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6 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EAD: SABERES EM

8.1 SABERES MOBILIZADOS NA EAD ATRAVÉS DE PRÁTICAS MEDIADAS PELA

8.1.4 Saberes tecnológicos

“Divinizar ou diabolizar a tecnologia ou a ciência é uma forma altamente negativa e perigosa de pensar errado”

(FREIRE, 1999, p. 37).

Conforme Rodrigues (2009), os saberes tecnológicos estão relacionados ao conhecimento das interfaces dos ambientes virtuais de aprendizagem, dos recursos e dispositivos tecnológicos em geral. Assim, os saberes a que nos referimos neste estudo vão ao

encontro do conceito apresentado pela autora, considerando ainda a intencionalidade pedagógica do uso da tecnologia, uma vez que esta, por si só, não opera milagres na educação, é necessário uni-la aos objetivos pedagógicos, questão que esteve presente nas entrevistas.

Essa ideia encontra subsídio em Côrtes (2011)27, ao explicar que o fundamental, em relação aos recursos tecnológicos, “é nos concentrarmos em como usá-los com finalidades educacionais, isto é, como explorá-los de modo a que se revelem recursos efetivos de apoio ao ensino e à aprendizagem”.

Para ilustrar esses saberes, apresentamos as principais falas dos professores pesquisados sobre o uso da tecnologia na sua prática pedagógica, entendido como um saber docente inerente à EaD e também, segundo eles, como um desafio. O Professor A refere:

“[...] o saber tecnológico [...] ele é... necessário [...] acho que quanto mais tu conhece as potencialidades mais... [...] interessante tu torna [...] a disciplina [...]”. Essa fala nos remete

a pensar que, quanto mais o professor conhece os recursos tecnológicos e seu objetivo pedagógico, mais atrativas e dinâmicas podem se tornar as propostas de suas aulas virtuais.

O Professor B, por sua vez, traz, em sua fala, como um dos primeiros saberes que mobiliza em sua prática docente na educação a distância, os conhecimentos relacionados à informática, salientando que o professor deve ter “[...] noções de todas as questões da

informática [...] se a gente não tem conhecimento [...] com profundidade vai acabar... se confundindo [...]”.

O Professor C também aponta como um dos primeiros saberes presentes em sua prática o saber relacionado à tecnologia: “[...] da plataforma que você usa, do ambiente virtual [...] de mídias [...] mais tecnológicas que possam se aplicar [...]”. Nessa perspectiva,

Rodrigues (2009, p. 119) salienta:

Conhecer as vantagens e desvantagens do AVA adotado, saber ‘abrir’ um fórum, ou chat, inserir textos, imagens ou vídeos e editá-los e criar hiperlinks são alguns dos saberes tecnológicos esperados por um docente que possui como locus de seu trabalho a sala de aula online (RODRIGUES, 2009, p. 119).

Ao discorrer sobre os saberes das tecnologias, o Professor D explica que eles são essenciais na educação a distância, salientando a necessidade de “[...] ter um bom conhecimento [...] usar bem as ferramentas, saber bem pra que [...] elas servem, qual é o objetivo de cada uma delas [...]”. Côrtes (2011) corrobora a ideia dessa fala, ao explicar que

27 Entrevista. Disponível em: <http://www.hagah.com.br/especial/rs/redei-tecnologia-e-

informatica/19,769,3221410,Usadas-na-medida-certa-novas-tecnologias-podem-ajudar-nos-processos-de-ensino- e-aprendizagem.html>. Acesso em: 20 nov. 2011.

“os educadores têm que ser profissionais capazes de explorar pedagogicamente os recursos tecnológicos”.

Esses apontamentos dos Professores vão ao encontro de Rodrigues (2009), a qual, a partir de seu estudo, constata que as tecnologias ainda não são utilizadas na educação explorando todo o seu potencial e, por muito tempo, as formações tecnológicas limitavam-se apenas ao conhecimento instrumental. Assim, entendemos que, para promover uma educação de qualidade, com uma proposta interativa e que proporcione a construção de novas aprendizagens, a formação docente deve estar voltada para além das ferramentas e dos recursos, considerando o seu potencial e objetivo pedagógico e, ainda, deve contemplar uma reflexão sobre o processo.

