• Nenhum resultado encontrado

MÉTODO DE PESQUISA E SEUS PROCEDIMENTOS

6 FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EAD: SABERES EM

7.1 MÉTODO DE PESQUISA E SEUS PROCEDIMENTOS

O presente estudo caracteriza-se pela abordagem qualitativa da pesquisa. Para Bogdan e Bilken (1994), a pesquisa qualitativa enfatiza mais o processo do que o produto, envolvendo a obtenção de dados descritivos, a partir do contato direto do pesquisador com a questão estudada. Partindo do pressuposto de que o método de pesquisa deve ser compatível com o fenômeno estudado e que as investigações em ciências sociais e humanas, dificilmente, são mensuráveis, justificamos a opção, neste estudo, pela pesquisa qualitativa, uma vez que não pretendemos mensurar os saberes mobilizados na docência a distância, mas, sim, identificá-los e analisá-los no contexto estudado. Dessa forma, faz-se necessário utilizarmos métodos compreensivos, centralizando a atenção no específico.

Na concepção de André (1999), a pesquisa qualitativa busca a interpretação em vez da mensuração dos fatos, a descoberta no lugar da constatação. Além disso, entende que a postura do pesquisador não é neutra. Entretanto, é necessário “fazer um estranhamento – um esforço sistemático de uma situação familiar como se fosse estranha” (p. 48).

Nessa mesma direção, Fernandes (1999, p. 24) afirma que “a busca de distanciamento não implica uma visão de neutralidade, o que seria impossível, mas a construção de um determinado rigor no trato com as questões de envolvimento e subjetividade”, buscando compreender que “rigor é algo que existe na História, feito através da História. Por causa disso, o que é rigoroso hoje, pode não sê-lo amanhã [...] rigor é um desejo de saber, uma busca de resposta, um método crítico de aprender” (FREIRE; SHOR,

apud FERNANDES, 1999, p. 24).

Em relação aos procedimentos técnicos, adotamos o estudo de caso, cujos instrumentos de coleta de dados são: análise documental e roteiro de entrevista semiestruturada. A análise dos dados foi realizada através da análise de conteúdo.

Lüdke e André (1986) referem que, no estudo de caso, a fase exploratória é fundamental para definir os objetivos do estudo. É o momento em que é realizado o contato inicial com a realidade que desejamos investigar, buscamos as fontes de dados para o estudo e averiguamos os pontos críticos, não partindo para uma visão preconcebida da realidade.

De acordo com Bogdan e Bilken (1994), o estudo de caso diz respeito à observação detalhada de um contexto ou indivíduo. É representado como um funil, sendo que o início do trabalho pode ser comparado à sua extremidade mais larga, ou seja, é o momento no qual o investigador recolhe vários dados, revê e explora-os com o intuito de tomar decisões acerca

do objetivo do trabalho. Com o tempo, a área de estudo é delimitada. Da fase de exploração de todos os dados, chegamos à sua análise.

Gil (2008), Lüdke e André (1986) explicam que o estudo de caso é indicado quando desejamos investigar algo singular, ou seja, um fenômeno atual e real. Gil (2008, p. 57-58) ressalta que o estudo de caso “é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir seu conhecimento amplo e detalhado [...]”. Nesse sentido, muitos aspectos podem emergir ao longo do estudo, fundamentando-se, conforme Lüdke e André (1986, p. 18), “no pressuposto de que o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente”, buscando novas perguntas e respostas durante o trabalho. No estudo de caso, o objeto em questão é tratado como único, sendo uma representação particular da realidade, que é multidimensional e situada historicamente.

O estudo de caso pode ser caracterizado com três etapas: a fase exploratória, a coleta de dados e a análise e interpretação dos dados, incluindo a elaboração do relatório de pesquisa. Importante ressaltar que a fase exploratória inclui pesquisas acerca do tema de estudo, a fim de verificar o que já foi investigado na área.

Stake (1999, p. 42) corrobora com Lüdke e André (1986), destacando que “en el estudio intrínsico de casos, hay poco interés en generalizar sobre las especies; el mayor interés reside en el caso concreto, aunque el investigador estudia también una parte del todo, y busca comprender qué es la muestra cómo funciona”. Nessa perspectiva, o conhecimento em profundidade de um caso pode auxiliar para compreender outros casos.

Yin (2010) salienta que o estudo de caso é um dos tipos mais difíceis de pesquisa a ser realizado, uma vez que não há procedimentos de rotina. Destaca algumas habilidades que o pesquisador deve ter ao realizar um estudo de caso, tais como: a capacidade de elaborar boas questões e interpretar as respostas, ser capaz de ouvir, de se adaptar às situações, ter flexibilidade, domínio do tema em questão, bem como evitar a parcialidade.

