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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

4.5 A CONCEPÇÃO DE SER HUMANO

Nesse tópico busca-se compreender a visão de ser humano preconizado pela Treter. Será utilizada na discussão dos dados a troca da expressão “modelos de homem” utilizado pelo autor Ramos (1986, 2000) por concepções de ser humano. A autora da dissertação considera a utilização da expressão modelo de homem uma limitação ao gênero masculino, sendo a expressão “concepção de ser humano” uma forma mais ampla que considera a complexidade dos sujeitos enquanto masculinos e femininos. Essa premissa compreende como a organização enxerga seus colaboradores e como ela os considera e os reconhece enquanto pessoas dentro do ambiente organizacional.

Os colaboradores descrevem:

A gestão atual se preocupa com o colaborador, são feitas horas extras e existe uma preocupação quanto à demanda dessas horas que não atrapalhe o dia a dia das pessoas inclusive a vida particular dele (C1).

Acho que existe uma preocupação com as pessoas, elas são alvo de atenção e preocupação tanto aqui dentro como fora. As avaliações de desempenho proporcionam espaço para se colocar, se sentir mais valorizado. As pessoas, a equipe faz com que se considera a empresa como uma família, experiência que não tiveram em outro lugar. Consideram importante a questão da amizade que se tem (C2).

Existe preocupação, agora estamos fazendo alongamentos para melhoria da postura. A empresa disponibiliza os equipamentos de proteção individual EPIs, os extintores (C4).

Esses depoimentos demonstram que a gestão da empresa em estudo considera o ser humano com suas peculiaridades, ou seja, considerando o papel desempenhado pelos sentimentos, valores e atitudes sobre o processo produtivo. Porém seu principal objetivo é o ajustamento do indivíduo ao contexto de trabalho, demonstrando assim a concepção de ser humano reativo, valorizando o controle e os resultados (RAMOS, 1984; MOTTA, VASCONCELOS, 2006; WATSON, 2005). Todavia há evidências da preocupação com o bem estar das pessoas, que tem liberdade de se relacionar, trocar ideias e em dialogar com a equipe, como colaboradores mencionam abaixo:

Existem fatores que facilitam o trabalho como a abertura, a liberdade de conversar como equipe, a disponibilidade de maquinário e materiais, colocar em prática novas ideias. A abertura para o diálogo, os colaboradores trazem ideias, melhorias (C2). A facilidade que eu tenho de criar novas formas e saídas para cada situação e também de buscar amizades com os colegas, que pode ser um bom amigo, facilitam o dia a dia (C3).

Esse conceito de ser humano reativo é reforçado pela concepção que a gestora traz de seus colaboradores, que são pessoas que necessitam ter competência e são a parte principal da empresa, sugerindo a ideia de uma engrenagem ou peça de uma máquina. Porém, não são amigos, são colaboradores que a leva a uma postura diferenciada do vínculo afetivo.

Eu os vejo como parte principal da empresa, porque tu podes ter a melhor tecnologia, materiais, estrutura física e não ter pessoas competentes para fazer acontecer, não adianta nada o restante. Pra mim colaboradores são colaboradores e não amigos, ou, seja, a postura que a gente tem que ter é essa, é diferente do vinculo afetivo(G).

Essa concepção reativa de ser humano na Treter mostra uma preocupação em relação às pessoas e sobre suas motivações, porém os objetivos buscados não são alterados, ou seja, o foco continua sendo a organização e o trabalho, os processos produtivos em que as pessoas estão inseridas e sua capacidade de gerar resultados. O ser humano é considerado um ser passivo, que reage de forma padronizada aos estímulos aos quais eles são submetidos. É o que se pode ressaltar no caso da proposta de metas e do PPR, na qual a gestão partindo dos objetivos e estratégias organizacionais cria metas e indicadores e as pessoas que trabalham na organização respondem favoravelmente ou não, para serem recompensadas.

Porém, faz-se necessário mencionar que na Treter ações como abertura de diálogo, incentivo ao trabalho em equipe possibilitam a discussão sobre as formas de desenvolver o trabalho, no qual as pessoas têm abertura para se posicionarem, colocarem suas ideias, individualidades e subjetividades produzindo um exercício reflexivo que permite que os colaboradores da empresa se emponderem e tragam seu talento pessoal para a empresa na suas atividades. É desenvolver a capacidade de decisão e gerenciamento de suas atividades, desenvolvendo o discernimento e a crítica (BLANCHARD, 2007), o que pode auxiliar no desenvolvimento humano, mudando a concepção humana reativa para uma concepção parentética (RAMOS, 1984).

A gestora também salienta em seu discurso a importância do autodesenvolvimento, oferecendo aos colaboradores capacitações que possam levar a esse propósito. Porém é importante enfatizar que essas oportunidades de treinamento são apenas um estímulo, uma forma de despertar o desejo dessa busca. Faz-se necessário o incentivo diário, uma prática que desafie constantemente, para que o autodesenvolvimento aconteça. A aprendizagem deve estar presente constantemente nesse processo de forma conceitual, e não somente operacional para que as pessoas possam mudar paradigmas e se desenvolver (KIM, 2002).

Alguns fatores importantes relativos a concepção de ser humano podem ser mencionados a partir da análise realizada :

Figura 14: Concepções de ser humano na Treter

A Treter apresenta aspectos que propõem o modelo de homem reativo, que revelam uma visão mecanicista, previsível e controlável do ser humano. Também exibe artifícios que se encaminham à desenvolver um colaborador mais participativo e reflexivo frente as suas práticas que levam a outra concepção: a parentética. Para o desenvolvimento do ser humano parentético é importante salientar que a razão instrumental que hoje prepondera na empresa e está vinculado à prática, sistemas e processos para otimizar os resultados, deverá dar espaço a reflexão, à crítica, às emoções e à subjetividades dando um caráter substancial e mais humano à organização, considerando também o desenvolvimento de uma gestão mais relacional e humana.