No entanto, o Professor D entende que a tecnologia pode ser um fator que assusta o docente, destacando que “[...] uma coisa é estar na sala de aula, escrever no quadro e

apagar [...] entendeu? Outra coisa é tu lá no computador [...]”. Dessa forma, podemos

constatar que, para alguns educadores, ainda falta uma maior apropriação dos recursos tecnológicos, da informática, o que pode gerar receio e resistência em atuar em uma prática, cujo instrumento de trabalho é a tecnologia. Rodrigues (2009, p. 119) ratifica essas ideias afirmando:

Não há dúvida de que o docente que atua numa sala de aula online necessita ter o conhecimento das interfaces presentes nos AVAs e de outros dispositivos tecnológicos fundamentais para uma docência de qualidade. Caso contrário, o próprio processo de ensino-aprendizagem será prejudicado.

Na medida em que os recursos da tecnologia passam a ser o meio que o professor utiliza para efetivar sua prática pedagógica, faz-se necessária sua apropriação de uma forma ampla, conhecendo a diversidade de ferramentas e suas possibilidades, para que o planejamento alcance seus objetivos pedagógicos. Entretanto, o Professor D refere que: “[...] às vezes tu fica muito limitado naquelas que tu acha que são as legais [...] aquela coisa que tu sabe que funciona bem, mas têm outras ali que podem ser grandes ferramentas [...]”.

De acordo com Moran (2006), o professor não pode se acomodar, pois, a todo momento, são lançadas novas soluções que podem auxiliar no trabalho pedagógico com os alunos.

Estamos caminhando para um conjunto de situações de educação online plenamente audiovisuais. Caminhamos para processos de comunicação audiovisual,

com possibilidade de forte integração, integrando o que de melhor conhecemos da televisão (qualidade da imagem, som, contar estórias, mostrar ao vivo) com o melhor da Internet (acesso a banda larga de dados, pesquisa individual e grupal, desenvolvimento de projetos em conjunto, a distância, apresentação de resultados).

Tudo isso exige uma pedagogia muito mais flexível, integradora e experimental diante de tantas situações novas que começamos a enfrentar. Não podemos

confundir a educação online só com cursos pela internet e somente pela internet de modo texto (MORAN, 2006, p. 45, grifo do autor).

Ao questionarmos sobre a percepção docente em relação ao uso das TIC na EaD, o

Professor A diz que as tecnologias têm facilitado, já que temos hoje uma grande variedade de recursos e, conforme suas palavras, “[...] a grande maioria dos alunos são alunos digitais

[...] eles têm outro modo de pensar também [...]”.

Com base no exposto, é possível dizer que o professor se refere a uma geração que nasceu em meio às tecnologias, que tem outra maneira de enxergar o mundo, de sentir, de pensar, e que os professores também precisam se adaptar a esse novo contexto, se apropriar desse aparato tecnológico, o que fica claro quando o docente diz: “[...] é bastante importante,

assim, a gente poder se apropriar de mais recursos [...], acho que é tudo uma questão [...] de ir se adaptando também às tecnologias”.

Dessa maneira, “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História” (FREIRE, 1999, p. 154). No entanto, é possível inferir que aqueles professores que não estiverem abertos ao novo, com desejo de aprender, terão dificuldades de exercer uma prática mediada pela tecnologia.

Corroborando o entendimento do referido autor, Bruno e Rangel (2009, p. 131) explicam que: “O letramento digital significa utilizar a tecnologia a partir de um olhar crítico, conseguir reconstruir suas relações com o mundo e, a partir dessa mediação digital, reconstruir sua própria identidade”. Nessa direção, compreendemos que a apropriação digital é um processo de conscientização de que as tecnologias passaram a fazer parte do contexto educacional e, para tanto, além de sua apropriação, é imperioso refletir sobre o seu uso.

Tal como podemos observar, o Professor D destaca que a tecnologia está evoluindo muito e que não tem como retroceder, é necessário avançar e apropriar-se do que está posto. Ele acredita que surgirão novas tecnologias para a modalidade de educação a distância. E ressalta: “[...] o jovem já nasce com computador, [...] a tendência é que, cada vez mais ele se

familiarize com as tecnologias e isso seja uma [...] forma de ensino que não tem como voltar atrás [...]”. Dessa forma, podemos inferir que a EaD tende a se desenvolver e ser uma

modalidade bastante procurada pelas novas gerações, que gostam de utilizar os recursos tecnológicos para estudar.

Ao perguntar ao Professor B sobre como percebe a inserção das TIC na educação a distância, ele responde de imediato: “[...] EaD sem a tecnologia da informação não é EaD [...]”. Podemos inferir que o professor entende a tecnologia como essencial nessa modalidade

de ensino. Em sua opinião, é necessário ter computador com acesso à internet, pois, caso contrário, ter um computador e uma impressora é mesmo que ter uma “[...] máquina de escrever melhorada”.

