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O instituto da transação integra o Sistema Tributário Nacional desde a edição do Código Tributário Nacional, em 1966, sendo consagrado como uma das formas ideais de extinção do crédito tributário (CTN, art. 156, inciso III e art. 171). Embora esteja inserta desde a publicação do CTN, em 1966, só recentemente é que começaram a efervescer discussões acadêmicas sobre o instituto, o que motivaram a apresentação do Projeto de Lei 5.082/2009 no Congresso Nacional que visa à sua regulamentação para aplicabilidade plena.

De início, cabe destacar que a possibilidade da transação da obrigação tributária no Direito Pátrio não é pacífica na Doutrina. Os autores divergem sobre o assunto, porquanto:

[...] o instituto não poderia existir na seara tributária, porque a atividade administrativa do lançamento é vinculada e obrigatória, ou seja, a autoridade tributária não pode fazer concessões, mas, ao contrário, deve efetuar o lançamento estritamente conforme determina a lei. Por outro giro, alguns autores reconhecem o caráter essencialmente pragmático da transação e acabam, tal como se verifica na doutrina tributária estrangeira,

a reconhecer a necessidade do instituto.39

Concluiremos com maior embasamento sobre a possibilidade de transação no Direito Tributário Brasileiro ao final do presente estudo. Neste momento exordial, impera analisarmos seu conceito.

Conforme anteriormente visto nos capítulos anteriores, tem-se que ter em mente que os pressupostos gerais do instituto advindos de sua teoria geral no Direito Privado, tais como: a) a dúvida e incerteza em relação a uma determinada questão controversa; b) o temor que esta gera nas partes; c) assim como o conflito instalado ou potencial associado à vontade inequívoca dos interessados para transigir a esse respeito, encerrando-se definitivamente a contraposição de

interesses por meio de concessões mútuas; são elementos que obrigatoriamente se transportam para a esfera do Direito Tributário.

Ocorre que, além desses pressupostos e requisitos, no âmbito tributário encontram-se princípios, requisitos e conceitos que o tornam mais específico.

Conceituando o instituto a partir da reunião de elementos extraídos da teoria geral civil com outros específicos do Direito Público, Fábio Artigas Grillo conceitua a transação tributária como:

[...] o negócio jurídico administrativo, celebrado entre sujeito ativo e passivo de uma determinada relação jurídica tributária controvertida, que, nos termos e condições estabelecidos pela lei, mediante manifestação expressa de suas respectivas vontades, avençam em relação aos seus interesses contrapostos, por meio de concessões mútuas, resultando na

extinção do litígio em face do adimplemento do crédito tributário correlato.40

Atribuindo um sentido técnico ao termo, muito próximo daqueles vistos no Direito Privado, Paulo Henrique Figueiredo conceitua transação como “um negócio jurídico bilateral, ou seja, firmado entre devedor e credor, no qual, através de concessões mútuas, se extinguem litígios e consequentemente a obrigação”.41

O Código Tributário Nacional traz um conceito legal de transação em seu art. 171, verbis: “A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação que, mediante concessões mútuas, importe em determinação de litígio e consequente extinção de crédito tributário”.

Por sua vez, define Bernardo Ribeiro de Moraes (1997, p. 457):

Encontrou-se, na transação, um instrumento para terminar litígios tributários, desde que estes apresentem dúvidas sobre certa relação jurídica. Inexistindo dúvida, a transação perde o seu objeto ou finalidade. [...] A transação exige a existência de uma relação jurídica duvidosa, mesmo que seja o receio do resultado de um processo ainda não iniciado, e a existência de concessões mútuas, de parte à parte. De um lado a Fazenda Pública e de outro o sujeito passivo. O crédito tributário, por sua

vez, já deve estar formalizado.42

40 GRILLO, op. cit., p. 167.

41 FIGUEIREDO, Paulo Henrique. A transação tributária. Recife: Edições Bagaço: Instituto do

Ministério Público do Estado de Pernambuco, 2004, p. 128.

42 MORAES, Bernardo Ribeiro de. Compêndio de Direito Tributário. Rio de Janeiro: Forense,

Ressalte-se que a transação distingue-se do parcelamento, como já registrado pelos Tribunais pátrios.43 O posicionamento não poderia ser diferente, uma vez que a transação é forma de extinção, enquanto o parcelamento é forma de suspensão, de modo que, descumprido este, o crédito tributário poderá voltar a ser exigido em sua integralidade ou pelo saldo remanescente das parcelas não quitadas, diferente do que viria a ocorrer com a transação.

Ademais, o STJ também decidiu que a concessão de benefícios fiscais condicionada à desistência de ações judiciais não configura transação. Pode resultar em anistia (em face da dispensa de multas), remissão parcial (diante de renúncia do principal) ou parcelamento, mas não transação. Neste sentido:

Não há de se confundir o favor fiscal instituído com transação legal, em que as partes fazem concessões mútuas. A dispensa da multa e dos juros de mora é mero incentivo à regularização da sua situação tributária, pelos contribuintes. O contribuinte que opta por essa sistemática abdica da discussão judicial, assume que o valor referente a essa contribuição é devido e o faz mediante pagamento, assim também considerado a conversão do depósito já efetuado em renda. Em suma, desiste da demanda, preferindo conformar-se em pagar o montante devido sem a multa e os juros de mora" (REsp nº 739.037/RS, Rel. Min. CASTRO MEIRA, DJ de 01/08/2005). Assim sendo, é de ser mantida a condenação

da ora recorrente, contribuinte, em honorários de sucumbência.44

43 RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. O PARCELAMENTO DA DÍVIDA TRIBUTÁRIA NOS

EMBARGOS À EXECUÇÃO NÃO IMPLICA A EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO MAS A SUA SUSPENSÃO.

1. O parcelamento do débito na execução fiscal implica, tão-somente, a suspensão do processo, conservando-se perene a Certidão da Dívida Ativa a sustentar a execução até que se extinga a dívida, podendo operar-se a continuidade da execução fiscal pelo saldo remanescente, se o parcelamento não restar cumprido integralmente pelo sujeito passivo.

2. A figura do parcelamento não se confunde com a transação extintiva do crédito. A

autocomposição bilateral ou transação é forma de extinção do crédito tributário, consoante determina o art.156, III do CTN, implicando no término do direito da Fazenda Pública de cobrar a obrigação tributária.

3. Considerando que a transação é a forma pela qual as partes previnem ou terminam litígios mediante concessões mútuas, enquanto que o parcelamento é a mera dilação de prazo para o devedor honrar sua dívida, não há que falar em naturezas semelhantes. Ao revés, no parcelamento, a dívida ativa não se desnatura pelo fato de ser objeto de acordo de parcelamento, posto que não honrado o compromisso, retoma ela o os seus privilégios, incidindo a multa e demais encargos na cobrança via execução fiscal.

4. É novel regra assente no Código Tributário Nacional que o parcelamento do débito é meramente suspensivo.

5. Recurso especial provido.

(STJ, REsp 514.351/PR, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 20/11/2003, DJ 19/12/2003, p. 347).

44 STJ, REsp 786.215/PR, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA, julgado em

Estabelecido seu conceito, passemos a analisar os pontos controvertidos que obstariam, à primeira vista, sua aplicação.