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Concepção de texto da perspectiva da Linguística Textual

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.2 Concepção de texto da perspectiva da Linguística Textual

É consenso entre estudiosos da Linguística Textual (MARCUSCHI, 2008; KOCH, 2009; FÁVERO; KOCH, 2012 [1983]) a ideia de que palavras dispostas de forma aleatória não constituem um texto. O que faz com que um texto seja caracterizado como tal é a trama de palavras que constitui uma manifestação linguística consistente e de boa qualidade. O resultado de uma trama bem construída, segundo Ruiz (2015, p. 31), denomina-se textualidade, ou seja, o “conjunto de fatores que permite que um texto seja considerado a unidade básica de manifestação da linguagem”. A autora lembra que são sete os fatores de textualidade, propostos, inicialmente, por Beaugrande e Dressler na obra Introduction to text linguistics, publicada em 1981: intencionalidade, aceitabilidade, situcionalidade, informatividade, intertextualidade, relativos ao nível pragmático, e coesão e coerência, que se referem aos níveis sintático e semântico.

Tomando a coesão como fenômeno que diz respeito ao modo como os elementos linguísticos se interligam para formar sequências veiculadoras de sentido, e a coerência como o modo como esses elementos constroem sentidos na mente dos indivíduos, entendemos que esses processos é que permitem o estabelecimento de múltiplas conexões entre as unidades de sentido global do texto e da relação significativa entre seus elementos, estes definidos por Koch (2009) como responsáveis pela construção de sentidos.

A conexão entre os textos e os diversos conhecimentos, que possibilita múltiplas conexões entre texto, sujeito e sociedade, tem em seu princípio que o texto não resulta de conhecimentos de língua ou das intenções de quem o produz, lê ou ouve, mas “da

37 complexidade dos aspectos envolvidos nas relações intersubjetivas constituídas de forma situada” (KOCH; ELIAS, 2016b, p. 23).

Da visão de texto como unidade multifacetada, compreende-se o linguístico como condição necessária para o processamento textual. Assim, como propõem Koch e Elias (2016b), o texto pode ser entendido como uma pequena porção dentro de uma grande quantidade de informações condensadas por um falante ou escritor que será ampliada por um ouvinte ou leitor, dinâmica que evidencia o caráter sociointeracional da linguagem, assim como a conexão entre texto, sujeito e sociedade.

No campo da Linguística Textual, subdomínio do campo mais vasto da análise das práticas discursivas, texto é considerado

[...] um objeto empírico tão complexo que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas relações com o domínio mais vasto do discurso em geral que temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma

indispensável coerência (ADAM, 2011, p. 25).

Adam compreende o texto como um objeto concreto, material e empírico resultante de um ato de enunciação circundado e determinado pelo discurso, e parte da enunciação e das práticas discursivas, em que se localiza o gênero, o discurso e o interdiscurso.

O texto é a expressão de uma atividade social que vai além do seu aparato linguístico, pois se trata de um evento comunicativo em que operam ações linguísticas, sociais e cognitivas. Nessa direção, Koch e Elias (2016b) esclarecem que, se consideramos determinado conjunto de palavras e frases como um texto, é porque construímos relações entre texto, sujeito e sociedade. O texto não resulta apenas de conhecimentos linguísticos, de intenções do produtor ou de interpretações do receptor, mas também da complexidade de aspectos envolvidos nas relações intersubjetivas constituídas de forma situada. Tal conexão leva a ações linguísticas, cognitivas e sociais, as quais concorrem para a ocorrência de eventos comunicativos situados socio-historicamente.

Diferentes pesquisas na área da Linguística Textual conferiram ao termo texto uma diversidade de conceitos e definições. Segundo Fávero e Koch (2012 [1983]), os textos adquiriram lugar central em questões que englobam a Linguística Textual; passaram a ser considerados como toda e qualquer manifestação da capacidade comunicativa do ser humano,

38 isto é, qualquer tipo de comunicação realizada por meio de um sistema de signos, “qualquer passagem, falada ou escrita, que forma um todo significativo independente de sua extensão”

(FÁVERO; KOCH, 2012 [1983], p. 34).

Marcuschi (2008, p. 72), em seus estudos sobre linguística, vê o texto como o resultado de uma ação linguística cujas fronteiras são definidas por seus vínculos com o mundo no qual ele surge e funciona, pode ser disposto como um tecido estruturado, uma entidade significativa, uma entidade de comunicação e um artefato socio-histórico, ou seja, o texto é uma reconstrução do mundo, e não uma simples refração ou reflexão.

Para Fávero e Koch (2012 [1983]), o conceito de texto varia conforme as concepções de língua e de sujeito adotadas. De acordo com a autora, a linguística textual trabalha com textos delimitados, cujos inícios e finais são determinados de modo mais ou menos explícitos e estabelecidos de acordo com as situações de comunicação. De acordo com a perspectiva de língua como representação do pensamento e de sujeito como dono de suas ações e de seu 2009). Já na concepção interacional, dialógica, da língua, em que os sujeitos são atores sociais ativos, Koch (2009) observa que o texto é visto como lugar da interação, em que os sentidos são construídos pelos usuários da língua.

Quanto ao propósito comunicativo do texto, Antunes (2016) lembra que não se instaura um texto sem que haja uma pretensão comunicativa. Dessa forma, todo texto é a expressão de algum propósito comunicativo, uma vez que a ele recorremos com uma finalidade ou objetivo específico. O princípio de que falamos algo para cumprir determinado objetivo é, segundo a autora, seguido por muitos estudiosos das funções do texto, que o tomam como o resultado de uma expressão social, revestido de relevância sociocomunicativa e inserido nas atividades dos indivíduos.

39 Na continuidade de nossa exposição, tratamos das concepções de gênero textual e de tipologia textual, bem como refletimos sobre as relações que podem ser estabelecidas entre esses aspectos linguísticos.

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