O Professor C percebe que utiliza muito ainda os recursos básicos da tecnologia e que precisa explorar mais, sinalizando o desejo de conhecer outros recursos tecnológicos externos ao ambiente virtual, tal como podemos observar em suas palavras: “[...] tem muitos

recursos [...] eu acho que a gente poderia [...] explorar mais [...]”. Explica que quem é da

área da informática tem mais facilidade, o que aponta para uma reflexão de pensar a formação tecnológica dos professores, uma vez que dominam os conhecimentos de sua área de formação e não necessariamente todos os saberes indispensáveis para uma prática mediada pela tecnologia.

Educar em ambientes virtuais exige mais dedicação do professor, mais apoio de uma equipe técnico-pedagógica, mais tempo de preparação – ao menos nesta primeira fase – e principalmente de acompanhamento, mas para os alunos há um ganho grande de personalização da aprendizagem, de adaptação ao seu ritmo de vida, principalmente na fase adulta (MORAN, 2006, p. 51, grifo nosso). De acordo com o autor, a relação de espaço, tempo e comunicação com os alunos se modifica, exigindo muita atenção do professor, sensibilidade, intuição e domínio tecnológico. Mas vale lembrar que a formação tecnológica deve estar aliada à pedagógica, que, conforme Valente (2005), é o grande desafio, a fim de que o docente saiba propor atividades e instigar o aluno na construção de uma efetiva aprendizagem.

Observamos que todos os professores percebem a inserção e o uso das TIC, na educação a distância, como um recurso importante e essencial, que tem facilitado os processos de ensino e aprendizagem. No entanto, está presente a necessidade de maior apropriação docente dos recursos tecnológicos. Para Côrtes (2011), “Há que investir na formação inicial e continuada dos professores, de maneira a permitir-lhes o acesso e a capacitação no uso das tecnologias com finalidades educativas”. Assim, a atualização constante das ferramentas e dos recursos tecnológicos faz-se necessária, principalmente, para a docência na modalidade a distância, cujas práticas se utilizam da tecnologia para a realização da mediação pedagógica.

Ao questionarmos sobre as relações que os professores estabelecem entre as TIC e sua prática docente na EaD, o Professor A refere-se à escolha dos recursos mais adequados aos objetivos que pretende atingir, a partir das tecnologias disponíveis, o que se confirma, ao explicar que: “[...] dependendo do que eu quero, o fórum é mais adequado, dependendo, um diário é mais adequado, dependendo fazer uma atividade é mais adequado [...]”.

O Professor fala das diversas possibilidades que os ambientes virtuais proporcionam, mas sem perder de vista o objetivo pedagógico: “É a dança entre as abordagens pedagógicas e as diferentes aplicações do computador que determina uma educação efetiva” (VALENTE, 2005, p. 25). Essa declaração se aproxima das ideias de Côrtes (2011) e Xavier, Franco e Cunha (s/d), conforme já abordado no referencial teórico. Masetto (2001, p. 139), por sua vez, também contribui com Côrtes (2011) e Valente (2005), reafirmando que “[...] a tecnologia apresenta-se como meio, como um instrumento para colaborar no desenvolvimento do processo de aprendizagem. [...] Não é a tecnologia que vai solucionar o problema educacional do Brasil”. Poderá auxiliar, entretanto, se for utilizada de maneira adequada, visando ao desenvolvimento da educação e dos alunos.

O Professor B, por sua vez, explica que a relação existente entre as TIC e sua prática docente é fundamental, destacando: “a forma como eu programo a disciplina, ela inclui os

equipamentos da tecnologia [...]”. Nesse sentido, fica claro que a tecnologia é um meio que

utiliza para alcançar determinados objetivos.

Para Lévy (1999), a cibercultura reflete na forma como as pessoas aprendem e ensinam, possibilitando a formação de comunidades de aprendizagem que atuam colaborativamente. Na web, o saber que emerge é provisório e reconstruído permanentemente. Porém, cabe lembrar que o ciberespaço subsidia a estrutura para a interatividade, no entanto, não a determina, pois, como já discutimos, a tecnologia sozinha não produz uma comunicação interativa.

Nessa mesma discussão, observamos que a relação que o Professor C estabelece entre a tecnologia e sua prática docente está vinculada ao desejo de explorar mais ferramentas e propor atividades diferentes: “[...] gostaria de usar mais ferramentas, diversificar [...] eu sinto falta porque eu talvez não conheço, eu não sei que recursos mais a gente tem [...]”.

