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4. A GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER EM

4.4 Concepção de Política Pública

Pareceu-nos importante incorporar nessa análise os discursos dos entrevistados sobre políticas públicas, assunto que predominou nas falas dos sujeitos no percurso das entrevistas. Apesar da recorrência nas falas dos sujeitos sobre o tema, quando indagados sobre suas ideias em torno do assunto, emitiram opiniões ambíguas. No entanto, houve unanimidade quando afirmaram ser papel do governo implementá-las, no âmbito das administrações, sejam elas federal, estadual ou municipal:

Eu vejo a Política Pública assim: Política de Estado e a Política de Governo. A política de governo é aquela que, quando finaliza uma gestão, um governo, ela também não continua; já a política de Estado não, ela fica, ela tem continuidade. (Sujeito I)

Trabalhávamos com os comunitários no sentido de que ele próprio gerenciasse suas ações, era sonho, não tenho como avaliar se isso foi entendido, ou não. (Sujeito J)

Os estudos apontam que a área das políticas públicas resulta da dinâmica do jogo de forças que se estabelecem na esfera das relações de poder e que são constituídas pelos grupos econômicos e políticos, classes sociais e demais organizações da sociedade. Nesse sentido, Mezzadri (2011) adverte que as lutas e interações entre os agentes e as instituições no interior dessa área deixaram suas marcas nos programas e projetos desenvolvidos pelos governantes.

Pelas falas, concluo que alguns sujeitos tinham clareza quanto os caminhos de uma política pública, ainda que se faça necessário ter conhecimento de que uma política de Estado se regula a partir de um ordenamento legal, além disso, assim que é institucionalizada, torna-se uma política pública de longo prazo, e não poderá ser modificada por razão do novo grupo e/ou partido que assume o governo (HÖFLING, 2001). Por conseguinte, a “luta” pela regulação da política de esporte e lazer precisa tomar corpo, ser levada a sério, porque enquanto as políticas de esporte e lazer se constituírem como propostas provisórias, e isso ainda decorrem do fato de elas se constituírem como políticas de governo e não de Estado, a situação continuará fragilizada, dificultando o seu desenvolvimento.

Na minha concepção foi uma grande luta nossa para regulamentar todas as políticas que executamos, mas nós não conseguimos, faltou pouco, faltou mandato para que pudéssemos regulamentar. Para mim política pública é isso, que permaneça para a população, que entre governo, saia governo, mas tenha essa política pública, que ofereça, que possibilite a população essas vivências, essas práticas que é muito importante. (Sujeito I)

A perspectiva regulatória, discutida na gestão da AEL foi uma estratégia problematizada pelo grupo,no entanto, a iniciativa não logrou resultados concretos como é possível observar pelas falas dos sujeitos. No Brasil, a regulamentação por um sistema nacional de lazer e de esporte vem tomando contornos, especialmente a partir da realização das três conferências realizadas, mas o processo de regulação envolve distintos interesses, manifestados, por exemplo, por meio de diversos grupos, dificultando tais avanços.

Outra questão não referenciadas pelos sujeitos foi quanto aos caminhos ou às etapas percorridas por uma política pública (formação e formulação de agendas,

implementação, execução monitoramento e avaliação), embora, no decorrer das entrevistas, esses conceitos permearam as falas dos entrevistados da pesquisa, não com o formato preconizado pelos estudiosos da área (RUA, 2007; SOUZA, 2006), mas como um elemento aglutinador do processo. Necessariamente, a esquematização teórica da política pública segue uma sequência, mas as etapas e as suas fases constitutivas estão quase sempre presentes na política pública.

A gestão pode definir que as políticas podem ser divididas com a população, discutidas com a população, e trabalhadas com o fim de desenvolver uma comunidade. Desde o inicio a equipe buscou escutar, ouvir as demandas da população, a fim de implementar ações de esporte e de lazer a partir dos seus anseios. (Sujeito M)

Nos discursos dos entrevistados foi recorrente a afirmação de que a política pública deve atender as demandas da população, deve solucionar os problemas, bem como possibilitar o acesso a um determinado bem.

A política pública deve atender a demanda da população, a necessidade do cidadão. Hoje, eu vejo que as políticas públicas têm servido para atender a demanda de uma parcela da sociedade que tem mais poder, que exige mais, que tem mais acesso, inclusive no contato com os governantes. (Sujeito M)

Eu entendo que políticas públicas é uma luta da comunidade organizada, para solucionar as demandas existentes daquela área, daquele bairro, daquele município. (Sujeito E)

A implementação de políticas públicas deve ser compreendida como um processo por meio do qual os objetivos previstos podem ou não ser executados, alguns fatores que interferem nessa ação podem ser internos e/ou externos. Assim, o processo decisório de uma política pública depende de inúmeros elementos, dentre eles, estão o volume de decisões e a sua incapacidade de resolver todos os problemas ao mesmo tempo, a adequação da política, suficiência e disponibilidade de tempo e recursos; a característica da política em termos de causa e efeito; a comunicação, coordenação e a “obediência”, que afetam decisivamente em seu percurso levando os formuladores de políticas a fazerem suas opções a partir de suas percepções e interpretações (RUA, 2009).

Não foi possível notar nos documentos e nas falas dos sujeitos, elementos que permitisse afirmar que a equipe tivesse compreensão que as políticas públicas são escolhas, e não causalidades, e que a inclusão de um tema na agenda governamental não

depende do compromisso social do governante, e sim, de um processo complexo onde os fenômenos sociais são transformados em problemas políticos. Mesmo que, a fala do sujeito E, tenha elencado a organização comunitária como um dos meios necessários para o atendimento da demanda.