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4 ANÁLISE ECONÔMICA DE PROJETOS

4.2 INDICADORES PARA SELEÇÃO DE PROJETOS

A seleção de um projeto, entre uma gama de projetos possíveis, é realizada através da comparação entre suas viabilidades. Essa operação exige a operacionalização de regras

para que o ordenamento do projeto seja feito de acordo com critérios que satisfaça as preferências dos vários agentes. Contudo, cada agente - empresários, acionistas, órgãos e instituições de financiamento, governo e meio acadêmico - tem sua forma de fazer essa priorização. Nesse sentido, procura-se fazer uma pequena demonstração dos possíveis métodos para que a seleção de projetos ocorra de maneira ótima.

Entre os critérios tradicionais utilizados, os mais adotados e abordados pela literatura disponível são o Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR), entre outros como o Payback e Valor Presente Unitário. Existem ainda os métodos mais sofisticados como a Análise Custo-Benefício (ACB), a Análise Custo-Efetividade (ACE), a Teoria de Carteiras, Análise Multicriterial, entre outros.

Para a análise econômica de projetos que apresentam somente variáveis determinísticas e irrelevante variabilidade de resultados, as metodologias tradicionais acima citadas refletem resultados confiáveis. No entanto, em análises de investimentos onde estejam envolvidos eventos estocásticos, apresentando incertezas relevantes a respeito dos resultados futuros, esses métodos não devem ser aplicados isoladamente, como afirma Margueron (2003), e precisam estar amparados por ferramentas mais refinadas de análise de decisão.

A seguir, tem-se um resumo dos dois métodos mais tradicionais utilizados para análise financeira de projetos de investimento, que são o VPL – Valor Presente Líquido e a TIR – Taxa Interna de Retorno.

4.2.1 - Valor Presente Líquido (VPL)

O indicador do Valor Presente Líquido (VPL) é um critério rigoroso e isento de falhas técnicas (CONTADOR, 1988). Corresponde a soma algébrica dos valores do fluxo de um projeto, atualizados a uma taxa de desconto adequada. Assim, um projeto é considerado viável se tiver um VPL positivo e sua hierarquização se dá de acordo com o maior VPL.

O VPL de um projeto é função dos valores e formato assumido pelo seu perfil e da taxa ou taxas de desconto (CONTADOR, 2000). Normalmente o fluxo é descontado a uma taxa uniforme e o projeto é “bem comportado” caso seu valor presente líquido seja uma função

decrescente da taxa de desconto. Os valores presentes são normalmente calculados na data zero das séries de pagamentos comparados. Considerando que os custos iniciais já estão na data zero, nenhum fator extra é aplicado e caso se tenha um valor residual estimado, o seu valor presente deverá ser subtraído para que se obtenha o valor presente total.

O método do valor presente líquido deve ser subdividido em dois casos, para alternativas com vidas econômicas iguais e diferentes. Essa diferenciação deve ser feita uma vez que a comparação de projetos com vidas econômicas diferentes pode levar a soluções absurdas, como afirma Hummel e Taschner (1995). Para os autores, a solução para esses casos depende da suposição que a substituição futura dos equipamentos implicará nos mesmos custos previstos para o equipamento inicial. Caso esse pressuposto não seja válido, deve-se então, definir um período de análise comum para todas as alternativas, transcorrendo da data zero até o horizonte de planejamento, e em seguida projetar o fluxo de caixa de cada alternativa ao longo desse período. Assim, cai-se de novo no caso de projetos de vidas iguais.

De qualquer maneira, existem duas alternativas para casos de projetos com vidas econômicas diferentes apontados por Hummel e Taschner (1995), uma na qual se pode usar o mínimo múltiplo comum das vidas das alternativas como horizonte de planejamento. E outra na qual pode-se calcular os valores presentes para um horizonte perpétuo de planejamento, abordagem comumente chamada de custo capitalizado, na qual se repetem as alternativas infinitas vezes.

Segundo Buarque (1986), o VPL é um bom coeficiente para a determinação do mérito do projeto, uma vez que ele representa, em valores atuais, o total dos recursos que permanecem em mãos da empresa ao final de toda a sua vida útil, ou seja, representa o retorno líquido atualizado gerado pelo projeto. O autor afirma, contudo que o VPL não é tomado, de maneira geral, como o critério básico para a determinação do mérito do projeto, devido a dificuldades em determinar o valor exato da taxa de descontos a ser aplicada para a atualização.

Já Contador (2000) afirma que o VPL é o único indicador que permanece incólume comparado aos outros tradicionais, e segundo ele, “o bom senso e a honestidade recomendam que o VPL seja o indicador básico”. Essa diferença entre os autores se dá

devido aos diferentes momentos econômicos os quais o país se encontrava. A dificuldade apresentada por Buarque na determinação da taxa de juros ocorre devido a alta inflação existente em 1986. Logo, acredita-se que a visão de Contador seja a mais próxima da realidade atual (sem inflação ou inflação controlada). Isso não quer dizer que outros parâmetros não sejam utilizados para auxiliar o processo decisório, mas o papel deles deve ser apenas complementar.