O referido autor defende, ainda, alguns princípios importantes para a realização do estudo de caso, que foram negligenciados no passado: “a) o uso de múltiplas fontes de evidência, não apenas uma; b) a criação de um banco de dados do estudo de caso; c) a manutenção de um encadeamento de evidências” (p. 127). Esses princípios podem auxiliar em relação à validade do constructo e à confiabilidade da pesquisa.

No que tange ao delineamento da pesquisa, fizemos uso de duas fontes de evidência: análise documental e entrevistas semiestruturadas, com vistas a proporcionar mais

consistência e confiabilidade nos dados levantados, já que as fontes se complementam entre si.

A pesquisa documental aproxima-se muito da pesquisa bibliográfica, a diferença está na natureza das fontes, ou seja, na pesquisa bibliográfica, utilizamos as contribuições de vários autores sobre determinado tema, já na pesquisa documental, o foco são materiais que “não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa” (GIL, 2008, p. 51).

Ressaltamos que a pesquisa documental segue os mesmos passos da bibliográfica e, neste estudo, analisamos o Projeto Pedagógico Institucional no que se refere à concepção pedagógica adotada pela Instituição pesquisada. De acordo com Lüdke e André (1986, p. 39), Os documentos constituem também uma fonte poderosa de onde podem ser retiradas evidências que fundamentam afirmações e declarações do pesquisador. Representam ainda uma fonte ‘natural’ de informação. Não são apenas uma fonte de informação contextualizada, mas surgem num determinado contexto e fornecem informações sobre esse mesmo contexto (grifo nosso).

As autoras acima mencionadas explicam que a análise documental pode complementar ou validar informações obtidas por outra técnica de coleta de dados, como, por exemplo, a entrevista. Dentro da perspectiva da pesquisa qualitativa, a entrevista é um dos instrumentos básicos no que se refere à coleta de dados. Sob essa ótica, Gil (2008) refere-se à entrevista destacando que é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas nas ciências sociais. Os pesquisadores e profissionais que tratam de problemas humanos se baseiam nessa técnica não apenas para coletar dados, como também para realizar diagnóstico e orientação. Nessa senda, o autor traz a seguinte definição:

Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao entrevistado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação (GIL, 2008, p. 109).

A utilização da entrevista apresenta algumas vantagens: possibilita obter dados em relação aos mais diversos aspectos da vida social; é eficiente na obtenção de dados em profundidade; os dados podem ser classificados ou quantificados; não há necessidade de que a pessoa entrevistada seja alfabetizada; proporciona mais flexibilidade tanto para o entrevistador quanto para o entrevistado. No entanto, também cabe destacar suas desvantagens: a não compreensão das perguntas; a falta de motivação do entrevistado, dentre outros aspectos (GIL, 2008).

Nesse tipo de coleta, em especial, é muito importante que o pesquisador tenha uma postura adequada ao lançar as perguntas de forma que proporcione liberdade de resposta ao entrevistado. “Na entrevista a relação que se cria é de interação, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem pergunta e quem responde” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 33). Nas entrevistas semiestruturadas, como é o caso deste estudo, o entrevistado tem a oportunidade de discorrer sobre o assunto proposto a partir das informações que detém. Esse método de coleta de dados possibilita correções, esclarecimentos e adaptações nas próprias questões pré-planejadas, o que torna mais eficaz o acesso às informações desejadas.

As referidas autoras destacam também que, em um instrumento de coleta de dados, as perguntas elaboradas estão sempre marcadas pela postura teórica, pelos valores e pela visão de mundo do pesquisador. Nesse sentido, reafirmamos que a postura do pesquisador nunca é neutra.

Alguns cuidados são importantes na realização da entrevista: esclarecimento dos objetivos da pesquisa; local adequado; horário previamente agendado; sigilo em relação às informações e anonimato em relação ao informante; linguagem adequada ao nível de instrução do entrevistado, bem como respeito à sua cultura e aos seus valores. A escuta, por parte do pesquisador, é outro aspecto de extrema importância, a fim de proporcionar o fluxo natural das informações. Além disso,

[...] o entrevistador precisa estar atento não apenas [...] ao roteiro preestabelecido e às respostas verbais que vai obtendo ao longo da interação. Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não verbais, hesitações, alterações de ritmo, enfim, toda uma comunicação não verbal cuja captação é muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 36).

Assim, de acordo com as ideias dessas autoras, é necessário analisar e interpretar o discurso do entrevistado no seu todo, ou seja, a linguagem corporal, além da verbal, confrontando as informações com os demais dados coletados.

