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1 APRESENTAÇÃO DAS SOCIEDADES POR AÇÕES

2.2 Conceito de governança corporativa

A governança corporativa é conceituada por diversos autores, basicamente em dois enfoques: como sistema para garantia de investimento ou dirigido para organização e gestão157.

No primeiro enfoque, destacam-se os autores SHLEIFER E VISHNY, para os quais a governança corporativa lida com as maneiras pelas quais os fornecedores de recursos garantem que obterão para si o retorno sobre seu investimento158; e, LA PORTA et al, que entendem que a governança

155 Ibidem,. p.278.

156 Pesquisas sobre os estudos de governança corporativa nas duas últimas décadas: DENIS,

Diane; MCCONNELL, John. International corporate governance. ECGI Finance Working paper, n.5, 2003.

157 ANDRADE e ROSSETTI sugerem quatro agrupamentos com base na ênfase dada por eles:

“1. os que enfatizam direitos e sistemas de relações; 2. os que destacam sistemas de governo e estruturas de poder; 3. os que chamam a atenção para sistemas de valores e padrões de comportamento; e 4. os focados em sistemas normativos”. (ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança Corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. São Paulo: Atlas, 2004, p.23).

158 Cf. SHLEIFER, Andrei, VISHNY, Robert. A survey of corporate governance. Journal of

corporativa é o conjunto de mecanismos que protegem os investidores externos da expropriação pelos internos (gestores e acionistas controladores)159.

Já no aspecto de gestão, aponta-se JENSEN, cujo o conceito de governança é a estrutura de controle de alto nível, consistindo dos direitos de decisão do Conselho de Administração e do diretor executivo, dos procedimentos para alterá-los, do tamanho e composição do Conselho de Administração e da compensação e posse de ações dos gestores e conselheiros160.

Analisa sob tal ótica o brasileiro ARNOLD WALD que define como união de diretrizes para melhorar o desempenho de uma empresa. Para ele, os importantes aspectos da boa governança corporativa incorporam a transparência de informações e gestão, a eqüidade no tratamento dos acionistas, a costumeira prestação de contas e a adoção de procedimentos éticos com concorrentes, fornecedores, empregados, investidores e mercado161.

Para o argentino APREDA, a governança se converte em um campo de estudo e de aplicação de melhores práticas para consecução de objetivos, cujas tarefas principais são: a) busca por princípios, regras, procedimentos e boas práticas que permitem às organizações sua condução eficiente; b) desenho, implementação e seguimento dos mecanismos para a representação, o voto, compromissos e responsabilidades (accountability), controles, incentivos e padrões de desempenho; c) administração do exercício do poder, assim como da autoridade nos processos de tomada de decisão; d) realização dos objetivos e missão enunciados nos estatutos162.

159 Cf. LA PORTA, Rafael, SHLEIFER, Andrei, LOPEZ-DE-SILANES, Florencio, VISHNY,

Robert. Investor protection and corporate governance. Journal of Financial Economics, v. 58, p. 3-27, out. 2000.

160

JENSEN, Michael. A theory of the firm: governance, residual claims, and organizational forms. Harvard University Press, 2001.

161 Arnold Wald, jurista comercial, refere-se ao instituto como “governo das empresas” por

entender que é mais correta para se referir às S/A´s, já que não se tratam de associação profissional (corporações). WALD, Arnold. Revista de Direito Bancário, do Mercado de Capitais e da Arbitragem, Ed. RT, vol. 12, p. 53.

162 APREDA, Rodolfo. Mercado de capitales, administración de portafolios y corporate

governance. Buenos Aires: La Ley, 2005, p.258; e APREDA, Rodolfo. The semantics of governance. University of CEMA Working paper series, n. 245, setembro, 2003.

No Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a perspectiva é de aumento do valor e perenidade:

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre Acionistas / Cotistas, Conselho de Administração, Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas práticas de Governança Corporativa têm a finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade.163

Agregando o elemento poder, AGUILERA caracteriza a governança corporativa como a distribuição dos direitos e responsabilidade entre os diferentes atores da corporação, com os administradores, acionistas, conselhos e demais partes interessadas, incluindo empregados, fornecedores, clientes 164.

