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5. A ABRANGÊNCIA DA LEI DE PLANOS DE SAÚDE (LEI 9.656/98)

6.1. Conceito e pressupostos para a reparação dos danos pelo fato do serviço

O Código de Defesa do Consumidor tratou da responsabilidade pelos vícios de adequação nos artigos 18 a 25. De outro lado, disciplinou sobre os vícios de segurança ou acidentes de consumo nos artigos 12 a 17 sob a denominação de “responsabilidade pelo fato do produto ou serviços”. Pretendeu o legislador proteger o consumidor pelos eventuais danos sofridos em virtude de vício ou defeito do produto ou serviço colocado no mercado de consumo, atribuindo ao fornecedor a responsabilidade objetiva para tanto e concedendo ao consumidor direito à reparação moral e material.

O CDC tratou dos Vícios do serviço no artigo 20339, definindo-os como aqueles que tornam o serviço impróprio ao consumo, que lhe diminuam o valor ou decorrentes da disparidade das características dos serviços com aquelas veiculadas na oferta e publicidade. Pode o fornecedor de serviço responder pelo vício de qualidade e de quantidade, os quais podem ser ocultos ou aparentes.

339 “Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I – a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

II – a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III – o abatimento proporcional do preço.

§ 1º A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.

§ 2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade”.

Fato do serviço, por sua vez, é o acontecimento externo que causa dano material ou moral ao consumidor, em razão de defeito do serviço. São os denominados acidentes de consumo.340 Na lição de Antônio Herman Benjamin fato do serviço é o dano provocado (fato) por um serviço.341

A responsabilidade ora estudada envolve a operadora de planos de saúde pelos serviços prestados pelos hospitais credenciados; portanto, interessa aqui a responsabilidade pelo fato do serviço, ou seja, pelos acidentes de consumo causados aos consumidores (beneficiários-pacientes) dos planos, colocando em risco sua saúde, razão pela qual apenas tratar-se-á doravante da responsabilidade pelo fato

do serviço. Assim, o artigo 14 do CDC dispôs especificamente acerca da responsabilidade pelo fato do serviço, in verbis:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1º – O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I – o modo de seu fornecimento;

II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi fornecido.

§ 2º – O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

§ 3º – O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

340 Bruno Miragem ensina que a doutrina brasileira entende mais adequada a utilização do termo “acidentes de consumo” ao invés de “responsabilidade pelo fato do serviço”, pois se considera mais relevante a localização humana do resultado e não a origem do fato que causou o dano. (MIRAGEM, Bruno, op. cit., p. 260).

341 BENJAMIN, Antônio Herman; MARQUES, Cláudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de

I – que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste; II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4º – A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa”.

O art. 14, ao prever a responsabilidade do fornecedor pelo fato do serviço, está se referindo à reparação dos danos materiais (danos emergentes e lucros cessantes) e morais sofridos pelo consumidor (em consonância com o artigo 6º, inciso VI, do mesmo diploma legal). Na lição de Sérgio Cavalieri Filho342, a responsabilidade do fornecedor pelo fato do serviço tem como fundamento o dever de segurança, o qual pode ser de concepção, prestação e comercialização. Acrescenta o autor343 que “o campo de aplicação do Código, neste ponto, é muito vasto, abarcando, na área privada, um grande número de atividades, tais como os serviços prestados pelos estabelecimentos de ensino, hotéis, (...).”.

Conforme citado dispositivo, o fornecedor do serviço será responsável pela reparação dos danos causados por acidente de consumo, independentemente de comprovação de culpa. A responsabilidade é objetiva e solidária dos prestadores. Excepcionou da responsabilidade objetiva os profissionais liberais, cuja verificação será feita mediante a apuração da culpa do profissional (§º 4º do art. 14). Nos termos do parágrafo 1º do art. 14, o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

a) o modo de seu fornecimento;

b) o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; e c) a época em que foi prestado.

342 CAVALIERI FILHO, Sérgio, op. cit., p. 480. 343 CAVALIERI FILHO, Sérgio, op. cit., p. 480.

Veja-se que o Código adotou a responsabilidade objetiva, não havendo a necessidade de demonstração da existência de culpa do fornecedor. Aboliu-se, portanto, o elemento subjetivo da culpa na verificação da responsabilidade. Cabe ao consumidor demonstrar o dano e o nexo de causalidade entre o dano e o serviço, sendo possível a inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6º, inciso VIII, se for verossímil a alegação do consumidor.

Alguns exemplos de responsabilidade pelo fato do serviço: defeito no serviço relativo a veículos automotores; defeitos nos serviços de guarda e estacionamento de veículo; defeito nos serviços de hotelaria; defeitos nos serviços de comunicação e transmissão de energia elétrica; defeito na prestação de serviço médico e hospitalar, etc.

Em relação ao profissional liberal (§ 4º, art. 14, do CDC), conforme observado anteriormente, o legislador tratou de forma excepcional, ao prever a responsabilidade subjetiva, mediante a verificação da culpa (negligência, imperícia e imprudência), observada, também, a necessidade de demonstração do dano e do nexo de causalidade. Zelmo Denari344 explica a “diversidade de tratamento em razão da natureza intuitu personae dos serviços prestados por profissionais liberais”. São serviços contratados com base na confiança estabelecida entre o consumidor e o fornecedor.