Cabe destacar que, para esta pesquisa, as entrevistas foram registradas através de gravação, com autorização prévia, o que permitiu à pesquisadora dedicar sua atenção aos entrevistados. Posteriormente, essas entrevistas foram degravadas e ficaram à disposição dos entrevistados, os quais, no entanto, já haviam sinalizado, na própria entrevista, que não seria necessário ter acesso a elas e, tendo sido assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (Apêndice A), foi autorizada a utilização dos dados nesta pesquisa.

Por conseguinte, a partir do referencial abordado, acreditamos que a referida metodologia atende às necessidades deste estudo, uma vez que não temos a intenção de obter

dados quantificáveis, mas, sim, dados qualitativos a respeito da percepção e da experiência dos professores acerca dos saberes docentes que mobilizam ao exercerem sua prática pedagógica na modalidade a distância.

7.2 CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO

A pesquisa foi realizada em uma Instituição de Ensino Superior – IES - da rede privada/comunitária (universidade), localizada no estado do Rio Grande do Sul, que oferece cursos de graduação (bacharelado, licenciatura), cursos superiores de tecnologia, cursos de pós-graduação lato e stricto sensu, bem como cursos de extensão. A IES possui aproximadamente 14.000 alunos, sendo que, desses, cerca de 3.500 cursam também disciplinas em EaD, dentro do percentual de 20% da carga horária total dos cursos presenciais nessa modalidade de ensino. A instituição ainda oferece Cursos Superiores de Tecnologia na modalidade a distância.

A educação a distância, na Instituição pesquisada, tem como objetivo proporcionar mais uma forma de acesso ao ensino, através do desenvolvimento de práticas educacionais apoiadas por Tecnologias da Informação e Comunicação.

A IES iniciou com a oferta de disciplinas na modalidade semipresencial e a distância a partir de projetos experimentais em decorrência da Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004, que prevê a oferta de disciplinas na modalidade EaD até o limite de 20% da carga horária total dos cursos de graduação presenciais. Em 2008, a IES elaborou um plano de expansão junto aos cursos, definindo disciplinas de cada matriz curricular que eram adequadas para a modalidade EaD. A implantação dessas disciplinas ocorreu de forma gradual.

As disciplinas semipresenciais compreendem aquelas que possuem algumas aulas presenciais e algumas a distância, principalmente, as disciplinas que exigem prática de laboratório. Já as disciplinas a distância possuem seu primeiro encontro presencial e mais um, ao longo do semestre, para avaliação presencial. Além disso, conta com plantões presenciais dos professores e dos monitores – uma vez ao mês para cada um –, no horário em que está alocada a disciplina. Em ambas as disciplinas, o primeiro encontro é presencial, bem como o encontro para avaliação. O que difere é que a disciplina semipresencial pode contar com mais aulas presenciais ao longo do semestre.

Todos os professores que ministram aula nessas disciplinas participam de uma formação inicial, que aborda aspectos pedagógicos e tecnológicos, visando a aprimorar as práticas docentes, para garantir a mesma qualidade do ensino presencial. Como resultado da formação, o professor deve planejar sua disciplina no ambiente virtual, considerando os aspectos abordados. A IES também oferece cursos de formação continuada para quem já está atuando na EaD. Os próprios professores que ministram as aulas são os autores de seus materiais didáticos no ambiente virtual de aprendizagem. Para tanto, contam com uma equipe multidisciplinar, no setor de EaD, que orienta os professores no planejamento e no desenvolvimento de suas aulas, bem como na produção do material para a EaD.

Cabe destacar que as turmas com número X de alunos contam com o auxílio de um monitor. Esse monitor é um aluno da Instituição, que passa por um processo de seleção e deve atender a alguns pré-requisitos, como ter cursado a disciplina e ter sido aprovado. O monitor tem a função de auxiliar o professor nas tarefas mais operacionais, como elaboração de relatórios sobre os trabalhos postados, a participação dos alunos nas discussões, bem como auxílio em dificuldades tecnológicas. Para isso, o monitor também participa de uma formação, a qual a instituição oferece, abordando os recursos e as ferramentas do ambiente virtual. Os cursos a distância contam com o auxílio de tutores, que, além das atribuições do monitor, podem esclarecer dúvidas referentes ao conteúdo, uma vez que devem ter formação acadêmica na área do curso, além de participarem de formação oferecida pela IES.

Diante do exposto, a escolha da instituição deve-se ao fato de ela contar com uma trajetória de cerca de três anos na modalidade de educação a distância, o que sinaliza a possibilidade de alcance dos objetivos propostos. Como essa instituição trabalha com o modelo web (via internet), também despertou o interesse da pesquisadora. Salientamos, que, no contato com um dos representantes da Instituição pesquisada, esse manifestou interesse nos resultados da pesquisa, visando a qualificar as práticas pedagógicas do corpo docente que atua na modalidade a distância.