• Nenhum resultado encontrado

CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E MODELOS PEDAGÓGICOS NA

5 CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E MODELOS PEDAGÓGICOS:

5.1 CONCEPÇÕES EPISTEMOLÓGICAS E MODELOS PEDAGÓGICOS NA

De acordo com Becker (2001), é possível afirmar que existem três diferentes formas de representar os processos de ensino e aprendizagem, que são baseadas nos modelos pedagógicos denominados Pedagogia diretiva, Pedagogia não diretiva e Pedagogia relacional. Cada modelo é sustentado por uma determinada concepção epistemológica.

A Pedagogia diretiva diz respeito a uma prática tradicional de ensino em que o professor é considerado somente um transmissor de conhecimento e seus alunos, apenas

receptores. Não há espaço para interação e troca. Esse modelo está fundamentado em um pensamento epistemológico o qual entende que o indivíduo, ao nascer, não possui conhecimento algum, sendo considerado como uma tábula rasa. A Pedagogia diretiva é baseada na concepção empirista e pode ser representada como a ação do objeto sobre o sujeito, ou seja, da ação do conhecimento sobre um sujeito passivo, que assimila esse conhecimento como uma verdade, sem questionar. Assim explica o autor:

O professor acredita no mito da transferência do conhecimento: o que ele sabe, não importa o nível de abstração ou de formalização, pode ser transferido ou transmitido para o aluno. Tudo o que o aluno tem a fazer é submeter-se à fala do professor: ficar em silêncio, prestar atenção, ficar quieto e repetir tantas vezes quantas forem necessárias, escrevendo, lendo, etc., até aderir em sua mente o que o professor deu (BECKER, 2001, p. 18).

Dessa forma, como é possível observar, essa pedagogia é o retrato da reprodução do autoritarismo, da coação, da heteronímia, do silêncio, da ausência da crítica, da curiosidade e da criatividade.

A Pedagogia não diretiva entende que o sujeito já traz um conhecimento consigo, que precisa apenas vir à consciência. O professor é um auxiliar, facilitador do aluno, porém deve interferir o mínimo possível. Qualquer ação que o aluno realize é considerada instrutiva. “É o regime do laisser-faire: deixa fazer, que ele encontrará seu caminho” (BECKER, 2001, p. 19, grifo do autor). Nesse sentido, o professor não diretivo acredita que o aluno aprende sozinho e que o docente pode, no máximo, auxiliá-lo, buscando despertar o conhecimento que já existe nele.

O pressuposto epistemológico que sustenta esse modelo pedagógico se chama

apriorismo, que vem do latim - a priori - (partir do que vem antes, no caso, da bagagem

hereditária). “Esta epistemologia acredita que o ser humano nasce com o conhecimento já programado na sua herança genética” (BECKER, 2001, p. 20). A interferência do meio físico e social deve ser evitada. O autor destaca que, na maioria das vezes, o professor não se dá conta de que possui uma postura apriorista, pois, em alguns momentos, renuncia à sua principal função: a intervenção no processo de aprendizagem.

O terceiro modelo apresentado pelo referido autor é a Pedagogia relacional. Parte da premissa de que não se transmite conhecimento, mas, sim, se constrói através da interação do sujeito com o meio físico e social; constrói-se pela força de sua ação e não por meio da bagagem hereditária. Esse modelo pedagógico tem como pressuposto epistemológico o

construtivismo, baseado nas ideias de Jean Piaget. Esse autor postula que, no construtivismo,

Nessa perspectiva, o professor acredita que o aluno aprenderá, isto é, construirá um conhecimento novo, se ele agir e problematizar a sua ação. Isso significa que existem duas condições para a construção de novos conhecimentos: a assimilação, que é a ação do aluno sobre o material, o qual deve ser significativo, e a acomodação do conhecimento, que diz respeito às respostas que o aluno encontra para suas perturbações, provocada pela assimilação do conteúdo. Esse movimento reestabelece o equilíbrio.

O professor construtivista não acredita que um determinado conteúdo possa transitar, “por força do ensino, da cabeça do professor para a cabeça do aluno”. Não entende que o aluno seja uma tábula rasa, sem nenhum conhecimento prévio. “Ele acredita que tudo o que o aluno construiu até hoje em sua vida serve de patamar para continuar a construir e que alguma porta se abrirá para o novo conhecimento – é só questão de descobri-la; ele descobre isso por construção” (BECKER, 2001, p. 24). Portanto, a aprendizagem é um processo de construção, ação e tomada de consciência. É resultado da descoberta do novo.

A partir dos modelos e das concepções abordados brevemente, expomos, a seguir, a sua sistematização.

Quadro 7 - Comparação dos modelos pedagógicos e epistemológicos

Epistemologia Pedagogia

Teoria Modelo Modelo Teoria

Empirismo Sujeito Objeto Aluno Professor Diretiva Apriorismo Sujeito Objeto Aluno Professor Não Diretiva Construtivismo Sujeito Objeto Aluno Professor Relacional Fonte: adaptado pela pesquisadora, com base em Becker (2001, p. 29).

