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CAPITULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5

V. Distribuição 53

2.5. Qualidade da água da chuva 63

A qualidade da água para consumo humano, até meados do século XX, era avaliada basicamente através da sua cor, aroma e sabor, exigindo-se que se apresentasse límpida, agradável ao paladar e sem cheiro desagradável. A água da chuva era considerada pura e livre de contaminações químicas e microbiológicas, podendo ser usada e consumida sem qualquer tratamento. Com a revolução industrial, esse panorama mudou, devido, sobretudo, ao aumento da poluição atmosférica nas grandes cidades industrializadas. A forma de avaliação outrora usada, com base na cor, aroma e sabor, revelou-se falível não garantido a segurança necessária em termos de saúde pública contra organismos patogénicos e substâncias químicas perigosas (Rossa, 2006).

A qualidade da água da chuva frequentemente supera a das águas superficiais e subterrâneas. A ausência de contacto com solos e rochas, impede a dissolução de sais e minerais, e o contacto com poluentes, situação oposta à das águas superficiais e subterrâneas (Che, et al., 2009). De uma forma geral, a água pluvial possui uma qualidade razoável para usos não potáveis, contudo é necessário efetuar algum tratamento para evitar o mau funcionamento do SAAP. Esse tratamento será necessário devido à qualidade da água da chuva poder ser influenciada por diversos fatores, abaixo referidos (PROSAB, 2006).

A contaminação da água pode ocorrer através da qualidade do ar, da superfície de captação ou do reservatório, tal contaminação pode dever-se a microrganismos patogénicos, a substâncias físicas ou químicas (Thomas, 1988). Por conseguinte, dependendo do grau de contaminação da água, deverá optar-se por: tratar a água coletada; restringir o seu uso; ou rejeitar, se sob circunstâncias mais desfavoráveis.

Análises de amostras, de água da chuva colhida a partir de telhados residenciais feitas na Jordânia por Abdulla & Al-Shareef (2009), indicaram que a quantidade de compostos inorgânicos, em geral, combinava com as normas da Organização Mundial de Saúde (OMS) para água potável. Por outro lado, um importante parâmetro bacteriológico, como a contaminação por coliformes fecais, ultrapassou os limites para a água potável.

Segundo Thomas (1998), mesmo em áreas muito poluídas industrialmente, a contaminação da chuva pode ser negligenciada pois não foram encontradas evidências de que os agentes patogénicos se infiltrem na água (como partículas) e a absorção de gases ácidos é muito leve. Essas amostras de água pluvial, provenientes da indústria, que

- 64 - contêm concentrações mais elevadas de sólidos suspensos podem causar uma maior turvação, devido ao aumento da quantidade de matéria particulada do ar. Apesar da "chuva ácida" afetar lagos e algumas árvores, o seu grau de acidez está dentro do tolerável para consumo humano.

A contaminação da água pela superfície de captação é uma questão mais séria e existem vários fatores que influenciam a sua qualidade, tais como (Oliveira, 2008; Li et al., 2010):

 Material do telhado: características químicas, aspereza, revestimento de superfície e idade;

 Métodos de construção do telhado: tamanho, exposição, inclinação;  Tempo e condições ambientais locais: temporada, períodos secos

antecedentes (quanto maior for o número de dias secos mais restos de matéria orgânica são arrastados do telhado pela chuva);

 Eventos de precipitação: intensidade, o vento, a duração;

 Propriedades químicas dos poluentes: pressão de vapor, solubilidade em água;

 Localização da superfície da bacia hidrográfica: proximidade a fontes de poluição como zonas industriais, agrícolas ou de tráfego pesado;

Para além desses fatores, convém ter em conta e tomar as devidas precauções relativamente a outras evidências que podem prejudicar as propriedades da água pluvial. Encontra-se na superfície de captação uma enorme variedade de materiais orgânicos que abrangem bactérias, fungos, algas, folhas e ramos de árvore, restos de animais mortos, matéria fecal e outros materiais que podem atingir os reservatórios de água. Os ramos das árvores que se encontram na proximidade da área de captação, devem ser cortados para evitar que haja lixo proveniente de árvores no sistema e para impedir o acesso de lagartos e roedores ao telhado (TWDB, 2005).

Como a água coletada dos telhados é propícia a conter uma ampla variedade de microrganismos, apesar de muitos serem considerados seguros e não suscetíveis de causar doenças outros poderão ser patogénicos sendo muito perigosos se se instalarem nos reservatórios. Portanto, a qualidade e segurança da água será assegurada pela minimização ou exclusão de sua presença (Quadros, 2010).

