• Nenhum resultado encontrado

1 APRESENTAÇÃO DAS SOCIEDADES POR AÇÕES

2.4 Tipologia dos códigos de governança corporativa

Identificam-se algumas formas de se abordar a governança corporativa. No sentido estrito, como mera orientação para estrutura e funcionamento do conselho de administração e seu relacionamento com a gerência, que a torna definição mais comum em códigos de governança. Em sentido amplo, no qual inclui-se também o relacionamento com acionistas, especialmente em empresas com alta concentração de propriedade223. E, uma terceira previsão, em caráter de estudo acadêmico que inclui todos os relacionamentos dentro do negócio, desde temas relacionados à conduta dos acionistas (especialmente investidores institucionais), funcionamento das assembléias gerais até o relacionamento da empresa com o mercado financeiro.

Desta feita, basicamente vislumbram-se três formas de se categorizar os códigos de governança: a) enfoque: objetivos aos quais o modelo ou código busca atingir; b) origem: definição de qual órgão ou grupo o institui;e c) dimensão do problema: caracterização da abordagem dos problemas de poder que o código ou modelo alcança.

Quanto ao enfoque, há basicamente quatro tipos explicados por TURNBULL224:

a) Modelo financeiro (simple finance model): segundo este modelo, o problema central da governança corporativa é construir regras e incentivos, ou contratos, para alinhar o comportamento dos agentes com os desejos dos proprietários. Destacam-se como personagens, os investidores institucionais com administradores de investimento que

223

Cf. WYMEERSCH, Eddy. Corporate governance codes and their implementation. Financial Law Institute Working paper series, n.10, set. 2006, p. 1.

são agentes dos beneficiários de fundos de pensão, por exemplo. Aqui há o problema de agência225, comum na dispersão da propriedade acionária norte-americana, que provoca o razoável temor que os administradores se aproveitarão em próprio interesse do capital dos acionistas. Afinal, não há um roteiro detalhado que contenha cada posição e comportamento a ser exercido pelo administrador. Calcula- se assim o custo de agência que envolve os custos de monitoramento de agente.

b) Modelo comissário (stewardship model): os administradores são bons comissários (steward) das corporações e diligentes para buscar altos níveis de retornos aos acionistas226. No plano ideal, não há conflito, pois os administradores tem definição clara e objetiva das metas econômico-financeiras traçadas;

c) Modelo partes interessadas (stakeholder mode)l:227 o propósito da

empresa é criar valor e riqueza para as partes interessadas convertendo suas participações em bens e serviços, encorajando propriedade por empregados de longo prazo ou representação no conselho por relevantes clientes, fornecedores, empregados e comunidade.228

d) Modelo político (political model): este modelo reconhece que a alocação de poder na corporação, privilégios e lucros entre acionistas,

224 TURNBULL, Shann. Corporate governance: theories, challenges and paradigms.

Gouvernement d’entreprise, v. 1, n.1, 2000, p.11-43.

225 Para HESS e IMPÁVIDO, a meta da teoria da agência é encontrar o mecanismo de

governança que apresente melhor relação custo-benefício. Pode ser orientado por comportamento, focando em ações específicas do agente, bem como sistemas de informação de monitoramento do agente ou ainda, orientando por resultados. Neste, em especial, é a maximização do valor dos acionistas que determina a remuneração do agente. (HESS, David; IMPAVIDO, Gregorio. Governance of public pension funds: lessons from corporate governance and international evidence. World Bank Policy Research Working Paper, n. 3110, ago. 2003.)

226 Contrariando a tese que o propósito da empresa é a maximização do valor ao acionista:

JOERG, Petra; LODERER, Cláudio; ROTH, Lukas; WAELCHLI, Urs. The purpose of the corporation: shareholder-value maximization? ECGI, 2006.

227

Análise do modelo alemão em comparativo ao norte-americano, quando a participação dos trabalhadores, DINH, Viet. Codetermination and corporate governance in a multinational business enterprise. Georgetown University Law Center Working Papers, n. 169870, 1999.

administradores e partes interessadas é determinado por como o governo favorece seus constituintes229, portanto, vinculado a definições internas de prioridades.

