceu na Livraria de Santiago, em Óbidos, foi instalada na secção infanto/juvenil, no meio dos livros. Nesse local, através da observação direta, constatamos que as crianças ficaram muito curiosas e com vontade de experienciarem a leitura na Prazerosa.

As crianças ao aproximarem-se da cadeira com o livro selecionado, a Prazerosa iniciou os movimentos programados (1º momento), causando a desejada surpresa. Já sentadas na posição prazerosa, com o livro no seu colo, iniciam-se na leitura (2º momento). Após a lerem a primeira página - por vezes em voz alta - ficam de tal modo absorvidos (imersos) que o que se passa à sua volta deixava de os perturbar (3º momento). Fizemos vários testes: passando junto da instalação, falando, etc. e raramente se desvinculavam do livro, da sua leitura.

Houve um caso relatado pelos funcionários da biblioteca, em que a mãe de uma das crianças, não se apercebendo da particularidade daquela cadeira, entrou no espaço e chamou o filho. Ele não respondeu. Teve de ir junto da cadeira para o "acordar". Falou com o filho, e ele pediu-lhe que o deixasse acabar de ler o livro. Noutro caso, também curioso, em que um adulto decidiu experimentar-se. Esta leitora, a Vereadora da Cultura de Rio Maior, manifestou essa vontade porque, dizia ela, estava dentro dos limites de peso suportado pela instalação e por isso não queria perder a oportunidade. Após a interação preencheu o questionário, deixando o seguinte comentário: “O prazer de ler da Prazerosa” Mais tarde perguntamos-lhe da sua experiência (que nós próprios, os autores, gostaríamos de a ter) e os seus olhos brilharam: “foi uma experiência fantástica! A minha estatura atrapalhou um pouco o funcionamento, mas eu lá me ajeitei e foi muito, muito bom, parabéns!”

Fig. 14: Prazerosa na Biblioteca Municipal Laureano Santos, Rio Maior, 2016

Foi elaborado um questionário, para ser preenchido após a interação das crianças, em que se procurou auscultar o sentir dos pequenos leitores: perceber os seus hábitos de leitura, como avaliaram a interação, se gostariam de repetir a experiência e se

Proceedings of 1st International Conference on Transdisciplinary Studies in

Arts, Technology and Society, ARTeFACTo 2018

November 16-17, Lisbon, Portugal

© Artech-International

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gostariam de ter/sentir outras interações na Prazerosa. Isto com várias nuances, perfazendo cerca 10 campos, com várias opções de escolha. Na generalidade, as crianças apreciaram o conforto e os movimentos interativos, e todos gostaram de experimentar e desejariam repetir a experiência de ler na Prazerosa. Alguns comentários: “Prazerosa aumenta o meu prazer de ler”, “A Prazerosa é uma máquina fantástica! Gostei muito da ideia! :) :) :) “, “A Prazerosa é bonita”.

A interação funcionou acima das nossas expectativas. Os resultados obtidos causaram alguma surpresa aos técnicos, bibliotecários, público presente e até a nós próprios. A pesquisa e investigação, todo o trabalho prático levado a cabo para a implementação das melhorias na instalação, especialmente ao nível das interfaces, proporcionou um desenvolvimento significativo ao nível do processo interativo, tornando mais eficaz, ubíquo e transparente [10].

No mês seguinte, em julho de 2016, voltamos a expor a instalação, desta feita no âmbito do 4º Retiro Doutoral de DMAD / Paratissima, que decorreu em Lisboa, Fig. 15 e 16.

Figuras 15 e 16: Prazerosa no Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, em Alfama, 2016

A Mostra de Média-Arte Digital aconteceu no Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, em Alfama. A aceitação da instalação continuou a ser muito boa entre os pares, público em geral e especialmente junto do seu público-alvo, as crianças. Desta feita não foi exposta num espaço comum dos livros, como sempre tinha acontecido até aqui. Ainda assim aquele artefacto despertou a curiosidade às crianças do bairro de Alfama e às que acompanhavam os pais na visita à exposição: desejavam ler um dos livros disponíveis no colo da Prazerosa. Apesar de terem surgido algumas técnicas (inesperadas e aleatória, fruto de interferências electromagnéticas na banda dos 2,4 Ghz, Wi-Fi e

Bluetooh) e isso ter limitado o uso da instalação, foi possível

constatar a validade dos conceitos e as tecnologias aplicadas na instalação: o estado de imersão dos pequenos leitores após a leitura das primeiras páginas voltou a acontecer e a sua satisfação no final da interação foi evidente, houve prazer naquelas leituras. Os visitantes estrangeiros (muito frequentes

em Alfama naquela época do ano) mostraram-se muito curiosos para com a nossa instalação.

Desde a primeira interação da Prazerosa com as crianças, tornou-se evidente que o conceito sobre a possibilidade de criação de ambientes de leitura imersivos a partir deste artefacto de média-arte digital é exequível, tem grande potencial de desenvolvimento e aplicabilidade prática. No percurso expositivo feito até à data, foi possível constatar que a leitura no colo da Prazerosa conduziu as crianças ao desejado estado de imersão, isto na generalidade das interações. Pelos seus testemunhos, de uma forma mais ou menos explícita, por razões diversas, algumas delas inesperadas, percebemos que para as crianças aqueles foram momentos especiais de leitura, diríamos prazerosos.

Consciente das limitações ainda existentes, dando continuação a esta investigação, com um maior investimento financeiro ao nível dos sensores e atuadores, é expetável a obtenção de resultados ainda mais surpreendentes naquele que é o principal desígnio dos mediadores da leitura: fazer chegar o livro às mãos da criança e que o prazer da leitura a invada momento de leitura, marcante, prazeroso.

Figura 17: Logótipo utilizado na divulgação da instalação (de Ana Marques)

REFERÊNCIAS

[1] C. Poslaniec. 2006. Incentivar o prazer de ler, Porto Editora, Porto

[2] T. Caudell and D. Mizell. 1992. Augmented Reality: An application of heads-up display technology to manual manufacturing processes. Proceedings of the

Twenty-fifth Hawaii international conference on system sciences. DOI:

10.1109/HICSS.1992.183317

[3] Henry Jenkins. 2002. Transmedia 202 : Further Reflections, http://henryjenkins.org/2011/08/defining_transmedia_further_re.html. [4] R. Azuma. 1997. A Survey of Augmented Reality. Teleoperators and virtual

environments, 6(4), 355-385.

[5] Max Velthuijs. 2011. O sapo apaixonado (7ª ed.). Caminho, Lisboa

[6] Adérito Marcos. 2012. Instanciando mecanismos de a/r/tografia no processo de criação em arte digital/computacionale creation process in digital art.

inVISIBILIDADES: Revista Ibero-Americana de Pesquisa em Educação, Cultura e Artes, 3, 130-145.

[7] Rui Gaspar, José Coelho and Glória Bastos. 2014. A mediação da Leitura através de realidade aumentada - “O homem da gaita”, Invisibilidades

https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/4855/1/Revista%20Invisibilidades _n7_WEB-5.pdf ations/proceedings-template.

[8] J,C.B. Santana, A. Sapiro, D.J. Kipper, M.M. Ramos (Orgs.). 2011. Saúde da

Criança e do Adolescente: Puericultura na Prática Pediátrica, Edipucrs, Porto

Alegre

[9] R. Leote. 2015. ArteCiênciaArte, Editora UNESP, São Paulo, http://books.scielo.org.