• Nenhum resultado encontrado

Conclusão

No documento Download/Open (páginas 45-49)

CAPÍTULO I ± A POLÍTICA CONCORDATÁRIA ROMANA PARA O BRASIL

1.6. Conclusão

A Santa Sé, desde o século XII com a chamada Concordata de Worms14, passou a ver na celebração de concordatas uma ferramenta moderna de negociação com os governos que se independentizavam de Roma. No Brasil o caminho foi deveras mais longo e moroso.

Na primeira fase de nossa história, o Brasil Colônia, e na segunda, o Brasil Império, a Igreja Católica esteve sob o regime do padroado régio português. Nestes contextos histórico-eclesiais, não havia ambiente para a celebração de uma concordata, visto que o princípio básico para esta celebração é a existência de dois sujeitos públicos independentes e reconhecidos internacionalmente. No contexto do

14 A Concordata de Worms será tratada pormenorizadamente no Capítulo. III, no subtópico Origem histórica das concordatas.

padroado, a Igreja era apenas um departamento do governo e não havia, em tese, conflitos de interesse.

Com o advento da república, em 1888, aconteceram mudanças significativas nesta relação. Entre elas, a mais verbalizada foi a separação oficial entre a Igreja e o Estado. Doravante, o regime que se impunha optava por não ter uma confissão religiosa oficial e dava liberdade de culto, expressão e existência a todas as expressões religiosas presentes no Brasil. Começa aqui uma nova fase para a Igreja Católica no Brasil. Inicialmente, esta nova situação foi recebida diversamente, quer pelos bispos do Brasil, quer por parte de Roma. A Igreja Católica precisava descobrir seu lugar no novo regime que não fazia mais questão de tê-la onipresente em sua vida.

A Pastoral Coletiva dos Bispos do Brasil, em 1890, é o primeiro esforço documental que tenta fazer uma radiografia da situação presente e planejar o futuro. Este, para alguns bispos, era incerto. O protagonista desta Pastoral Coletiva era Dom Antônio de Macedo Costa, Arcebispo do Pará. Ele via com bons olhos essa nova situação da Igreja Católica poder gerenciar sua vida e sua liberdade.

Uma vez que o futuro se lhes apresentava incerto, então a inspiração dos redatores do texto da Pastoral Coletiva encontrou espelho na situação político- religiosa dos Estados Unidos da América, sem considerar as diferenças enormes entre nossa história e aquela da nação americana.

De todo modo, para se entender a Igreja Católica em qualquer lugar do orbe terrestre, é preciso entender o que está acontecendo em Roma e compreender o pensamento da política internacional do Papa reinante e de seu secretário de Estado. Em Roma, o Papa é Leão XIII (1878-1903), eleito com a missão de encontrar uma solução jurídica para a Igreja Católica na Itália. O Papa precedente, Pio IX (1846-1878), não aceitou o fim dos Estados Pontifícios e a nova situação da Igreja Católica naquele país. Preferiu se retrair e fortalecer a instituição internamente. Neste contexto, Leão XIII (1878-1903) tem como projeto pessoal dialogar com o mundo que se moderniza e buscar encontrar um lugar para a Igreja Católica na Itália e em outras nações. Sem esse diálogo, a Igreja correria o perigo de se tornar um ente estranho e obsoleto num mundo em aceleradas mudanças. Seu secretário de Estado, o Cardeal Mariano Rampolla, entendeu facilmente tanto o

cenário internacional e a vontade do Papa. Toda a política internacional da Igreja Católica no final do século XIX e início do XX está compilada na encíclica Immortale

Dei, na qual se pode ler como o Papa e o Secretário de Estado veem o mundo e a

Igreja Católica naquele período. A estratégia de ação para situar a Santa Sé na Itália e no mundo é a celebração de Concordatas com os Estados que se independentizavam da influência da religião católica em seus países.

No Brasil, o projeto leonino encontrou resistências desde a primeira hora. Já nos dias da proclamação da república, o Papa Leão XIII (1878-1903) via a oportunidade de celebrar uma concordata com o governo provisório, mas encontrou oposições dos 12 bispos que existiam no Brasil. A compreensão adotada nesta pesquisa vai na linha de que ainda havia bem viva na memória coletiva brasileira o trauma da prisão dos dois bispos, Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de Olinda, e Dom Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará, na conhecida Questão Religiosa, do século XIX. Já que a república dava liberdade à Igreja Católica, os bispos brasileiros queriam fazer o próprio caminho sem ter que negociar com o poder constituído. Mas a Santa Sé pensava e via diferentemente. O Papa então empreende o projeto concordatário, mas que não seguiu adiante, logo foi arquivado. Para Dom Macedo Costa, haviam questões de logística e sobrevivência a serem resolvidas, tal como impedir que o governo provisório confiscasse os bens materiais da Igreja. Ainda que houvesse um coro dos estudiosos que o patrimônio da Igreja Católica estava bem descuidado, Dom Macedo Costa preferia começar com este patrimônio do que sem nada.

Os bispos do Brasil engavetaram a proposta concordatária para empreender com mais afinco outro projeto em andamento: a romanização do catolicismo brasileiro. Eles entendiam que, naquela hora, esse era o caminho, uma reestruturação interna e não negociação com o governo que também estruturava sua presença na sociedade brasileira. Um dos pilares do projeto romanizante era aproximar mais a prática católica dos moldes tridentinos e distanciar-se daquele português. O que também parecia uma forma de esquecer os laços com a coroa e o passado portugueses.

De fato, imediatamente após a implantação da república no Brasil, a Igreja Católica não estava em condições de celebrar uma concordata, ainda que fosse o

desejo da Santa Sé (ROSA, 2015, p. 85). Havia, sobretudo, incertezas sobre o teor da nova constituição que necessariamente seria redigida nos anos seguintes. Como a religião seria tratada na letra da Carta Magna? Sem este parâmetro, um eventual texto concordatário seria fantasioso ou simples cópia de outras concordatas que a Santa Sé celebrou com outras nações ou carregaria um déficit de cláusulas que responderiam às necessidades que ora se impunham à Igreja Católica. Para que o desejo da Santa Sé se concretizasse, era preciso esperar outro cenário político- religioso.

No documento Download/Open (páginas 45-49)