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Tomamos para nossa pesquisa o conceito de mobilidade de Kakihara (2003). Para o autor, o conceito de mobilidade atual assume importância nas esferas econômicas, políticas, sociais e tecnológicas, estabelecendo a definição de mobilidade sob três categorias: mobilidade de pessoas, mobilidade de objetos e mobilidade de informação. Todos estes aspectos da mobilidade podem ser resumidos no fato de que mobilidade é a habilidade ou qualidade para mover ou ser movido:

In fact, the concept of mobility and significance of being mobile are understood and used in strikingly diverse ways. In some cases, mobile is simply interchangeable with portable or wireless such as mobile technology and mobile applications. In other cases, mobile is mostly synonymous with remote such as mobile work and mobile office. Furthermore, mobile sometimes refers to a flexible or opportune ity-abundant situation, for instance, mobile society and mobile life. To be sure, it is quite usual in history that in the initial stage of a new debate, there are many different definitions and diverse usages of the very concept or subject discussed (KAKIHARA, 2003 p. 22-23).7

Segundo Kakihara (2003) o dilema clássico entre o social e o técnico levou os estudos sobre mobilidade a duas escolas. A primeira delas é a escola técnica, direcionada a pesquisas e orientações de aspectos técnicos na ciência da computação e das telecomunicações. Nessa seara, publicações como IEEE Personal Communications (1993); Mobile Netorks and Applications (1996); IEEE Pervasive Compting (2002) trazem artigos sobre tecnologia móvel, avaliam os aparelhos de comunicação, a plataforma de computação, a localização das pessoas, se estão ou não em movimento etc. A segunda escola é a escola social, que se interessa pelas formas desse movimento e se preocupa com as pessoas, os objetos, o trabalho, para a qual a tecnologia não é um fim em si mesmo, mas um fator externo que possibilita este “movimento”.

Para Waycott (2004) a disseminação da tecnologia móvel, do conceito de mobilidade aplicada ao trabalho, aprendizagem e computação nos últimos anos favoreceu a popularização

6Fonte: www.inventors.about.com

7 De fato, o conceito de mobilidade e a significância de ser móvel são entendidos e usados de diversos modos.

Em alguns casos, móvel é simplesmente permeado com portável ou sem fio, tal como na tecnologia móvel e aplicações móveis. Em outros casos, móvel é predominantemente um sinônimo de remoto, tal como no trabalho ou escritório móvel. E, ainda, móvel se refere a flexível ou situação repleta de oportunidade, por exemplo, sociedade móvel e vida móvel. Para ter certeza, é comum na história que no estágio inicial de um debate haja muitas definições e diversos usos de um conceito ou assunto (KAKIHARA, 2003, p. 22-23. Tradução nossa)

e o discurso acadêmico sobre mobilidade. Contudo, por ser um tópico controverso e debatido em várias universidades e campos do conhecimento – computação, filosofia, educação, engenharia –, é necessário que os discursos sobre mobilidade sejam debatidos entre os pares de uma mesma disciplina para evitar o risco de transformar o termo em uma buzzword (palavra popular, mas sem sentido). Logo, para nossa pesquisa, estudaremos o aspecto da mobilidade e buscaremos a compreensão desse termo pelo viés do mobile learning.

Segundo Nyiri (2002) há duas abordagens para o Mobile Learning. A primeira é que, devido à popularização dos aparelhos wireless, o acesso à Internet migrará para tais dispositivos, transformando o e-learning em m-learning, sem que haja alteração em sua forma ou conteúdo. A segunda abordagem relativiza o m-learning, mostrando-o como dotado de peculiaridades e direcionado a determinados ambientes e situações, sendo a comunicação a fonte da qual emerge o aprendizado móvel.

O conceito de mobilidade não é novidade na história ou na educação. Desde a invenção da imprensa, que possibilitou o uso de apostilas, livros e fascículos, os alunos têm a oportunidade de estudar onde e quando quiserem. Outros objetos, como o rádio, o gravador, a televisão, também foram e ainda continuam sendo recursos de ensino e aprendizagem.