- 65 - Os reservatórios também podem influenciar muito a qualidade da água e quanto mais eficiente for a filtração da água antes de esta ser armazenada, menor sedimentação e introdução de matéria orgânica haverá dentro do mesmo. Se a sedimentação for significativa, haverá uma redução do volume útil dos reservatórios e a existência da matéria vegetal e animal poderá afetar a cor da água para além de fornecer nutrientes para os microrganismos. Assim, é necessária uma higienização frequente dos reservatórios para que estes materiais que se acumulam não prejudiquem a qualidade da água. Quando existem vários tanques ligados é possível limpar um desses tanques fechando a válvula de ligação com a conduta que une o tanque ao que se pretende limpar (Oliveira, 2008).

Existem diversos estudos que apontam que as características físico-químicas da água recolhida em reservatórios de diferentes materiais, atendem às diretrizes de qualidade de água potável, com a notável exceção em termos de pH, onde existem grandes oscilações dependendo do material. Apesar da maioria dos reservatórios se localizarem à superfície, também existem reservatórios subterrâneos e estes requerem maiores considerações construtivas, sendo aconselhável que estes se apresentem totalmente vedados e protegidos (Quadros, 2010).

Tendo em conta que, neste estudo, as águas pluviais captadas e armazenadas serão para posterior consumo em usos não-nobres como rega de jardim e lavagens de veículos, os fatores de qualidade da água pluvial que devem ser observados, são os seguintes (Gomes da Costa, et al., 2006):

 A área de captação deve ser conservada limpa, impermeabilizada, feita com material não tóxico e livre de fissuras e vegetações;

 O sistema de filtragem deverá ser implementado antes da água entrar no reservatório;

 Para evitar entrada de animais na cisterna, devem colocar-se proteções em todas as entradas do tanque;

 O reservatório deve ser mantido fechado, impedindo a entrada de iluminação para evitar o crescimento de algas e microrganismos, e sua proliferação;

 Periodicamente, deve realizar-se a limpeza de caleiras, filtros, redes e outros materiais que compõem o sistema de captação;

 Não deve ser realizado o consumo direto da água do tanque sem qualquer tratamento após a primeira precipitação;

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Padrões de Qualidade da Água para Irrigação

Segundo LaBranche et al., (2009), a criação de normas de recolha de água nacionais e internacionais pode ajudar no desenvolvimento de sistemas sustentáveis, de baixa manutenção, seguros, e com a mínima perturbação ecológica. Lye et al., (2010) afirmam que os padrões químicos de qualidade da água, análises e limites de deteção químicas são muito semelhantes em todo o mundo. Recomendam ainda a criação de normas que dependerão se a água entra ou não em contato com o ser humano, ou se tem como finalidade aplicações ecológicas.

Empresas internacionais têm feito progressos nos últimos anos, produzindo componentes de recolha de água sustentáveis de alta qualidade, que têm influenciado a expansão do mercado. Assim sendo, ocorre a promoção do uso de fontes de água da chuva e evitam-se potenciais riscos à saúde devido à má utilização. Obviamente, o tipo de tratamento a ser aplicado para a água recolhida varia de acordo com o propósito para o qual ele vai ser usado (Quadros, 2010). Os requisitos de qualidade devem ser então diferentes se a água é para fins potáveis ou não-potáveis. Por exemplo, assume-se que os padrões de qualidade exigidos para a água do banho vão ser diferentes daqueles para lavagem sanitária ou rega de jardins (Lye, 2009).

Em Portugal, a norma técnica ETA 0701 (2009), recomenda que quando a água da chuva é utilizada, de um modo geral, para fins não potáveis, a qualidade desta tem de respeitar, no mínimo, as normas de qualidade aplicáveis a águas balneares. A Diretiva Europeia nº76/160/CEE, do Conselho Europeu, de 8 de dezembro e o DL nº236/98, de 1 de agosto, estabelecem normas, critérios e objetivos de qualidade com a finalidade de proteger o meio aquático e melhorar a qualidade das águas, em função dos seus principais usos. No Anexo XVI do DL nº236/98, de 1 de agosto, estabelecem-se os parâmetros que limitam a qualidade da água para irrigação, sem distinção de irrigação agrícola, recreativa ou de paisagismo (Anexo II). Esses parâmetros são relativos às concentrações máximas recomendadas (VMR), bem como as concentrações máximas aceitáveis (VMA) da qualidade da água que estão estabelecidos para esse fim (Ministério do Ambiente, 1998).

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