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O corpus para a análise é composto pelo questionário, transcrições das entrevistas, mensagens de texto enviadas e recebidas, e são analisados pelo viés da pesquisa qualitativa e interpretativista.

Leffa (2006) advoga que, para realizar um estudo de caso em sala de aula na tentativa de compreensão do processo de ensino e aprendizagem de línguas, é preciso que os instrumentos escolhidos (entrevistas, gravações, notas de campo) levem ao entendimento do que está ocorrendo, e ao significado desses eventos para os aprendizes.

Pensamos nossas tarefas pedagógicas tendo em mente a situação de Mobile Assisted Language Learning e a catalogação de objetivos de aprendizagem para o ensino de línguas, seguindo a taxionomia proposta por Leffa (2006 a).

Encontramos respaldo em Oliveira (2007) para que os dados obtidos nas entrevistas fossem agrupados em eixos temáticos. Dessa forma, definimos a funcionalidade e a aprendizagem como temas para discussão e reflexão sobre o uso de SMS no ensino e aprendizagem de língua inglesa.

Com a análise do questionário, confirmamos que o uso de SMS é familiar aos aprendizes que já o utilizam nas situações do cotidiano. As informações obtidas apontam para uma oportunidade de inserção do MALL em sala de aula de línguas, visto que os alunos dominam as tecnologias de informação e comunicação. As afirmações sobre a freqüência do uso do celular, como “a todo tempo. Não fico sem, em momento algum”; “todo dia”; “sempre”; “diariamente”, levam ao entendimento de que o telefone celular é parte da vida do aprendiz. Markett et al. (2006, p. 280) comenta esse aspecto e afirma que: “the use of mobile phones/SMS within populations familiar with the technology would be a ‘low-threshold’, high-ceiling’ technology tool.”26

As tarefas descritas anteriormente e enviadas aos alunos, foram subsídios para a

26 O uso de telefones celulares por uma população familiarizada com a tecnologia poderá se configurar como

avaliação deste estudo, à luz das teorias de aprendizagem propostas para o MALL, discutidas com base na teoria da autonomia e categorizadas de acordo com Leffa (2006a).

Os dados das entrevistas foram analisados de acordo com os eixos temáticos acima apresentados. Eles serviram como ponto de apoio para os nossos comentários e foram desenvolvidos segundo a perspectiva de Oliveira (2007, p. 103): “As respostas obtidas devem ser classificadas criteriosamente, observando-se as respostas similares ou convergentes para se definirem as unidades que são trabalhadas à luz da fundamentação teórica”.

Para embasar nossas análises, recorremos ao paradigma indiciário, trazido do âmbito das Ciências Humanas e proposto por Carlo Ginzburg no século XIX. O método é uma proposta metodológica de análise que se baseia na apreciação dos elementos periféricos, pistas e indícios de uma determinada situação na qual o observador, baseado na subjetividade, pode dar sentido à realidade que está investigando.

O teórico ilustra seu construto com três figuras emblemáticas do século XIX: Morelli, que através da análise de detalhes ínfimos refutava ou descartava a autoria em obras de pintura; Freud, psicanalista que teceu uma epistemologia da conduta humana pela observação das atitudes inconscientes dos indivíduos, e o romancista Arthur Conan Doyle, cujo personagem Sherlock Holmes personifica nesse paradigma: o investigador que vai à busca de pistas para resolver o mistério. Segundo Ginzburg: “Pistas: mais precisamente sintomas (no caso de Freud), indícios (no caso de Sherlock Holmes), signos pictórios (no caso de Morelli)” (GINZBURG, 1990, p. 150) formavam a tríade a influenciar a análise minuciosa de cada detalhe.

Ginzburg então fundamenta as origens de seu procedimento investigativo pela narrativa voltada para a busca da verdade, modelada por perguntas e respostas. “Ler a realidade às avessas, partindo de sua opacidade, para não parecer prisioneiro dos esquemas da inteligência: essa idéia, cara a Proust, parece exprimir um ideal de pesquisa” (GINZBURG, 1990, p. 14).

Para a análise qualitativa de um evento social de aspecto único e plural, o paradigma indiciário é relevante. Tratamos de observar, então, com a ajuda de pistas (marcas lingüísticas), indícios (autonomia, mobilidade, interação e motivação) e sintomas (transformações). Para tanto, será necessário recorrer ao que o autor chama de rigor flexível, trazendo para a situação de análise aspectos como “faro, golpe de vista e a intuição” (GINZBURG, 1990, p. 179).

CAPÍTULO 4

LIMITES E POSSIBILIDADES

Sem esperar cair... De olhos abertos para ver a flor.

(CAVALCANTI, 1999)

Como apresentado anteriormente, esta pesquisa busca compreender as condições sob as quais o aprendizado móvel pode contribuir com o campo do MALL. Em primeiro lugar, trazemos os resultados advindos da análise do questionário. Em seguida, os resultados das atividades, dos textos das notas de campo e das transcrições da entrevista. Tendo em mente os objetivos principais desta pesquisa, o propósito da análise dos dados tem três desdobramentos:

1.A análise busca revelar como ocorre a interação professor-aluno por meio do uso de mensagens de SMS via celular.

2.Oferece subsídios/pistas/indícios para identificar as possibilidades de uso do SMS como atividade complementar no processo de ensino e aprendizagem de língua estrangeira.

3.Responde a segunda pergunta de pesquisa: como o uso de SMS, como atividade complementar, se constitui no processo de ensino e aprendizagem de língua inglesa? As entrevistas pós-atividades refletem as percepções dos aprendizes sobre o trabalho mediado por tecnologia móvel de computação; as notas de campo são frutos das considerações pessoais da pesquisadora sobre o processo de elaboração do projeto, execução da pesquisa, fatos ocorridos durante a coleta de dados e registros de observações.

Os dados foram analisados através das lentes do paradigma indiciário, na intenção de colher os limites e as possibilidades oferecidas pela adoção de mensagens de texto no processo de ensino e aprendizagem de inglês. O termo lentes remete à imagem da lupa do detetive Sherlock Holmes, que, na teoria de Carlo Ginzburg, é representativo do fazer do pesquisador e da sua busca de pistas para respostas de suas perguntas.

Concluímos o capítulo com um resumo dos resultados, e apresentamos uma série de pontos que permeiam a inserção do MALL em sala de aula de línguas, tais como portabilidade, mobilidade, autonomia e interação.

Apresentamos a seguir uma reflexão a partir das entrevistas realizadas e das mensagens de texto segundo a tematização e critérios expostos no capítulo anterior deste trabalho, referente aos procedimentos metodológicos.

As análises buscam comentários a seguir mostram os aspectos mais evidentes nas entrevistas e SMS.

Iniciamos apresentando os conceitos trazidos do Paradigma Indiciário para descrever como as possibilidades e limitações postas pelo SMS via celular foram percebidas pelos participantes no decorrer do processo.

Conforme exposto no capítulo anterior, por se tratar de uma investigação qualitativa optamos pela tematização dos dados em dois eixos: funcionalidade e aprendizagem. Iniciamos com o desdobramento do eixo funcionalidade em unidades de análises; o mesmo ocorre com o tema aprendizagem.