O referido Professor reflete sobre seu planejamento e sente a necessidade de diversificá-lo, o que vai ao encontro das ideias de Moran (2001), ao dizer que é importante o professor integrar tecnologias, metodologias e atividades, procurando diversificar as propostas e também o processo de avaliação. Podem ser utilizadas várias mídias e os materiais podem

ser disponibilizados em diferentes formatos, atendendo às diversas modalidades de aprendizagem.

Já na opinião do Professor D, a tecnologia “[...] tende a [...] afastar um pouco ainda [...]” as pessoas, mencionando a necessidade de uma tecnologia que busque aproximar mais

professor e aluno, conforme podemos confirmar na seguinte fala: “[...] teria que ter outras tecnologias que tentasse, assim, aproximar mais do professor, não sei se uma tela em vídeo, o professor falando [...]”. Sobre essa questão, Moran (2006, p. 51) afirma que, “Com o avanço

da banda larga, ao ver-nos e ouvir-nos facilmente, recriaremos condições de presencialidade de forma mais próxima e sentiremos mais o contato com os outros, que estão em diversos lugares”.

Diante do exposto, podemos perceber que as relações estabelecidas entre as TIC com a prática docente dos professores pesquisados (A, B e C) são semelhantes, ou seja, para o Professor A, estão relacionadas à escolha dos recursos mais adequados aos objetivos que pretende atingir, o que vai ao encontro do Professor B, o qual entende as TIC como fundamentais para o planejamento de sua aula a distância. O Professor C gostaria de explorar mais recursos e ferramentas para diversificar suas aulas. Já o Professor D aponta que a tecnologia permite a flexibilidade de tempo e espaço para estudar, no entanto, destaca que, em sua percepção, ela tende ainda a afastar as pessoas.

De acordo com Rodrigues (2009, p. 45), “[...] na educação online as interfaces presentes nos AVAs trazem possibilidades interativas para o processo educativo [...]”, que podem auxiliar na superação de um modelo tradicional de educação, baseado, conforme Becker (2001), em uma concepção empirista e apriorista. A primeira, como referimos anteriormente, traz a ideia de que o aluno aprende a partir da transmissão do conteúdo pelo professor, sem que este interaja com os alunos, que são considerados sujeitos passivos. Para a segunda, o sujeito já nasce com o conhecimento e a interação com o meio físico e social deve ser evitada, basta esperar o conhecimento vir à tona. Sob essa ótica, Côrtes (2009, p. 18) contribui, ressaltando que:

O uso da tecnologia, por si só, não promove a melhoria do ensino e da aprendizagem – pode apenas vestir com roupa nova as velhas práticas transmissoras tradicionais. Só o uso pedagógico da tecnologia, por educadores que possam perceber a si mesmos e a seus alunos como usuários críticos e criativos dos recursos tecnológicos, pode encaminhar a qualificação da educação [...] (grifo da autora). Assim, cabe destacar que as tecnologias oferecem um grande potencial para promover a comunicação e a interação, porém requerem dos professores um rompimento com um modelo de educação que centraliza a comunicação no docente. O professor online deve

atuar como um problematizador, provocador de situações, com vistas à mobilização dos sujeitos para a construção de conhecimentos.

Para isso, é necessário que os professores construam conhecimentos e saberes sobre as ferramentas e os recursos tecnológicos, a fim de que possam explorá-los junto aos alunos, na busca de uma aula virtual cada vez mais interativa, com espaço para os alunos participarem, exporem suas ideias e construir seu próprio caminho de aprendizagem, subsidiado pela mediação do professor.

Diante do exposto, observamos que os saberes abordados nesta subcategoria estão relacionados aos saberes tecnológicos abordados por Rodrigues (2009). No entanto, distanciam-se dos saberes apresentados por Tardif (2003), Pimenta (2000) e Gauthier et al. (2006), que não mencionam tais saberes em suas pesquisas, já que estudaram a realidade da sala de aula presencial.

Dessa forma, considerando a inserção das TIC na educação e a expansão da educação a distância, observamos, conforme mencionado pelos próprios professores, que existe uma demanda para a formação técnico-pedagógica, com vistas a qualificar suas práticas docentes. Nesse sentido, a próxima seção aborda os saberes necessários a tal propósito, trazendo os saberes que os docentes consideram relevantes para serem trabalhados em uma formação inicial e continuada em EaD.

8.2 PROCESSO FORMATIVO NA EAD: TRAJETÓRIAS, SABERES MOBILIZADOS E