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4 ANÁLISE ECONÔMICA DE PROJETOS

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

Uma empresa privada tem como finalidade produzir bens ou serviços maximizando a riqueza dos acionistas (lucro), assim haverá a questão de investir toda ou parte do lucro ou distribuí-lo entre os acionistas. Esse ponto é importante e significa se perguntar se o dinheiro investido gerará ou não maiores lucros no futuro (ABREU & STEPHAN, 1982) e no decorrer desse trabalho essa é uma pergunta que voltará constantemente à tona, na tentativa de se avaliar se o investimento vale, ou não, a pena.

Após um investimento ter sua viabilidade técnica aprovada, passa por uma análise que irá definir seu mérito econômico, financeiro e social. Segundo Buarque (1986) a avaliação financeira determina o mérito do projeto do ponto de vista do empresário; a avaliação econômica engloba os impactos do projeto para a sociedade como um todo e a avaliação social incorpora o ponto de vista da distribuição de renda e das conseqüências do projeto sobre a renda social. Essa diferença entre viabilidade econômica e social não será levada em conta, pois muitos autores a consideram irrelevante, devido ser fundamental estimar apenas o ganho da sociedade como um todo e ser de difícil quantificação qual o ganho de um projeto sobre a distribuição de renda.

Na abordagem da Economia do Bem-Estar (EBE), como apelo para a análise de políticas, tem-se à primeira vista bons atrativos. Sua base está na teoria de que o humano é um ser puramente racional, que sempre procura maximizar seu próprio interesse (utilidade). Já o Estado somente se interessa pelo bem-estar da sociedade como um todo (PIGOU, 196211 apud PEREIRA, 1999). Nesse sentido, aplica-se uma analogia entre o Estado e a firma fazendo decisões de investimento que maximizem seu lucro. A análise econômica aplicada à política pública seria uma extensão do mundo das finanças, no qual as agências governamentais procurariam maximizar o benefício líquido – em nome da sociedade como todo, a exemplo da firma que o faz em nome dos seus donos ou acionistas.

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Contador (2000) afirma que usualmente, considera-se a viabilidade de um projeto como de interesse apenas do investidor e, em alguns poucos casos, também do agente financeiro que depende da capacidade de pagamento do empresário para recuperar os fundos emprestados. Nesse sentido, Nogueira (2006) aponta que a viabilidade e a rentabilidade de qualquer projeto podem ser avaliadas por diversas óticas: a do empresário, a do banco ou da agência de financiamento, a do governo em cada uma das esferas e a de outros empresários beneficiados ou prejudicados pelo projeto.

Um projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades inter-relacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dados (ONU, 1984). Na visão do economista esse conceito se restringe a dois aspectos: informação sistematizada e finalidade de investimento. E, como afirmam Abecassis e Cabral (2000), se exclui todo tipo de análise e informações não sistematizadas e não orientadas no sentido de fornecer propostas para investimento de capital, logo, não sendo uma concepção completa, nem mesmo suficiente.

Um projeto, qualquer que seja o seu cunho, deve abranger várias fases. Inicialmente deve- se identificar o problema (carências) em uma situação entendida como deficiente, a seguir, definir quais os objetivos. Logo, pensa-se em como solucionar o problema e em ações que possam contribuir para mudar a situação existente. Por fim é feita a programação em detalhes do que vai ser feito, o que se espera que aconteça como resultado da ação e o que se necessita agenciar e disponibilizar de modo a assegurar sua realização.

Na etapa de programação detalhada do projeto alguns aspectos devem ser levados em conta, principalmente em projetos de investimento, como: a escolha do método (ou tecnologia) de combinação dos recursos disponíveis para alcançar os objetivos pretendidos; a determinação das despesas e receitas associadas à efetivação de tal escolha; a escolha das fontes de recursos; e o estudo do enquadramento legal e administrativo do projeto (ABECASSIS E CABRAL, 2000).

