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O telefone, as redes eletrônicas de comunicação e o ensino

O ensino e aprendizagem em geral podem usufruir das TICs (TAROUCO et al, 2004) de inúmeras formas. Diversos debates a respeito de como ocorre essa inclusão digital e social ocupam a agenda acadêmica. Nosso interesse é analisar a relação entre a tecnologia wireless e o ensino de língua inglesa com a finalidade de investigar as possibilidades oferecidas pelas tecnologias de informação e comunicação.

Assim como a comunicação, a aprendizagem também é feita com a ajuda da web. Nossa sociedade cria sistemas de interdependência que reforçam a necessidade de busca, de partilha de descobertas, de fatos. Considerar comunicação em rede apenas a que é veiculada por aparelhos eletrônicos é desfazer da progressão e da continuidade histórica desse evento. A transformação e o fato de que todas as coisas estão ligadas por elos sociais, históricos, econômicos e culturais é uma característica de qualquer setor de atividade humana. No passado, a comunicação era externalizada por gestos, uterâncias, símbolos visuais. O homem passou, então, a valorizar os eventos comunicativos, desenvolveu e aprimorou a comunicação de tal forma que o resultado é o que nos cerca hoje. Há variações e representações tão variadas e flexíveis, que o que entendemos por interação e comunicação hoje não é o que se entendia há 50 anos. Hoje convertemos para arquivos digitais o conteúdo da cultura mundial, o acesso e a interação entre fatos e pessoas acontecem a qualquer momento e em qualquer lugar. Contudo, o que está sendo construído não altera ou desmerece o que as experiências passadas proporcionaram. É a mudança histórica inerente ao evento social.

Considerar que a aprendizagem esteja vinculada à noção de escola e de ensino formal é restringir o assunto a uma visão positivista. A escola não é apenas a instituição política e econômica onde os alunos aprendem. Pelo contrário, muitos aprendem apesar da escola. Por muito tempo a escola teve o papel de isolar da realidade social tanto professores como alunos. Os muros e as portas fechadas das salas de aula podem oferecer uma leitura semiótica do que entendíamos até há pouco tempo (senão até hoje) por ensino. No Brasil, em especial no regime ditatorial, a formação de professores foi tratada como uma linha de montagem. Professores preparados para lidar com livros didáticos nos quais a informação, na maioria das vezes, era selecionada e restrita a um ponto de vista (o da classe dominante) e o debate e as situações problematizadoras, postos de lado.

Quando a rede de informação e comunicação começa a chegar às escolas, os muros são ameaçados de ruir. Na rede, o isolamento é substituído por interação de um com muitos e o

ponto de vista unilateral dos livros didáticos é confrontado com uma gama de assuntos e pontos de vista quase ilimitados. Assim, quando a tecnologia “invade” a escola, seja por meio de computadores em sala de aula, ou de celulares no bolso dos alunos, estamos presenciando uma possibilidade de transformar uma realidade restrita de conhecimento de um grupo para a divisão e construção de saber socialmente difuso e abundante.

Consideramos também que a escola pode boicotar essa “invasão” tecnológica do aprendizado em rede, por sentir que o que ocorre muitas vezes fora dos bancos escolares em situações de lazer, de contato com amigos, assistindo TV, ouvindo rádio, ou mesmo sozinho, expõe o aprendiz a eventos para os quais ele não estaria preparado ou que não se poderia controlar. Enfrentamos, então, o problema de selecionar a informação. Passamos de uma situação em que a informação era escassa e restrita para um contexto de abundância e falta de censura, de um contexto físico de sala de aula com portas e muros, para um ambiente com multiplicidade de sítios e janelas que se abrem na velocidade de um “toque”.

O ambiente escolar está preparado para essa mudança? Com certeza os educadores terão que lidar com essas questões, com as potencialidades pedagógicas dessa nova ecologia educacional. Como educadores em um regime democrático de direito, podemos aceitar ou não essa condição. O que não podemos é deixar de criticar e refletir sobre o que toda essa inovação tecnológica pode trazer de benefícios ou limitações, possibilidades ou dificuldades para nossa prática.

