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CAPITULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5

2.3. Conceito de Aproveitamento de Águas Pluviais (AAP) 20

2.3.1. Conceito histórico do AAP 22

O conceito de AAP não é novo. A escassez e a procura de fontes de água potável induziu algumas civilizações antigas, por todo o mundo, a praticarem este conceito para a produção de alimentos, criação de animais e até mesmo consumo humano.

Existem evidências de sistemas de captação de águas da chuva que remontam ao início dos tempos romanos. Há cerca de 2000 a.C., vilas e cidades romanas inteiras foram projetadas para aproveitar a água da chuva como a principal fonte de água para beber e para fins domésticos. Em Israel, mais propriamente no deserto de Negev, o armazenamento da água da chuva com o propósito de ser usado para fins domésticos e agrícolas tem sido conseguido em áreas com apenas 100 mm de chuva por ano. As primeiras provas da utilização deste tipo de tecnologia em África vêm do norte do Egipto,

onde os tanques variam de 200 a 2000 m3 e têm sido usados pelo menos há 2000 anos,

estando muitos ainda operacionais nos dias de hoje. Também a Ásia tem uma longa história acerca destas práticas, que remonta há quase 2000 anos, na Tailândia. A captação em pequena escala da água da chuva das caleiras dos telhados para recipientes e potes tradicionais tem sido praticada na África e na Ásia há milhares de anos e em muitas áreas rurais remotas, este método ainda é utilizado hoje em dia (UNEP, 2002).

O documento mais antigo, segundo Tomaz (2003), referente a esta técnica, é a Pedra Moabita encontrada na antiga região de Moabe perto de Israel e datada de 830 a.C.. A

- 23 - Pedra, tem gravada a seguinte inscrição do rei Mesa dos Moabitas para os habitantes da cidade de Qarhoh: “E não havia cisterna dentro da cidade de Qarhoh: por isso disse ao povo: Que cada um de vós faça uma cisterna para si mesmo na sua casa”. Em Istambul, na Turquia, durante o governo de César Justinian (a.C. 527-565), foi contruído um dos maiores (provavelmente o maior) reservatórios de águas pluviais do mundo denominado

de Yerebatan Sarayi. Mede 140 m por 70 m e tem um volume de 80000 m3 (UNEP, 2002).

Ao longo do tempo, foram desenvolvidas técnicas de AAP, de forma independente nas diferentes regiões do globo, principalmente em regiões onde os recursos hídricos acessíveis são limitados e a sazonalidade da precipitação é acentuada ocorrendo somente durante alguns meses do ano. Em certas situações, esta é a única forma disponível de obter água para consumo humano em regiões secas (Oliveira, 2008).

Em países como o Irão e o México, por exemplo, as cisternas subterrâneas feitas com massa de cal e tijolos são utilizadas há mais de 3 mil anos (Carlon, 2005).

No México encontram-se antigas tecnologias tradicionais de recolha de água pluvial, datadas da época dos Astecas e Maias. No século X a agricultura existente dependia do AAP. As pessoas que viviam nas encostas recolhiam água potável nos Chultuns, (Figura 8) cisternas com capacidade de 20 a 45 m3 (Gnadlinger, 2000). Acima das cisternas havia uma área de captação de 100 a 200 m2.

- 24 - Nos vales a água era captada em aguadas (reservatórios de água pluvial cavados artificialmente com capacidade variável de 10 a 150 mil m3) e aquaditas (pequenos reservatórios artificiais com capacidades de 0,1 a 50 m3). Usavam estes sistemas de captação de água para irrigar árvores de fruto, bosques e para fornecer água às plantações de verduras e milho em pequenas áreas, garantindo-se, assim, água até para períodos de seca inesperados (Gnadlinger, 2000).

Na ilha de Creta são encontrados inúmeros reservatórios escavados em rochas com a finalidade de aproveitamento da água da chuva para o consumo humano, anteriores a 3000 a.C.. No palácio de Knossos, nessa mesma ilha, por volta do ano de 2000 a.C. era aproveitada a água de chuva para descarga de sanitas (Tomaz, 2003).

Por todo o território português, encontram-se atualmente vários castelos com cisterna de armazenamento de água pluvial que era utilizada para abastecer a população no caso de a água escassear quando os inimigos cercavam as muralhas do castelo. Um exemplo deste facto, é a grande fortaleza e o castelo dos Templários localizados em Tomar no Ribatejo (Figura 9) que foram construídos no ano de 1160 e onde permanecem intactos dois reservatórios (Tomaz, 2003).

Figura 9: Castelo dos Templários (Tomar Portugal, 2012).

No Algarve, ao longo dos anos, a fraca precipitação levou ao aparecimento de sistemas de aproveitamento de águas pluviais para uso doméstico, constituídos por caleiras de telha ao longo das fachadas e sob os beirados, sendo a água recolhida das suas vertentes ou dos seus terraços conduzida para cisternas (Antunes , et al., 1988).

No Arquipélago dos Açores, mais precisamente nas ilhas de Santa Maria, Terceira, Graciosa, S. Jorge, Pico, Faial e Corvo, as casas tradicionais contêm sistemas de aproveitamento de água pluvial. Na Terceira, as cisternas têm uma cobertura em abóbada de berço e um acesso à água acumulada (Oliveira, 2008). De todo o Arquipélago a

- 25 - Graciosa é a ilha com maior carência de água. Esta situação despoletou na população a necessidade do desenvolvimento de estruturas públicas e domésticas para o armazenamento de água (incluindo água pluvial). Ao nível das estruturas públicas, existem os reservatórios e os “tanques”. Esse “tanque” é, normalmente, um complexo integrado constituído por um reservatório (coberto), um tanque propriamente dito (a céu aberto) e lavadouros (Arena, 2006).

Também nas antigas colónias Portuguesas, como Cabo Verde e Brasil, houve uma introdução do aproveitamento da água da chuva por parte dos primeiros colonos portugueses. Em Cabo Verde, os sistemas de captação e utilização de água pluvial ganharam uma certa relevância no arquipélago, especificamente, na ilha do Fogo. Recentemente, têm sido abertos furos, para satisfazer as necessidades de consumo doméstico e rega, mas em geral, a ilha continua a ser abastecida na sua maioria com a água pluvial captada através dos telhados das habitações ou das superfícies rochosas devidamente tratadas com argamassa de betão e armazenadas em cisternas familiares ou em cisternas públicas, cobertas usualmente com lajes de betão armado. A Ilha do Fogo é a ilha de Cabo Verde, onde é feito um maior aproveitamento da água pluvial (Oliveira, 2008). Os portugueses levaram também para o Brasil esta técnica. Foi também encontrada nas fortalezas construídas pelos portugueses na Ilha de Santa Catarina, sistemas de aproveitamento de água pluvial, uma delas, a fortaleza construída na Ilha de Ratones (século XVIII), não possuía água doce, tinha uma cisterna que armazenava água dos telhados para consumo das tropas e também para outros usos (Diniz, 2013).

Atualmente, muitos destes sistemas são mantidos em bom estado de conservação e ainda são utilizados pelas populações (Oliveira, 2008).