Como também STEINBERG:

Na definição usual, constitui o conjunto de práticas e de relacionamentos entre acionistas e cotistas, conselho de administração, diretoria executiva, auditoria independente e conselho fiscal com a finalidade de aprimorar o desempenho da empresa e facilitar o acesso ao capital. Já existe consenso sobre o fato de que quanto maior o valor da empresa, mais facilmente se externa cidadania e o envolvimento dos Stakeholders (públicos de interesse). Há quem resuma tudo isso numa frase: criar um ambiente de controle, dentro de um modelo balanceado de distribuição do poder.165

Independentemente do enfoque escolhido, pode-se perceber que toda empresa tem governança. Trata-se do seu sistema de gestão e o relacionamento entre os órgãos societários: direção, conselho de administração, e acionistas, bem como demais partes interessadas (clientes, fornecedores, credores etc). Não negando essa constatação, nesta tese volta-se ao questionamento do que seria uma governança superior.

Antecipa-se que seria aquela que aborda adequadamente de muitas das questões apresentadas por APREDA:

163 INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA (IBGC). Manual

prático de recomendações estatutárias. São Paulo: IBGC, 2004, p.6.

164

AGUILERA , Ruth V.. Corporate Governance. International Encyclopedia of Economic Sociology. 2005.

165 STEINBERG, Herbert. A dimensão humana da Governança Corporativa: pessoas criam

a) estatuto da empresa e códigos de boas práticas; b) estrutura de propriedade;

c) direção: determinação dos direitos nas decisões de controle; d) deveres fiduciários da alta administração até os proprietários; e) direitos de propriedade e cláusulas de salvaguarda para os

investidores;

f) conflitos de interesse166 entre os administradores, credores,

proprietários e outros stakeholders167;

g) desempenhos e incentivos para alta administração;

h) busca por rendas de oportunidade (rent-seeking168) e soft-budget constraint169;

i) produção e oportuna divulgação da informação (transparência) aos mercados, reguladores e partes interessadas;

j) compromisso e responsabilidade (accountability) desde reguladores e partes interessadas;

k) gatekeepers170 privados, públicos e globais;

l) restrições institucionais a nível nacional e internacional, através do sistema jurídico, os regulamentos e convenções, assim como os procedimentos da aplicação da lei. 171

Ou seja, descrever-se-ia a governança superior pela reunião das preocupações de ambos os enfoques, voltando-se para a estrutura adequada de poder e gestão, que otimize os recursos, resguarde os investimentos e distribua adequadamente os resultados. É o que se tentará consolidar, em tópico futuro.

166

Sobre real interesse na companhia, com base em psicologia: LICHT, Amir. The maximands of corporate governance: a theory of values and cognitive style. Delaware Journal of Corporate Law, v.29, p.649-746.

167 Stakeholder: todo agente econômico ou político que relaciona e tenha interesse na empresa

(partes interessadas).

168 Rent-seeking: comportamento oportunístico e racional que redistribui recursos que estão

disponíveis para a sociedade, causando efeito distorsivo e exclui recurso produtivos na concorrência desenfreada para obter prêmios de renda.

169

Soft-budget constraint: controle relaxado de orçamento. Consiste no uso de verbas para auxílio ou resgate de empresas deficitárias, indisciplinadas financeiramente. Mais em APREDA, Rodolfo. Corporate rent-seeking and the managerial soft-budget constraint: an incremental cash flow approach to some corporate governance issues. Corporate ownership and control, v.2, n.2, Inverno 2005, p.20-27.

170

Gatekeeper: guardião, referem-se aquelas organizações de devem cuidar dos interesses e direitos dos diferentes stakeholders, como empresas de auditoria, escritórios de advocacia, bancos de investimento, reguladores de mercado etc.

2.3 MODELOS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA: CONSTATAÇÃO DA