A partir do quadro acima, podemos observar que são três concepções epistemológicas que sustentam a prática pedagógica. Assim, é possível estabelecer relações com a educação a distância e com ambientes virtuais de aprendizagem, uma vez que o ambiente educacional continua existindo, mas, no caso, é apenas de forma virtual. O que muda é a forma de ação e interação do professor e dos alunos. Os ambientes virtuais oferecem diversas ferramentas que possibilitam a comunicação individual ou coletiva. O fórum e o

chat, por exemplo, são ferramentas de uso coletivo, que permitem o compartilhamento de

ideias e a construção colaborativa de conhecimentos. Já o diário é uma ferramenta de comunicação individual entre professor e aluno, como se fosse um e-mail.

A tecnologia potencializa a ação humana, basta fazer bom uso dela, ou seja, podemos utilizá-la para promover uma sala de aula virtual interativa e participativa, bem como podemos utilizá-la para a “transmissão” de conhecimentos, reforçando a passividade. Nesse sentido, as ferramentas do ambiente virtual podem ser empregadas de diferentes formas, a partir da concepção que baliza a prática do professor. A seguir, apresentamos as distintas relações que é possível estabelecer entre professor e alunos no ambiente virtual de aprendizagem, de acordo com a concepção epistemológica que baliza a prática do professor: Figura 2 - Relações das concepções epistemológicas e a prática do professor em ambiente virtual de aprendizagem

P = Professor A = Aluno

Fonte: desenho adaptado pela pesquisadora, a partir de Macedo (2005, p. 105).

Observamos que, se a prática do professor estiver fundamentada em uma concepção empirista, a ação será do professor para o ambiente virtual e este para o aluno e/ou do professor para o aluno. O professor acredita que, se o aluno reproduzir fielmente o que está no ambiente, aprenderá de forma satisfatória. Essa prática tem como alicerce a transmissão e o controle. Não são necessários a interação, a troca, o questionamento. O professor é o detentor do conhecimento.

Se a prática do professor estiver apoiada em uma concepção apriorista, o seu papel, no ambiente virtual, será praticamente nulo (como ocorre também no presencial), uma vez que acredita que o aluno aprenderá a partir de sua maturação e da sua ação sobre o ambiente,

buscando as informações que julgar importantes, pois, nessa perspectiva, a aprendizagem depende apenas do aluno. Não ocorre a intervenção docente.

De outro lado, se a prática do professor for subsidiada por uma concepção construtivista, caberá a ele lançar propostas diversificadas no ambiente virtual, contemplando as distintas modalidades de aprendizagem dos sujeitos aprendentes, buscando desequilibrar suas estruturas e provocar conflitos cognitivos, para que se sintam desafiados a buscar e refletir sobre suas próprias ações. Nessa concepção, o professor considera os conhecimentos prévios dos alunos na construção de novas aprendizagens. Promove a interação, a troca de experiências, o trabalho coletivo e colaborativo. Além disso, atua como mediador, problematizador, realizando as intervenções necessárias. O professor, além de ensinar, aprende, e o aluno, além de aprender, ensina, conforme já dizia Freire (1999). Corroborando essa concepção, Alves e Silva (2009, p. 93) afirmam que “A abordagem construtivista é potencializada pelas tecnologias para a interação entre todos os envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem”.

Diante do exposto, é possível evidenciar que o Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA – pode ser utilizado considerando qualquer uma das concepções abordadas (apriorista, empirista ou construtivista), assim como ocorre no ambiente presencial. O AVA é único em termos de estrutura e adaptável a qualquer epistemologia. Ele pode potencializar uma proposta fundamentada na construção de conhecimento como pode desempenhar um papel de transmissão. Cabe ao professor ter clareza do pressuposto epistemológico que baliza sua prática, para, a partir disso, traçar seus objetivos e seu planejamento para o virtual.

Vale lembrar que essa divisão é meramente didática, pois nenhuma teoria é pura, ou seja, os docentes possuem um pouco de cada concepção, mesmo que uma delas norteie sua prática pedagógica. A “mistura” vai sempre existir, embora uma das concepções epistemológicas seja predominante nas ações do professor.

Na opinião de Moran (2006, p. 42), “é ainda prematuro definir padrões pedagógicos na educação a distância, porque estamos em fase de experimentação de vários modelos e formatos, que também são afetos ao ensino presencial”. Assim, podemos dizer que, com a inserção das TIC na educação, os modelos pedagógicos e as concepções epistemológicas estão em processo de (re)construção. Não existe um modelo único definido, mas, sim, experiências que estão sendo realizadas e que, a partir de seus resultados, será possível definir, com mais propriedade, um modelo que atenda aos pressupostos da educação a distância.

Sobretudo, é necessário que os processos de ensino e aprendizagem sejam focados na construção do conhecimento e na interação. Dessa maneira, apresentamos, a seguir, a discussão acerca da formação de professores para a EaD.

6 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EAD: SABERES EM