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PARTE II DA IDEALIZAÇÃO À PRÁTICA DA ATIVIDADE COM OS

2.2. A primeira edição da atividade “De olho na Geografia”

2.2.3. O encontro final da primeira edição

A segunda etapa da atividade de extensão se definira pela leitura de um texto de apoio (anexo 2), que fora efetuada a partir de informes e da disposição do artigo por meio digital. O texto não pretendia fazer um grande aprofundamento teórico e nele se descreviam aspectos gerais do contexto global da produção de imagens especialmente aqueles ligados ao ensino de Geografia.

Efetuada a leitura do texto, a qual deveria se dar no intervalo de uma semana, partimos para o encontro final no qual todos os professores participantes deveriam se fazer presentes. Quanto a isso podemos destacar dois momentos, um relativo à organização desse encontro e outro relacionado com o encontro em si. Analisemos esses dois momentos.

Mais uma vez a influência da dinâmica da rotina profissional dos professores se interpôs a fluência daquilo que eu imaginava que seria a atividade de formação com esses professores. Eu fazia ideia de que realmente os conselhos de classe, o fechamento de conceitos e a decisão por aprovação ou reprovação de educandos poderia dificultar o processo. Eu mesmo era pressionado por tais demandas, mas procurei adaptar-me a elas para privilegiar o andamento da atividade, o que eu pensei que fosse ser possível de ser feito com a mesma desenvoltura por parte de meus colegas, o que não ocorreu.

Inicialmente pretendia-se realizar o encontro final da atividade na sede do Sindicato dos Professores Municipais de São Leopoldo (CEPROL - RS), no centro da cidade. A dificuldade para encontrarmos um ponto comum nas agendas me levou a encaminhar esse encontro para a escola de um dos professores participantes que de outra forma não poderia participar do encontro por uma série de razões pessoais. Em função disso o encontro final dera-se em uma escola municipal após a entrega de boletins das turmas de EJA. Os outros dois professores participantes dirigiram-se para essa escola de modo que conseguimos, após muito custo e boa vontade dos envolvidos, realizar o encontro final e possibilitar um canal de diálogo sobre o uso de imagens em sala de aula.

O encontro em si foi bastante breve, estávamos em um dos últimos dias letivos, os dois professores que se deslocaram de seus ambientes de trabalho para a escola em questão pareciam mais à vontade e dispostos efetivamente a estabelecer trocas de saberes quanto a docência de Geografia considerando o uso de imagens. Nesse contato houve a promoção do canal do YouTube da professora participante, relatou- se da importância de criar aulas mais dinâmicas e que as imagens em sala de aula por meio de vídeos, por exemplo, eram uma forma bem-vinda de engendrar tal dinamismo. O texto de apoio foi pouco contemplado, não quis direcionar a conversa para ele, avaliei que a manifestação espontânea seria mais significativa. No encontro final pouco falei, procurei ouvir os colegas, mediar seus diálogos, apresentei os participantes, expus uns aos outros quanto aquilo que pude conhecer de suas práticas e realidades de ensino. Ao final pedi que os professores preenchessem um pequeno relatório sobre suas impressões quanto a atividade de extensão e sobre como ela pode ter lhes proporcionado aprendizagens.

Nos relatórios os professores foram coerentes com o que expressaram ao longo de toda a atividade (disponibilizei o modelo no anexo 3). Alguns fizeram referência a importância do uso de imagens em um mundo massivamente midiático como o que vivemos. Uma professora manifestou em seu relatório ideias muito afinadas com o que definimos como Geografia Sensível, destacando que “a maioria dos professores estão preocupados com os alunos da atualidade que vivem no mundo digital”. Ela destacou também que nós professores buscamos aprender para reinventarmos nossa prática e buscarmos atrair a atenção dos educandos.

O que poderia parecer um comentário que enaltece o domínio de uma Geografia distante, reduzida a um artifício para entreter os educandos durante o período, curto, das aulas se aprofunda quando a professora destaca que essas inovações se prestam a encantar os alunos tanto quanto aos professores. Destaco um trecho do relatório dela abaixo:

"A maioria dos professores estão preocupados com os alunos da atualidade que vivem no mundo digital, todos nós estamos em busca de novos aprendizados e maneiras diferentes de dar aulas e buscar atrair o interesse dos alunos e cativar ou buscar encantar os alunos tanto quanto nós somos interessados pelo assunto no meu caso geografia." 20-12-2017.

Ela também destaca no relatório que além de informações sobre suas aulas na internet, criou um blog para publicar trabalhos dos educandos. Tive acesso a alguns conteúdos na internet que ela usara com suas turmas através de um texto de conclusão de um curso de formação da professora ligado a multimídias em sala de aula. O texto dela, no formato de relatório de pesquisa, indica que o uso de jogos educativos pode colaborar com a aprendizagem de conteúdos do sexto ano ligados ao sistema terrestre, embora alguns desses instrumentos não sejam muito instigantes enquanto jogos, nem tampouco muito relevantes quanto ao aprofundamento de questões geográficas. O principal destaque desses jogos é sua riqueza imagética. Ainda quanto a imagens nos relatórios, outro professor reforçou a importância das imagens do cotidiano como as mais relevantes de serem encaminhadas para a sala de aula.

