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A execução penal tem dois objetivos, previstos no artigo 1º, da Lei de Execução Penal de 1984, o primeiro é efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e o segundo é proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do internado.

O objetivo de proporcionar harmonia social e recuperação daquela pessoa que possui uma condenação criminal, busca, também, uma forma de promover a recuperação do reeducando, através da previsão de direitos e deveres e de um tratamento digno e humano durante o encarceramento, a fim de viabilizar a reinserção social.

Diante do objetivo estabelecido na LEP, o instituto da remição de pena, cumpre um papel fundamental, já que possui o objetivo de evitar a ociosidade, incentivar o trabalho e o estudo, os quais são os meios eficazes para que haja uma reintegração ao convívio social, com a possibilidade de retorno à sociedade de forma ainda mais rápida.

As principais modalidade de remição de pena são pelo trabalhou ou pelo estudo, mas também devem ser admitidas a remição pela leitura e pelo esporte.

A remição pelo trabalho está prevista no artigo 126, da Lei de Execução Penal, esse artigo traz expressamente que é possível a remição pelo trabalho aos condenados que estão cumprindo a pena nos regimes fechado e semiaberto. A contabilização é de 1 (um) dia de pena para 3 (três) dias trabalhados.

O trabalho é um direito social previsto no artigo. 6º, da Constituição Federal, por ser considerado um direito fundamental deve ser garantido a todos, inclusive para aqueles que estão privados de liberdade. Além de estar previsto no ordenamento jurídico brasileiro, está previsto em diversos tratados e convenções internacionais, dentre eles a Declaração Universal dos Direitos Humanos e no Protocolo De San Salvador.

O trabalho prisional é aquele que pode ser realizado dentro do estabelecimento (trabalho interno) prisional ou fora (trabalho externo), que está sujeito a uma remuneração, conforme artigo. 41, da LEP. Possui uma dupla face em relação ao apenado, porque ao mesmo tempo se apresenta como um dever, também, se configura como um direito. É um dever social e condição de dignidade humana, e constitui duas finalidades, a educativa e a produtiva.

A remição pelo estudo também está prevista no artigo 126, da LEP, a contabilização é de 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar, podendo ser atividade de ensino fundamental, médio, profissionalizante ou superior ou de requalificação profissional, que deverão ser divididas, no mínimo, em 3 (três) dias. Assim como o direito ao trabalho é um fator importante para a ressocialização do preso, a educação também cumpre um papel importante para reinserção da pessoa presa na sociedade.

O artigo 127 permite que em caso de falta grave, haja a revogação de até 1/3 (um terço) do tempo remido, começando a contagem a partir da data da infração disciplinar. Essa perda pode ser considerada como inconstitucional, argumentando-se que a Constituição Federal em argumentando-seu artigo 5º, XXXVI, determina que a lei não pode prejudicar o direito adquirido e que também poderia ter violação do princípio da individualização da pena, caso não houvesse a análise das circunstâncias do caso concreto e histórico disciplinar do preso.

Diante da importância do trabalho e do estudo e sua função ressocializadora, surge a discussão acerca da remição ficta, uma vez que o Estado é ineficiente em garantir mecanismos que concretizem a realização desses direitos e o consequente benefício da remição.

Na doutrina e na jurisprudência o entendimento predominante é de que não poderia acontecer a remição se não for realizado o trabalho ou o estudo, porém existem alguns doutrinadores que defendem que basta a vontade de laborar e estudar para a ocorrência da remição.

Os doutrinadores que defendem a remição ficta argumentam razoabilidade o Estado exigir que o indivíduo realize as atividades sem fornecer condições, ainda que mínimas. Que haveria a ruptura do princípio da igualdade quando o Estado não garante o direito de todos os presos exercerem as atividades laborativas e educacionais seja por desídia político-administrativa ou ausência de condições materiais.

A doutrina contrária à remição ficta possui 3 (três) principais argumentos, o primeiro seria de que a concessão do benefício igualaria o preso que trabalha com o preso que não trabalhando ferindo o princípio da isonomia. O segundo é que a remição somente é possível pelo registro mensal e por fim argumenta-se que falta ao trabalho já é reconhecida como falta grave.

De fato, não é possível a conceção da remição quando o Estado não fornece as condições necessárias, mas o apenado possui a vontade de labor ou estudo, porém há de se destacar que o Estado deve ser responsabilizado e instigado a fornecer os mecanismos para a concretização desse direito.

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