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5. A ABRANGÊNCIA DA LEI DE PLANOS DE SAÚDE (LEI 9.656/98)

6.2. Os agentes responsáveis pela reparação no CDC

6.2.1. Os fornecedores e a solidariedade

A responsabilidade dos fornecedores é solidária, nos termos do art. 7º345, parágrafo único, e parágrafos 1º e 2º do art. 25346, todos do CDC. Rosana Grinberg denomina referida responsabilidade de “solidariedade passiva” e assim ensina a respeito:

“O Código de Defesa do Consumidor instituiu, expressamente, o princípio da solidariedade passiva entre os causadores do dano (par. ún. do art. 7º), de origem legal, portanto, pelo qual, havendo mais de um autor (causador) do dano, todos responderão solidariamente pela reparação (...). Significa dizer que cada um dos devedores solidários responde pela totalidade dos danos, podendo o consumidor exigir de um apenas ou de todos a indenização total ou parcial, nada havendo que impeça a propositura de outra ação, posteriormente, contra os demais coobrigados solidários, no caso de a ação ter sido ajuizada contra um dos coobrigados apenas”.347

345 “Art. 7º Os direitos previstos neste Código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo”.

346 “Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas Seções anteriores.

Parágrafo primeiro. Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas Seções anteriores”.

347GRINBERG, Rosana. Fato do Produto ou do Serviço: acidentes de consumo. Revista de Direito do

Nesse sentido, Zelmo Denari, ao comentar o parágrafo 1º do art. 25 do CDC, leciona:

“O § reafirma a solidariedade passiva de todos aqueles que, de qualquer modo, concorreram para a causação do dano, ao mesmo tempo que o parágrafo 2º acrescenta o rol dos coobrigados solidários o fornecedor das peças ou dos componentes defeituosos que foram incorporados aos produtos ou serviços e que deram causa ao eventus damni. Trata-se, no entanto, de solidariedade pura e simples, que não comporta benefício de ordem, o que significa: o consumidor poderá fazer valer seus direitos contra qualquer dos fornecedores do produto ou serviço, inclusive contra o incorporador da peça ou componente defeituoso”.348

O conceito de solidariedade previsto no CDC é mais amplo do que aquele previsto no CC (artigo 942 c/c 932).349 Na lição de José de Aguiar Dias, o CDC estendeu o conceito e buscou instituir o que se pode chamar de “solidariedade da cadeia de atores envolvidos, quer no fornecimento de produtos, quer na prestação de serviços”.350

Na mesma linha é o entendimento de Antônio Herman Benjamim351, para quem, na hipótese de responsabilidade pelo fato do serviço, o CDC incluiu todos os participantes da cadeia. Segundo o autor, o “dever de indenizar estatuído

348 DENARI, Zelmo, op. cit., p. 231.

349“Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932”.

“Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:

I- os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II- o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III- o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;

IV- os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;

V- os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia”.

350 DIAS, José de Aguiar, op. cit., p. 309.

pelo Código é integral”.352

Nesse diapasão, Bruno Miragem353 ensina que o fundamento da responsabilidade solidária dos fornecedores é o princípio da confiança, “superando a estrita divisão entre a responsabilização dos indivíduos ligados ou não por vínculos contratuais, em vista da proteção efetiva da saúde e segurança dos consumidores”. Acrescenta o autor354 que a responsabilidade objetiva do artigo 14 abrange não só o fornecedor direto do serviço, mas todos os integrantes da cadeia de determinada prestação de serviços.

6.2.2. O direito de regresso

O parágrafo único do art. 13 do CDC prevê a possibilidade de direito de regresso daquele que pagou a indenização contra os demais corresponsáveis pelo evento danoso causado no caso da responsabilidade pelo fato do produto. Assim, aquele que foi obrigado a satisfazer a obrigação perante o consumidor, mas, uma vez verificada sua ausência de culpa pelo evento danoso, poderá, via ação regressiva, obter do responsável direto o valor que desembolsou.

No caso da responsabilidade pelo fato do serviço, aplica-se a mesma faculdade. Na lição de Bruno Miragem355, neste caso, a ação regressiva “parece estar abrangida pela extensão dos efeitos do artigo 13, parágrafo único, do CDC”. Acrescenta o autor que, “ainda que não fosse, mesmo sem expressa previsão legal no

352 O legislador foi até mais abrangente do que na responsabilidade pelo fato do produto, hipótese em que delimitou os responsáveis pela reparação (fabricante, produto, construtor e importador, sendo a responsabilidade do comerciante subsidiária), conforme artigos 12 e 13 do CDC.

353 MIRAGEM, Bruno, op. cit., p. 293. 354 MIRAGEM, Bruno, op. cit., p. 294. 355 MIRAGEM, Bruno, op. cit., p. 295.

CDC, a possibilidade da demanda regressiva seria deduzida das regras gerais ordinárias sobre solidariedade passiva, pelas quais quem responde em nome de outrem pode reaver deste o que pagou”.

Na mesma linha, Sérgio Cavalieri356 ensina que:

“O fato de ter o legislador, talvez por desatenção, inserido o dispositivo que trata do direito de regresso como parágrafo único do artigo que cuida da responsabilidade subsidiária do comerciante (art. 13) não deve levar ao entendimento de que a sua aplicação fica limitada aos casos de solidariedade entre o comerciante e o fabricante, produtor ou importador. (...) Na realidade, é ele aplicável a qualquer caso de solidariedade, possibilitando ao devedor que satisfaz a obrigação voltar-se contra os coobrigados”. O direito de regresso poderá ser exercido nos mesmos autos da ação de responsabilidade ou em processo autônomo, nos termos do art. 88 do CDC357, sendo vedada a denunciação da lide.