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5 TRANSAÇÃO TRIBUTÁRIA NO DIREITO POSITIVO BRASILEIRO

5.1 O Projeto de Lei de Transação em Matéria Tributária

O Executivo Federal encaminhou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 5.082/2009, que objetiva regular a Transação Geral em Matéria Tributária.

Não cabe, no escopo deste trabalho, a análise do projeto. Contudo, é de se ressaltar a iniciativa do Executivo, que, reconhecendo explicitamente a ineficiência da cobrança da dívida ativa da União, em linha com os argumentos que aqui defendemos, propôs uma ampla gama de modalidades de transação.

Com efeito, dando um salto enorme comparativamente ao cenário anterior em que se encontrava o instituto, o texto do projeto estabelece inúmeras modalidades de transação:

I. Transação em processo judicial;

II. Transação em insolvência, recuperação judicial e falência; III. Transação por recuperação tributária; e

IV. Transação administrativa por adesão.

A proposta vem, sem dúvidas, para mudar a relação entre os contribuintes e a Fazenda, em consonância com a conjuntura do novo Estado Democrático Fiscal. Para alguns, o projeto conferirá maior eficiência à cobrança da dívida ativa, evitando a morosidade do processo. Já para outros, ela desestimula o pagamento dos tributos e dá poderes excessivos ao Executivo facilitando a corrupção.

Esperamos que o debate no Congresso Nacional aperfeiçoe o projeto e que, em breve, a Lei de Transação Geral em Matéria Tributária seja uma realidade no Brasil, amenizando a relação fisco-contribuinte e o sistema em que ele está incluído.

6 CONCLUSÃO

A partir de uma análise fática baseada em relatórios de pesquisas oficiais, o presente estudo demonstrou a triste realidade dos processos judiciais tributários intentados pelo Poder Público: grande número de demandas em andamento com baixa eficiência, uma vez que a recuperação dos créditos tributários pelo Fisco é comprovadamente insatisfatória.

Lembre-se, ademais, que tais processos são extremamente morosos, demorando mais de oito anos para serem baixados, o que contribui para entulhar os cartórios judiciais de processos, afetando todo o sistema judiciário em que ele está inserido.

A crise enfrentada pelo Poder Judiciário Brasileiro reforça a necessidade de que se instituam métodos distintos do judicial que sejam viabilizadores de solução consensual de conflitos, de forma a afastar tais controvérsias do crivo do Poder Judiciário e promover a pacificação social, a qual é verificada, sobretudo, quando se alcança a solução consensual para determinada controvérsia.

Neste cenário, ganha destaque a transação como um destes meios alternativos de solução de litígios, que proporcionaria uma maior celeridade à solução das controvérsias tributárias e aprimoraria a relação tão conturbada entre Fisco e contribuinte, alavancando o sentimento de pacificação social e de segurança jurídica nos sujeitos envolvidos. Como se não bastasse, também contribuiria para alavancar a arrecadação dos créditos tributários, além de desonerar a máquina judiciária de processos.

Analisando o instituto especificamente no âmbito do direito tributário, constatou-se que os obstáculos que impediriam sua aplicação estão superados.

Viu-se que, de modo efetivo, os pressupostos da dúvida ou incerteza, associadas ao estado de conflito entre as partes, bem como ao exercício da vontade destas mesmas partes em extinguir ou prevenir um litígio, nos termos condicionados por lei geral ou específica, todos eles típicos da transação no Direito Privado, são plenamente identificáveis no instituto da transação tributária.

Verificou-se que a nova perspectiva de um Estado mediador ou dialógico, que desenvolve e fomenta os processos de comunicação com a sociedade, privilegiando o emprego de métodos, técnicas e soluções negociais é favorável a essa nova abordagem.

Quanto ao aspecto da legalidade conclui-se que, obrigatoriamente, a lei deverá estabelecer os critérios gerais e específicos para que se autorize e se possibilite a realização da transação e orientar a conduta do Administrador Tributário, delimitando sua competência administrativa, além de fixar os instrumentos, procedimentais ou processuais, por meio dos quais a avença será formalizada, gerando, a partir daí, seus efeitos legais.

Pontificou-se em relação à indisponibilidade do interesse público, que não se coaduna mais com o interesse público fazendário o recebimento, a qualquer custo, de qualquer crédito tributário pelo simples fato de ser tributário. A pacificação social e a segurança jurídica se podem obter pela via da transação, e, ainda que resulte em um recebimento parcial do crédito, consistem também em interesse público. Assim, por este ponto de vista, a transação deveria ser fomentada, ao invés de obstada.

Esclarecendo-se aspectos diversos como a renúncia fiscal e outros específicos do instituto, como suas modalidades e consequências, concluiu-se que a transação pode ser uma saída para o Estado e para aqueles contribuintes que se viram em efetiva situação de litígio, na medida em que se mostra em processo de tomada de decisão mais célere, poupando as partes da lentidão do processo e dos riscos da solução da lide, cujo resultado sempre será imprevisível.

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