Abecassis e Cabral (2000) também classificam os projetos em dois tipos, os diretamente produtivos e os não diretamente produtivos. Essa distinção se faz necessária pelo método analítico de preparação e avaliação de projetos utilizados para cada um dos tipos indicados. Os diretamente produtivos são os que visam a criação, renovação ou expansão de

atividades de produção de bens ou serviços susceptíveis a venda. Já os projetos não diretamente produtivos visam a criação, renovação ou expansão de atividades de suporte às atividades produtivas ou se destinam a melhorar a vida individual ou coletiva.

Os projetos com objetivo de resolver problemas das ferrovias são projetos não diretamente produtivos, como é o caso dos projetos de infra-estrutura de transportes. São ainda projetos nos quais não é possível estabelecer individualmente seu preço e no seu modo de produção intervêm outros fatores que não os componentes do seu custo industrial, comercial e encargos figurativos. Finalizando a classificação dos projetos ferroviários, seus investimentos são em imobilização e abrangem o capital fixo, sem atingir o circulante. Segundo a classificação de Joel Dean12 (1951 apud ABECASSIS E CABRAL, 2000) as ferrovias podem ter projetos tanto de expansão quanto de substituição, modernização ou estratégicos.

Investir corresponde a trocar a possibilidade de satisfação imediata e segura traduzida num certo consumo pela satisfação diferida, instantânea ou prolongada, traduzida num consumo superior. Em sentido financeiro investimento é aplicação de capitais a prazo. Em significado mais amplo, é investimento não apenas a criação ou aquisição de ativos fixos por uma empresa, mas toda a operação que tenha por objeto adquirir ou criar meios a serem utilizados permanentemente pela empresa durante um período mais ou menos longo.

Abecassis e Cabral (2000) apontam ainda que a medida de interesse de um investimento, seja privado ou social, é o seu grau de rentabilidade. Contudo a rentabilidade não é apenas a aptidão de se produzir lucro. Numa visão social, rentabilidade corresponde a fatores difíceis de serem medidos e deve levar em conta as distorções entre preços sociais e de mercado, além de variar em função da natureza dos bens e serviços, na qual interessa medir os benefícios globais para todos os seus agentes (Estado, famílias, empresas) contrapostos aos custos globais.

Para se medir a rentabilidade de um investimento é necessária uma atividade cuidadosa de se construir todo o sistema de elementos técnicos, econômicos e financeiros integrados e deve respeitar o contexto no qual o projeto está inserido (preço, disponibilidade de fatores,

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vida útil, etc). Para isso, faz-se um diagrama do sistema que permite cifrar os valores dos investimentos e os dos custos de exploração ou operação e contem a indicação dos principais estudos ou trabalhos a se realizar, conforme ilustra a Figura 4.1. Observa-se, na figura, que o sistema se constitui de etapas sucessivas e integradas e culmina com o estabelecimento da contabilidade provisional de exploração que permite apurar os resultados brutos (cash flow brutos) (ABECASSIS E CABRAL, 2000).

Determinação das alternativas técnicas: - Localização - Dimensão - Processo Determinação da rentabilidade: - Custos de exploração - Cash Flow - Medidas de rentabilidade Plano de Investimento Plano de Exploração Plano de Financiamento Estudo do Mercado Estudo Técnico Estudo do enquadramento legal e institucional

ESTUDOS TÉCNICO-ECONÔMICOS ESTUDOS ECONÔMICO-FINANCEIROS

Figura 4.1 – Diagrama de um Estudo de Rentabilidade

Fonte: Abecassis e Cabral, 2000.

Cada um dos estudos apontados na Figura 4.1 pode ser encontrado com propriedade nos autores Cepal (1958) e Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE (1975), entre outros, além do resumo encontrado na fonte da figura.

Segundo Abreu e Stephan (1982) deve-se primeiramente construir o Fluxo de Caixa dos projetos, ou seja, estudar os reflexos do investimento em cada período de tempo considerado. Após essa fase as empresas se deparam com o enigma de qual alternativa de investimentos adotar, devido tanto a escassez de recursos quanto a existência de diferentes soluções para o mesmo problema.