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4 PROPOSTA DE APRIMORAMENTO DAS SOCIEDADES POR

4.2 Princípios da governança corporativa eficiente

No conceito proposto, a governança corporativa eficiente se rege por cinco princípios e não apenas quatro, conforme descrito no código do IBGC501. Repetem-se transparência, eqüidade, prestação de contas, e pondera-se sobre a responsabilidade corporativa, substituindo pelos os princípios da ética e cumprimento à lei.

1. Transparência502: Consiste no interesse de divulgar oportuna e precisamente todos os fatos relevantes503 referentes à companhia,

501 Explicitado no capítulo três. 502 Em inglês disclosure.

503 Em lista exemplificativa, a CVM, Instrução n.º 358/2002, tratou de definir informação

relevante:

Art. 2o Considera-se relevante, para os efeitos desta Instrução, qualquer decisão de acionista controlador, deliberação da assembléia geral ou dos órgãos de administração da companhia aberta, ou qualquer outro ato ou fato de caráter político-administrativo, técnico, negocial ou econômico-financeiro ocorrido ou relacionado aos seus negócios que possa influir de modo ponderável:

I - na cotação dos valores mobiliários de emissão da companhia aberta ou a eles referenciados; II - na decisão dos investidores de comprar, vender ou manter aqueles valores mobiliários; III - na decisão dos investidores de exercer quaisquer direitos inerentes à condição de titular de valores mobiliários emitidos pela companhia ou a eles referenciados.

Parágrafo único. Observada a definição do caput, são exemplos de ato ou fato potencialmente relevante, dentre outros, os seguintes:

I - assinatura de acordo ou contrato de transferência do controle acionário da companhia, ainda que sob condição suspensiva ou resolutiva;

II - mudança no controle da companhia, inclusive através de celebração, alteração ou rescisão de acordo de acionistas;

III - celebração, alteração ou rescisão de acordo de acionistas em que a companhia seja parte ou interveniente, ou que tenha sido averbado no livro próprio da companhia;

IV - ingresso ou saída de sócio que mantenha, com a companhia, contrato ou colaboração operacional, financeira, tecnológica ou administrativa;

V - autorização para negociação dos valores mobiliários de emissão da companhia em qualquer mercado, nacional ou estrangeiro;

VI - decisão de promover o cancelamento de registro da companhia aberta; VII - incorporação, fusão ou cisão envolvendo a companhia ou empresas ligadas; VIII - transformação ou dissolução da companhia;

IX - mudança na composição do patrimônio da companhia; X - mudança de critérios contábeis;

XI - renegociação de dívidas;

XII - aprovação de plano de outorga de opção de compra de ações;

XIII - alteração nos direitos e vantagens dos valores mobiliários emitidos pela companhia; XIV - desdobramento ou grupamento de ações ou atribuição de bonificação;

XV - aquisição de ações da companhia para permanência em tesouraria ou cancelamento, e alienação de ações assim adquiridas;

inclusive situação financeira, desempenho, participação acionária e estruturas de governança504. Para tanto, faz-se necessária a correta abordagem dos mecanismos de publicação. Internamente, a empresa deve contar com sistemas de captação e processamento de informações, seja pela criação de um setor de relacionamento com investidores, seja com a atribuição pelo conselho de administração da elaboração freqüente de relatórios de atividades e resultados;

2. Eqüidade505: Interesse de assegurar tratamento justo e igualitário, não discriminatório dos acionistas, independente do tamanho da participação acionária (inclusive não-controladores e estrangeiros), bem como das partes interessadas, garantindo-se reparação por violação dos direitos. A eqüidade é princípio-chave da governança corporativa eficiente, pois observa direitos iguais a todos os acionistas. É da essência das sociedades por ações o reconhecimendo do poder pela participação acionária. Os votos devem ser contados por ação, sem restrições em quantidade ou ampliações pelo modo plural. Entretanto, no aspecto geral, ao titular de uma única ação já deve ser assegurado, ao menos, o direito pleno de fiscalização, amparado em arcabouço jurídico XVI - lucro ou prejuízo da companhia e a atribuição de proventos em dinheiro;

XVII - celebração ou extinção de contrato, ou o insucesso na sua realização, quando a expectativa de concretização for de conhecimento público;

XVIII - aprovação, alteração ou desistência de projeto ou atraso em sua implantação;

XIX - início, retomada ou paralisação da fabricação ou comercialização de produto ou da prestação de serviço;

XX - descoberta, mudança ou desenvolvimento de tecnologia ou de recursos da companhia; XXI - modificação de projeções divulgadas pela companhia;

XXII - impetração de concordata, requerimento ou confissão de falência ou propositura de ação judicial que possa vir a afetar a situação econômico-financeira da companhia.

