• Nenhum resultado encontrado

PARTE II DA IDEALIZAÇÃO À PRÁTICA DA ATIVIDADE COM OS

2.1. Concepção de um curso

Relatei anteriormente que eu havia relutado em desenvolver uma atividade nos moldes de extensão universitária, devido ao receio de me enredar em um emaranhado burocrático que eu temia inviabilizar ou reduzir muito meu foco que era estabelecer um diálogo com meus colegas professores. Digo meus colegas, pois idealizamos a atividade para acontecer na rede municipal onde trabalho, de modo a favorecer aspectos operacionais que descreveremos depois, bem como por possibilitar que eu conhecesse colegas com os quais pudesse desenvolver vínculos profissionais constantes dada minha proximidade geográfica com eles.

Da experiência de desenvolver tal atividade posso dizer que houve muitas surpresas. A primeira, posso adiantar, foi que não encontrei burocracia, ao menos no sentido do senso comum - do preenchimento de muitos papéis -, que eu imaginava inicialmente que encontraria. Foi uma feliz surpresa. A Central do Extensionista no sítio da Pró-reitoria de Extensão UFRGS é bem construída e com caminhos bem facilitados para um neófito na matéria de propor uma atividade do tipo (imagem 9). Os contatos iniciais com a Central, meus e do Nestor, se deram para preencher uma ficha rascunho quanto a proposta de atividade. Por isso foi necessário ler tutoriais bem como algumas disposições legais (principalmente a Resolução 17/2015 que versa sobre as Normas Gerais para Atividades de Extensão Universitária). Um ponto da ficha que posteriormente tivemos que retificar era o que definia o tipo de atividade de extensão. Entre as opções mais afins tínhamos “curso” e “oficina”, os quais diferiam em termos de carga horária e pela descrição dos procedimentos.

Imagem 9: captura de tela da página da PROREXT - UFRGS na Central do Extensionista

Fonte: página da UFRGS <https://www.ufrgs.br/prorext/central-do-extensionista/>.

Se optássemos pelo tipo “curso” a atividade teria de ter a partir de 15 horas, além de apresentar maior regularidade quanto as etapas da atividade.

I -Curso: conjunto articulado de atividades pedagógicas, de caráter teórico ou teórico-prático, organizado e executado de maneira sistemática, com carga horária mínima de 15(quinze) horas.

II -Oficina, Aula-Espetáculo, Capacitação, Atividades Físicas e Esportivas: conjunto articulado de atividades pedagógicas, de caráter prático, organizado e executado de maneira sistemática ou pontual, objetivando trabalhar conteúdo ou habilidade específica e/ou a capacitação do participante no uso de técnica ou equipamento específico. (CEPE-UFRGS, 2015, fl.2)

Contabilizamos por alto o número de horas que gastaríamos selecionando os professores, desenvolvendo contatos em suas escolas, interagindo com os professores, redigindo relatórios e concluímos que o tipo “curso” era a opção mais adequada.

Em termos de definição da “equipe”, a qual coloco entre aspas, pois havia a princípio - e assim permaneceu -, apenas eu e o Nestor para levar adiante a

empreitada, enfim, me surpreendeu a facilidade para que qualquer pessoa de fora da universidade possa colaborar com atividades de extensão, sendo apenas necessário para encaminhá-la o envio de um currículo e a parceria de algum servidor da universidade que no caso era o orientador dessa tese, sendo eu o ministrante da atividade.

Preenchidos os dados da ficha, o professor Nestor mostrou-me que era no sistema da PROREXT que se preenchia os campos similares aos da ficha. Uma vez que os dados estivessem inseridos nos seus respectivos campos, e o sistema não mostrasse pendências nos itens não devidamente preenchidos - por exemplo a definição de etapas diferentes com datas iguais -, a atividade passaria então para apreciação do departamento ao qual se vinculava a atividade - no caso o da Faculdade de Educação -; tudo via sistema, o que nesse sentido se mostrou de uma automaticidade surpreendente, pois eu pensara que haviam mais seletores “humanos” vamos dizer assim do que digitais.

Acabamos definindo um curso de vinte horas com quatro blocos. No primeiro haveria a seleção em que o professor candidato deveria entre outras coisas autorizar a observação de alguma aula sua, descrever uma aula em que a centralidade do uso de imagens foi preponderante para desencadear maiores aprendizagens entre os educandos; esses professores também deveriam fornecer dados básicos pessoais e quanto a sua formação. Consideramos como critério de desempate dar preferência a professores com menos anos de magistério, porém o critério não representou um consenso entre a “equipe” organizadora do curso, uma vez que valorizar os professores com maior tempo de magistério poderia ser um critério igualmente válido. Os demais blocos se definiam por contato inicial com cada um dos educadores, o qual poderia agregar observação de aulas se o professor assim quisesse, seguido da leitura de um texto de apoio, finalizando a atividade com um encontro presencial final para troca de ideias entre todos os participantes.

Criamos um blog que se configuraria como um canal de comunicação entre o ministrante da atividade e os professores participantes (Imagem 10).

Imagem 10: Página do blog da atividade de extensão criada para comunicar informações para os professores participantes.

Fonte: captura de tela do blog <https://magrozen.wixsite.com/deolhonageografia>

Na verdade, como veremos posteriormente ele se configurou como mais um espaço de formalização das etapas do que um meio interativo entre os professores envolvidos.

Penso que isso se deve a multiplicidade de meios de comunicação desenvolvidos a partir da internet. De tempos em tempos um novo meio surge e apresentando-se como o mais eficiente, inovador e dinâmico do que os anteriores, colocando esses outros meios como secundários em termos de uso. Como destaca Mcluhan (2011), os meios menos utilizados, mais “frios”, não deixam de existir, apenas se forjam como meios associados a certos nichos. O correio eletrônico por exemplo, é um meio mais formal que é basicamente utilizado atualmente para troca de mensagens entre grupos profissionais. Algumas organizações como as que envolvem pesquisadores, utilizam-no sistematicamente. Por essa razão não me importei com o fato do blog ser subutilizado, uma vez que a atividade tinha foco justamente em um contato mais direto, preferencialmente pelo diálogo presencial, o que nem sempre é fácil no contexto do mundo atual em que as relações encontram- se e muito virtualizadas pelos meios técnicos.

De qualquer forma essa atividade de extensão definiu um marco para a tese que objetiva delinear um modo dinâmico de experimentar a Geografia com consequências no ensino escolar. Consideramos que a própria a atividade com os professores seria uma forma de nós visualizarmos/geografizarmos entre nós práticas de ensino mais instigantes para aqueles que vivem a sala de aula. Além disso a atividade se definiria de uma maneira bastante horizontal e, válida, segundo nossa perspectiva, de ligar, comunicar e estabelecer trocas de saberes situados entre a universidade e a escola. A seguir analisaremos como se encaminhou a primeira edição dessa atividade, considerando quanto a isso os obstáculos e possibilidades abertas por esse trabalho.