Minha impressão global quanto a primeira edição dessa atividade com meus colegas professores se liga mais a aspectos estruturais do contexto de ensino

público do que propriamente de questões específicas do ensino de Geografia por meio de imagens. A condição dos profissionais de educação é precária para além do que havia imaginado. Talvez não espante tal precariedade se compararmos as situações que observei com o modo como a maioria dos brasileiros vive, no qual faltam elementos básicos para a reprodução de uma vida minimamente digna, mas se levarmos em conta que os professores são parte de uma elite cultural do país que acessou e concluiu o nível superior de ensino, haverá sim um forte constrangimento. Se podemos colocá-los em um seleto grupo de elite cultural, há ressalva para colocá-los entre uma elite econômica, pois a reprodução de um padrão de consumo mais elevado que o da maioria da população, demanda dos professores muitas horas de trabalho, o que em seu ofício de educadores, costuma ter influência direta na qualidade do seu trabalho. É um fato o contraste entre a condição econômica dos professores e sua formação intelectual. A sociedade vive repetindo jargões de que é preciso investir em educação, porém praticamente nada é feito de concreto nesse sentido. É um fato também que a educação praticada no país não impulsiona nosso IDH. De fato há uma situação anacrônica no quadro geral da educação que evidencia precariedade junto ao setor com intermitência de pagamentos ou com corte de gastos - na escola onde trabalho é comum as funcionárias responsáveis pelo setor de limpeza, as quais são profissionais terceirizadas, não irem trabalhar por falta de pagamento, o mesmo se dá com os estagiários. Essas condicionantes que marcam a situação geral dos educadores, agrava a possibilidade de promoção dos estímulos a formação docente.

Me reconheci, entretanto, nos meus colegas. Me reconheci como alguém que a despeito das muitas dificuldades no dia a dia, procura reinventar seu ofício, procura “encantar” os educandos tanto quanto “encantar-se” com o que faz. Me reconheci como alguém que busca uma espécie de excelência no que faz, mas uma excelência no encontro - com os educandos -, encontro que não encontramos entre nós como categoria profissional para lutar por uma educação mais qualificada em investimentos tanto quanto em novas práticas. Vi o que chamamos Geografia Sensível ser experienciado pelos meus colegas seja a partir do uso de fotografias pessoais ou de programas de computação gráfica nas aulas de Geografia, os quais evidenciavam iniciativas dos professores de compartilhar seus olhares no sentido de atrair a curiosidade dos educandos. Observei que ela é praticada a partir de um

paradoxo: em um certo nível a precariedade das condições de trabalho tende, ao menos para parte dos professores, a pressionar por inovações individuais dos docentes. Essas inovações - aqui configuradas por uma busca por realçar o ensino de Geografia a partir do uso de imagens -, objetivam atender a uma demanda tanto do educador como dos educandos por valorizarem seus momentos juntos em sala de aula a partir de aprendizagens mais significativas para eles, de modo a refletirem suas existências nas suas curiosidades e questionamentos.

Tanto na aula que observei sobre recursos hídricos, como nas aulas das quais ouvi relatos dos professores, as imagens tendem a favorecer aspectos de aprendizagem em detrimento dos aspectos de ensino, na medida em que as imagens aí literalmente encaminharam maior contemplação do que nas propostas de ensino mais reduzidas a discursos realizados pelo professor ou lidos nos textos de livros didáticos. Esse tipo de ensino em que os aspectos visuais ganham mais evidência e nos quais há maior valorização da percepção do educando, expõe maior autonomia do educador a qual se conjuga a maior autonomia do educando junto a essas metodologias. A autonomia do educador se verifica na escolha das imagens feita por ele, bem como pela escolha dos procedimentos a serem encaminhados em sala de aula que no caso fugiam ao padrão pré-definido pelo livro didático. Com tais propostas, as quais dependem da participação do educando, estes últimos possuem maneiras diversas de interpretar o que percebem a partir da Geografia das imagens ainda que existam leituras e direcionamentos de sentidos definidos pelos educadores. Pelo pouco tempo de contato com os colegas, não pude checar se o modo como utilizam imagens em suas aulas de Geografia é uniforme em termos de sentido.

De um modo geral o uso que pude constatar que meus colegas fazem das imagens em sala de aula se mostrou bastante avançado na medida em que convidou o educando a explorar o espaço das imagens e não usá-las estritamente como artifícios para se remeterem a geografias fora das imagens. Exemplos disso foram as fotografias de autoria tanto do educador como dos educandos na aula do EJA por mim observada. Tal autoria desencadeou um elemento de motivação caro aos educandos desse curso noturno que muitas vezes trabalham e chegam a escola já cansados, de modo que aulas com abordagens estimulantes são tão bem-vindas como necessárias. Outra iniciativa notável foi o do uso do aplicativo com os planetas

do sistema solar adotado por uma professora participante. Pude checar o funcionamento do aplicativo e verifiquei que o mesmo permite uma experiência por meio de computação gráfica com objetos do espaço extraterreno que realmente deve encantar os educandos mais jovens como me relatara a professora, considerando que esse tópico é bastante chamativo às crianças e adolescentes do ensino fundamental.