Além disso, a decisões tomadas hoje influenciam o futuro da empresa, e infelizmente, as técnicas quantitativas de avaliação de projetos, sendo a principal o VPL, nem sempre conduzem à melhor solução estratégica (MINARDI, 2000). Minardi (2000) destaca que o método do valor presente líquido precisa ser remodelado para avaliar projetos em que existam flexibilidades gerenciais significativas, pois isso torna possível, tanto capitalizar futuras oportunidades que são favoráveis ao negócio quanto diminuir perdas. A autora dá como exemplo, que alguns projetos, mesmo que tenham um VPL negativo, são pré- requisito para investimentos subseqüentes e se não ocorrer investimento no primeiro projeto, os demais também não poderão ocorrer.

Minardi (2000) ressalta que o método do valor presente líquido estima os fluxos de caixa futuros com base nas premissas de início da vida útil do projeto e os desconta por uma taxa de desconto apropriada ao risco, que considera o fato de o fluxo de caixa divergir do esperado. As decisões gerenciais são consideradas estáticas, e as opções reais existentes no projeto não são quantificadas. Ao ignorar as opções reais existentes, o VPL subavalia projetos e pode levar a uma tomada de decisão errada, como, por exemplo, rejeitar projetos que seriam estrategicamente interessantes para as empresas ou aceitar processos mais rígidos em detrimento de processos mais flexíveis, podendo comprometer a posição estratégica futura da empresa.

Como conclusão, pode-se dizer que o VPL pode ser (e é) utilizado para a avaliação de projetos. Contudo, é um indicador meramente financeiro do projeto e possui várias restrições, além do mais, para se conhecer seu valor é necessário construir o fluxo de caixa do projeto. Em caso de projetos ferroviários isso nem sempre é possível e mesmo assim, geralmente não produziria resultados fiéis devido a característica social e econômica que esses projetos carregam.

4.2.2 - Taxa Interna de Retorno (TIR)

A taxa interna de retorno (TIR) é o valor que anula o valor presente do projeto, ou seja, somam-se os saldos negativos e positivos durante toda a vida útil do projeto e na atualização desses saldos se utiliza a taxa interna de rendimento, de forma que essa soma seja nula (BACHA et al., 1974). Logo, é a taxa de juros que iguala o valor presente dos benefícios de um projeto ao valor presente dos seus custos (CONTADOR, 2000).

Assim, o investimento é tanto mais atraente quanto maior for a taxa de juros. A TIR serve para comparar diferentes projetos entre si e compará-lo com a rentabilidade geral possível na economia (custo de oportunidade do capital) (BUARQUE, 1986).

A vantagem desse método é expressar os resultados em termos de taxa de juros, cujo significado é mais facilmente assimilado do que o valor presente expresso em unidades monetárias (NEVES, 1982). Ainda, outra grande vantagem é que se necessita de um número reduzido de informações, basta conhecer o perfil do projeto e alguma idéia da magnitude da taxa de juros ou do custo de oportunidade do capital, além disso, é de fácil atualização, pois não exige juízo sobre variáveis externas aos dados do projeto. Por esses motivos é um dos métodos mais utilizados como critério de decisão (CONTADOR, 2000).

Buarque (1986) assinala, entretanto algumas desvantagens desse método, fazendo com que o mesmo não seja instrumento absoluto na seleção e classificação de projetos. Segundo ele, no caso de projetos com grandes diferenças entre os valores dos investimentos, podem ocorrer incoerências entre o método do TIR e o do VPL, já que projetos de pequeno porte podem ter altas taxas de retorno, mas ter um reduzido valor presente.

Outra principal desvantagem do método apontada por Buarque (1986) ocorre em função da formulação matemática, que leva, em certos casos, a soluções múltiplas e sem sentido. Essa hipótese ocorre sempre que o fluxo de entradas e saída se comporte com lucros variando entre positivo e negativo no decorrer do tempo. Normalmente um projeto tem um resultado negativo no início da sua vida e chega a um valor positivo com o tempo, não chegando a cair. Essa incoerência é incompatível com o objetivo de se classificar projetos.

Assim, em análise entre alternativas de um mesmo projeto e entre projetos com aportes de capital similares Buarque (1986) indica que a TIR é normalmente o melhor instrumento para comparação de projetos, pois permite determinar se o projeto se justifica em relação à rentabilidade geral da economia e escolher entre projetos. Porém, tratando-se de ordenamento de projetos de investimentos muito diferentes recomenda-se a utilização combinada da TIR com o VPL.

Igualmente ao VPL, a TIR é um bom indicador para se avaliar um projeto financeiramente. Cada um tem suas vantagens e limitações, mas ambos não são muito recomendados para projetos de infra-estrutura, assertiva dada ao caráter social e econômico desse tipo de investimento e as incertezas e riscos inerentes aos mesmos.