Ao estendermos o conceito de mobilidade para outras esferas da vida moderna, deparamo-nos com a mobilidade das pessoas, dos objetos, do conhecimento, da informação. Bilhões de pessoas se deslocam de um lugar ao outro fazendo uso da tecnologia de transportes ou não. Objetos são transportados por diversas rotas e meios em todo globo, a informação é disponibilizada instantaneamente por meio de símbolos, imagens, satélites de telecomunicação e redes de computação na ecologia do ciberespaço.

Kakihara (2003, p. 47-8) assevera que, devido a curta expectativa de vida dos assuntos ligados à tecnologia, é preciso haver um esforço comum para uma rápida teorização do que se pretende por mobilidade, “não apenas uma discussão altamente técnica ou social, mas também assuntos humanos empíricos para os quais o conceito de mobilidade está ligado ao cenário no mundo real”8.

É de grande valia para esta pesquisa a visão do contexto educacional que se insere na vertente tecnológica mediada por um objeto de uso e características móveis. Assim, trataremos mobilidade na vertente social proposta por Kakihara, sob a qual analisaremos os aspectos da mobilidade das pessoas, dos objetos e da informação-conhecimento.

8 It is of paramount importance to ground the current discourses on mobility not only on highly technical or

social discussions but also actual human emprirical issues to which the concept of mobility is actually linked in real world settings. (Tradução nossa).

Moore (2007) preconiza uma distinção entre tecnologia e mídia. O autor discorda da literatura que apresenta os termos tecnologia e mídia como sinônimos. Segundo ele, mídias são textos, imagens, sons e dispositivos, e tecnologia é o veículo de transmissão.

O binômio educação/novas tecnologias tem sido debatido por diversos autores (TEDESCO, 2004; MOORE, 2007; BRUNNER, 2004). Para o estudo das práticas educativas intermediadas pela tecnologia e pelas redes de comunicação, é importante compreender o que é comunicação. Segundo Levy (1995) a mediação entre mensagem e interlocutores pelas tecnologias da inteligência, da informação e da comunicação é o que caracteriza a comunicação-ação. Assim, a comunicação acontece com a co-participação dos envolvidos e do contexto em que a mensagem está inserida, sendo que “o sentido emerge e dá-se em situação, é sempre local, dado, transitório” (LEVY, 1993, p. 28).

Concluímos este capítulo ponderando que, apesar de recente, polêmico e multidirecionado, o uso de TIC no ensino e aprendizagem em ambiente de aprendizado móvel deve ser explorado pelos atores que compõem a cena educacional: professores, alunos, instituições e técnicos.

Na teoria, os aparelhos de comunicação móvel podem proporcionar vantagens para as aplicações em sala de aula. Na prática, sabemos que isso não é de todo correto. As TICs não são atraentes para todos os alunos ou professores, ou mesmo instituições. Nem todos se interessam por adotar a tecnologia em suas práticas pedagógicas. Não vemos motivo para impor uma ação a todos (isso seria impossível), mas não vemos motivo para não tentar entender uma realidade que está sendo trazida para nossas escolas pelas mãos dos alunos. O cabedal pedagógico do uso da telemática para o ensino é algo que, no mínimo, deve ser visto como uma potencialidade.

CAPÍTULO 2

LIGAÇÕES TEÓRICAS

Neste capítulo, relatamos inicialmente o processo de desenvolvimento deste paradigma emergente que é o conceito de aprendizagem móvel (m-learning) bem como relacionamos essa perspectiva educacional com outras como o e-learning e as comunidades de prática do CALL e MALL.

Em primeiro lugar, investigamos a relação entre educação, ensino de línguas e novas tecnologias, entre as teorias de aprendizagem, seu progresso e histórico, até chegar ao processo de aprendizagem mediada pelo computador e, a seguir, pela aprendizagem ubíqua.

Apresentamos uma breve revisão dos caminhos de aprendizagem com o propósito de delinear suas características e no que consiste a utilização e aplicação de cada um. Nessa instância, pretendemos discutir em que medida essa nova oportunidade de aprendizagem pode auxiliar aluno-professor a desempenhar o ensino e aprendizagem de língua inglesa, tendo como mediador, nesse processo, o uso de tecnologia de computação e comunicação ubíqua.