504 “Os investidores necessitam saber a real situação econômico-financeira dos emissores, suas

perspectivas de rentabilidade futura, seus projetos de expansão e modernização, os eventuais direitos que regulam as relações entre os principais acionistas e dirigentes das companhias, assim como os negócios que são realizados com as partes relacionadas” (CANTIDIANO, Luiz Leonardo. O acesso dos investidores a informações e seus aspectos legais. RI. Rio de Janeiro, n.99, p.23, mai. 2004.)

satisfatório. Igualmente, deve ser oportunizado estruturas de discussão para evitar situações de expropriação;

3. Prestação de contas:506 Compreende o interesse de obrigar os agentes internos da governança a prestar contas de seu desempenho e responder integralmente pelos atos praticados. Em proximidade com o princípio da transparência, a prestação de contas envolve a revelação de atos e resultados pelos gestores. Trata-se da demonstração de sua atuação dentro dos poderes conferidos pelos acionistas (ou conselho de administração) de forma a instruir e assegurar aos interessados, condições de análise de desempenho e comportamento. O resultado almejado por esse princípio é a ampliação do poder de fiscalização e juízo sobre a performance dos gestores, capacitando os acionistas para definir a manutenção ou não do corpo diretivo, mediante análise dos documentos e metas empresárias alcançadas;

Na governança corporativa eficiente, a responsabilidade corporativa é afastada. Como típico modelo shareholder507, ela envolve basicamente o ajuste da estrutura administrativa da empresa para maximização dos resultados aos acionistas, conforme regras internas e externas que definam os limites e potencialidades operacionais. Portanto, a sustentabilidade indicada no código do IBGC traz responsabilidade, mais uma vez, à sociedade empresária para voluntariamente atuar, por exemplo, em proteção do meio ambiente. Ora, este tema é por demais importante para deixar-se à discricionariedade dos gestores de companhia e acionistas.

Não se diz aqui em recusar o cuidado ambiental, mas a questão meio ambiente deve ser elemento incorporado à gestão estratégica dos negócios por orientação legal. Assume-se o caráter do rule driven508 como formador cultural.

506 Em inglês accountability.

507 Ver classificação dos códigos de governança no capítulo dois. 508 Conduzido ou dirigido por lei.

Há indústrias potenciais, nos meandros dos processos de reciclagem e tratamento de dejetos. O estímulo também dever ser pela otimização do sistema de mercado e não pela boa vontade empresária.

Igualmente, traz o código discutido, a preocupação da função social da companhia, criando riquezas e oportunidades de emprego, além do exercício de ações de natureza educativa, cultural e assistencial. Os caracteres educativo, social, cultural e mesmo de saúde pública devem ser contemplados em políticas públicas do Estado brasileiro, empregando os incríveis 34,5% do PIB nacional drenados pelo emaranhado tributário.

Realmente, a criação de empregos é reflexo positivo de e para o desenvolvimento econômico. Porém, não se pode pedir que um acionista invista em uma empresa com o modelo ineficiente de produção apenas com o intuito de aumentar o número de empregados em determinada região, conforme conveniência de uma aristocracia política.

Esquecem-se os formuladores do código do discurso de SMITH quando o benefício comum vem do interesses dos membros da comunidade. Paga-se pelo pão porque se tem fome. O padeiro faz pão não para alimentar os outros, mas para com o fruto do seu trabalho comprar carne, posta pelo açougueiro não pela boa vontade de servir aos outros, mas pelo interesse pessoal de obter lucro.509

No aspecto assistencial, a empresa não deve assumir a função do Estado distribuindo esmolas. É dever da companhia gerar riqueza e distribuir resultados aos seus acionistas. Eles, por convicção da necessidade de ajuda ao próximo, que doem parcela dos seus dividendos, auxiliando os que mais necessitam. Rememora-se que apenas para atividades assistenciais no programa bolsa família são nove bilhões de reais, o que compreende uma doação média anual de R$ 110,00, involuntária, por cada brasileiro economicamente ativo e ocupado.510

509 SMITH, A., 1983. p.102.

510 População economicamente ativa: 92 milhões. Ocupadas 84,6 milhões. Disponível em

Neste aspecto, salientam-se em substituição os dois princípios que conceitualmente atendem melhor à perspectiva da governança corporativa eficiente:

4. Cumprimento à lei511: Nem a assembléia geral, órgão máximo da companhia, nem a diretoria ou conselho de administração podem se esquivar do cumprimento da lei que é soberana. Assim, todos os mandamentos legais quanto a questões ambientais, trabalhistas, sociais e tributários devem ser respeitados. O modelo de governança vem a aperfeiçoar o aspecto interno de gestão para maximização de valor, sem contudo ferir os dispositivos externos legais;

5. Ética512: Além do cumprimento legal, a companhia deve ser honesta e leal no mercado, responsável na condução dos negócios, assumindo responsabilidade pelas ações e decisões, reconhecendo a necessidade do desenvolvimento nacional pela geração de riquezas513. A empresa deve estar inserida no projeto de progresso pátrio, sendo honrada em garantir ao maior número de cidadãos investidores os resultados da confiança depositada pela compra de ações. É dever da companhia, antes de tudo, sob as determinações legais, estabelecer um canal de respeito com seus acionistas e comunidades envolvidas, dentro dos projetos estratégicos definidos e aprovados internamente.

511 Em inglês compliance. 512

Em inglês ethics.

513 A ética deve ser uma vantagem competitiva. Defende-se a reputação e a respeitabilidade em

marketing, zelar pela transparência, proteger-se de ações criminais não devem ser as únicas formas de atingir um comportamento ético.

Figura 4: Princípios da Governança Corporativa Eficiente

4.3 A ATUAL NECESSIDADE DA GOVERNANÇA CORPORATIVA