Quanto à origem dos códigos de governança corporativa:

a) Códigos desenvolvidos pela iniciativa privada230, freqüentemente originados da academia ou por associações de empresas. Tais recomendações essencialmente têm mero valor moral. Sua força coercitiva é limitada, assemelhando a exemplos para a comunidade empresarial. Seu modelo é de adesão voluntária;

b) Código desenvolvido pelo mercado de valores mobiliários231: elaborados por seus organizadores. Direcionados a empresas de segmento de listagem, permitem a Bolsa recusar aqueles que não observam suas normas. Neste caso, a adesão é cumpra ou explique- se232;

c) Código desenvolvido por autoridades públicas: normalmente, construído por Ministros de Estado ou equipe indicada;

229 Idem, p.32.

230 Podendo ser: a) unilateral: mecanismos de executividade que envolvem esforços de empresas

individuais para aumentar seu comprometimento, como a reputação, construída por custosa propaganda, que fornece certa credibilidade. Afinal, a empresa perderia investimentos caso desrespeitasse seus compromissos; b) bilateral: duas empresas fortalecem seu compromisso em suas interações. Por exemplo, uma grande empresa de consultoria e uma industrial. Elas não se ligariam se não houvesse comprometimento efetivo. Outra forma é por meio de investimentos, criando grupos por investimentos orientados por controle, como uma sociedade meio a meio. Assim, uma terceira parte auxilia nas decisões, (BERGLOF, Erik; CLAESSENS, Stijn, Enforcement and Corporate Governance. World Bank Policy Research Working Paper, n. 3409, set. 2004, p.19.)

231

Também denominado multilateral, quando associações de comércio elaboram seus próprios códigos de conduta e freqüentemente seus próprios mecanismos de resolução de conflitos (Corporações). Bolsas, associações de bancos, corretoras. A relação entre setores favorece o multilateralismo, que culmina nas arbitragens. (BERGLOF, E.; CLAESSENS, S., 2004, p.19.)

232 A essencial diferença entre a Lei e os códigos é a lógica do “cumprir ou se explicar”. A força

coercitiva é condicionada ao interesse e aperfeiçoamento. Devido à flexibilidade, muitas empresas podem cumprir parcialmente os requisitos, justificando os demais. Naturalmente, há de buscar entender se tais justificativas são verdadeiras. Apenas a regra da transparência é que pode assegurar a verdade. (WYMEERSCH, E., 2006, p. 10-1.)

d) Código conectado à legislação:, que nela própria faz menção do código, exigindo-o em certas situações. Há obrigatoriedade de cumprimento;

e) Código definido em lei e supervisionado pelo Poder Público, em geral pela Comissão de Valores Mobiliários. Há extrema rigidez em suas determinação de cumprimento233.

Quanto à dimensão do problema segundo ROE, há duas, fundadas basicamente no triunvirato – conselho, diretores e acionistas234,:

a) Vertical: o problema se concentra no topo do comando, ou seja, na diretoria e a lealdade dos mesmos com os interesses dos acionistas. Conforme visto no estudo de Berle e Means, muito comum nos Estados Unidos, em virtude da alta dispersão acionária. Trata-se de um problema de agência. Ilustra-se:

Figura 1: Dimensão vertical segundo Roe

b) Horizontal: os não-controladores ficam à margem do processo decisório, desprotegidos, pois o acionista controlador (dominante) acaba tendo mais acesso e escolhendo os diretores, devido ao

233

Exemplo é o Sarbanes-Oxley Act, a ser discutido ainda neste capítulo.

234 ROE ainda acresce, sem muita convicção a dimensão da Legitimidade: outra dimensão, para

volume de ações. É o problema usual no continente europeu. Ilustra-se:

Figura 2: Dimensão horizontal segundo Roe

São classificações singelas, mas que demonstram que a cultura do one size, fits all (um tamanho serve para todos) como solução globalizada de governança corporativa não é verdadeiro. Afinal, cada nação tem formação cultural e estrutura de capital diferenciadas. Inclusive, no próximo tópico, observam-se algumas nuances dos códigos de cada país.

participação ativa dos empregados. (ROE, Mark J.. The Institutions of Corporate Governance. Harvard Law and Economics Discussion Paper, n. 488, ago. 2004.)

2.5 COMPARATIVO DE SEIS RELEVANTES CÓDIGOS DE