A mediação de tecnologia do livro, do quadro negro, da TV, do rádio e, atualmente, do telefone sempre ocorreu na história e amparou as transformações sociais. Marvin (1990) analisa a história da comunicação eletrônica no final do século XIX, período de desenvolvimento do telégrafo, telefone, luz elétrica, das tecnologias wireless, do cinema, destacando o telefone como a tecnologia disrupta, que entrou nos lares primeiramente desestabilizando a idéia de particular e público. A princípio, o telefone não foi visto como meio de comunicação em massa ou como meio de comunicação democrático.

Marvin (1990) argumenta que a história dos meios eletrônicos é

[…] less the evolution of technical efficiencies in communication than a series of arenas for negotiating issues crucial to the conduct of social life; among them, who is inside and outside, who may speak and who may not and who has authority and may be believed. Changes in the speed, capacity, and performance of communication devices tell us little about theses questions. (MARVIN, 1990, p. 4) 5.

5 [...] menos a evolução das eficiências técnicas na comunicação que uma série de arenas para negociação de

Marvin (1990) descreve os debates entre os especialistas sobre as implicações sociais da eletricidade e do telefone e o que deveria ser feito para lidar com essas questões. Os usuários são vistos como se estivessem em constantes negociações, que moldam as inovações e canalizam o uso das invenções a determinados grupos sociais pelo uso que cada consumidor faz da tecnologia. Nesse processo, a tecnologia é transformada e o papel principal nesse cenário não é o instrumento, mas o drama das representações de poder, na critica social, enfim, nas transformações que as “novas tecnologias” impõem aos velhos hábitos.

No caso do telefone, sua invenção, seu desenvolvimento e conseqüências nos levam a entender o usuário não como um ser passivo impactado pela tecnologia, mas aquele que a manipula, que faz com que a tecnologia seja posta à sua disposição, e cujo manuseio acaba por ditar seus fins e seus meios. É fato que, com o advento da comunicação elétrica, ou harmônica, como foi nomeada por Alexander G. Bell, o telefone não era democrático no final do século XIX. Contudo modificou a sociedade, encurtou distâncias, deu voz a todos, jovens e velhos, homens e mulheres, ricos e pobres, interferiu nas relações familiares, de trabalho e de lazer e está presente em milhões de lares em todo mundo, não distinguindo credo, raça, cor ou condição social. Ao trazer a questão das novas tecnologias, Marvin (1990) critica os historiadores por tratar os eletricistas apenas como técnicos, e não como agentes envolvidos tanto no aspecto técnico quanto cultural no desenvolvimento da comunicação via eletricidade.

As primeiras palavras telefonadas foram ditas por Alexander Graham Bell, “Mr. Watson, come here, I want you” (Senhor Watson, venha aqui, preciso do senhor) em 10 de março de 1876 (FISCHER, 1992, p. 34), ao seu assistente, que se encontrava em outro aposento. As transformações tecnológicas implementadas na comunicação não diferem daquelas ocorridas na arquitetura, ciência, agricultura ou qualquer outro campo da atividade humana. Neste estudo, escolhemos lidar com a telefonia direcionando suas implicações sociais para o aprendizado e para o uso da língua. Como mediadora social, essa tecnologia logrou criar uma mentalidade de interação social comum a muitos. O artefato, de certo modo simples e prosaico, é o meio pelo qual resolvemos nossas questões particulares nos livrando das limitações geográficas e reduzindo o tempo para o acesso a qualquer um em qualquer lugar.

falar e quem não pode, e quem tem autoridade e pode ter credibilidade. Mudanças na velocidade, capacidade e desempenho dos aparelhos de comunicação nos falam pouco sobre estas questões (MARVIN, 1990, p. 4. Tradução nossa).